Nascente 1060

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Editorial

A democracia vencerá

Está tudo às claras. Despudorada-mente, como a história há de reconhecer. A retirada do sigilo da delação de Antônio Palocci, a uma semana das eleições, feita pelo promotor do Ministério Público de São Paulo, quer dizer, pelo juiz Sérgio Moro, é um escancaramento sórdido da militância política do judiciário contra o ex-presidente. Isso, enquanto em outra frente proíbem três veículos de comunicação de entrevistarem Lula.
O “grande acordo nacional com Supremo e tudo”, que inclui a conivência da grande imprensa, faz questão de não se escandalizar com uma decisão como essa, tratando com simulada naturalidade um fato gravíssimo. Mesmo em democracias liberais, como a dos Estados Unidos, há regras nítidas para que o Judiciário, e até a Polícia, não tome medidas em períodos pré-eleitorais que possam ser entendidas como oportunismo político.
Moro, o Tribunal de Porto Alegre, entre outros, não fizeram outra coisa em relação a Lula em todo o processo. Gravações ilegais liberadas pelo juízo, tratamento seletivo de delações, tramitações apressadas, derrubada de decisões por telefone, entre outras aberrações jurídicas se tornaram método corrente.
Ocorre que justiça é diferente de legalidade. Por mais que muitos destes atropelos possam se cercar de aparente legalidade — posto que endossados pelo conluio que os permitem —, a população julga por outros parâmetros e percebe, ainda que não claramente, que algo está errado quando um dos presidentes mais populares da história do Brasil está preso em razão de um crime, no mínimo, de controversa comprovação (em relação ao qual, portanto, em mais uma exceção, não foi aplicado o princípio básico da dúvida ser tomada em favor do réu).
É por isso que, mesmo prisioneiro político, Lula continua a ser um patrimônio eleitoral disputado por candidaturas por todo País — inclusive algumas delas de políticos e partidos que apoiaram o Golpe de 2016.
Neste domingo será o momento de dar o troco nas urnas contra a ditadura da toga, contra o acordão do parlamento e contra o vergonhoso silêncio da grande mídia sobre o que de fato tem acontecido no País. Os trabalhadores e as trabalhadoras seguirão em luta e em resistência. A democracia vencerá.

Espaço aberto

Eleições, numa hora destas?

Emir Sader**

As eleições começaram a fazer parte da minha vida quando eu ainda era pequeno. Meu tio, Azis Simão, membro do Partido Socialista Brasileiro, me levava junto a meu irmão, montar uma banquinha para fazer propaganda e distribuir cédulas, essenciais naquela época para votar. O candidato a presidente era João Mangabeira, o candidato a governador de São Paulo era Prestes Maia, distribuíamos cédulas também para deputados, me recordo que um deles era Alípio Correia Neto.
A eleição presidencial de 1989 foi uma das mais emocionantes, justamente pelo desempenho do Lula, pelas caravanas da cidadania com que ele percorria o Brasil que, na moita, foram construindo um apoio popular surpreendente, que o levou ao segundo turno.
Agora voltamos a votar para presidente. Teremos de novo a saudável sensação de ter um presidente eleito pelo voto popular. Mas a situação tornou-se tão periclitante, que o presidente do STF se viu obrigado a afirmar que “quem ganhar, leva”. Quando é necessário dizer isso, é porque se perdeu a tradição de quem ganha, leva.
Será bom deixar estes cinco anos para trás. Como o próprio Barroso diz, agora, um pouco tarde, o impeachment não fez bem para o país. Mas nem o Tasso Jereissati, nem o Barroso, tira consequências dos seus tardios arrependimentos. Parece mais desabafo, para tentarem não passar para a história de forma degradante.
Vou gostar, vou sentir de novo que os destinos do país estão nas mãos das pessoas, dos cidadãos, dos brasileiros. Vou sair com um sentimento bom. Não só por eleger um presidente pela via democrática, mas por desalojar aqueles que desgovernam o país desde 2016.
Eleições numas horas destas? Justamente, é o que o Brasil mais precisa hoje. Vou votar pela oitava vez para presidente em quase 30 anos. Vou votar no Haddad e vou ajudar a eleger o quinto presidente do PT consecutivamente.

* Trecho editado de texto publicado originalmente na coluna do autor no site Brasil 247, em bit.ly/2Nh5BPe. ** Professor e Cientista Social.

