EDITORIAL
Guerra das máscaras
Uma atitude aparentemente banal, utilizar uma máscara, tem provocado situações que ilustram bem a mentalidade da gestão bolsonarista da Petrobrás. Seguindo o “mito”, os Catello Branco que comandam a companhia parecem fazer as escolhas que mais colocam os trabalhadores em risco. Entre duas máscaras, uma que protege muito e outra que protege pouco, qual você escolheria? A escolha da empresa tem sido a segunda opção, ao obrigar os petroleiros a utilizarem a máscara que ela forneceu, mesmo que tenham à mão uma extremamente melhor.
Esse tipo de mesquinharia só faz sentido pela lógica obscura da intransigência, da disputa narrativa que caracteriza esse governo, em detrimento do objetivo final que é o de salvar vidas. A máscara fornecida pela empresa é um pedaço de TNT. A máscara fornecida pelo Sindipetro-NF tem três camadas, com tecido sublimático, camada de TNT 0.70 e fundo em algodão 100%. Vem lavada, higienizada e passada.
O Sindipetro-NF, evidentemente, não quer disputar com a Petrobrás a primazia de distribuir máscaras. O sindicato não teria recursos e nem abrangência para atender a todos os trabalhadores e trabalhadores. Isso é uma obrigação da empresa. O bom senso, no entanto, indica que, se o petroleiro ou petroleira tem à mão uma opção de melhor qualidade (seja a do sindicato ou outra qualquer), que seja então utilizada a que lhe garante melhor proteção.
Mas bom senso parece não ser algo que combine com estes tempos de gestão bolsonarista. Parecem mais preocupados em evitar que os trabalhadores exponham, na face, o orgulho que têm da Petrobrás enquanto empresa pública e comprometida com o Brasil, uma vez que as máscaras do sindicato trazem estampada a marca da campanha contra a privatização da empresa. Isso é o que os incomoda. Não se importam com a saúde.
Além da campanha, a distribuição de máscaras pelo sindicato teve o papel didático de estimular o próprio uso de máscaras, que vinha sendo negligenciado pelo bloco da “gripezinha”. Foi o que aconteceu também em 2003, na luta pela segurança nos voos, quando a entidade distribuiu camisas de cor laranja para a categoria nos aeroportos, que são contrastantes com o mar em caso de emergência, e a empresa acabou por adotar os coletes.
ESPAÇO ABERTO
É preciso cuidar de quem cuida!*
Paulo Cayres**
Como reconhecimento da importância dos Profissionais de Enfermagem de todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o ano de 2020 como o Ano Internacional da Enfermagem. Mas antes disso, o 12 de maio já tinha este significado: refletir a importância destes profissionais na vida de cada uma e cada um de nós.
Estes profissionais sempre foram vitais para nossa saúde e agora com a pandemia do novo coronavírus isso só ficou mais explícito.
O carinho que eles e elas proporcionam aos pacientes, em cada cuidado e medicação, supera até os remédios, tornando mais rápida e suave a melhora ou a cura dos pacientes. Não é porque estamos numa pandemia que eles merecem ser homenageados e louvados, isso devemos fazer sempre.
São estes profissionais que colocam, de fato, as suas vidas para que outras vidas sejam salvas e neste sentido é o que esta acontecendo hoje em função do corona vírus. São eles que estão na linha de frente, que se contaminam e acabam morrendo, mas em nenhum momento nenhum deles recuou.
Pelo contrário, o amor que eles e elas têm pela profissão só aumentou, mas apesar do ato heroico de salvar vidas, precisamos lembrar que são seres humanos e é preciso cuidar de quem cuida.
É preciso condições dignas de trabalho para todos e todas, com garantia de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de qualidade e quantidade adequados, 30 horas de jornada de trabalho, com salários dignos, entre outras reivindicações da categoria que nunca são atendidas pelo setor público e privado.
Além disso, é fundamental que seja respeitado o isolamento social, primeiro porque é preciso reduzir a quantidade de vítimas, mas também para que se proteja estes profissionais, porque na medida que você diminuiu o número de pessoas contaminadas menos riscos eles correm.
