Nascente 1184

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EDITORIAL

Segunda morte

A diretoria do Sindipetro-NF tem convivido com uma experiência que reflete o terror que se tornou a ambiência de trabalho nas instalações da Petrobrás, envolvendo empregados próprios e contratados de empresas privadas do setor. Por medo de punições, represálias, muitos trabalhadores e trabalhadoras evitam informar ao sindicato as condições a que estão submetidos e, até mesmo, relatar as mortes por covid-19 na Bacia de Campos.

Em alguns casos, diretores e diretoras precisam buscar diversos petroleiros nas unidades até que consigam dados confiáveis sobre a trajetória de algum companheiro que partiu — montando um complicado quebra-cabeça. É uma espécie de segunda morte um trabalhador não poder ser, ao menos, lembrado como merece. Ainda mais grave é o comportamento das empresas, que omitem os casos e não emitem as CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho), que deveria ser o comportamento ético adotado.

A coerção, o assédio, a ambiência hostil forjada pelas gestões autoritárias não são novidade para o mundo sindical. Não por acaso, o sindicato existe justamente para organizar a luta coletiva e não expor individualmente cada trabalhador ou trabalhadora. Ainda assim espanta que, nem mesmo na hora da morte, a liberdade de expressão de sentimentos e o contato com a sua entidade representativa seja um exercício tranquilo para os colegas em luto.

O Sindipetro-NF, como não poderia ser diferente, precisa ter um cuidado redobrado com a divulgação dos casos de morte. Além do rigor da checagem da ocorrência e dos dados, a entidade acaba por ter a responsabilidade institucional de representante da categoria. Quando o sindicato divulga, rapidamente a informação é replicada por vários veículos de imprensa e redes sociais.

Somado a isso, tem-se o desafio de jamais banalizar a morte. Cada companheiro e companheira que parte é uma história, uma teia afetiva, uma contribuição. O máximo de informações precisam ser obtidas, portanto, para que este trabalho de divulgação seja feito com o cuidado que exige e merece.
Por isso, é muito importante que cada petroleiro e petroleira, mesmo neste ambiente degradante gerado pela gestão bolsonarista da Petrobrás, mantenha-se em conexão com o sindicato e envie sempre que dispuser informações sobre condições de trabalho, segurança, habitabilidade e, infelizmente quando necessário, também sobre a morte de um colega.

ESPAÇO ABERTO

Upstream terá novos desafios*

Henrique Jager e João Montenegro**

Os desinvestimentos da Petrobras – combinados, nos médio e longo prazos, com os resultados das atividades de exploração e desenvolvimento das áreas leiloadas pela ANP nos últimos anos – provocarão mudanças na gestão da produção dos hidrocarbonetos no Brasil, com potenciais impactos ambientais e em termos de segurança nacional.

Hoje, a companhia brasileira responde, como operadora, por 94% e 90%, respectivamente, da extração de petróleo e gás no país, mas essas participações tendem a cair significativamente nos próximos anos, na medida em que petroleiras privadas incrementam seu portfólio local comprando ativos da estatal e/ou adquirindo áreas nas rodadas de licitação promovidas pelo governo.

Nos últimos três anos, a Petrobras vendeu a totalidade de sua participação em cerca de 150 campos de óleo e gás nos últimos três anos, conforme a estratégia adotada no período de focar suas operações em campos com alta produtividade.

Além da menor ingerência do Estado na produção dos hidrocarbonetos, aspectos ambientais e geopolíticos devem ser considerados nesse processo de reorganização da produção offshore brasileira.
No que se refere ao onshore especificamente, o país perde, com a saída da Petrobras do segmento, um instrumento estratégico de desenvolvimento em algumas das regiões mais pobres do país, as quais ficarão exclusivamente sujeitas aos humores do mercado.

As autoridades brasileiras devem, portanto, se adaptar e investir recursos para garantir que os interesses nacionais não sejam negativamente afetados pela diversificação de operadoras petrolíferas no país.

* Editado com trechos de artigo publicado na Agência EPBR, disponível em is.gd/eanascente1184, sob o título “Com diversificação de operadoras, upstream brasileiro terá novos desafios”. ** Henrique Jager é pesquisador do Ineep e ex-presidente da Petros. João Montenegro é pesquisador do Ineep e repórter especializado em petróleo e energia.

