EDITORIAL
Gestão MC Reaça
O Brasil de João Gilberto. O Brasil de MC Reaça. Dois músicos. Duas mortes. Dois projetos de país com duas reações muito distintas. Bolsonaro tinha uma vaga ideia de quem era o primeiro — “uma pessoa conhecida” — e enalteceu o segundo. Lula fez uma linda carta para lamentar a morte do primeiro e continua a não ter a menor ideia de quem foi o segundo. É preciso prestar atenção aos detalhes. Eles são muito reveladores.
Sobre João Gilberto, disse o atual presidente: “[Era] uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família”. Sobre o MC Reaça, havia dito também Bolsonaro: “Tales Volpi nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos”.
João Gilberto foi o gigante mundial que todos sabemos quem foi. Tales Volpi, o MC Reaça, se notabilizou por ter feito o jingle de campanha de Bolsonaro, paródias contra movimentos de esquerda e por ser acusado de agredir uma mulher grávida com quem mantinha uma relação extra-conjugal, de acordo com o comedido jornal O Globo (glo.bo/2S2N8tI).
Sobre o MC Reaça, o ex-presidente Lula nada disse. Sobre João Gilberto, da sua prisão política emitiu carta que se fosse aqui reproduzida tomaria todo o espaço deste editorial. Apenas um pequeno trecho: [o cantor representou] “um sonho de Brasil criativo, avançado, que conhece seu passado e constrói o futuro, interrompido nos anos 60 pela brutalidade com que nossa democracia e aspirações são atingidas de tempos em tempos. Mas na música as sementes da invenção de João Gilberto cresceram e se multiplicaram”.
Essa diferença é muito sintomática. Até mesmo para o dia a dia das lutas petroleiras. Porque na Petrobrás também vive-se essa mudança drástica. Um dia tivemos uma empresa a serviço de um sonho de país “criativo, avançado, que conhece seu passado e constrói o futuro”. Hoje, o que temos é uma gestão conduzida por MCs reaças.
ESPAÇO ABERTO
Pô, levei a maior vaia*
José Roberto Torero**
Pô, Diário, ontem era para ser um dia feliz, um dia de glória. Mas, se eu não fosse tão macho, tinha chorado até ensopar a gravata.
Antes do jogo, quando eu apareci no telão, já veio a maior vaia. Eu pensei: será que é tudo torcedor do Peru? Mas não, eles estavam de camisa amarela. Os caras eram torcedores mesmo, Diário.
E o pior é que eram daqueles que pagam 600 reais por um ingresso. Era gente com camisa oficial da seleção, aquela que custa 400 paus. E 600 mais 400 dá uns mil e duzentos, pô. Até os coxinhas endinheirados estavam me vaiando…
Naquela hora eu pensei: “Pena que os nossos robôs do Twitter não podem ir no estádio…”
Sabe, Diário?, eu achava que o pessoal ia vaiar a Anitta, porque ela é da turma do “#EleNão”. Mas ninguém vaiou a garota. Também, foi de sutiã pro estádio. Aí não vale. Até eu aplaudo, pô.
Outra coisa chata foi que eu caí na comemoração do primeiro gol. Aí o Moro me segurou e disse: “Estou aqui para segurar o senhor, presidente.” Pô, se eu for depender do Moro para não cair, eu tô ferrado. O cara tá mais comprometido que salário de pobre. Até a Veja ficou contra ele. Fez vinte capas puxando o saco do cara e agora diz que está arrependida.
Essa Veja é uma traidora. Que nem o Villa, o Reinaldo Azevedo, o Lobão e a Xerazade.
Foi ruim ver um camisa 13 levantando a taça, mas o pior mesmo foi no fim do jogo. Na caminhada pelo campo levei uma tremenda vaia. O Paulo Guedes ficou com tanta raiva que deu meia volta e foi embora do Maracanã. Será que o Moro consegue o nome das pessoas que estavam lá pra investigar as contas deles, que nem está fazendo com o Glenn?
Bom, pelo menos me vinguei do Tite e peguei o lugar dele na foto da vitória. O Médici ia ficar orgulhoso de mim.
* Editado em razão de espaço. Post do autor no blog Diário do Bolso, disponível em bit.ly/2LbugrS sob o título “Pô, levei a maior vaia. Será que o Moro consegue o nome das pessoas que estavam lá?”. ** Jornalista, escritor e cineasta.