#Fique em Casa e ajude a cobrar dos poderes públicos a valorização e condições dignas de trabalho para estes profissionais.
* Editado em razão de espaço. Íntegra publicada originalmente no Portal da CUT, em is.gd/eanascente1139. ** Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM).
GERAL
Covid-19: Assim como governo Bolsonaro, gestão faz política da morte
O Sindipetro-NF enviou na última sexta, 8, ofício a diversas instâncias do poder público e órgãos de fiscalização para denunciar e cobrar providências em relação à negligência da Petrobrás na prevenção à covid-19. A entidade lista 15 situações graves vivenciadas pelos petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense (veja no quadro ao lado).
O ofício foi motivado pela falta de abertura da Petrobrás ao diálogo com o sindicato. “A entidade sindical, desde os primeiros casos de contágio pelo coVID-19, enviou dez ofícios para as gerências da Petrobrás, oferecendo alternativas, cobrando ações e se colocando à disposição para discutir formas eficientes para minimizar a propagação do coronavírus entre os trabalhadores”, afirma o documento.
A entidade complementa: “porém, apenas um destes ofícios foi respondido pela companhia e, além de não contemplar os questionamentos realizados, não forneceu nenhum encaminhamento eficaz e/ou demonstrou um plano para resguardar a saúde e segurança”.
O documento do Sindipetro-NF (disponível na íntegra em is.gd/docnf15denuncias) foi enviado para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Câmaras de Vereadores de Campos dos Goytacazes e de Macaé, Ministério Público do Trabalho, Agência Nacional do Petróleo, Superintendência Regional do Trabalho, Anvisa, Capitania dos Portos e Ompetro (Organização dos Municípios Produtores de Petróleo).
Um festival de negligência da empresa
1 – Ausência da emissão de CAT.
2 – Falta de informações sobre os casos de contaminação.
3 – Falta de testagem ampla.
4 – Falta de exames no retorno ao trabalho após contaminação.
5 – Não recebimento de resultados de exames que dão negativo.
6 – Realização de medições de temperatura por vigilantes da segurança patrimonial (e não por profissionais de saúde).
7 -Excesso de passageiros em ônibus e vans.
8 – Falta de local adequado para refeições em Cabiúnas.
9 – Falta de fornecimento de máscaras de alta proteção.
10 – Ausência de testes entre petroleiros terceirizados.
11 – Ausência de testes nos trabalhadores dos aeroportos.
12 – Precariedade do atendimento médico nas unidades da Petrobrás.
13 – Falta de abono de faltas em casos suspeitos.
14 – Falta de atendimento a orientações da Anvisa.
15 – Discriminação no acesso ao refeitório de Cabiúnas.
Baixo efetivo também gera preocupação
O sindicato denunciou nesta semana que a situação de baixo efetivo nas plataformas, que já era crítica antes da pandemia do novo coronavírus, está extremamente grave com a adoção de desimplantes (desembarques) pela companhia neste período de quarentena. A Petrobrás retirou cerca de 3 mil petroleiros em todo o país das plataformas de petróleo. O Sindipetro-NF não teve acesso a números específicos da região Norte Fluminense, em razão da falta de transparência e de abertura de diálogo por parte da gestão da empresa. A entidade, no entanto, tem informações de que são muitos os casos e recebe relatos de trabalhadores que registram a exaustão e o risco de acidentes à bordo.
Sabonete líquido: Começa produção em parceria
O IFF (Instituto Federal Fluminense), em parceria com o Sindipetro-NF, começou a produzir, na última quinta-feira, sabonete líquido que será distribuído em comunidades em vulnerabilidade social e para moradores em situação de rua em Campos dos Goytacazes e em Macaé.
O Instituto faz toda a produção de 3 mil frascos de 500ml. O sindicato entrou na parceria fornecendo os insumos e se responsabilizará pela distribuição — incluindo o sabonete em kits com outros produtos de higiene. A previsão é de que a produção dure duas semanas.
O sindicato tem desenvolvido ações junto a comunidades em vulnerabilidade social durante a pandemia. Foram distribuídas 700 cestas básicas em Campos e em Macaé. A distribuição é feita em parceria com diversas entidades filantrópicas, igrejas e movimentos sociais, para garantir o atendimento a quem realmente necessita.
