EDITORIAL
Vamos virar esse jogo
Todo dia parece que tomamos de 7 a 1. E se é para continuar no terreno da metáfora futebolística, tomemos então o exemplo de um príncipe do Norte Fluminense, de Campos dos Goytacazes, que é considerado um dos mais geniais jogadores de todos os tempos e, imagine só, foi capaz de inventar um tipo de cobrança de falta praticamente indefensável, o Folha Seca.
Na final da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, Waldir Pereira, o Didi, protagonizou a cena que passou a representar a capacidade de reação de uma equipe em um cenário adverso. A partida, contra os donos da casa, trazia o simbolismo de ser a primeira final entre um país sul americano e um europeu. Era o povo pobre e mulato do terceiro mundo contra os bem nutridos suecos brancos dos olhos claros. Um massacre aos brasileiros se anunciou quando, aos quatro minutos, a Suécia fez um gol.
Foi então que Didi tomou a atitude histórica: caminhou lentamente até o gol, pegou a bola, a prendeu sob o braço, voltou disparando mensagens de estímulo aos colegas de equipe e a colocou na marca do centro de campo. O resultado foi virada com goleada: 5 a 2 para o Brasil. Detalhe: Didi foi eleito o melhor jogador do mundial.
No paralelo com o Brasil atual, é hora de foco, cabeça fria, não se deixar levar pela névoa de fakenews e ataques diários, para construir a reação e a virada. O atordoamento provocado pela sucessão de escândalos do governo Bolsonaro tem levado a um desânimo dolorido mesmo para a militância mais acostumada às intempéries da política. O momento é de assombro geral. Um fundo de poço que se mostra a cada dia mais fundo.
Mas, como disse Caetano, “a vida é real e de viés”. Ou, como disse Marx, “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. A realidade se impõe e é preciso agir sobre ela. Não dominamos todos as variáveis, mas não podemos renunciar ao dever de buscar influenciá-las.
Por isso, mesmo com todo asco, com toda náusea, é preciso continuar a apontar cada um dos desmandos desse governo, cada um dos ataques aos trabalhadores, aos povos indígenas, às minorias. Dá um trabalho enorme, mas não há outra forma de virar esse jogo.
ESPAÇO ABERTO
Por que vender a BR?*
Juliane Furno**
O projeto de desmonte do Sistema Petrobras, que vem avançando a passos largos desde o golpe de 2016, teve – nessa semana – um novo capítulo. Na semana passada, a Petrobras anunciou a venda de 30% das suas ações no capital da BR Distribuidora, o que a relegou uma participação acionária total de 41,25%. Dessa forma, a BR distribuidora passa a ser uma empresa privada, na qual o peso da participação estatal é inferior à metade do capital total.
A pergunta que fica é: Por que privatizar um dos “braços” do Sistema Petrobras? Você, obviamente, assim no susto, poderia pensar que é porque essa empresa não é lucrativa, logo, é importante que o Estado se desfaça dela. Acontece que a BR Distribuidora teve um saldo de faturamento de R$ 100 bilhões no ano de 2018, alcançando um lucro líquido de R$ 3,2 bilhões no mesmo ano. Em termos comparativos, a BR Distribuidora apresentou crescimento de 93,1% no seu lucro líquido no primeiro trimestre de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. Ou seja, a empresa não somente não é deficitária como apresenta expressivo crescimento anual.
Outro motivo alegado no senso comum é que a competição é um elemento importante para a melhoria e eficiência dos serviços prestados e para a diminuição do preço final aos investidores. No entanto, mesmo a distribuição sendo uma atividade de livre mercado, ainda assim a Petrobras sempre foi líder no segmento. Se as empresas públicas são ruins e ineficientes, o que justifica que, em um regime de livre competição, a empresa controlada pela Petrobras detenha a maior parte do mercado nacional?
Portanto, não existe qualquer razão, pelo menos do ponto de vista econômico, que justifique a privatização desse setor. A justificativa para isso repousa apenas na perspectiva política, edificada no governo Temer e intensificada no governo Bolsonaro, de redução do tamanho econômico e da importância política da Petrobras.
