Nascente 1042

 

Nascente 1042 

Editorial

A complexidade caminhoneira

Angariando solidariedade e desconfiança, nota de apoio institucional da CUT e posts críticos de lideranças sindicais e de movimentos sociais, a paralisação dos caminhoneiros pode ser entendida de várias formas pelos campos progressistas e mais organizados da classe trabalhadora, só não pode ser ignorada.
Todos os cuidados devem ser tomados e todos os alertas devem ser feitos em relação a um movimento repleto de integrantes que clamam por “intervenção militar já”. Além disso, o caráter de locaute, principalmente no início, foi evidente. Mas não há que se desconsiderar qualquer força do mundo do trabalho que se levante. No mínimo é preciso conhecê-lo melhor, explorar as suas contradições, e disputar a sua agenda. Os protestos de 2013 ensinaram o que um movimento sem rumo pode provocar. Faz parte da responsabilidade histórica das lideranças e dos setores organizados a disputa por este rumo. Não há vácuo na política.
Os resultados da paralisação dos caminhoneiros, por ora, também se mostram contraditórios: por um lado, atendimento do governo a pautas muito mais próximas dos empresários do setor, sem mexer de fato na política de preços da Petrobrás — e, portanto, sem contrariar frontalmente o “mercado”, que só fez um beicinho em razão do congelamento de 60 dias proposto —, e, por outro, um recado contundente de que é necessário sacudir o país em ações de baixo para cima, o que gerou simpatia de uma população.
Por mais que empresários estivessem no comando, na ponta são trabalhadores que cruzam os braços, e é muito pedagógico que a sociedade entenda os efeitos de uma paralisação de serviços. Só assim se percebe a falta que fazem os trabalhadores e as trabalhadoras. E só assim, por incrível que pareça, os próprios trabalhadores se percebem como protagonistas.
Portanto, há de tudo nesta paralisação. Há o que gostamos e há o que não gostamos. Critiquemos os primeiros e valorizemos os segundos, com a consciência tranquila de uma categoria, como a petroleira, que nunca se omitiu nos momentos críticos do País — e que, mesmo antes dos caminhoneiros, já estava com a sua greve aprovada.

Espaço Aberto

Queremos trabalhar

José Maria Rangel*

O povo brasileiro precisa saber o que está acontecendo na Petrobras e a greve nacional também será uma forma divulgar o que a gestão criminosa de Temer/Parente está fazendo com a nossa maior empresa. Os petroleiros e petroleiras querem trabalhar e produzir combustíveis a baixo custo, já a gestão entreguista quer encher o bolso das grandes importadoras e dos países exportadores de combustíveis, o principal deles os Estados Unidos.

A atual política de realinhamento de preços que provoca reajustes diários é apenas parte de uma estratégia maior de entrega do mercado de derivados aos interesses internacionais. Fazem parte dessa estratégia: a brutal redução de trabalhadores da estatal nos últimos três anos; a redução crescente da carga de produção de derivados nas refinarias do país que já provocou a ociosidade de 25% da nossa capacidade de refino; a garantia de preços do mercado internacional dentro do mercado brasileiro e a já anunciada venda de refinarias.

A população está em parte iludida com o último balanço que contabiliza o dinheiro da privatização de áreas da empresa como se fossem resultados de uma gestão eficaz. A outra parte dos resultados de que tanto se orgulham os entreguistas, é na verdade o sacrifício do povo brasileiro que vem pagando o preço de uma política de realinhamento ao preço internacional, em um momento de alta do barril do petróleo por questões geopolíticas do outro lado do mundo enquanto os custos da produção de derivados no país são muitos baixos por conta do pré-sal.

A capacidade da categoria petroleira terá para enfrentar as estratégias de um governo de joelhos para o capital internacional, estará em grande medida na disputa de opinião que divide o povo brasileiro. A greve nacional dos petroleiros vai colocar em discussão os verdadeiros motivos da crise de combustíveis que afligiu o país.

* Coordenador Geral da FUP e diretor do Sindipetro-NF.