 

GERAL

Ato pela vida hoje no Farol

O Sindipetro-NF promove hoje ato no Heliporto do Farol de São Thomé para protestar contra a negligência da Petrobrás na prevenção à covid-19 no local. Na última terça, 13, o funcionário da Omni Taxi Aéreo, Diego Andrade, de 33 anos, morreu em decorrência da doença. Ele atuava no balcão da empresa, em contato com centenas de passageiros diariamente.

De acordo com relatos de familiares de Diego à imprensa, o trabalhador se contaminou no local de trabalho, ficou internado por apenas sete dias e não tinha nenhum tipo de comorbidade. Diego era morador do Parque Santa Rosa, em Campos dos Goytacazes.

A diretoria do Sindipetro-NF tem alertado sobre o risco que é a circulação de pessoas nos aeroportos vindas de todas as regiões do país. Para embarcar os trabalhadores utilizam os mais variados tipos de meios de transporte até chegarem aos aeroportos. Infelizmente a morte de Diego mostra a necessidade urgente de desinfecção diária, por se tratar de um local de possível circulação do vírus.

“A Petrobrás tem total capacidade de realizar a testagem de todos e a desinfecção do aeroporto, mas infelizmente insiste em não fazer isso. Com essa atitude, a empresa deixa que trabalhadores que têm contato com pessoas de várias partes do país se contaminem e circulem com o vírus em nossa cidade”, alerta o coordenador do Departamento de Saúde do NF, Alexandre Vieira.

Denúncia

O Sindipetro-NF encaminhou denúncia à Vigilância Epidemiológica de Campos solicitando fiscalização no local e aos órgãos responsáveis. Para a diretoria do NF, a contaminação no heliporto poderia ser reduzida com a testagem diária dos trabalhadores e a desinfecção do local. Outra proposta apresentada pela direção do sindicato à Petrobrás é a mudança de escala para quem trabalha embarcado, que reduziria as trocas de turmas de 10 para oito.

“É preciso mostrar o que essa gestão negacionista da Petrobrás está fazendo com a vida dos seus trabalhadores diretos e de contratadas. Temos vários trabalhadores morrendo por falta de uma prevenção adequada. Os protocolos adotados pela empresa são falhos e não garantem o trabalho seguro e livre de contaminação. Não vamos aceitar calados essa situação gravíssima que afeta a todos e todas”, denuncia o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

Luto também por Darli e Alex

O sindicato recebeu nesta semana a informação de que os trabalhadores da P-38 estão consternados com a morte de um companheiro de trabalho vítima de covid-19, o cozinheiro da CIS Brasil, Darli José de Araújo, no dia 10 de abril. Os colegas afixaram um cartaz onde demonstravam sua dor com a perda do colega com os dizeres “A família Cis Brasil em P-38 está em plantões pela grandiosa perda do nosso irmão Darli, vai com Deus irmão e que ele também conforte os corações do seus familiares”.

Também no último dia 10, a Bacia de Campos perdeu para a covid-19 o petroleiro Alex Sandro Lequim, que atuava na P-52. O trabalhador da área de hotelaria foi descrito nas redes sociais como “uma pessoa do bem e de um coração gigantesco”. Alex Sandro era casado há 14 anos com Ana Maria Guedes e morava em Bom Jesus de Itabapoana.

Envie informações

O NF continua a levantar dados sobre as mortes recentes na Bacia de Campos. A entidade solicita à categoria que informe todos casos para o e-mail [email protected] com o máximo possível de dados. O objetivo é noticiar de forma completa e respeitosa cada perda. Leia mais sobre o assunto no editorial desta edição.

 

Categoria terá greve em breve

A categoria petroleira do Norte Fluminense aprovou em assembleias online realizadas de 9 a 12 de abril os indicativos do Sindipetro-NF de realização da Greve pela Vida e pela adoção da escala de 14×28 para todos os trabalhadores no período da pandemia, rejeitando a escala imposta pela Petrobrás de 21x28x21x35.

A data da realização da Greve pela Vida ainda será marcada pelo Sindipetro-NF e divulgada para toda categoria. A diretoria do sindicato reafirma que a greve é essencial para fazer ver às empresas que vidas valem mais do que produção, e que petroleiros e petroleiras não são descartáveis.

Outros indicativos

Também foram aprovados os indicativos de contribuição assistencial e de assembleia permanente. Confira os resultados no quadro ao lado.

