EDITORIAL
Ataque ao conhecimento
O ataque às universidades e o ataque ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fazem parte de uma cruzada de inspiração fascista contra a ciência e o conhecimento. Estas áreas não existem para agradar aos governantes, mas para promover o desenvolvimento humano, a civilização, a emancipação cultural.
Independentemente do viés político a que se filie qualquer brasileiro da atualidade, todos precisam acordar para o projeto obscurantista em curso, sob pena de ser tarde demais. Veículos de comunicação, quando narram as suas trajetórias, gostam de dizer que só perceberam em 1968 a dureza do regime imposto em 1964. Agora, espera-se que não demorem tanto.
Estamos sob um governo que reforça um traço constante da sociedade brasileira: aquele da extrema violência contra os pobres. Para sustentar privilégios, a elite brasileira sempre resistiu a movimentos que produzissem mobilidade social, com a ascensão dos trabalhadores e trabalhadores ao mundo do consumo. Um dos fatores fundamentais da atual reação conservadora tem relação direta com o crescimento do acesso, pela população, a bens e serviços que antes eram restritos a uma pequena classe média e aos mais ricos.
A combinação de ressentimento elitista, de fundamentalismo religioso, de saudosismo de uma ordem militar e de anti-nacionalismo econômico é a mistura que produz o caldo amargo que nos tem sido servido nestes dias. E nada mais pernicioso para este pensamento obscurantista do que a verdade científica e a reflexão produzida nas universidades.
Usuais manipuladores da noção de “ideologia” para etiquetar qualquer movimento crítico, os bolsonaros incorrem justamente na extrema ideologização do seu governo, destruindo políticas públicas de estado ao fazê-las submetidas a uma política momentânea de governo.
São dias trágicos para o País. E de toda essa tragédia que ao menos surja o aumento da consciência da população em relação ao grande equívoco que foi a eleição deste projeto autoritário. Estão esticando a corda, com medidas anti-populares, fiéis ao receituário maquiavélico de tomar as piores medidas em início de governo. Apostam que este caminho os levará à redenção adiante, salvos por um mercado que, grato pela reforma da previdência e por outros cortes de direitos dos mais pobres, promoverá a recuperação econômica. Estão enganados. Não existe economia sem povo e o cenário vai piorar.
Só as ruas podem virar esse jogo.
ESPAÇO ABERTO
Cruzada contra a educação*
Guilherme Boulos**
Em vez de combater o desemprego, a fome ou a falta de moradia, Bolsonaro parece decidido a levar adiante uma cruzada contra a Educação. Sua trajetória, é verdade, jamais inspirou bons ventos para a área no Brasil, mas seria difícil imaginar uma saga tão bizarra e com tamanha repulsa de um dos pilares centrais para o nosso desenvolvimento.
O corte de verbas por critérios ideológicos e, além de tudo, toscos é não só autoritário como flagrantemente ilegal. Sabendo ser alvo fácil de uma ação de improbidade, o ministro “recuou”, mas da maneira mais estúpida que se poderia imaginar: estendeu o corte de 30% para todas as universidades federais.
Na verdade, o que está em jogo não é o perfil social dos estudantes ou atividades pontuais nas dependências das universidades, mas uma indisfarçável aversão ao pensamento crítico. A educação que prepara para a vida e forma para a cidadania é vista com temor. Nunca isso foi tão evidente num governo. Por isso atacam tanto Paulo Freire. Por isso gostariam que a universidade fosse reservada apenas para uma “elite intelectual”, cabendo aos demais apenas ler, escrever e fazer contas.
Ao contrário de seu carinho pelos milicianos, Bolsonaro sempre tratou professores como inimigos. Estimula a violência, divulga vídeos descontextualizados por meio das redes sociais, faz pronunciamentos preconceituosos.
O mais grave é que não se trata apenas de tuítes ou discursos. Seu governo utiliza o ministério com maior orçamento do País para sustentar uma plataforma de destruição da educação e manter seus alucinados sequazes em atividade. Caso siga em marcha, os efeitos dessas medidas podem afetar milhões de brasileiros e comprometer o futuro da próxima geração.