GERAL
Assembleias rumo a novo “não”
Após ter recebido um massivo “não” da categoria petroleira à sua primeira contraproposta de Acordo Coletivo, a Petrobrás parece não ter aprendido a lição. A companhia apresentou na última sexta, 5, uma segunda contraproposta que novamente merece uma retumbante rejeição.
Considerada uma afronta pelo movimento sindical petroleiro, a nova contraproposta prevê um reajuste salarial de apenas 1% para sua força de trabalho, mais a retirada de direitos históricos, redução de remuneração e ataque a benefícios, como a assistência médica dos trabalhadores (AMS).
O desrespeito fica pior quando a empresa informa que nesta sexta, 12, destinará R$ 1 bilhão em bônus a ser distribuído para um grupo “seleto” de trabalhadores que aceitaram alavancar suas carreiras e remunerações às custas do desmonte da empresa, como divulgado pela FUP em seu site.
Por isso, a FUP e os sindicatos petroleiros estão convocando assembleias. No Sindipetro-NF as assembleias para avaliar o indicativo de rejeição da proposta e aprovação de um manifesto começam dia hoje nas bases de terra e terminam no dia 18 (calendário abaixo).
Para a diretoria do Sindipetro-NF, a categoria petroleira precisa mostrar que os trabalhadores não vão aceitar essa afronta e o fim de direitos históricos, conquistados com muita luta, e muito menos a venda da Petrobrás em fatias.
Dia de luta
O período de assembleias petroleiras coincide com o chamado das centrais sindicais, para esta sexta, 12, de realização de atividades contra a “reforma” da Previdência. Entre os protestos haverá ato nacional, em Brasília, além de atividades regionais, como a coleta de assinaturas para o abaixo-assinado que será entregue ao Congresso Nacional no dia 13 de agosto.
Categoria em alerta na segurança de voo
Dois casos envolvendo a segurança de voo dos petroleiros e petroleiras que embarcam nas plataformas da região deixaram a categoria em alerta nos últimos dias. Na sexta, 5, uma aeronave que pousaria no Heliporto do Farol precisou seguir para o Aeroporto de Campos para fazer o pouso com apenas um motor em funcionamento. E na última quinta, 4, houve a queda de um helicóptero, nas Bahamas, de modelo muito utilizado na Bacia de Campos.
O helicóptero modelo S-92, operado pela empresa Omni, fez um pouso com apenas um motor em funcionamento — a aeronave possui dois motores. O caso aconteceu na última sexta, 5 , no aeroporto Bartolomeu Lisandro, em Campos dos Goytacazes, em um voo que retornava da Bacia de Campos. No sábado, todas as aeronaves do mesmo modelo passaram por manutenção e retornaram à operação.
O voo tinha pouso previsto para o heliporto do Farol de São Thomé, também em Campos dos Goytacazes, mas para apenas um motor é necessária uma pista que permita o pouso corrido, o que só é possível no aeroporto Bartolomeu Lisandro.
O Sindipetro-NF também acompanhou as operações com os helicópteros AW139, após acidente com uma aeronave do mesmo modelo, na última quinta-feira, nas Bahamas. A entidade manteve contato com a área de transporte aéreo da Petrobrás para monitorar os possíveis impactos do acidente que matou sete pessoas nas Bahamas. O modelo da aeronave que caiu na Ilha de Grand Cay, AW139, é o mesmo que é muito utilizado na Bacia de Campos.
Quando as causas de um acidente com aeronave têm relação com possíveis falhas de projeto, os fabricantes recomendam que os modelos semelhantes em todo o mundo permaneçam em solo até maiores esclarecimentos. No caso deste acidente, no entanto, não foi emitida esta recomendação.
Em resposta ao NF, a área de transporte aéreo da Petrobrás afirmou que não havia informações sobre os motivos da queda. “A Leonardo [Leonardo Helicopters, fabricante do helicóptero] está buscando compreender e os nossos operadores estão atentos a qualquer boletim que seja emitido”, informou ao sindicato um representante da companhia.
Bacia de Campos
Em 19 de agosto de 2011, um helicóptero AW139, operado pela empresa Sênior Taxi Aéreo, caiu na bacia de Campos. A aeronave desapareceu após pedir autorização de pouso de emergência no aeroporto de Macaé. Dois tripulantes e dois passageiros morreram.
