EDITORIAL
Gestão da morte
Reflexo da política genocida do governo Bolsonaro, a gestão da Petrobrás lida com a pandemia do novo coronavírus como se fosse uma gripezinha, levando ao limite da irresponsabilidade ou da atitude criminosa a ausência de ações efetivas para proteger os trabalhadores do setor petróleo.
Por mais que saibamos que o vírus não escolhe categoria profissional, sabemos também que algumas são mais vulneráveis, como as que atuam em espaços confinados como a dos petroleiros e petroleiras. Indiferente a isso, a companhia faz o mínimo em suas instalações e ignora de modo soberbo e cruel a responsabilidade que deveria exercer sobre as empresas privadas contratadas. O resultado está no grande número de casos na categoria, como mostra matéria da página 3 dessa edição.
Flagrantes como o desta semana em Cabiúnas, aonde a segurança patrimonial está sendo utilizada para fazer a medição de temperatura dos petroleiros e petroleiras que chegam ao trabalho (e não profissionais de saúde, evidentemente os capacitados para fazer uma avaliação correta das condições de saúde de quem chega para trabalhar), ou a distribuição pela empresa de máscaras de TNT, de baixa qualidade, aos trabalhadores, mostram o quanto a empresa improvisa em um momento tão dramático.
Em tudo esse comportamento se parece com o aturdido comportamento do governo federal. Só em um aspecto desmonstra eficiência inabalável: destruir a Petrobrás, vendê-la aos pedaços, fazê-la afastar-se de qualquer compromisso estratégico com o desenvolvimento com justiça social, reduzi-la à condição de uma empresa qualquer.
Por uma questão de sobrevivência de milhares de pessoas ainda ameaçadas pela covid-19, e por uma questão de sobrevivência do que ainda pode ter restado de sonho e de projeto de um Brasil que volte a dar orgulho aos brasileiros, é urgente que toda essa corja bolsonarista que hoje administra o País e a Petrobrás seja contida. Por enquanto, os chamados freios e contrapesos institucionais estão sendo insuficientes.
ESPAÇO ABERTO
Um salve à imprensa sindical
Vitor Menezes*
Muito se tem falado, com razão, sobre o papel importante que o jornalismo tradicional tem desempenhado neste período de pandemia. A imprensa tem sido, mesmo com as suas falhas e idiossincrasias, mesmo com seus vínculos ideológicos e financeiros, mesmo muito longe de ser popular e comprometida com as mudanças que a sociedade precisa, um referencial mais racional e ajuizado na divulgação de atitudes necessárias como a do isolamento social e o uso de máscaras. No caso brasileiro este papel mostra-se ainda mais essencial, em contraponto às insanidades que emanam das falas presidenciais.
Mas é preciso que outro tipo de imprensa seja lembrada também como vital, neste e em diversos outros momentos: a sindical. Fruto histórico das imprensas operárias e anarquistas, as mídias sindicais reúnem as produções de milhares de jornalistas e profissionais de áreas afins, como designers, videomakers, radialistas, blogueiros, entre tantos outros, além de dirigentes sindicais, para priorizar a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras na desigual relação patrão-empregado no mercado de trabalho.
É a imprensa sindical que, neste momento de pandemia, tem lembrado que não existe economia sem trabalho. Assim como tem denunciado o modo como muitas grandes empresas, que poderiam suportar com responsabilidade esse momento, estão preferindo a “janela de oportunidade” para cortar salários, direitos e empregos.
Também atuando na assessoria à imprensa tradicional, os profissionais da imprensa sindical têm gerado grande parte da informação a que a sociedade tem tido acesso, mostrando o lado dos trabalhadores e das trabalhadoras nesta pandemia. As condições precárias, as faltas de equipamentos de proteção, os números de contaminações no ambiente de trabalho, são algumas das realidades que, se você viu em algum veículo, provavelmente foi apurada, tratada e divulgada originalmente pelas estruturas de comunicação dos sindicatos.
Um grande salve, portanto, a todos os trabalhadores das imprensas sindicais de todo o país. Que continuemos indispensáveis à construção de um mundo melhor.
* Jornalista do Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF.