* Editado em razão de espaço. Íntegra publicada originalmente na revista Carta Capital, em bit.ly/2H44fHD, sob o título “Em vez de combater o desemprego, Bolsonaro faz cruzada contra a Educação”. ** Professor, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), foi candidato à Presidência da República pelo Psol.
GERAL
Resposta virá com grande greve
Na semana em que os movimentos sindical e social lembraram os 22 anos da privatização da Companhia Vale do Rio Doce, realizada em 6 de maio de 1997, sob o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a categoria petroleira e demais trabalhadores brasileiros alertam para novos e até mais graves ataques às empresas e às políticas públicas brasileiras. Em clima de preparação para a greve geral do setor da educação, no próximo dia 15, e da greve geral em 14 de junho, a direção Nacional da CUT, que se reuniu na última segunda, 6, com participação do Sindipetro-NF, chama a todos a estarem prontos para uma batalha dura pela soberania, por direitos sociais e contra a reforma da Previdência.
Sobre a iminência de uma grave acentuação do programa de privatização, o movimento sindical alerta que nada está fora do alcance da atual devastação neoliberal operada pelo governo Bolsonaro. “São estatais importantes, como Petrobras, Eletrobras, Correios, o saneamento básico, as ferrovias, bancos públicos, entre outras empresas estratégicas, que correm risco de serem vendidas ao capital privado se o Posto Ipiranga de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, seguir com o programa de privatizações, que promete dar início ainda este mês”, afirma a CUT.
A Central lembra que o governo FHC vendeu a Vale do Rio Doce por R$ 3,3 bilhões, quando mantinha reservas minerais calculadas em mais de R$ 100 bilhões. “Após mais de duas décadas, os resultados, segundo estudo da subseção do Dieese da CUT, foram: exploração mineral sem relação com as estratégias de desenvolvimento nacional e local; transferência do lucro para acionistas, sobretudo de fora do Brasil; crescimento da terceirização e do trabalho precário, inclusive com trabalho análogo à escravidão na cadeia produtiva; e ampliação da degradação ambiental e dos crimes ambientais, como os rompimentos das barragens da companhia em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais”, pontuou a Central.
Enquanto brinca de governar, alimentando pautas morais, dando vazão a fakenews e utilizando-se de táticas diversionistas como as declarações polêmicas do guru Olavo de Carvalho ou do filho Carlos Bolsonaro, o presidente da República distrai a sua plateia fundamentalista para que a sua equipe econômica opere o maior desmonte do estado na história recente do País.
Em razão disso, o Sindipetro-NF reforça o chamado à toda a categoria petroleira e à sociedade, para que participem dos protestos que tendem a crescer nos próximos dias até a greve geral de 14 de junho.
Vitória do sindicato sobre Greve 2015
O Sindipetro-NF, por meio do seu Departamento Jurídico, conseguiu nesta semana dar efeito ao cancelamento de uma multa de R$ 500 mil que havia sido imposta à entidade em ação da Petrobrás, contra a Greve de 2015. Mesmo tendo sido anulada a multa em decisão de 2017, a companhia insistia com a ação e, em razão dos seus seguidos recursos para atrasar a conclusão do processo, acabou sendo condenada e multada.
Durante a greve histórica, a Petrobrás utilizou a sua usual política de ataque aos sindicatos e ingressou no judiciário buscando impedir a manifestação dos trabalhadores. Baseado em relatos falsos, a Vara do Trabalho de Macaé condenou o Sindipetro-NF em R$ 500 mil.
“Cabe destacar que a Petrobrás nunca foi condenada nessa quantia por conta de suas rotineiras ações contra os sindicatos e os trabalhadores, mesmo em casos de acidentes com óbitos. Na greve fomos vitoriosos, entretanto ainda restava pendente a discussão sobre a aplicação da famigerada multa”, explica o advogado Normando Rodrigues, assessor jurídico do NF e da FUP.
“O valor monetário é a menor das vitórias, mas a condenação da Petrobrás em ação promovida para atacar os trabalhadores em seu direito à greve é mais uma repercussão da Greve de 2015 e que servirá de incentivo para a campanha de 2019”, avalia Normando.