Calendário
Barra do Furado 15/07 7h
Edinc 16/07 13h
Sede de Campos 17/07 10h
Imboassica (PT) 17/07 13h
Imbetiba 18/07 13h
Cabiúnas
Grupo B 11/07 15h
Grupo D 11/07 23h
Adm e Grupo C 12/07 7h
Grupo A 15/07 23h
Grupo E 17/07 7h
Plataformas
De 10/07 a dia 14/07, com retorno das atas ([email protected]) até 15/07.
Indicativos
1) Rejeição da contraproposta apresentada pela Petrobrás no dia 5 de julho de 2019.
2) Aprovação de Manifesto dos Petroleiros do Norte Fluminense.
AMS: Desconto vai para 8 parcelas
Após pressão da FUP e dos sindicatos, a Petrobrás reviu a forma de realização dos descontos da AMS (Assistência Multidisciplinar de Saúde). Haverá o desconto, a partir deste mês de julho, mas em oito parcelas. A empresa havia iniciado unilateralmente a realização do desconto em cinco parcelas. Foi preciso obter liminar na Justiça para forçar a uma negociação.
Para os petroleiros e petroleiras da base do Sindipetro-NF, que pagaram duas das parcelas que haviam sido impostas pela empresa (40%), restam agora seis parcelas após a negociação (com 60% do valor devido).
Os sindicatos também conseguiram acesso a informações mais transparentes em relação à diferença de aproximadamente R$ 120 milhões devida pelos trabalhadores, gerada por um desconto a menos no ano de 2018 (de 28,9%, quando deveria ser de 30%).
Fique atento
O Sindipetro-NF orienta a categoria a se manter muito atenta ao Extrato da AMS, para verificar a correção dos descontos. A entidade tem recebido relatos de duplicidade nos pagamentos. O extrato pode ser acessado no site da AMS (ams.petrobras.com.br).
Equipe feminina com apoio do NF
Diretora do Sindipetro-NF, Jancileide Morgado recepcionou no último dia 4, na sede da entidade, as atletas do time Fusão, que estão recebendo apoio do sindicato para treinamentos e competições. A diretora falou da importância da atuação das mulheres em todas as áreas, especialmente na conjuntura brasileira de ataques aos direitos que atingem principalmente as trabalhadoras.
A sindicalista lembrou o exemplo da jogadora da Seleção Brasileira da Futebol, Marta, que chamou todas as demais a manterem a resistência. “Não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Cristiane para sempre. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver! Pensem nisso, valorizem mais!”, havia dito a atleta.
Para Jancileide, “foi um grito de anos que estava preso. Onde ela e as demais lutaram para ter um pouco de visibilidade no mundo do futebol, onde nós sabemos que é um ambiente masculino e com muita dificuldade de acesso às mulheres. E onde essas guerreiras abriram portas para nós mulheres, e assim podermos jogar futebol com a mesma raça e amor”.
Na luta sindical, destaca a diretora, também é necessária maior presença das mulheres. “Como petroleiras também passamos por dificuldades semelhantes. Nos falta representatividade, precisamos de campanhas como a ´Por Mais mulheres à abordo´. Precisamos de visibilidade para tentarmos salários e oportunidades iguais”, disse às atletas.
CURTAS
FPSO interditado
Os Auditores Fiscais do Trabalho interditaram parcialmente no último dia 4 de julho alguns equipamentos do FPSO Campos dos Goytacazes, da Modec, que opera para Petrobrás em parceria com a Shell. Os principais motivos para a interdição foram o não cumprimento das NR´s e a demora na execução de manutenções apontadas como críticas em relatórios. A relação de todos as áreas interditadas está disponível no site do Sindipetro-NF em bit.ly/32i7yDG.
Contra o PRVE
O Sindipetro-NF ajuizou na terça, 9, uma ação com pedido de tutela de urgência contra o pagamento do Programa de Remuneração Variável da Petrobrás (PRVE). O Sindicato considera esse programa ilegal porque ataca o acordo coletivo dos empregados da Petrobrás e introduz diversas injustiças como premiações milionárias a diretores e gerentes executivos. Saiba mais sobre a ação em bit.ly/2xIrYHO.