 

Capa

TODAS E TODOS CONTRA O FASCISMO

E em defesa da Petrobrás, dos direitos trabalhistas e da justiça social. Eleição do próximo domingo é oportunidade de virada sobre os efeitos do golpismo e do discurso de ódio que assolam o País

Nunca na história recente do País tanta coisa esteve em jogo numa eleição. No próximo domingo, 07, no primeiro turno, e, a se confirmarem as pesquisas de intenções de votos, no próximo dia 28, no segundo turno, não são apenas projetos diferentes dentro do campo democrático que estarão sendo escolhidos pela população, mas sim a própria democracia que estará em risco. Além dos direitos sociais, trabalhistas e de uma visão de desenvolvimento com justiça e distribuição de renda, está sob ameaça o direito fundamental à liberdade e à cidadania.
Para a categoria petroleira, estará em questão, particularmente, o futuro da Petrobrás e da destinação dos recursos produzidos pelo setor petróleo. Essa disputa, que é uma constante na história brasileira desde a criação da própria companhia, está na raiz do Golpe de 2016, claramente identificado como sendo um golpe pelo pré-sal.
Na agenda golpista, como os anos MiShell deixaram claro, estão medidas que se acirrarão se a candidatura fascista for a vitoriosa, como o fim do adicional de férias, do décimo terceiro salário e de outras garantias da já combalida CLT (como antecipado pelo “Posto Ipiranga”), a aceleração do encolhimento do Estado e das políticas sociais, o acirramento das tensões sociais e da violência por meio de um estímulo ao porte de armas, a perseguição a negros, mulheres, LGBTs, indígenas e demais minorias políticas, entre outras do cardápio ultra-neoliberal.
É por isso que, de forma muito clara, a CUT, a FUP e seus sindicatos, entre eles o Sindipetro-NF, se posicionaram com altivez e responsabilidade histórica em seus fóruns de deliberação, aprovando o apoio formal à candidatura de Fernando Haddad para a Presidência da República. Neste momento, é ela que representa a possibilidade de resistência à barbárie, ao ódio e aos ataques aos direitos dos trabalhadores, além de ter assumido o compromisso de revisão das medidas conservadoras aprovadas pelos golpistas, como a Reforma Trabalhista e o escancaramento das terceirizações.

Elas contra eles

NF com presença massiva no “Ele, não”

Mulheres e homens contra o machismo lotaram atos públicos “Ele, não”, nas maiores cidades do País no último sábado. As maiores concentrações ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O Norte Fluminense também esteve presente, com grandes protestos em Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras. Analistas apontaram a realização do evento com um marco na história política brasileira, sendo o primeiro claramente contrário a uma candidatura específica à Presidência da República durante o processo eleitoral. “Um dia histórico. O ódio não vai nos vencer. Juntos e juntas vamos derrotá-lo. A gente tem esse poder”, afirmou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), em sua conta no Twitter, depois de participar das mobilizações em Porto Alegre.

Saúde

Tempo de alerta contra o benzeno

Nesta sexta, 5 de outubro, é o Dia Nacional de Luta Contra a Exposição ao Benzeno. Todas as bases petroleiras receberão um boletim preparado pela Comissão Nacional do Benzeno sobre o tema. No NF, que tem longa trajetória de atuação pelo reconhecimento da exposição dos trabalhadores ao agente cancerígeno, o assunto será tratado também durante um ciclo de atividades organizado pela entidade para este mês, a partir do dia 10.
Serão encontros nas bases e conversas ao vivo pelo Facebook para contribuir na luta pela saúde dos trabalhadores e trabalhadoras. Confira a programação abaixo e participe.

Atividades
Dia 10
Manhã – Farol.
19h – Face to face com mediador do NF, o médico do trabalho do sindicato, Ricardo Garcia, e um representante da Comissão Nacional do Benzeno.
Dia 11
Manhã – Aeroporto de Campos.
Dia 15
Manhã – Falcão Bauer.
Dia 22
Manhã – Aeroporto de Cabo Frio.
Dia 24
Manhã – Aeroporto de Macaé.

Soberania ameaçada

Estrangeiras dominam pré-sal

Das Imprensas da FUP e do NF

Como já era previsto, as petrolíferas estrangeiras fizeram a festa durante a 5ª Rodada de Licitação do Pré-Sal, na semana passada, onde arremataram mais de 90% dos 17,39 bilhões de barris de petróleo que foram leiloados. Fazendo a equivalência entre os R$ 6,82 bilhões que o governo arrecadou em bônus de assinatura e o valor atual do barril de petróleo, chegaremos a bagatela de R$ 0,34 o preço médio pago por cada barril do Pré-Sal leiloado. Juntas, essas empresas concentram 75% das reservas, onde são operadoras em seis dos 14 blocos licitados.
Para protestar contra mais esse crime de lesa pátria, a FUP e seus sindicatos realizaram manifestações em frente às sedes da Agência Nacional do Petróleo (ANP), no Rio de Janeiro, e da Petrobrás, na Avenida Paulista (SP), além de atos e mobilizações nas bases da petrolífera brasileira. Na terça, 25, a FUP também ingressou com uma Ação Civil Pública, cobrando a suspensão da 5ª Rodada.
Ao todo, 13 multinacionais já se apropriaram de reservas equivalentes a 38,8 bilhões de barris de petróleo, de um total de 51,83 bilhões de barris que foram leiloados. As britânicas Shell e BP já acumulam 13,5 bilhões de barris de petróleo em reservas do Pré-Sal. Mais do que a própria Petrobrás, que detém 13,03 bilhões de barris em campos leiloados nas cinco rodadas da ANP.