O caminho do processo
O cancelamento da multa ao NF havia acontecido em 2017. O TST (Tribunal Superior do Trabalho) anulou a aplicação da multa e aplicou uma multa à Petrobrás de 1% sobre o valor atualizado da causa, por conta do uso de um recurso com o intuito de “atrasar” o processo. Encerrado esse julgamento o processo voltou para Macaé. Decisão no último dia 7 homologou o cálculo da multa aplicada, de R$ 719,97.
NF estreia programa com a Forum
Em parceria com a Revista Forum, o Sindipetro-NF começou a veicular nas suas redes sociais e no site da própria revista o programa Forum Sindical, com debates sobre a realidade do País. Em edição recente, o coordenador geral do sindicato, Tezeu Bezerra, e o diretor Tadeu Porto tratam da venda de refinarias e da greve geral (youtu.be/9-VNweskUTQ). Os sindicalistas alertam: os preços dos combustíveis não cairão com a privatização de refinarias.
“É bom deixar claro: quem está falando que o preço dos combustíveis vai diminuir, está mentindo. Está mentindo como mentiram quando falaram que derrubando a Dilma a economia iria melhorar, estão mentindo igual quando falaram que a reforma trabalhista ia gerar emprego”, afirma Porto, no programa, mediado pelo jornalista Ivan Longo.
Bezerra, também advertiu: “Privatizar não vai fazer com que diminua o preço. Se você vende oito refinarias, forma-se mais um cartel no Brasil para beneficiar um grupo de oito empresários. Se nos postos de gasolina já são feitos esses cartéis, imagina com as refinarias”.
Palestra do NF hoje na Sipat
O Sindipetro-NF participa da Semana Interna de Prevenção de Acidentes (Sipat), que começou no último dia 6 e segue até hoje nas bases de terra da Petrobrás (Imboassica, Benedicto Lacerda, Imbetiba e Edinc). O sindicato mantém diretores e diretoras disponíveis durante o evento para conversar com os trabalhadores e realizar palestras sobre Direito de Recusa.
A palestra de hoje, às 8h, será no auditório de Cabiúnas, com os diretores Alexandre Vieira e Cláudio Nunes. Também realizaram palestras os diretores Benes Júnior e Raimundo Teles.
Equacionamento: Liminar obtida na ação individual
Começam a surgir, por meio de liminares, os primeiros resultados das ações individuais contra o equacio-namento do PPSP (Petros 1). “Lembramos que o processo individual possui riscos e custas judiciais, todos meticulosamente explicados no momento do atendimento. Mas vale a pena”, explica o Jurídico da entidade.
O Sindipetro-NF luta contra o equacionamento em várias frentes, visando proteger no curto e médio prazo os seus filiados.
Continua o período de adesão às ações individuais contra o desconto do equacionamento da Petros. Os interessados devem procurar a entidade para obter mais informações, levar documentos pessoais e aderir à ação.
Documentos
São necessários os contracheques relativos ao período compreendido de Janeiro/2018 até a presente data, carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. Mais informações podem ser obtidas por todos os interessados pelo e-mail do escritório: [email protected].
CURTAS
Estatuto
A categoria petroleira aprovou em Assembleia Geral Extraordinária, na quarta, 8, na sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes, a ratificação da alteração estatutária praticada em 30 de março de 2010. A assembleia foi convocada em edital publicado em 6 de abril. O Estatuto Social é o instrumento que materializa a entidade. É o documento que serve para estruturar e disciplinar o funcionamento do Sindicato. O estatuto está disponível para todos os interessados no site da entidade.
Teatro hoje
O Sindipetro-NF distribui até às 12h de hoje, a sindicalizados, convites para a peça “Luiz Gama: uma voz para liberdade”, que será encenada também hoje, às 20h, no Teatro Municipal Trianon, em Campos dos Goyta-cazes. Os interessados devem enviar e-mail para [email protected] e comparecer à sede do NF em Campos para retirar seus convites. Cada um terá direito a retirar até dois convites. A distribuição é limitada a 50 convites.
Boa leitura
O pesquisador, engenheiro e ex-petroleiro Paulo César Ribeiro de Lima lançou ontem, em Curitiba, o livro “A importância do refino para a Petrobrás e para o Brasil” (editora da UnB). O evento aconteceu na sede do Sindipetro-PR/SC. Para ele os preços praticados pela Petrobrás podem ser administrados pela União, que detém o controle do capital votante da empresa. Para se evitar abusos por parte do controlados, propõe a regulação dos preços dos derivados no Brasil.