*Trecho de artigo publicado originalmente no jornal Brasil de Fato, em bit.ly/2KwBofF, sob o título “BR Distribuidora: por que vender uma empresa que dá lucro ao Brasil?”. **Doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp, formadora da CUT e militante do Levante Popular da Juventude.
GERAL
Seminários organizam a greve
Petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense têm compromisso com a luta pelo ACT e contra o desmonte da Petrobrás nos próximos dias 16 e 17, em Macaé, no Seminário de Qualificação de Greve. Evento nacional com o mesmo propósito de organizar a paralisação nacional da categoria foi realizado nesta semana, no Rio, ontem e na terça, 6.
Depois da rejeição massiva, em todas as bases, de duas contrapropostas da Petrobrás, uma nova rodada de negociações entre as entidades petroleiras e a empresa acontece hoje, também no Rio. Lideranças sindicais, no entanto, consideram inevitável a realização de uma grande greve, em razão da acentuada tentativa da gestão bolsonarista da companhia de cortar vários direitos, atingindo trabalhadores próprios e terceirizados.
Para participar do Seminário de Qualificação de Greve, os petroleiros e petroleiras podem indicar três representantes por plataforma. Nas bases de terra, todos os interessados podem se inscrever, com inscrições acolhidas por ordem de chegada pelo e-mail [email protected] e limitada ao número de dez para Imbetiba, sete para Cabiúnas, seis para o Parque de Tubos, quatro para o Edinc e dez entre os aposentados. É necessário que o inscrito seja lotado na base ou plataforma pela qual se inscreveu.
Categoria mobilizada
Na quinta-feira passada, um trancaço no Terminal de Cabiúnas, em Macaé, reuniu cerca de 500 trabalhadores durante três horas. “Estamos protestando contra todos os ataques e redução de direitos que estão sendo feitos pelo atual governo e a gestão da estatal. Não vamos aliviar! Vamos continuar a luta, porque juntos somos mais fortes”, afirmou o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, durante o protesto.
Seminário Nacional na sede de Macaé
“Reconstruir novas relações de trabalho em tempo de crise” é o tema do Seminário Nacional dos Petroleiros Terceirizados e do Setor Privado que acontecerá de 23 a 25 de agosto, na sede do Sindipetro-NF, em Macaé. O evento é promovido pela Federação Única dos Petroleiros e tem o objetivo de discutir ações políticas e sindicais voltadas para esse importante segmento da categoria.
A abertura será às 19h com uma apresentação artística, mesa política e em seguida uma debate sobre a Geopolítica do Petróleo. O Seminário incluirá mesas sobre saúde mental, precarização do trabalho, NR-37 e questões relacionadas a gênero e etnia.
O diretor do Sindipetro-NF, Eider Siqueira, reforça a importância da participação de todos os sindicatos nesse evento para construção de bases para aluta desses trabalhadores em seus estados, visto que após a reforma trabalhista são os mais afetados com a precarização das condições de trabalho.
Todos os trabalhadores de contratadas e empresas do setor privado podem participar do Seminário. Para se inscrever, basta preencher o formulário online em https://bit.ly/2KyNTYe. Mais informações pelo e-mail [email protected].
Balanço reflete desmonte
Da Imprensa da FUP
O anúncio dos resultados da Petrobrás no segundo trimestre de 2019 está sendo festejado pelos gestores da empresa, pelo governo e pelo mercado. Não poderia ser diferente. Os R$ 18,8 bilhões que a Petrobrás “lucrou” foram obtidos às custas da entrega do patrimônio público, projeto principal da equipe econômica do governo Bolsonaro.
Não por acaso, no mesmo dia do fechamento do balanço da empresa, o ministro do mercado, Paulo Guedes, voltou a repetir que seu objetivo é “vender todas as estatais federais”.
Segundo o Ineep, somente neste segundo trimestre do ano, a Petrobrás aumentou os seus desinvestimentos em US$ 12,7 bilhões, a partir da venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), de campos de petróleo e de ativos no exterior, como a Refinaria de Pasadena e o complexo de distribuição de derivados no Paraguai.
Os números do balanço da Petrobrás comprovam a relação direta entre os resultados operacionais e financeiros da empresa e a política de privatização e desinvestimentos, cujo foco é única e exclusivamente gerar lucros para os acionistas e para o sistema financeiro.