GERAL
Covid-19: Números desmentem Petrobrás
Das Imprensas do NF e da FUP
Boletim do Ministério das Minas e Energia divulgado no início desta semana mostra que o número de petroleiros e petroleiras com suspeita de terem contraído da covid-19 no sistema Petrobrás chegou a 1.642 e os casos confirmados somam 806. No Norte Fluminense, dados reunidos pelo Departamento de Saúde do Sindipetro-NF mostram que são 101 os casos suspeitos e 113 os confirmados, em 22 plataformas e em Cabiúnas.
Estima-se que o número real de casos seja muito maior, em razão da subnotificação e do temor de muitos trabalhadores, especialmente de empresas terceirizadas, de admitirem a suspeita de contaminação e serem afastados do trabalho. Também são frequentes as denúncias que chegam ao sindicato sobre suspeitas de contaminação em grupos inteiros e de desembarques que não são informados pela Petrobrás. Além disso, a entidade denuncia a falta de acompanhamento dos trabalhadores que atuam nos próprios nos locais de embarque. A empresa está testando os petroleiros que vão embarcar, mas não faz o mesmo com os funcionários que estão todos os dias nos locais de embarque.
Esta realidade desmente de forma veemente a gestão bolsonarista da companhia, que insiste em seguir a estratégia do governo federal de negligenciar o combate à pandemia. A FUP ingressou no último dia 30 com representação no Ministério Público Federal, pedindo abertura de investigação criminal para apurar responsabilidade penal e administrativa do presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e demais dirigentes da empresa, por negligenciarem ações de prevenção durante a pandemia da Covid-19, colocando em risco os trabalhadores.
Transparência
A entidade também cobra que o MPF atue para que a gestão da Petrobrás informe as medidas de prevenção adotadas durante a pandemia, bem como os casos suspeitos e confirmados de contaminação de trabalhadores próprios e terceirizados, em todas as unidades da empresa.
Desde 19 de março, quando a FUP apresentou à Petrobrás propostas para proteger os trabalhadores durante a pandemia, as entidades sindicais vêm cobrando a implementação de medidas efetivas de prevenção, mas os gestores se negam a dialogar. Negligenciam ações sanitárias básicas e omitem informações sobre trabalhadores em grupos de risco e casos suspeitos e confirmados de infectados, aumentando a insegurança da categoria.
“Ainda não foi adotada nenhuma medida efetiva de saúde pública para a proteção da saúde e vida dos trabalhadores e trabalhadoras que trabalham nas 91 plataformas, 17 refinarias e nos terminais do país. Pelo contrário, estes trabalhadores têm sido expostos pela negligência da Petrobrás que minimiza a letalidade do vírus e desconsidera os estudos sobre a alarmante taxa de mortes”, alerta a FUP no documento encaminhado ao MPF.
FUP cobra participação na AMS
Das Imprensas do NF e da FUP
A FUP encaminhou nesta semana uma proposta de calendário de reuniões das comissões permanentes de negociação, previstas no ACT, inclusive a da AMS, com reunião no próximo dia 15, para instalação do GT acordado na audiência com o TST, em novembro.
A Federação lembra que a participação dos trabalhadores no acompanhamento da gestão do plano de saúde está prevista no Acordo Coletivo firmado com a empresa sob moderação do Tribunal Superior do Trabalho, em novembro de 2019.
“Instauração de grupo de trabalho para a criação de mecanismo voltado a ampliar a participação efetiva dos empregados no acompanhamento da gestão do plano de saúde: A Companhia [Petrobras] e as Entidades Sindicais comporão um grupo de trabalho paritário cujo objetivo será a criação de um mecanismo voltado a ampliar a participação efetiva dos empregados no acompanhamento da gestão do plano de saúde”, prevê o acordo.
Junta eleitoral divulga chapa inscrita ao pleito
A junta que organiza as eleições para a diretoria e conselho fiscal do Sindipetro-NF divulgou ontem, no site da entidade (is.gd/eleicoesnf03), nota para informar que “se encerrou no dia 06 de maio de 2020 o prazo de inscrição de chapas para o processo eleitoral que comporá a diretoria colegiada e conselho fiscal da entidade para o triênio 2020/2023”. A junta também divulgou a relação de petroleiros e petroleiras que integram a única chapa inscrita [veja abaixo].
De acordo com o artigo 22 do estatuto da entidade, o prazo para impugnações, de cinco dias úteis, será no período das 8h30 do dia 8 de maio de 2020 às 17h30 do dia 14 de maio de 2020. O eventuais pedidos de impugnação deverão ser remetidos para o e-mail [email protected].