Luto
O Sindipetro-NF registrou ontem em seu site, com pesar, a morte do Técnico de Suprimento da P-52, Emerson Araújo Sampaio, de 45 anos. Na quarta, 8 de maio, por volta das 18h, o trabalhador foi encontrado sem vida no quarto de um hotel em que estava hospedado, no Rio de Janeiro. Emerson estava em fase de reclassificação para Técnico de Segurança da P-52. Era morador de Iguaba e deixa esposa e filhos.
SERVIDORES NA LUTA Servidores públicos municipais de Campos dos Goytacazes realizam na segunda, 6, paralisação de 24 horas por reajuste de 15% nos salários. A categoria realizou protesto em frente à sede da Prefeitura nesta manhã. O Sindipetro-NF participou da manifestação, em solidariedade aos trabalhadores. O sindicato foi representado pelo diretor Alexandre Vieira, que registrou o apoio da categoria petroleira aos servidores de Campos.
ESTUDANTES NA RUA Protesto realizado na noite da última quarta, 8, reuniu cerca de 500 estudantes na cidade universitária de Macaé. A manifestação foi contra o corte de investimentos na Educação. O Sindipetro-NF apoiou o ato, com a presença do coordenador Tezeu Bezerra e dos diretores Alexandre Vieira e Marcelo Nunes. Em Campos dos Goytacazes, na Universidade Federal Fluminense, também houve grande protesto na última quarta-feira.
NORMANDO
Idiotacracia
Normando Rodrigues*
O fascismo tem nas universidades um inimigo eterno.
Na Itália, em Portugal, na Alemanha, na Espanha, ou no Brasil de Bolsonaro, a pretensão de hegemonia ideológica fascista se opunha e se opõe às universidades. Pela simples razão de que o fascismo é idiota.
O fascismo sempre foi uma colcha de retalhos incongruente e incoerente, rasa e tola, que depende da ação irrefletida – leia-se violência política – e da corrupção, para manter coesão e relevância.
Sua receita para governar com idiotas é: brutalizar “inimigos” inventados, e comprar corruptos.
Corrupção
À intelectualidade cabe o papel de denúncia. Seja para desvelar as celebridades “liberais” de Hitler, convertidas ao nazismo a peso de ouro, ou os deputados de Bolsonaro, que extinguirão a sua aposentadoria por 40 milhões de reais. Sem denúncias, não se expõe a corrupção.
Quanto à brutalidade, só o ensino crítico da História pode revelar as atrocidades fascistas. Não por acaso Bolsonaro mandou fazer cartazes chamando de “cachorros” familiares que procuravam ossadas de vítimas. Não lhe interessa que nada venha à luz.
Ciência e Cultura geram críticas. Crítica, etimologicamente, “julga, avalia, decide”. E fascistas, como todos os idiotas, são avessos à critica. A solução é apagar o conhecimento.
Filme antigo
O fascismo Nacional-Bocialista, assim como suas encarnações anteriores, tenta vender a “originalidade” de seus atos. Porém não há nada de novo no irracionalismo e anti-intelectualismo da malta bolsonariana.
Mussolini demitiu professores antifascistas, e ameaçou fechar universidades que não seguiam os “princípios” do Estado Fascista, exatamente como Bolsonaro pretende.
Na Alemanha de Hitler, o ministro da propaganda gritava “quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola”. Bravata bem ao estilo do ideólogo sem diploma que “orienta” Bolsonaro.
Circo de horrores
Vejamos a plêiade de ministros: o do Meio Ambiente não acredita em aquecimento global; a da Agricultura diz que não há fome graças às mangas; o da Economia, “é a tua mãe!”; o da Justiça desconhece a diferença entre “sobre” e “sob”; o da Educação leu “O Processo” de um tal “Kafta”.
Entendeu porque o combate às universidades é vital para a idiotacracia?
Ah. Algum assessor mais esperto deu a essa turma a dica final. A “academia”, mãe de todas as universidades, foi criada por um tal Platão, o cara que em “A República” defendeu o Comunismo.
Mas nada temam. Moro logo mandará prender Platão.
* Assessor jurídico do Sindipetro-nf e da FUP.
[email protected]