Hibernar é novo jeito de entregar
“A hibernação significa muito mais que uma forma de gestão da Petrobras no contexto de queda do preço do petróleo e da pandemia. Ao contrário, a hibernação é a nova modalidade da política de descaso e entrega da Petrobras. Representa uma estratégia que se aproveita da dificuldade de se organizar as mobilizações de resistência para acelerar o desmonte da empresa”. A afirmação é do geógrafo Francismar Cunha, mestre e doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em artigo publicado no Blog do professor Roberto Moraes.
O geógrafo analisa detalhadamente a relação entre as decisões da gestão Castello Branco, de colocar plataformas e campos de petróleo em “hibernação”, e o processo de desmonte e venda da Petrobrás.
“Francismar faz uma leitura a partir da localização espacial (com mapas de quatro bacias produtoras de petróleo no Brasil) que identifica os ativos de produção colocados em “hibernação” (eufemismo similar ao que gostam de usar como “desinvestimentos”) e os que estão sendo colocados à venda (desinvestimentos) pela estatal”, afirma Roberto Moraes. “Todo bom pesquisador começa trabalhando com as informações e junto com os estudos teóricos e as pesquisas empíricas, passa à fase de formulação de hipóteses, para se tentar interpretar o fenômeno que está observando”, ressalta.
“Neste caminho, o pesquisador Francismar Cunha conseguiu com a espacialização destas decisões corporativas, localizar o nexo de negócios que expõe de forma clara, que a atual direção da Petrobras, enxerga e usa a pandemia, como “janela de oportunidades” para radicalizar o processo de desmonte da companhia, cumprindo desejo dos seus maiores investidores, a quem na verdade, representam, exclusivamente”, conclui o professor Roberto Moraes.
A íntegra do artigo está disponível em is.gd/hibernacao.
Petros: Estudo ajuda tomar decisão
O assessor jurídico da FUP e do Sindipetro-NF, Marcello Gonçalves, elaborou um estudo com o tema “Os Impactos da redução salarial nos benefícios da Petros em tempos de Covid-19?”, para auxiliar os participantes num momento de cortes salariais para uma tomada de decisão acertada a respeito do Plano Petros. O sindicato mantém a luta na Justiça, no entanto, para que a redução de salário seja suspensa.
Gonçalves sugere que cada participante faça um exercício sobre a sua realidade, avalie o cenário atual e futuro e a possibilidade de preservar o valor do seu futuro benefício, levando em conta a opção pelo Autopatrocínio parcial ou, alternativamente, as contribuições esporádicas, exclusivamente no PP2.
“Todos desejamos superar os impactos decorrentes dessa crise sanitária, o quanto antes, no entanto, infelizmente, como veremos neste artigo, os efeitos negativos sobre os benefícios que serão pagos pela Petros podem ser permanentes, devido aos atos de gestão da Petrobrás e suas Subsidiária”, afirma Gonçalves no estudo, que tem a íntegra disponível em is.gd/estudojuridico.
CURTAS
Setorial do ADM
O Sindipetro-NF volta a realizar reunião setorial online com a categoria. Após encontro virtual, na semana passada, com a base de Cabiúnas, agora é a vez dos petroleiros e petroleiras das bases administrativas, na próxima terça-feira (19), às 17h. Podem participar os filiados e filiadas ao sindicato, com inscrição pelo link is.gd/setorialnf190520. O sindicato avalia, no entanto, que as reuniões presenciais são insubstituíveis e não pretende adotar setoriais online após o fim deste período de pandemia.
Mais de 90%
O Sindipetro-CE/PI divulgou nesta semana que 42 de 45 trabalhadores (93%) do campo de exploração de Xaréu, no litoral do Ceará, testaram positivo para covid-19. Os petroleiros foram isolados em um hotel em Fortaleza. O campo de Xaréu é uma das áreas de exploração marítima que a Petrobrás colocou à venda e está localizado a cerca de 50 quilômetros da costa de Paracuru, na Região Metropolitana de Fortaleza.