CHAPA: DEMOCRACIA E LUTA
COORDENADOR GERAL:
TEZEU FREITAS BEZERRA
COMUNICAÇÃO:
RAFAEL CRESPO RANGEL BARCELLOS
MARCELO NUNES COUTINHO
THIAGO HENRIQUES CABRAL
APOSENTADOS:
FRANCISCO ANTONIO DE O. S. DA SILVA
ANTONIO ALVES DA SILVA
ANTONIO CARLOS M. DE ABREU
ANDRÉ DE LIMA COUTINHO
FORMAÇÃO:
CONCEIÇÃO DE MARIA P. A. ROSA
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE SOUZA
DEBORAH SANTOS CORREA SIMOES
CULTURA:
GUILHERME CORDEIRO FONSECA
JONATHAS EMANOEL MAIA FRANÇA
LEONARDO DA SILVA FERREIRA
SETOR PRIVADO:
EIDER COTRIM MOREIRA DE SIQUEIRA
JANCILEIDE ROCHA MORGADO
VITOR LUIZ SILVA CARVALHO
JOHNNY SILVA DE SOUZA
FINANCEIRO:
TADEU DE BRITO OLIVEIRA PORTO
JOSÉ MARIA FERREIRA RANGEL
SERGIO BORGES CORDEIRO
SAÚDE E SEGURANÇA:
ALEXANDRE DE OLIVEIRA VIEIRA
BARBARA SUELY DA SILVA BEZERRA
GUSTAVO FIGUEIREDO MORETE
ADMINISTRATIVO:
VALDICK SOUZA DE OLIVEIRA
BENES OLIVEIRA NEVES JUNIOR
MATHEUS SANTOS GAMA NOGUEIRA
JURÍDICO:
ALESSANDRO DE SOUZA TRINDADE
EWERSON CARDOSO JUNIOR
SILVANDO BISPO NASCIMENTO
CONSELHO FISCAL:
– TITULAR:
MAGNUS FONSECA DE SOUZA
MARCOS FREDERICO DIAS BREDA
SAMUEL HENRIQUE P. DOS SANTOS
JORGE TADEU ALCANTARA DA COSTA
CLAUDINO CARDOSO DE SOUZA
-SUPLENTES:
PAULO DE ALMEIDA E SILVA NETO
ANTONIO RAIMUNDO TELES SANTOS
GENUSA DE SOUZA DUTRA CARNEIRO
VANILDA MARIA R. DA SILVA QUEIROZ
WILSON ROBERTO F. DOS SANTOS
Lives sindicais: muito debate e qualificação
A realidade de isolamento social necessária no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus está provocando mudanças nos hábitos de comunicação e de relacionamento interpessoal em todas as áreas. No mundo sindical não é diferente. Atividade essencialmente de contato, marcada por instrumentos históricos como assembleias e reuniões setoriais nas bases, o sindicalismo também precisou se adaptar rapidamente.
Depois de um Primeiro de Maio histórico e completamente online, esta semana foi de realização de muitos encontros virtuais com conteúdos de qualificação e debate. O Sindipetro-NF tem mantido, desde o início da quarentena, transmissões ao vivo no Facebook todas as segundas, quartas e sextas, às 17h, o Face to Face. Nesta semana, os programas tiveram participações das médicas Patricia Canto Ribeiro e Lia Giraldo, da Fiocruz, na segunda-feira, e da psicóloga Camila Aguiar e a engenheira e coach Aline Koope, na quarta-feira.
Além das edições do Face to Face, a semana contou com lives da FUP: na terça, com o tema “A previdência dos petroleiros em época de coronavírus”, com Paulo César Martins (diretor da FUP); Luiz Felipe Fonseca (assessor técnico da FUP e da Anapar); Norton Cardoso (conselheiro eleito da Petros) e Marcello Gonçalves (assessor jurídico da FUP).
Na quinta, o Sindipetro-NF realizou live com o tema “Queda do petróleo em tempos de pandemia: impactos sobre o RJ”, com a participação do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT).