É cilada!

Golpe do PCR agora na Transpetro

Da imprensada FUP

A Transpetro abriu nesta segunda, 01, a adesão ao Plano de Carreiras e Remuneração (PCR), que está sendo ofertado aos trabalhadores de forma individual e à revelia das entidades sindicais, seguindo os mesmos parâmetros da Petrobrás. O prazo de adesão é até 14 de novembro. A orientação da FUP e de seus sindicatos é que os trabalhadores não caiam nessa armadilha, pois terão perdas de direitos e ficarão à mercê dos gestores, como já está acontecendo na Petrobrás.

Normando

Derrotar Bolsonaro-3

É do fascismo canalizar o ódio “contra tudo o que está aí”, contra o poder estabelecido, em prol da exata manutenção “de tudo o que está aí”, e do poder estabelecido. É a última cartada da hipocrisia política liberal, apelando para a mobilização das massas contra os interesses das massas.
Explico: o capitalismo é o menino dono da bola, no futebol da rua. Enquanto ele ganhar na partida, será o maior defensor das “regras do jogo”, e da “democracia”. É momento “liberal” do menino.
Quando, porém, o menino começa perder de 7×1 no jogo democrático, rapidamente mostra ser ele quem manda, dono da bola e das regras. Se não aceitarem seus ditames, pega a bola, coloca debaixo do braço e vai pra casa. “Com o Supremo, com tudo!” É o momento fascista da criança.
O personagem é o mesmo. No primeiro momento, liberal, o menino fará um discurso racional, valorizará os “grandes princípios” da civilização e a intelectualidade. Até defenderá a Constituição – que aliás faz 30 anos amanhã, estuprada pelo Supremo. O que pouco importa, pois, se Bolsonaro vencer, a Constituição não completará 31 anos.
No segundo momento, fascista, o discurso do personagem é emocional, odioso, e prega abertamente a violência política. Se os outros meninos não concordarem, ele mandará seus capangas bater e matar, até que os dissidentes se calem.
Qual a grande continuidade entre um momento e outro? O “menino” continua sendo o dono da bola. Ah! Mas no momento “Bolsonaro” da vida, para que tudo continue como sempre foi, o menino anunciará que ele agora é “contra tudo o que está aí”.
Assim se apresenta o falso “novo”, contra “os políticos que vivem e se enriquecem da política”, e que “se perpetuam na política, através dos filhos”. Como se não tivesse vivido e enriquecido da política há 28 anos, e como se não se perpetuasse nesse meio, via filhos.
E a massa? Por que os outros meninos aceitam esse jogo onde, no momento democrático não podem “ganhar de muito”, e no momento fascista deixam que o menino “pegue a bola”?
Por duas razões principais:
A primeira causa é a naturalização da desigualdade. “O menino é o dono da bola, e é assim que tem que ser.” Por conformismo, ou estratégia de sobrevivência, aceita-se que só ele tenha “a bola”.
A segunda deriva da 1ª: “O menino é o dono da bola, então ele é quem faz as regras.”
O resultado final é aceitar, por exemplo, que “viado”, mulher, e negro, só podem disputar jogos com “outra bola”, numa segunda categoria. E fazer com que esses, e outros excluídos, também aceitem.

Curtas

Petros e PLR
Representantes da FUP se reuniram na terça, 02, com o presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro, para apresentar a proposta que reduz o equa-cionamento da Petros e resolve questões estruturais dos planos. A Federação também cobrou de Monteiro o cumprimento do compromisso que a empresa assumiu de garantir a aprovação do Termo de Quitação da PLR 2017 pela diretoria da Araucária Nitrogenados, bem como a assinatura do Acordo de Metodologia da PLR, que tem vigência até março de 2019.

Palestra no NF
O Sindipetro-NF vai promover, no próximo dia 18, às 18h, no Teatro da entidade em Macaé, a palestra “Quando o trabalho adoece e mata”, com a professora Terezinha Martins. Doutora em psicologia pela PUC-SP, a palestrante é integrante do Departamento de Saúde Coletiva da UNIRIO. O evento dá continuidade ao Ciclo de Debates e Palestras sobre a questão de gênero e assédio, realizado pelo NF desde agosto.