Estagnação
Sem investimentos, a produção de petróleo segue estagnada. Entre os segundos trimestres de 2018 e 2019, a produção de óleo e gás caiu 1%, passando de 2,66 milhões de barris por dia para 2,63 milhões de boe/dia.
Para piorar, a gestão da Petrobras tornou a reduzir o plano de investimentos, que caiu de US$ 16 bilhões para US$ 11 bilhões. Segundo o INEEP, a empresa está postergando as atividades de perfuração, o que irá “retardar a exploração e produção de poços com alto potencial de receita” e deixar a companhia “cada vez mais refém dos movimentos internacionais do barril do petróleo e da produção do pré-sal que, diga-se de passagem, ainda não tem sido capaz de alavancar a produção nacional em função da postergação de novos investimentos e do abandono dos campos maduros”.
P-55 opera de modo inseguro
O Sindipetro-NF recebeu denúncia nesta semana de que estão ocorrendo mudanças temporárias, sem gestão, para que haja a aprovação no teste de dilúvio que ocorreu na P-55, na primeira semana de julho. A denúncia foi formalizada junto à ANP.
Como informado ao sindicato, a unidade alterou os ralos dos skids de contenção para que estes não transbordassem com a água do sistema de dilúvio ao atender a vazão de água do teste.
Os “copinhos” que garantem o selo do dreno e impedem a volta de gases foram retirados para a realização do teste e reinstalados posteriormente. Na segunda semana de julho, o sindicato participou da reunião de Cipa da unidade, e em contato direto com os trabalhadores pôde verificar que o fato havia ocorrido.
O NF e seus representados entendem, tecnicamente, que o teste anterior não atendeu às exigências da ANP e tem potencial para ser considerado nulo. A entidade solicitou à agência a realização de um novo teste, com uma fiscalização presencial. O sindicato alerta que a plataforma está operando de modo inseguro, com o dilúvio deficiente.
Petros: Debate entre chapas dia 15
A Petros divulgou em seu portal que realizará um debate entre os candidatos aos conselhos Deliberativo e Fiscal no próximo dia 15. Segundo a Petros, o debate tem o objetivo de tornar o processo eleitoral ainda mais democrático, levando o máximo de informação sobre os concorrentes, para que a escolha seja feita de forma consciente e segura.
O debate será gravado e estará disponível no Portal Petros a partir da semana seguinte. Os participantes ativos e assistidos podem enviar perguntas aos candidatos até o dia 13, pelo e-mail [email protected].
Eleições
De 02 a 16 de setembro acontecem as eleições para os Conselhos Deliberativo e Fiscal da Petros. Este ano serão escolhidas duas duplas de titular e suplente para o Conselho Deliberativo enquanto para o Conselho Fiscal, será eleita uma única dupla de assistidos. O Sindipetro-NF indica votos na Chapa 52 (Unidade em Defesa da Petros) para o Conselho Deliberativo, composta pelo diretor do NF, Norton Almeida, como titular, e por André Araújo, do Sindipetro-BA, como suplente. Já para o Conselho Fiscal a indicação é na chapa 42.
A novidade nesta eleição é a possibilidade de votar pelo aplicativo que está disponível no Google Play ou na App Store. Outra opção é escolher seus representantes via Portal Petros ou pelo telefone 0800 283 1676. Lembrando que cada participante ativo e assistido só poderá votar uma vez.
CURTAS
Alerta
O Departamento Jurídico do Sindipetro-NF e o Coordenador do Sindicato, Tezeu Bezerra, emitiram nota em nome da entidade, nesta semana, para alertar a categoria sobre um formulário fake que anda circulando. O documento afirma querer tirar os sindicatos das negociações de soluções sobre o Plano de Equacionamento dos Déficits do Fundo de Pensão. Os formulários são individuais e desautorizam a criação de novos planos. Veja a íntegra da nota em bit.ly/2YPDI6z.
Falcão Bauer
Depois da realização, na semana passada, de um trancaço na entrada da empresa, a diretoria da Falcão Bauer aceitou retomar as negociações do Acordo Coletivo de Trabalho com o Sindipetro-NF. Uma reunião foi realizada na terça, 6, e outra estava prevista para a tarde de ontem, no horário de fechamento desta edição do Nascente. Novos informes sobre as negociações serão publicados no site e nas redes sociais da entidade.