Mulher negra
Diversas entidades dos movimentos das mulheres negras realizam neste domingo, na sede de Campos dos Goytacazes do Sindipetro-NF, a partir das 9h, atividade Pré-Marcha das Mulheres Negras — o evento nacional que acontece no dia 28 de julho e terá comitivas da região. A marcha, que acontece em Copacabana, no Rio, terá como tema “Mulheres negras resistem: em movimento por direitos, contra o racismo, o sexismo, e todas as formas de violência”.
Luto
Olá, não está tudo bem. O Brasil está em luto pela perda de um dos seus mais brilhantes jornalistas, Paulo Henrique Amorim, vítima de um infarto ontem, aos 77 anos. Amorim esteve no Sindipetro-NF, na sede de Macaé, em 18 de fevereiro de 2016, na programação de comemoração dos 20 anos da entidade, quando fez palestra sobre o seu livro “O quarto poder – uma outra história” (youtu.be/EijovX1zzLw). Nestes tempos sombrios, já faz muita falta.
DESRESPEITO COM O TRABALHADOR Com intervalos longos entre os horários de ônibus da Petrobrás para os petroleiros que desembarcam no Heliporto do Farol de São Thomé, muitos petroleiros acabam optando pelo péssimo serviço de transporte público de Campos dos Goytacazes. Nas imagens, flagrantes da situação de uma van que levava trabalhadores no trajeto entre o Farol e o Centro do município. Não bastasse o estado precário de conservação, o motorista corria muito e realizava várias ultrapassagens perigosas. O diretor do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, que estava no veículo, optou por descer no meio do caminho. O sindicato cobra providências da Petrobrás (para que reduza o intervalo entre os ônibus) e do Poder Público (para que melhore a qualidade do transporte).
NORMANDO
Como destruir a Petrobrás
Normando Rodrigues*
Identificada como patrimônio público, a Petrobrás conta com o apoio da população, contra a ideia de sua privatização.
Mas, repassar as atividades mais lucrativas da indústria do petróleo e gás para o capital internacional é um objetivo central dos protagonistas do Golpe de Estado de 2016.
Afinal, do compromisso do senador José Serra com a Chevron, à decisão do STF que liberou o “desmanche” de ativos da empresa, passando por todas as ações da Lava Jato, tudo foi feito para entregar a indústria nacional de óleo e gás.
Então, como entregar o que foi prometido, sem alarde?
Amputação da BR Distribuidora
A destruição da Petrobrás, sem confronto com a opinião pública, se inicia a 25 de julho de 19, com a venda da BR Distribuidora.
Separar a Petrobrás de seus postos de combustíveis é decretar sua morte. Empresas de petróleo dependem da integração de suas atividades: a “montante” do fluxo de produção (upstream) estão a exploração (busca por novas jazidas) e produção (extração de petróleo bruto e gás natural); a “jusante” (downstream) o transporte, distribuição e comercialização, dos derivados do petróleo.
Condenada ao prejuízo
A integração “do poço ao posto” permite que o elevado risco financeiro a montante seja suportado pelos lucros do abastecimento. Sem essa equação, nenhuma empresa de petróleo sobrevive.
No caso da Petrobrás, o peso do abastecimento no faturamento bruto da empresa, desde 2007, nunca foi menor do que 75%.
Traduzindo: vender a BR Distribuidora significará um corte de até 75% no ingresso de capital da Petrobrás.
Empresas de petróleo têm postos de gasolina?
Vejamos as 20 maiores empresas de petróleo, considerados os lucros (revista Forbes), começando pela Saudi Arabian Oil Company – Saudi Aramco, e terminando pela Equinor, em 20° lugar.
Todas contam com subsidiárias de distribuição e varejo, ou atuam diretamente nessa área, para realização de seus lucros. Com uma exceção.
O Ministério do Petróleo do Iraque, considerado uma empresa pela Forbes, e escalado na 16ª posição, não atua na distribuição e varejo.
Após a venda da BR Distribuidora, com seus mais de sete mil postos de combustíveis, a Petrobrás, na 14ª posição dentre as mais lucrativas, será a outra exceção, junto com o Iraque.
A destruição da Petrobrás, via amputação da BR Distribuidora, só tem paralelo em um país derrotado belicamente, ocupado militarmente, e com as atividades econômicas completamente entregues ao capital internacional.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
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