CURTAS
Setorial online
Realizada nesta semana, na última terça, a primeira setorial online promovida pelo Sindipetro-NF, no Terminal de Cabiúnas. Puderam participar os trabalhadores e trabalhadoras filiados ao sindicato. Foi um teste para que, durante a pandemia de Covid-19, novas setoriais sejam feitas à distância. O sindicato entende, no entanto, que as reuniões presenciais são insubstituíveis e não pretende adotar setoriais online após o fim deste período de isolamento social.
Memória
O início da greve histórica de 1995 completou 25 anos, no último dia 3. A greve, que foi essencial para que o governo FHC não privatizasse por completo a Petrobrás, durou 32 dias e foi a maior da história da categoria petroleira. Houve muita truculência na repressão ao movimento, com tanques do exército nas refinarias e cortes nas contas dos sindicatos. Até hoje o movimento serve de inspiração na resistência ao entreguismo.
Discriminação
O Sindipetro-NF recebeu, ontem, denúncia de que a gestão do Terminal de Cabiúnas está praticando discriminação entre trabalhadores próprios e terceirizados no acesso à alimentação. A empresa chegou a criar rampas diferentes de acesso ao refeitório. Empregados de uma das empresas terceirizadas, que fornece quentinhas, teriam até mesmo que fazerem as refeições fora do refeitório. O sindicato reúne comprovações da denúncias e acionará os órgãos fiscalizadores.
Luto
A cada dia, os números ganham cada vez mais rostos próximos. O aposentado filiado à entidade, Rodolfo Figueiredo Barbosa, 67 anos, morreu na última quarta, 6, em decorrência da covid-19. Natural de Belém (PA), o petroleiro atuou, até 2014, na plataforma P-38, na Bacia de Campos, e morava na Ilha de Marajó. O Sindipetro-NF manifesta as suas condolências aos familiares, amigos e colegas de trabalho.
NORMANDO
Bomba atômica
Normando Rodrigues*
A cada momento em que Bolsonaro é confrontado com sua própria pequenez humana, a cada instante no qual o espelho inclemente da crítica reflete sua imbecilidade, ele apela para os militares.
Se o Supremo não se ajoelha, como querem Toffoli e Marco Aurélio, ou se a Câmara dos Deputados não chancela as insanidades planaltinas, balança-se o espantalho do golpe militar.
O verdadeiro trunfo, contudo, não são os militares, e sim os ignaros 27% que apoiam Bolsonaro, parte dos quais continuaria a apoiar ainda que ele fosse flagrado em canibalismo, alimentando-se de corpos infantis.
Centro de gravidade
Porém, se o fiel da balança é a popularidade do fascismo, o peso maior a ser colocado no prato são, sim, os milicos. A bomba atômica cuja ameaça é mais importante do que o uso.
Daqueles, a oficialidade é de direita, e como tal dedicada à manutenção ou recuperação de privilégios, ainda que nas aparências. Objetivo este nem sempre republicano, e que os generais comungam com os ditos movimentos “contra a corrupção”. Para ambos os grupos, “corrupção é o que os outros fazem!”
São “gente de ordem”. Mas, nesta “ordem”, fazer as compras de mês, ou a mudança eletiva da residência do general, com soldados e caminhões do Exército, não é corrupção. Assim como não é a relação da mulher de Moro com a APAE, ou a dos filhos do presidente com a milícia.
Constituição
Do exato mesmo modo juraram defender a Constituição. Dilema moral ante uma possível quartelada? Resolvido! Basta que o presidente declare solenemente: “Eu sou a Constituição!”
A ética particularizada, da corrupção “sempre alheia”, manifesta-se também nas noticiadas reações do generalato às bravatas golpistas de seu comandante supremo. O militar é treinado para dissimular, enganar e surpreender o inimigo, e por isto o que os incomoda não é Bolsonaro pensar em golpe de estado, mas sim o fato do imbecil o tornar público.
“Camuflado no superficial inconformismo para com a “revelação” do golpismo – e não quanto ao golpismo em si – se situa o elo entre a postura antidemocrática de certos generais e o fascismo.
“Inimigo”
Incapazes de compreender o significado dos valores da sociedade complexa, tais como o pluralismo e a diversidade, tratam o adversário político não como a alternativa necessária, mas como o inimigo a ser neutralizado.
São generais de antolhos, que colocam de ponta-cabeça a máxima de Clausewitz, e vêm a Política como a continuidade da Guerra.
Delenda est Bolsonaro!
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]