Previdência
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 06/2019, a reforma da Previdência do governo Bolsonaro, foi aprovada na quarta, 7, em segundo turno pela Câmara dos Deputados. Foram mantidos vários pontos que prejudicam os trabalhadores e trabalhadoras e até as viúvas e órfãos. O texto agora segue para o Senado Federal. Centrais sindicais vão reagir com mais mobilizações, como a que está convocada para o próximo dia 13. Saiba mais em bit.ly/2YCyfF7.
#MoroMente
Lançada pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), a campanha #MoroMente divulga vídeos que buscam explicar os crimes cometidos pelo ex-juiz Sérgio Moro na Lava Jato. No primeiro vídeo, o juiz de Direito da Vara de Execuções Penais do Amazonas, Luís Carlos Valois, “destaca que não é correto o contato regular e com tanta influência de um juiz sobre procuradores”.
CURSO SOBRE PETROS O Departamento de Aposentados do Sindipetro-NF realizou ontem, na sede de Campos dos Goytacazes, curso sobre Petros com José Ricardo Sasseron, ex-diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e ex-presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão (ANAPAR). Ouça entrevista com Sasseron em bit.ly/2KmbBbi, na edição número 10 do Podcast da Rádio NF.
NORMANDO
Morte anunciada
Normando Rodrigues*
A morte de Lula é indispensável para o regime.
Moro a vê como a pá de cal do caso, capaz de literalmente sepultar as “fofocas”. Afinal, tudo o que ele sofre é mera “futrica”, como diagnosticou o ministro do STF que mais ostenta repulsa pelo povo brasileiro, do alto de seu inconfundível semblante de quem “pisou no cocô”, o juiz Barroso.
O Moro ministro imagina que o “mexerico” contra si morreria com Lula. Ninguém mais lembraria que o procurador da acusação lhe confessou não ter fé nas provas, e que o Moro juiz o tranquilizou, respondendo que “a opinião pública”, e ele próprio, bancariam tudo.
Para Dallagnol seria um alívio enorme. Atingiria o nirvana que persegue desde que atuou com “provas indiretas”, como confessou a Moro: “Isso vai passar só quando eventualmente a página for virada para a próxima fase”.
A próxima fase veio, passou, mas o “disse me disse” sobre a tibieza moral e debilidade intelectual do acusador, se fez maior. Lula morto, a página vira, afinal.
E Bolsonaro?
O Idiota-mor da nossa república de bananas já fez seu teste. Louvou a execução política de um famoso preso da Ditadura, e sua popularidade subiu. Anunciou iniciativa legislativa para liberar os assassinatos de “bandidos” por policiais, e chegou a 39% de aprovação.
Quando a imprensa indagar a Bolsonaro se não se solidariza com a família de Lula, ele responderá com a civilidade utilizada para vomitar sobre os presos massacrados sob custódia do estado, no Pará: “Pergunta para as vítimas dos que morreram lá o que eles acham”. E seu eleitorado irá vibrar.
A mentira, a violência, e o enfrentamento contínuo, são vitais para o Fascismo. Bolsonaro apresentará a morte de Lula como “briga entre bandidos, na cadeia”, independentemente dos fatos, e seus não menos fascistas seguidores aplaudirão.
Para entregar o Brasil
Mas sejamos honestos: Lula morto é uma exigência dos ricos. Só assim poderão não apenas manter a maior desigualdade social da história do País, como a aprofundar até o limite da selvageria. Limite estendido por uma polícia liberada para matar pobres.
E internacionalmente, lembremos, Lula morto agrada sobremaneira aos EUA, que em poucos meses de governo Bolsonaro já dominaram o mercado brasileiro de combustíveis sem dar um único tiro.
Afinal, como bem disse Maria Cristina Fernandes, a famiglia Bolsonaro fez uma dupla: Eduardo será embaixador do Brasil nos EUA, e Jair “já é” embaixador dos EUA no Brasil.
“Nossa bandeira jamais será vermelha…”
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]