EDITORIAL
Que todos sejamos um
Que cada trabalhador ou trabalhadora entenda de uma vez por todas: ninguém vai se salvar sozinho desta tsunami neoliberal tresloucada que tomou conta do País. Pior do que todas as experiências anteriores, o desmonte atual não guarda, sequer, algum contato com uma racionalidade econômica, pois até mesmo nesta área tem causado prejuízos ao País. O que se tem é apenas a aplicação da ortodoxia de Chicago com pitadas astrológicas olavistas e cumplicidade militar subserviente.
Não há parâmetro na história republicana brasileira para o que está sendo feito agora.
As tentativas neoliberais dos anos 90 deram-se em cenário em que a esquerda não havia estado no poder e era, portanto, uma corrente ascendente, sem os desgastes que o exercício de um governo impõem; mesmo setores conservadores não eram necessariamente neoliberais, e havia dificuldade em falar com a população sobre cortes em benefícios sociais; ainda era recente o clima de conquistas da Constituição de 1988, vários direitos estavam sendo regulamentados e o acúmulo nos movimentos sociais e nas universidades influenciava na disputa de espaços pela definição dessas políticas.
Foram justamente as tentativas anteriores que, em razão dos sucessivos fracassos e impopularidade, formaram o terreno fértil para a construção de uma candidatura presidencial como a de Lula, derrotada por três eleições até ser vitoriosa no pleito de 2002.
Até que este ciclo novamente gire e seja possível reorientar as políticas de governo para o rumo de onde elas nunca deveriam ter saído, levará um tempo de desgaste deste modelo tresloucado em curso. O alarmante é que, por menor que seja a duração deste momento atual, ele é suficiente para promover perdas que poderão levar décadas e décadas para que seja possível uma recuperação.
Trata-se agora, portanto, de estabelecer uma união muito ampla, com recortes largos, para resistir contra os ataques em grande escala que estão sendo empreendidos. No caso específico da Petrobrás, não importa se você é trabalhador da companhia ou do setor privado, se está em área operacional ou administrativa, se ocupa algum cargo de confiança da gestão ou não, se é novo ou antigo no trabalho. Os danos nefastos atingem a todos indistintamente.
Que todos sejamos um para enfrentar as trevas desta noite triste.
ESPAÇO ABERTO
Só o coletivo constrói
Vitor Menezes*
Vídeo da pesquisadora brasileira Joana D`Arc Félix de Souza que viralizou nas redes sociais (bit.ly/2ANLyXD), como um grande exemplo de superação, é, na verdade, um grande exemplo de que só o coletivo constrói.
Mulher negra nascida na pobreza brasileira, filha de pai curtumeiro e mãe empregada doméstica, a cientista conta de modo emocionante a sua trajetória até se tornar doutora pela Universidade de Harvard.
Um dos trechos mais tocantes é quando ela conta que, na época da graduação em Química, como não tinha dinheiro para comer, almoçava no bandejão da Unicamp e levava o pão que acompanhava a refeição, ou uma fruta, para jantar à noite — o que gerava uma lacuna no final de semana que ia sendo preenchida pela generosidade, digamos, extra-oficial das “tias” da cozinha da universidade.
A princípio pode parecer uma história de superação pessoal. Mas essa é só uma parte da história. Na história de Joana Félix há histórias de pais presentes e que valorizaram a educação, uma diretora de escola que percebeu o potencial de uma criança, professores da escola estadual que se mostraram parceiros e o papel imprescindível da universidade pública brasileira (inclusive em razão do jeitinho das “tias” do bandejão).
Indivíduo é uma ficção jurídica que pode ter o seu valor para preservar direitos fundamentais de liberdade e de expressão, mas está longe de ser uma noção que dê conta de explicar a vida em sociedade.
É por isso que uma das maiores tragédias dos nossos dias consiste justamente em tentar desmontar laços de solidariedade construídos a duras penas em um País desigual e autoritário como o Brasil. Quantas Joanas Félix deixarão de existir se continuarmos a criminalizar professores, a desrespeitar as nossas universidades, a reduzirmos a noção de sucesso a trajetórias individuais como desculpa para retirarmos cada vez mais direitos coletivos?