 

Greve de 72h

CATEGORIA EM GREVE ATÉ SEXTA

Desde 0h de hoje a categoria petroleira está em greve em todas as bases da FUP, entre elas a do Sindipetro-NF, na luta contra a privatização da Petrobrás e por mudanças profundas na condução da empresa (o que inclui a mudança na política dos preços dos combustíveis, a produção interna e o fim das importações, assim como a destituição de Pedro Parente da Presidência). A paralisação tem caráter de advertência e dura até a sexta-feira.
Na tarde de ontem, a diretoria do sindicato se reuniu para traçar os detalhes dos procedimentos da greve (disponível no site da entidade). Também para ontem, pouco antes do início do movimento, estava prevista interação ao vivo pelo Facebook e pela Rádio NF para tirar dúvidas sobre o movimento.
A greve de advertência de 72 horas foi anunciada pela FUP e seus sindicatos filiados no último sábado, 26. A categoria, que já estava com indicativo de greve aprovado, vinha intensificando as mobilizações para denunciar os ataques à soberania nacional e aos direitos dos trabalhadores.
Informe-se pelo NF
Assim como acontece em todos os momentos de greves e mobilizações, é muito importante que a categoria se mantenha informada pelo sindicato, não dando ouvidos a boatos de outras fontes, principalmente das gerências da companhia. As informações sobre a paralisação estarão disponiveis no site do NF, na Rádio NF e nas redes sociais da entidade. O quadro nacional será atualizado a todo instante pela FUP no Radar FUP (www.radarfup.com.br/minuto-a-minuto/).
A Petrobrás foi formalmente comunicada da greve em documento que informa a duração da paralisação e as suas reivindicações, protocolado na empresa no último sábado, dia 26.

Eixos da Greve

– Pela redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha.

– Pela manutenção dos empregos e retomada da produção interna de combustíveis.

– Pelo fim das importações da gasolina e outros derivados de petróleo.

– Contra as privatizações e desmonte do Sistema Petrobrás.

– Pela demissão de Pedro Parente da Presidência da Petrobrás.

Congrenf e Seminário de Greve

A categoria petroleira, que entrou em greve hoje por 72 horas, também está em período de realização de assembleias para a eleição de delegados e delegadas ao Congrenf (Congresso dos Petroleiros e Petroleiras do Norte Fluminense) e ao Seminário de Qualificação de Greve, que serão realizados de 04 a 06 de junho, em Macaé. Hoje acontecem as últimas assembleias, na sede do sindicato em Campos dos Goytacazes (10h) e no Edinc (12h30), que elegem, respectivamente, 20 e 04 delegados.
Nesta conjuntura e em meio ao crescimento da conscientização nacional em torno dos desmandos de Mishell Temer e Pedro Parente, a construção da greve por tempo indeterminado, no Seminário de Greve, e as decisões estratégicas da categoria, no Congresso, se tornam essenciais na luta rumo a um outro momento para o País. A participação da categoria precisa ser massiva.

Nota da FUP

O “grande gestor” que o mercado e a mídia defendem está levando o Brasil à bancarrota. Em oito dias de protestos dos caminhoneiros, a Petrobrás já perdeu R$ 126 bilhões em valor de mercado. A teimosia de Parente em manter a atual política de preços de derivados de petróleo custará ao país pelo menos R$ 10 bilhões em ajustes fiscais. Adivinhe quem pagará de novo a conta de mais esse apagão?
Não satisfeito em mergulhar o país em uma crise sem precedentes, o presidente da Petrobrás ainda tem a cara de pau de provocar os trabalhadores da empresa com uma carta dissimulada, que tenta transferir para a categoria petroleira a responsabilidade das escolhas que ele tomou.
Quer saber de fato, Pedro Parente, “como a Petrobrás e a sua força de trabalho podem melhor ajudar o Brasil neste momento?”.
Suspendendo a privatização das refinarias, das fábricas de fertilizantes, dos terminais, dos oleodutos e dos gasodutos, das plataformas e dos campos terrestres de produção, das termoelétricas, da BR Distribuidora e de todos os ativos estratégicos que estão em vias de serem entregues.
Proíba seus diretores e gerentes executivos de ameaçarem os trabalhadores de demissão, nas reuniões e “apresentações” que vêm fazendo pelo país afora, tentando justificar a venda das unidades.
Retome a produção a plena carga nas nossas refinarias para que o povo brasileiro não fique refém das importadoras e volte a ter combustíveis a preços condizentes com o nosso custo de produção, que é muito mais barato do que comprar derivados fora do país.
Volte a investir no Brasil, construindo plataformas, navios e equipamentos aqui e não na Ásia. Gere valor agregado para a indústria nacional, criando empregos e renda no país, em vez do exterior.
Por isso, Pedro Parente, peça pra sair e deixe os petroleiros trabalharem!
Defender a Petrobrás é defender o Brasil.

