Nascente 1107

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EDITORIAL

Trabalhadores como inimigos

A gestão bolsonarista da Petrobrás reproduz o modo como o governo de sua inspiração e apadrinhamento vê o trabalhador: alguém desprovido de história e de voz política, alguém que não sabe o que é melhor para si e para o país, e precisa que os outros conduzam as mudanças “necessárias”. Assim como o Bolsonaro mor, os bolsominions que estão momentaneamente abrigados na direção da companhia esperam convencer a “força de trabalho” de que cortar direitos é melhor para ela, fiéis ao mantra de que “é melhor emprego sem direitos do que emprego algum”.

São tecnicamente frágeis, não sabem gerir, apenas sabem entregar. Não souberam sequer fazer o que absolutamente todas as gestões anteriores da Petrobrás fizeram: negociar diretamente o ACT.

Tivessem na companhia há mais tempo, jamais teriam descoberto o pré-sal, jamais teriam promovido o crescimento da indústria naval por meio da corajosa política de conteúdo nacional, jamais teriam implementado programas internos que valorizam a diversidade e o respeito às diferenças raciais, de gênero e religiosas, jamais teriam cumprido um papel essencial na promoção da cultura nacional — em áreas como o Cinema, onde a Petrobrás já foi grande patrocinadora — e em experiências de desenvolvimento regional.

Mesmo em governos conservadores do passado, a Petrobrás nunca teve de si uma imagem tão insignificante, tão desrespeitosa com a própria história — com exceção talvez do infeliz momento da tentativa de mudar no nome da empresa para Petrobrax, que pegou tão mal que a ideia precisou ser abortada. Pensam tão pequeno que precisam fazer marketing de que estão gerando empregos (momentâneos, diga-se) por causa da necessidade de desmontar plataformas.

Os gestores bolsonaristas da Petrobrás são toscos, despreparados como os demais integrantes do governo. São desmontadores que jamais serão construtores. São antinacionalistas porque não têm autoestima. São vira-latas que batem continência para a bandeira americana enquanto o país perde mercado para os próprios americanos.

Chegam ao cúmulo de brigarem em todas as instâncias para “estimular a competição” contra a própria Petrobrás, sob pretexto de que isso criaria um ambiente mais dinâmico no setor petróleo, quando qualquer petroleiro sabe que extrair, refinar e distribuir petróleo não é como produzir sapatos ou roupas.

São inimigos rudes dos trabalhadores, dos pobres, dos verdadeiros brasileiros. Não mereciam estar aonde estão.

 

ESPAÇO ABERTO

Uma faixa afixada na grade

Conceição de Maria*

No inicio dos anos 2000, convidada a fazer parte do movimento sindical petroleiro, relutei por quinze dias em dar resposta porque nunca havia pensado em ser dirigente sindical e dava um frio na barriga, só em pensar.
Abordada por companheiros e companheiras, já integrantes da direção, que me diziam que tinha perfil, mas olhava para dentro de mim mesma e não enxergava que falavam.

Conhecia-me bem e sabia que ao assumir contribuiria com o trabalho diário que ainda não conhecia porque o novo nos toma de assalto, o novo é arriscar, é mostrar quem você é, é conhecer quem é o outro.

Na caminhada, percebia-se a cada dia, a cada minuto, a cada segundo, como um conta gotas, que a luta não poderia ser isolada, e sim uma luta pelo coletivo.

Estar em assembleias, em setoriais, em atos nas bases ou nas ruas, estar na sede, nas reuniões de RH, nas reuniões de Cipa, em comissão de acidentes, em treinamentos, em Congressos, em Plenárias, determinava um ponto convergente nessa caminhada que é estar com o outro o tempo todo e, lutar pela coletividade, trazer o outro para junto do movimento; movimento este que lhe acorda nas madrugadas e não tem hora para cessar.

Naquele momento esses que já conheciam a luta sindical retiraram-me de um mundo artístico, da junção da mulher poeta e atriz, para um mundo que impõe razão, da firmeza ao falar, da busca incessante de conhecimento teórico que alimenta o debate, o discurso e a oratória para abordar alguns temas, que faz dessa mulher uma mobilizadora para a realidade social.

Vestir as camisas, literalmente, é seguir acreditando que é possível ganhar e aceitar com reflexões quando perder.
Esqueci de dizer que na faixa afixada na grade estava escrito: “A luta é coletiva!”.

* Diretora do Sindipetro-NF.

GERAL

Mediação continua no Tribunal

Das Imprensas do NF e da FUP

A FUP e a FNP realizaram na terça, 10, mais uma reunião de negociação do Acordo Coletivo com mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Os petroleiros reforçaram que querem discutir o Acordo a partir do atual ACT e não da terceira contraproposta apresentada pela Petrobrás, que foi massivamente rejeitada pela categoria por retirar direitos dos trabalhadores. As duas entidades representativas dos petroleiros voltam a se reunir com o TST no dia 19 de setembro para mais uma rodada de negociação do ACT.