Individualmente, sozinhos, somos das mais frágeis presas da natureza. Não sobrevivemos nem a nós mesmos.
* Jornalista do Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF.
GERAL
Petroleiros contra o desmonte
Petroleiros e petroleiras realizaram no último dia 30, em várias bases do País, protestos contra a privatização da Petrobrás e por mais empregos. No Norte Fluminense, o protesto aconteceu no Terminal de Cabiúnas. As manifestações também buscaram alertar a população sobre os prejuízos que a política de desmonte da companhia gera para o Brasil, inclusive com o aumento nos preços dos combustíveis.
Essa destruição da Petrobrás é ilustrada na capa desta edição do Nascente pelo presidente da companhia, Roberto Castello Branco, mesclado ao personagem Thanos, do filme “Os Vingadores”. Na trama, o vilão acredita que a solução para salvar o universo é acabar com 50% dos seus habitantes. Na Petrobrás, “Castellothanos” quer “salvar” a Petrobrás vendendo metade das suas refinarias — a rigor, até mais do que a metade.
Na semana passada, a gestão da empresa anunciou ao mercado que colocará à venda oito das suas 13 refinarias. Estão na lista para entrega imediata a Refinaria Abreu e Lima; a Unidade de Industrialização do Xisto; a Refinaria Landulpho Alves (Rlam); a Refinaria Gabriel Passos (Regap); a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar); a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap); a Refinaria Isaac Sabbá (Reman); e a Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor).
A companhia, que vinha vendendo plataformas e outras áreas de empresa, também está colocando à venda gasodutos e participação em empresas subsidiárias, como a BR Distribuidora. O projeto do governo Bolsonaro, caso não seja possível vender toda a empresa, é mantê-la apenas como um escritório.
Com a largada da Campanha Reinvindicatória, dada pelos congressos regionais e estaduais, e com o crescimento da conscientização da categoria sobre os ataques do governo Bolsonaro à Petrobrás e ao País, há expectativa de grande crescimento das mobilizações, com previsão de greve geral nacional no dia 14 de junho.
Queda nos empregos
De acordo com o economista Iderlei Colombini, do Dieese, a Petrobrás chegou a ter 86.612 empregados próprios e 360.712 terceirizados em 2012. Em 2018, esse número caiu para 63.361 trabalhadores próprios e 116.065 tercei-rizados, de acordo com o Relatório Anual da Petrobras de 2018. Na Bacia de Campos ocorreu uma queda de 27% no número de trabalhadores da Petrobrás de 13.186 para 9.660. O número de empregos de terceirizados na Bacia de Campos caiu 63%, de 47.438 para 17.695.
Conperj sela unidade no RJ
Realizado no último final de semana, no Rio, o Conperj (Congresso dos Petroleiros do Rio de Janeiro) reuniu lideranças políticas institucionais, dos sindicatos e dos movimentos sociais. Foram aprovadas propostas para o Acordo Coletivo de Trabalho do sistema Petrobrás e eleitos delegados e delegadas para a Plenafup (Plenária Nacional da FUP), que será realizada no final de maio, em Belo Horizonte.
O tom político do congresso foi pautado pela necessidade de superar dierenças entre correntes políticas das organizações dos trabalhadores, para que todos estejam unidos para enfrentar a mais difícil campanha reivindica-tória da história das negociações petroleiras com a empresa, além dos ataques gerais do governo Bolsonaro.
Uma das integrantes da mesa de abertura do evento, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), destacou justamente essa necessidade de unidade para enfrentar os ataques aos direitos dos trabalhadores e à democracia brasileira. “Sonho com o dia de a gente ter uma central [sindical] só no Brasil. É uma compreensão maior de que esse momento está demonstrando, de ultrapassar determinadas querelas para defender o País e os direitos”, disse.