Habitabilidade

Problemas devem ser denunciados

Desde o início da paralisação dos caminhoneiros, o Sindipetro-NF monitora os impactos do movimento sobre os vôos para a Bacia de Campos e as condições de habitabilidade e segurança dos petroleiros e petroleiras a bordo das plataformas da região. A Petrobrás começou nesta semana a promover desembarques em razão da restrição no acesso a alimentos em algumas unidades, entre elas a P-25, a P-35, a P-37 e a P-08.
“Solicitamos desde o começo o desembarque dos trabalhadores que estivessem passando por problemas de habitabilidade e segurança nas plataformas. Os representantes da empresa começaram a atender, o que segundo eles já estava no plano de contingência”, explica o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.
O sindicalista também afirma que a entidade tem recebido informações de que estão ocorrendo restrições nos cardápios em muitas plataformas. A empresa tem garantido à entidade, no entanto, que o equilíbrio nutricional está sendo mantido.
Bezerra reafirma a orientação do sindicato: os trabalhadores e trabalhadoras devem manter a entidade informada sobre as suas condições de habitabilidade e segurança ( [email protected]). O NF vai continuar a cobrar da Petrobrás os desembarques dos locais onde não houver condições de manter a categoria.

Assédio Sexual

NF PRESSIONA POR APURAÇÃO

Diretores e diretoras do Sindipetro-NF se reuniram na segunda, 28, com o gerente geral da Bacia de Campos, Marcos Guerra, para tratar do caso de assédio sexual ocorrido na Bacia com uma trabalhadora embarcada.
Foi exposto o caso para o GG, apresentadas provas do assédio e mostrada a posição do sindicato de que casos como esse são inadimissíveis. A empresa se comprometeu em ter rigor na apuração da denúncia.
O NF garantiu na reunião que a trabalhadora continuará embarcando, além de cobrar uma campanha contra assédio moral e sexual. Os representantes da empresa falaram que está agendada uma palestra para os gerentes sobre violência no trabalho.
O sindicato também solicitou a participação na Comissão de Investigação que irá apurar o caso. A gerência garantiu essa participação.
Denúncias
“Acreditamos que o objetivo dess reunião foi conseguido e lembramos a todos que o Sindipetro-NF está aberto para receber denúncias [denú [email protected]]”, afirmou o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, que esteve na reunião.
Além de Tezeu, participaram da reunião as diretoras Jancileide Morgado, Rosângela Buzanelli, Conceição de Maria, acompanhadas da assistente social do NF, Maria das Graças Rocha.