ACT
Começaram ontem, pela comissão de Acompanhamento do ACT, as reuniões das comissões de negociação permanente previstas no Acordo Coletivo de Trabalho do Sistema Petrobras. O RH da Petrobrás aceitou a proposta de calendário encaminhada pela FUP no dia 04/05, mas ainda não se manifestou sobre a cobrança de prorrogação do ACT até novembro. As reuniões continuam com SMS (hoje) e AMS (amanhã).
Zé em live hoje
O coordenador da FUP e um dos diretores do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, é um dos participantes, hoje, às 17h, de live com o tema “Partidos e movimentos sociais na resistência”. A transmissão acontece em youtube.com/sosbrasilsoberano. Também haverá a participação do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), com mediação do advogado e cientista político Jorge Folena, integrante da coordenação do SOS Brasil Soberano.
BASTA COMPARAR Não bastasse a insuficiência de medidas para proteger seus trabalhadores da Covid-19, a gestão bolsonarista da Petrobrás tem proibido que a categoria utilize as máscaras fornecidas pelo sindicato (obrigando a utilizar uma muito inferior, de TNT, fornecida pela empresa). Em vídeo bem humorado nesta semana (is.gd/mascaranf), o diretor do NF Alessandro Trindade “ensinou” o modo correto de usar a máscara da companhia: colocando a do NF por cima.
NORMANDO
Desemprego e desmatamento
Normando Rodrigues*
O mundo pós-pandemia será outro.
E esse “outro” terá que enfrentar dois desafios, diretamente relacionados, para muito além das “condições” impostas pelo Deus-Mercado: o desemprego; e o desequilíbrio ambiental.
O desemprego nos EUA é tomado como indicador econômico importante, enquanto historicamente é desprezado no Brasil. E os dados são alarmantes tanto para a economia norte-americana, quanto para os bolsonaristas crentes de que seu mundo terraplanista gravita ao redor de Miami.
Na Trumplândia
O índice oficial, divulgado esta semana, é de 14,7% de desemprego na Trumplândia, gigantesco até para os padrões brasileiros.
Pior ainda, o Nobel de economia de 2008, Paul Krugman, alertou em 11 de maio, no “The New York Times”, que a apuração foi comprometida pelas necessárias medidas de isolamento social, e que o índice real gira em torno de 20%.
Trata-se do maior desemprego dos EUA desde 1935, então apenas dois anos após o pico de 25% da Grande Depressão.
Na floresta
Na mesma segunda-feira, nota de “The Economist” registrava que o desmatamento da Amazônia, já recorde sob o incentivo de Bolsonaro, acelerou ainda mais com a ajuda da crise. Cresceu mais 55% nos quatro primeiros meses de 20, e mais 64% em abril.
A intervenção estatal para a geração de empregos no Brasil é tão urgente quanto a repressão aos amigos e eleitores de Bolsonaro, que se organizam nos atuantes “Clubes do Fogo”. Sem emprego, e sem floresta, não há “presente” para o Brasil, e muito menos “futuro”.
E nenhuma medida efetiva ocorrerá com Bolsonaro sentado à vontade, na cadeira presidencial, como se estivesse em seu jet ski. Assim como não ocorrerá com Guedes na Economia, e com o netinho de Roberto Campos (a mamata não acabou!) no Banco Central.
Políticas públicas
O Brasil age na contramão do que Europa e Estados Unidos fazem, não apenas na forma como seu presidente imbecil vê o combate ao corona vírus. Atua também a contrapelo da geração de emprego.
Doze dias após a OMS declarar a pandemia, em lugar de Bolsonaro decretar barreiras sanitárias (o que nunca fez), o Banco Central disponibilizou R$ 1,216 trilhão para os bancos brasileiros (16,7% do PIB). Isso em 23 de março de 2020.
Esse 1,216 trilhão de reais não gerou um emprego. Não preservou uma árvore. Não serviu para a compra de um respirador de UTI. Destinou-se a amenizar o prejuízo do Itaú, e confortar os demais bancos.
Bolsonaro mata os brasileiros, e o futuro do país.
Delenda est Bolsonaro.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]