O coordenador geral da FUP, José Maria Rangel, fez uma análise sobre o modo como este cenário impacta especificamente a Petrobras. “O momento é muito grave. Estamos falando de emprego, de aposentadoria, e isso é muito sério. Por isso ingressamos com a ação de suspensão das assembleias geral ordinária e extraordinária da Petrobras (que, entre outros pontos, aprovaram que o Conselho de Administração poderá aprovar a venda de ativos sem passar por assembleia)”, disse.
15º Congrenf
O Conperj reuniu cerca de 150 pessoas, entre delegados, convidados e expositores, e incluiu a realização simultânea do 13° Conduc (Congresso dos Petroleiros de Duque de Caxias) e do 15° Congrenf (Congresso dos Petroleiros do Norte Flumi-nense). Também participaram do congresso militantes de base do município do Rio de Janeiro.
Primeiro de Maio: Caminhada de luta em Macaé
As Centrais Sindicais realizaram um ato para marcar o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, na cidade de Macaé, contra a Reforma da Previdência. Os trabalhadores se concentraram às 9h no Posto BR da Praia Campista e depois seguiram em caminhada até a Praia dos Cavaleiros.
“Só vemos o desemprego crescendo cada vez mais. A tenência é ver mais gente desempregada e depois dessa reforma, trabalhadores sem direito a se aposentar”, disse o diretor do NF, Benes Junior.
Durante a caminhada, com pessoas carregando faixas e bandeiras pela orla, foram distribuídos boletins do Sindipetro-NF e outros materiais que esclareciam o porquê da classe trabalhadora se posicionar contra a Reforma da Previdência.
Café da Manhã
Também na manhã do 1º de Maio, o Sindipetro-NF se somou aos trabalhadores desempregados que estão diariamente na Praça Veríssimo de Mello e levou uma complementação do café da manhã. Esse trabalho voluntário é feito diariamente por um casal, que prefere não se identificar.
Equacionamento: Faça sua adesão à ação individual
O Departamento Jurídico do Sindipetro-NF mantém aberto o período de adesões às ações individuais contra o desconto do equacionamento da Petros. Os interessados devem procurar a entidade para obter mais informações, levar documentos pessoais e aderir à ação.
Depois de atuar em mais de 30 ações coletivas, em municípios dos estados do Rio de Janeiro, da Bahia, do Paraná, de Goiás, de Santa Catarina, do Espírito Santo, entre outros, o sindicato reforça a luta por justiça aos participantes da Petros por meio das ações individuais.
“Conseguimos algumas limina-res, infelizmente restritas a efeitos municipais pelo Judiciário. E, mediante recursos, a Petros neutralizou diversas. É preciso, agora, contar com ações individuais”, explica o advogado Normando Rodrigues, assessor jurídico do Sindipetro-NF.
Os associados do Sindipetro-NF arcarão somente com as custas judiciais do processo, pagas ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e não ao sindicato, e nem ao escritório Normando Rodrigues.
“Mas, como em qualquer processo, em caso de derrota existem riscos. Para saber mais, procure nosso atendimento individual”, orienta Normando.
Atendimento e documentos
São necessários os contracheques relativos ao período compreendido de Janeiro/2018 até a presente data, carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. Mais informações podem ser obtidas por todos os interessados por [email protected].
CURTAS
Bureau Veritas
Os petroleiros da Bureau Veritas realizaram, na manhã de ontem, um ato na porta da Petrobrás, na Praia Campista, em defesa do pagamento do Piso para os trabalhadores de Macaé, com é praticado com os empregados do Rio. Em Macaé a empresa paga metade do piso. Além da remuneração baixa, os trabalhadores denunciam o não pagamento de alguns benefícios. Com o objetivo de organizar essa luta foi criada uma Associação, na última terça, 30.
Seminário PED
O NF realiza, no próximo dia 9, o Seminário de Multiplicadores da Alternativa do Plano de Equacionamento de Déficit. O evento será na sede do sindicato, em Macaé, às 19h. O objetivo é formar multiplicadores para a batalha entre a alternativa dos trabalhadores ao plano de equacionamen-to e a proposta da patrocinadora sobre o Petros 3. Os interessados devem fazer contato pelo whatsapp ou por [email protected].