Normando

Greve pela produção

Os petroleiros têm do que se orgulhar. Poucas são as categorias que tantas vezes realizaram greves por seus objetivos, mas expressas em bandeiras de interesses da classe trabalhadora, muito além do mesquinho economicismo.
Assim foi, no passado, com a “Greve Pela Vida”, deflagrada a partir de mortes na queda de um helicóptero, e com a “Pauta pelo Brasil”, que visava recuperar a agenda desenvolvimentista, no início do desmonte da Petrobrás.
E assim é, no momento em que o Golpe pretende retroceder a economia do País a seus mais servis estágios de dependência colonial.
O Plano Parente
O objetivo da gestão Golpe-PSDB na Petrobrás é reduzi-la à empresa-escritório, dedicada somente à Exploração e Produção. Fica com a estatal o segmento mais oneroso da cadeia produtiva, e repassa-se ao Capital internacional a lucrativa Distribuição e o Refino (com infraestrutura “doada” pela Petrobrás). O Brasil? Ah… vira uma Nigéria, exportadora de óleo cru.
Para alcançar esse intento, Parente impôs, desde que assumiu a Companhia, a progressiva redução da carga processada nacionalmente, no refino, e o inversamente proporcional aumento das importações de derivados. Tal manobra gerou a seus amigos, e clientes investidores na Prada Consultoria, lucros astronômicos, e fez multiplicar o número de empresas de importação.
Para funcionamento desse grande esquema era indispensável que a Petrobrás se apresentasse como economicamente viável, ao longo de sua execução. Afinal, Parente é um “grande gestor”. Aqui entra a vinculação dos preços brasileiros de derivados ao mercado internacional, como forma de fazer o consumidor financiar a privatização e destruição de seu próprio parque de refino.
Não contavam com Trump
Enquanto o barril de petróleo seguia na casa dos 40 dólares, o plano era viável. Porém, com o voluntarismo do milionário dos cassinos e hotéis projetado para o Departamento de Estado, o barril rompeu a barreira dos 70 dólares e o Plano Parente ficou exposto. Não é à toa que o PSDB fizera campanha para Hillary Clinton.
Agora, confrontado com o movimento das boleias, a cabeça de Parente passou a ser exigida por quadros do próprio PSDB. É assim a vida do corretor de especulações: do sucesso à desgraça com a cotação das ações.
Os petroleiros que querem a Petrobrás como agente de seu futuro irão à greve para cortar essa cabeça. Mas, como à Hidra, é preciso também ferir de morte o “plano”, em seu coração.

 Congresso do Povo

Zé Maria convoca à resistência

Militantes sociais, lideranças sindicais e representantes de partidos políticos participaram no sábado, 26, na UFF, em Campos dos Goytacazes, da etapa Norte Fluminense do Congresso do Povo Brasileiro. O coordenador geral da FUP, José Maria Rangel, também diretor do Sindipetro-NF, foi um dos expositores do evento e chamou a todos a manter a resistência.
“Estamos em um processo de acumulação de forças. Vai demorar, mas podemos virar esse jogo, temos que acreditar nisso. Esse ano é fundamental para nós”, disse José Maria.
O sindicalista também lembrou a situação da Petrobrás, que está sendo desmontada pela atual gestão.

Curtas

AMS

Termina no próximo dia 20 o prazo para que aposentados e pensionistas se recadastrem na AMS (Assistência Multidisciplinar de Saúde), da Petrobrás. Quem não fizer o recadastramento perderá o acesso à assistência, assim como seus dependentes.A atualização das informações pessoais na AMS é feita em servicoscompartilhados.petrobras.com.br. Mais informações sobre o procedimento podem ser obtidas pelo Call Center (0800-287-2267), opção 5.

Entre amigos

O Portal Brasil 247 divulgou ontem que “o empresário Odilon Nogueira Junior, sócio de Pedro Parente, presidente da Petrobras, tem um contrato de R$ 11 milhões, sem licitação, com a estatal. A denúncia foi feita pelo jornalista Filipe Coutinho na revista eletrônica Crusoé. Segundo ele, Nogueira Junior firmou o contrato para prestar serviços de pesquisa e gestão em março de 2017”.

NF ao vivo hoje

A TV NF e a Rádio NF realizam, hoje, às 16h, transmissão ao vivo em rede com vários blogs progressistas com o tema “Informação também é energia: Petroleiros esclarecem a sociedade sobre a crise dos combustíveis”. Participam Kiko Nogueira (DCM), Renato Rovai (Forum), Fernando Brito (Tijolaço), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Cynara Menezes (Socialista Morena), Leonardo Attuch (Brasil 247), Luis Nassif (GGN) e Maria do Rosário (O Cafezinho).

Lula com 39%

Vox Populi divulgada nesta semana mostra que Lula alcançou 39% das intenções de voto contra 30% das soma dos adversários, na consulta estimulada (quando os nomes dos pré-candidatos são citados). Nos cenários de segundo turno, o ex-presidente ganharia qualquer adversário. A sondagem foi realizada entre 19 e 23 de maio. A íntegra está disponível em bit.ly/2IRDKaJ.