O ACT foi prorrogado pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho) por 30 dias no início de setembro. Os sindicatos aceitaram o processo de mediação pelo TST após a Petrobrás ter se negado a continuar as negociações, algo inédito na história da empresa.

O Sindipetro-NF, os demais sindicatos e a FUP mantém o alerta de que é preciso muito cuidado com estratégias de comunicação utilizadas pela empresa neste período negocial. Antes do estabelecimento de negociações no TST, a gestão da empresa chegou a afirmar que “nesse cenário, a companhia iniciará o processo gradual de transição das práticas vigentes no ACT 2017-2019 para o previsto na legislação”, buscando espalhar o terror na categoria.

O sindicato precisou publicar a ata da primeira reunião com o TST (ainda disponível em bit.ly/2lwsJkC) para mostrar que a gestão da companhia estava mentindo para os trabalhadores. A entidade reafirma que é muito importante que a categoria permaneça em sintonia.

Gestão do ódio ao trabalhador

A Petrobrás acusou o golpe da derrota nas assembleias do final de agosto, que rejeitaram a sua “última” contraproposta de acordo coletivo. A gestão bolsonarista da empresa moveu todos os esforços para lotar os locais de votação com seus gerentes para tentar intimidar os trabalhadores. Para isso, prometeu abonar as horas de quem fosse à assembleia. Depois do resultado, em que perdeu por ampla maioria, estão aparecendo relatos para o Sindipetro-NF de que algumas unidades não estão dando o abono prometido. Pelo visto, o abono das horas era só em caso de derrota do indicativo do sindicato.

A gestão também está levando adiante a coação sobre os petroleiros que têm cargo de chefia mas não se renderam à “orientação” de se desfiliarem dos sindicatos. O NF tem recebido relatos de que estes trabalhadores estão perdendo os cargos de chefia em razão de exercerem o direito de filiação.

Cursos no “momento livre”

Outra “novidade” é o lançamento de um aplicativo de celular que prevê em termo de uso o monitoramento dos aparelhos pessoais dos empregados, além tratar como algo benéfico que os trabalhadores utilizem o tempo de folga para fazer cursos exigidos pela própria companhia.

“Otimização de tempo é o ganho da funcionalidade de Aprendizagem: empregados podem usar o aplicativo no celular para completar os módulos de cursos de Ensino à Distância (EAD) sempre que tiverem um momento livre, como os cursos de Prevenção e Combate ao Assédio Moral e Sexual, de Introdução à Transformação Digital ou o programa Harvard ManageMentor, voltado para lideranças”, afirma texto da empresa que divulga a nova ferramenta de gestão de pessoas.

Denuncie

Esses são casos muito graves de má fé negocial, prática antissindical e assédio contra os trabalhadores feitos por uma gestão e um governo que desconhecem os limites da civilidade, da democracia e das relações institucionais. O sindicato solicita que todos os trabalhadores e trabalhadoras que estiverem passando por estas ou por outras situações de coação que enviem seus relatos para [email protected]. A entidade garante o sigilo do denunciante.

 

Petros: Vote para ter nossa voz nos conselhos

A eleição para os conselhos Deliberativo e Fiscal da Petros está na reta final. Os participantes e assistidos têm até o dia 16 de setembro para eleger seus representantes nos Conselhos Deliberativo e Fiscal da Petros.

Essa eleição é muito importante na atual conjuntura de ataques aos direitos dos petroleiros. É fundamental que os participantes e assistidos tenham na Petros representantes preparados para enfrentar a tentativa de desmonte do fundo de pensão, que acontece no rastro das privatizações no Sistema Petrobrás. A FUP e seus sindicatos estão concentrando esforços para a eleição das duplas 52 (Conselho Delibera-tivo) e 42 (Conselho Fiscal), que integram a chapa unitária.

A votação pode ser feita pela internet (petros.com.br), por aplicativo no celular (baixar o app da Petros no Google Play ou no App Store) ou por telefone (0800 283 1676).

NF tem facilitador para ajudar na votação

O Sindipetro-NF disponibiliza na sede de Macaé um profissional facilitador para auxiliar na eleição da Petros. O horário de atendimento no sindicato é das 10h às 17h. O atendimento também está sendo realizado durante o Plantão Sindical nas bases de terra. O aposentado ou pensionista nem precisa baixar o aplicativo de votação se o seu celular não tiver espaço. O NF está disponibilizando um tablet onde o petroleiro ou petroleira insere apenas a matrícula e a senha da Petros e pode votar.

 

P-40: NF chama para ação individual

A Justiça do Trabalho de Macaé reconheceu a exposição dos petroleiros e petroleiras da P-40 a substâncias cancerígenas, como benzeno e hidrocarbonetos, em ação movida pelo Sindipetro-NF. A partir das provas e da sentença da ação coletiva que fez esse reconhecimento, são cabíveis ações individuais cobrando indenização da Petrobrás pela exposição a este risco no ambiente de trabalho.

A assessoria jurídica do NF convoca a todos que trabalharam regularmente lotados em P-40 para que entrem em contato pelo email [email protected], para que tenham maiores informações.