Gigante Lula
O vídeo de duas horas, com a íntegra da entrevista do ex-presidente Lula aos jornalistas Florestan Fernandes Júnior (El País) e Mônica Bergamo (Folha de São Paulo) é essencial para a compreensão do momento político brasileiro. A lucidez da sua leitura de conjuntura e a altivez de um verdadeiro estadista são um bálsamo nestes tempos de “lacração” e frases vazias. Caso ainda não tenha visto, invista seu tempo nesta aula de política e de democracia em bit.ly/2Y3jCWi.
PLR
O Sindipetro-NF, através do seu Coordenador, Tezeu Bezerra, assinou no último dia 26 o Acordo de quitação da PLR 2018 dos trabalhadores da Petrobrás. O valor a ser pago varia de acordo com o que cada trabalhador recebe. Com essa assinatura, os trabalhadores receberão os valores referentes à quitação da PLR no dia 10 de maio.
28 DE ABRIL Ato em plenário no Congresso dos Petroleiros do Rio de Janeiro, no último final de semana, marcou o 28 de Abril, Dia em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. O diretor do NF, Alexandre Vieira, conduziu a homenagem e o chamado à luta pela segurança. Os coordenadores do NF e Caxias, Tezeu Bezerra e Paulo Cardoso, falaram das atuações das entidades no combate aos acidentes.
NORMANDO
“Com mulher, fique à vontade”
Normando Rodrigues*
“Quem quiser vir ao Brasil fazer sexo com mulher, fique à vontade”, disse o presidente. Há pelo menos dois temas implicados em mais essa monstruosidade. O primeiro, óbvio, tem a ver com moral. O segundo com soberania.
No plano moral trata-se de mais uma, dentre muitas, evidência da hipócrita pauta de costumes que caracterizou a opção política da sociedade brasileira pelo mais abjeto de seus representantes.
Hipocrisia retratada, por exemplo, em a classe média niteroiense se manifestar contra o assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, e 7 anos depois, no mesmo exato local, fazer campanha de verde e amarelo para eleger cúmplices ou apoiadores dos assassinos.
Ética
Normal o caso niteroiense, conforme a moral vigente no Brasil da nova Ditadura, que prega certa retidão de comportamento, enquanto admite uma prática completamente oposta.
Fala-se em proteger a família, mas o próprio monstro eleito admite o estupro – salvo quando a mulher em questão seja “feia a ponto de não merecer”. Não surpreende que os casos de feminicídios e estupros tenham disparado no Brasil. O exemplo vem de cima.
Que essa moral torta não se enquadre em nenhum sentido ético, é irrelevante. “Ética” é disciplina da filosofia. E filosofia passou a ser matéria tão demonizada quanto Lula e o PT.
Soberania
Mas qual a relação entre a oferta das mulheres brasileiras, aos gringos, e a soberania?
O modelo feminino idealizado pelo monstro é o da mulher duplamente coisificada, na antiga e hipócrita partição pequeno-burguesa entre “mulher-de-casa” e “mulher-de-rua”. No 1° grupo o estereótipo bolsonarista é o da mulher burra e submissa, bem exemificado por, digamos, Damares. No 2° enquadra-se a prostituição, grotescamente condenada na frente da família, e celebrada no dia a dia por pais e filhos.
Coisificada a mulher, particularmente a do 2° grupo, ela passa a ser um produto. Os mais velhos se lembrarão da expressão “mulata tipo exportação”. O que o monstro fez, em seu sistema de valores, não foi senão propagandear um recurso econômico nacional. Certamente na crença de que o turismo sexual é uma importante alternativa para “alavancar” a economia nacional. Nada que Paulo Guedes não fizesse.
Ofertar as mulheres do Brasil é, assim, parte da agenda. É como entregar as elétricas, o Banco do Brasil, Caixa, ECT, Vale, Embraer, Petrobrás, e o Pré-Sal.
Aliás, significativante, o Fundo Soberano, criado para controle dos recursos advindos do Pré-Sal, foi extinto terça, dia 30 Abril, e você nem ficou sabendo.
* Assessor jurídico do Sindipetro-nf e da FUP.
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