Resultados
Aprovação da greve: 66% a favor, 29% contra e 5% abstenção.
Escala de 14×28: 78% a favor, 16% contra e 6% abstenção.
Contribuição assistencial: 57% a favor, 37% contra e 6% abstenção.
Assembleia permanente: 86% a favor, 10% contra e 4% abstenção.

AMS: Reversão aos 49 do 2º tempo

Aos 49 segundos do segundo tempo, como é comum dizer sobre os feitos misteriosos do futebol, a Petrobrás conseguiu reverter decisão liminar que determinava o retorno para o seu Departamento de Recursos Humanos dos serviços prestados aos beneficiários do plano de saúde AMS. A decisão também vetava a transferência da carteira de beneficiários à Associação Petrobras de Saúde (APS), operadora de planos de saúde idealizada pelo ex-presidente Roberto Castello Branco, demitido em fevereiro, e por seu então gerente Executivo de Recursos Humanos, Claudio da Costa.

A liminar obtida pela FUP impactaria a realização da assembleia na tarde de ontem com objetivo de efetuar a distribuição de dividendos, da ordem de R$ 10 bilhões aos acionistas — mesmo a empresa tendo lucrado R$ 7 bilhões, outro lance misterioso típico dos gramados. Com a reversão da decisão, feita pelo próprio juiz que concedera a liminar, Rafael Paulo Soares Pinto, a assembleia foi realizada e os acionistas comemoraram com as suas torcidas.

Relembre o caso

A FUP protocolou, no fim de novembro de 2020, sob sigilo, representação civil e criminal que se converteu em inquérito civil, em trâmite no MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro), sobre operações irregulares lideradas por Claudio Costa, então gerente executivo de Recursos Humanos da Petrobrás, com possível conhecimento do então presidente da empresa, Roberto Castello Branco, envolvendo a troca da AMS pela APS. Também foi protocolada denúncia no TCU (Tribunal de Contas da União), proposta ação civil pública por ressarcimento aos empregados e anulação de atos do Conselho de Administração e representação junto à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Em 15 de março, a FUP protocolou a Ação Civil Pública no 1013721-84.2021.4.01.3400, distribuída perante a 4ª Vara da Justiça Federal – Seção Judiciária do Distrito Federal, para impedir a temerária utilização de bilionárias provisões atuariais relacionadas às obrigações futuras do plano de saúde AMS para pagamento de dividendos a acionistas.

 

Setorial da UTGCAB nesta sexta

Petroleiros e petroleiras da UTGCab (Unidade de Tratamento de Gás de Cabiúnas) têm reunião setorial com o Sindipetro-NF nesta sexta, dia 16, às 18h. O encontro será pelo aplicativo zoom e necessita de inscrição prévia em link que será disponibilizado pelo sindicato. A reunião terá a participação da assessoria jurídica da entidade.

O objetivo é fazer uma apresentação de todas as ações judiciais movidas pelo Sindipetro-NF que envolvam a base de Cabiúnas. Depois da exposição, a categoria poderá interagir com perguntas e sugestões. Também estará em pauta a atuação política do sindicato em relação à base, com a discussão de temas e reivindicações da categoria.

Base teve ato nesta semana

Nesta semana, a base de Cabiúnas contou com ato contra a negligência da Petrobrás na prevenção à covid-19 na unidade. Diretores e diretoras do sindicato distribuíram cerca de 1.500 máscaras de alta qualidade (PFF2) aos petroleiros e petroleiras que chegavam para o trabalho, denunciando a má qualidade das máscaras fornecidas pela empresa — que não atendem às recomendações sanitárias.

“Estamos aqui entregando máscaras adequadas e fazemos a denúncia dos protocolos que têm sido aplicados na base de Cabiúnas e em outras pelo Brasil, com o fornecimento de máscaras vergonhosas pela Petrobrás, que não atendem às recomendações, como alerta o NF desde abril de 2020, inclusive com registro em ata de Cipa e em reunião do EOR [Estrutura Organizacional de Resposta]”, explicou o diretor sindical Matheus Nogueira.

 

CURTAS

Plenária hoje

O Sindipetro-NF convoca a categoria petroleira a participar hoje (quinta, 15), 10h, da Plenária para eleição de delegadas e delegadas ao IX Congresso Nacional da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ/CUT). Podem participar trabalhadores da ativa, aposentados e pensionistas mediante inscrição prévia. A Plenária do NF será via Zoom e debaterá os temas que serão colocados no Congresso como a análise de conjunturas política, social e econômica, entre outros.