Na semana passada, o Nascente informou a vitória na ação coletiva, onde a companhia foi condenada em R$ 1 milhão, que será destinado ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A empresa foi condenada por danos coletivos.

Risco ocupacional

A advogada Isabela Celjar, do escritório Normando Rodrigues e Advogados, explicou que a juíza da 2ª Vara do Trabalho “reconheceu a existência de risco ocupacional oriundo da exposição aos agentes químicos benzeno e nafta à todos os trabalhadores lotados em P-40, condenando a Petrobrás à reavaliação da exposição ocupacional e a estabelecer programas de conservação da saúde do trabalhador”.

CURTAS

Curso Enem no NF

O Sindipetro-NF retoma neste sábado, 14, o Projeto de Apoio ao Enem, voltado para estudantes de Macaé e região que queiram dar um reforço aos seus estudos para as provas. Nessa semana serão resolvidas questões de História do Brasil. As aulas consistem na resolução de exercícios e serão realizadas aos sábados, das 10h às 11h30, na sede do sindicato em Macaé. Para participar é preciso doar um kg de alimento não perecível. Informações: 2765-9550.

Plantão jurídico

O Plantão Jurídico em Macaé passou por mudanças a partir desta semana. O plantão cível passa a acontecer todas as terças-feiras junto com o previdenciário. Veja como ficaram os plantões: segunda (trabalhista), terça (previdenciário/cível), quarta (trabalhista), quinta (trabalhista) e sexta (trabalhista). Mais informações pelo telefone 2765-9550 ou pelo e-mail do Departamento ([email protected]).

Sem energia

Veja a que ponto chegou o desmonte da Petrobrás. De uma das maiores empresas produtoras de energia no mundo, a companhia se tornou aquela capaz de ser devedora da conta de luz. Trabalhadores da Enel estiveram no Parque de Tubos, nesta semana, para realizar cortes no fornecimento de energia em algumas áreas, em razão de inadimplência. Só falta aparecer algum miliciano para mandar colocar um “gato”.

Sem guardião

O NF recebeu a informação de que os guardiões das bases administrativas de Macaé foram demitidos. Todos trabalham para uma empresa terceirizada. Esses trabalhadores são responsáveis por fazer a mediação entre as necessidades dos usuários e as empresas de limpeza, pintura e pedreiro para a solução dos problemas. Também fazem rondas pelos prédios e têm relação próxima com a Cipa, auxiliando na prevenção de acidentes.

GRITO EM CAMPOS Os bairros do Jockey, Jockey II e Novo Jockey, em Campos dos Goytacazes, tiveram um Sete de Setembro diferente no último sábado, com arte e debate sobre as condições de vida da população. Em um evento promovido pelo Sindipetro-NF e por entidades dos movimentos sociais, na pracinha do Jockey II, a comunidade pôde expressar suas cobranças sobre serviços públicos e opinar sobre o cenário local e nacional.

 

NORMANDO

Idades das trevas

Normando Rodrigues*

A compreensão de uma sociedade complexa demanda reducionismos e simplificações, sem as quais não se entende o todo. E a ilustração dos “terços” parece ser bem eficaz para entender o Brasil fascista.

O Terço conservador de nossa sociedade, que media entre a reacionária extrema direita e o terço progressista, é o fiel da balança das grandes movimentações políticas. E nas últimas semanas alguns sinais podem estar a anunciar um abalo sísmico.

Exemplo disso é a inédita aliança, noticiada a 7 de setembro, entre a indústria agropecuária, ONGs e indígenas, para exigir que Bolsonaro abandone a retórica antiambientalista e cumpra a lei na Amazônia. “Minima Moralia”, diria Adorno, aquele que escrevia as letras dos Beatles.

E no entando, ela se move!

O furacão Doria tem pressa. Parece ter ouvido o conselho de FHC quanto à necessidade de diferenciação: “o inimigo é Bolsonaro!”

Doria esteve atento aos gritos de “Fascista!” recebidos por Witzel no dia 6, em dois eventos distintos, e ao episódio da censura medieval que uniu Crivella e o homofóbico presidente do TJRJ, Cláudio de Mello Tavares.

Doria, e seu parceiro Maia, sabem que suas chances não passam pela disputa do Terço reacionário, fidelizado às trevas. Por isso Maia não apareceu no palanque bolsonarista do 7 de setembro. Aliás, o presidente do STF, apesar de militarmente tutelado, também por lá não apareceu.

O liberal honesto

“Liberal honesto” não é um oxímoro como “inteligência militar”. É apenas é raro, e absolutamente destituído da capacidade de autocrítica.

No domingo, 8 de setembro, Celso de Mello, o decano do Supremo, atacou:

A censura de Crivella se deu “sob o signo do retrocesso — cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do estado —, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias, e do repúdio ao princípio democrático” (…) “mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo, e apologistas de uma sociedade distópica, erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da república”.

Etimologicamente “acólito” é o “companheiro de viagem”. É verdade que Celso de Melo não conduz o trem da barbárie que acertadamente ataca. Mas sua omissão foi decisiva para a viagem, e ele ainda não desembarcou.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]