ANP consulta

A ANP abriu prazo para recebimento de sugestões e informações, de todos os envolvidos na área de exploração e produção de petróleo e gás natural, sobre procedimentos a serem adotados nas fiscalizações de condições de segurança. O período de consulta pública dura 45 dias, a contar do último dia 8. As sugestões e informações podem ser enviadas para [email protected] ou diretamente para a ANP.

Petrobrás…

A Petrobrás parece querer ampliar o seu portfólio de negócios ao entrar para o ramo da agiotagem, quem sabe uma forma de ampliar os seus lucros. A empresa, aproveitando do desespero dos aposentados e pensionistas diante dos descontos abusivos da AMS, e descumprindo liminar que proíbe a cobrança por boleto, está enviando este tipo de cobrança com valores superfaturados para que seja impossível de cada um e cada uma pagar.

Na agiotagem

Como o aposentado não consegue pagar, a empresa envia uma carta ameaçando cancelar o plano por falta de pagamento e pede para entrar em contato por telefone. Eis que ao entrar em contato a Petrobrás é oferecida a possibilidade de parcelamento em até 10x com juros de 2% ao mês. Na Petros, para efeito comparativo, o empréstimo consignado cobra 0,65% ao mês.

 

MAIS NA RÁDIO NF

Normando no podcast

No Podcast da Rádio NF da semana, a Imprensa do NF recebe o assessor jurídico do sindicato e da FUP, Normando Rodrigues. O advogado explica para a sociedade as razões da greve petroleira que está a caminho na região. O podcast será publicado nesta sexta, 16.

 

MAIS NO SITE

Últimas do setor privado

Os petroleiros e petroleiras das empresas privadas do setor petróleo podem acompanhar as informações sobre negociações e reivindicações no site e redes sociais do Sindipetro-NF. Nova área reúne todas as matérias em is.gd/maisnosite1184.

 

NORMANDO

Jairinhos

Normando Rodrigues*

Dizia Rousseau que é preciso experimentar a dor para conhecer a ternura da humanidade. Pois lhes apresento brasileiros imunes à dor, os 30% de “jairinhos” que carregamos.

Ante o maior genocídio de nossa história o exército de jairinhos foi destemidamente às ruas com as “marchas da parentada” a favor do presidente jairinho e de seus filhos jairinhos.

Os jairinhos são todos gente de bem. Vão à igreja, defendem a família, e frequentam prostíbulos.

Apenas quando um garoto de 4 anos perturba é que os jairinhos são “obrigados” a espancar até a morte.

Plebe

Os jairinhos querem para seus “colaboradores” – tipo a cozinheira da Ivete – a “liberdade” de ir trabalhar. Natural. Com um desemprego tão brutal quanto o fascismo, se a mucama intuba é fácil substituir.

O IBGE conta que 49% dos intubados são trabalhadores da limpeza. Contudo, não é por culpa dos jairinhos que a ralé morre mais, em números absolutos e relativos. É que a elite é limpinha e cheirosinha por natureza.

Por lembrar da elite, grandes empresários jairinhos reuniram-se com o presidente jairinho para jantar o povo brasileiro. E, claro, além do prato principal de mais de 350 mil corpos, serviram-se de negócios.

Carnificina

Mortandade é oportunidade! Vinte brasileiros bilionários ficaram ainda mais ricos desde o início da pandemia, três deles na saúde privada.

Qual o termo correto para quem faz fortuna com a  falta de leitos, de oxigênio, e de respiradores? Apesar de adjetivos mais apropriados, por agora basta “jairinho”.

Na mesma noite do macabro regabofe dos jairinhos – capaz de enrubescer os personagens de “O discreto charme da burguesia”, de Buñuel – no andar de baixo 116 milhões de brasileiros iam dormir sem saber se comeriam no dia seguinte.

Lucidez

Não me entendam mal. Os jairinhos se importam com a fome! Até dão de comer aos pobres, embora com menos frequência do que alimentam seus cães e gatos.

Imbuído desse espírito fraterno, o presidente jairinho foi mais uma vez aglomerar sem máscara. Preferiria torturar e matar o senador Randolfe, mas teve que se contentar com o frango assado da feirinha de periferia, em Brasília.

E foi lá que ela surgiu. Em meio a uma pororoca de jairinhos, a impávida vendedora de frango entrou no “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago e incorporou a mulher do médico.

E enquanto você assistia inerte ao empilhamento de cadáveres, a vendedora de frango respondeu…
Pode não!

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]

 

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