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EDITORIAL
Presidente baixo nível
Depois de ser por 30 anos um deputado do chamado baixo clero, Bolsonaro não conseguiria mesmo ser outro tipo de presidente que não fosse o de baixo nível. Sua tática de comunicação, comum na extrema direita, é descer cada vez mais ao rasteiro das ofensas, dos xingamentos, dos ataques a indivíduos e coletividades inteiras. É sem dúvida o mais infame dos ocupantes da Presidência da República. Um sujeito reles, desqualificado, boquirroto, que acaba de chamar de “idiotas” ao menos 30% da população que, segundo o Datafolha, ainda consegue fazer isolamento social mantendo-se ao máximo possível em casa.
A grande mídia, que tem grande parcela de culpa na construção desse monstro — ao banalizá-lo como entretenimento em programas de auditório e alçá-lo do anonimato dos currais eleitorais das milícias do Rio de Janeiro para a visibilidade de currais maiores e mais fiéis —, chegou a patinar, no início do mandato em 2019, sobre a forma de tratamento aos impropérios quase diários proferidos por esta triste figura. Cogitou-se não dar muita cobertura ao que ele dizia. Retiraram-se repórteres do cercadinho. Mas não é possível contornar o incontornável: a praga é Presidente da República, e é inevitável (e até necessário) que o que ele diga seja levada em conta.
Passou-se então à dolorosa rotina de ter que levar a sério o que sai daquela boca e, claro, checar, desmentir, repudiar, denunciar com assombro. Não se pode banalizar. Um Presidente da República não é uma celebridade do mundo do entretenimento para ser cancelado. O que ele diz tem consequências — por sua representação institucional, interna e externa (essa que nos faz passar vergonha semana sim e outra também), e pela sinalização de que essa fala é sintomática de possíveis ações concretas, muitas vezes balões de ensaio de medidas estapafúrdias cometidas e recuadas, cometidas e recuadas, cometidas e recuadas, em repetição de um vai e vem improvisado, como quem publica e apaga mensagens de Whatsapp. A propósito, o que parece é exatamente isso: o Diário Oficial da União virou extensão dos grupos de Whatsapp do presidente e dos seus filhos.
Bolsonaro é o mais baixo Presidente da República da história brasileira. E será difícil que alguém lhe roube essa “honraria” por muitas e muitas décadas. Sua contribuição será a de ser para sempre um anti-exemplo.
ESPAÇO ABERTO
A CPI da Covid-19*
Marcio Kieller**
Não podemos esquecer que há a disputa política interna na CPI: lá estão os cães que ladram em nome de Bolsonaro, com intuito claro de obstruir os trabalhos, desqualificar pessoas e depoimentos importantes que foram elencados entre os depoentes. Mesmo com essa tentativa que toda a sociedade vê de o governo federal tentar acabar com a CPI, precisamos que ela funcione e que tenha o necessário apoio popular na sociedade para que essa comissão possa apontar um caminho diferente na condução do combate a pandemia e na gestão dela por parte do desgoverno Bolsonaro, Ou seja: que abra o necessário pedido de impeachment para que esse desgoverno Bolsonaro seja interrompido e pague urgentemente pela irresponsabilidade política e por todas as mortes de mulheres e homens que tombaram durante a pandemia de coronavírus e que poderiam ter sido evitadas se não estivesse vigorando na condução dos rumos do Brasil uma postura negacionista, anticiência, machista, homofóbica, contra o meio ambiente e contra todos os direitos do povo que perdura desde as eleições de 2018.
Se não mudarmos isso urgentemente nesta toada iremos caminhar a passos largos para meio milhão de mortes pelo covid-19 num país que desrespeita sua classe trabalhadora, desrespeita os anseios do povo, atendendo somente o desejo e a vontade daqueles que patrocinaram seu desgoverno de extrema direita e negacionista. Não há outro caminho para voltarmos a salvar vidas que não seja o caminho da ciência, dos cuidados sanitários ainda tão necessários. Principalmente enquanto não estiver à frente do governo alguém que leve a cabo uma campanha de fato nacional de vacinação contra o coronavírus, que se preciso for para que não entremos em uma terceira e mais mortal onda ainda, faça o bloqueio sanitário nacional, o lockdown nacional. Somente assim poderemos achatar os tristes números da pandemia.
* Trecho adaptado de artigo publicado no site da CUT sob o título “A CPI da Covid-19 e a mudança de rumos da pandemia no Brasil”, em is.gd/eanascente1189. **Presidente da CUT Paraná e Mestre em Sociologia Política pela UFPR.
GERAL
Dez mil motivos para a greve
Desde o início da pandemia da Covid-19, o movimento sindical petroleiro encontra dificuldades em obter da Petrobrás dados sobre os impactos da doença na categoria. Uma resposta a pedido de informações feito à empresa por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), no entanto, contribui para que se tenha a dimensão da tragédia: de março de 2020 a abril de 2021, a companhia registrou 9.487 desembarques sanitários de trabalhadores que estavam a bordo de plataformas dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
O pedido de informações foi feito no dia 5 de abril de 2021 pelo coordenador do Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF, Rafael Crespo, como pessoa física, e as respostas foram dadas pela empresa em duas etapas nos últimos dias 5 e 14 de maio.
Primeiro a empresa respondeu sobre o número de desembarques sanitários envolvendo apenas petroleiros e petroleiras contratados diretos da empresa. Neste recorte, o número de desembarques de trabalhadores próprios com suspeita de contaminação (sintomáticos) e de contactantes (assintomáticos com contatos próximos aos suspeitos) chegou a 1.732 entre março de 2020 e início de maio de 2021. Ainda neste segmento, plataformas do Rio de Janeiro são responsáveis pela grande maioria dos desembarques: 1.515.
Após esta primeira resposta da empresa, limitada aos trabalhadores próprios, Crespo apresentou recurso para que fossem incluídos os petroleiros terceirizados. Dessa vez, a empresa respondeu com um quadro genérico, sem estratificação por estados, onde aparece o dado de que quase dez mil petroleiros e petroleiras desembarcaram de unidades da empresa em razão da pandemia (9.487) no somatório de Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Um novo recurso foi apresentado para que os dados sejam estratificados por estados e a empresa ainda está no prazo para envio das informações.
Nesta segunda resposta, chama a atenção o grande crescimento de casos a partir do final de 2020. O número saltou de 650 em novembro de 2020 para 1.153 em dezembro de 2020, com pico até o momento de 1.326 em março de 2021 — e recuo para 1.218 em abril. Diferentemente do primeiro, este conjunto de dados não incluiu os dados iniciais de maio de 2021.
O Sindipetro-NF avalia que os números comprovam a ineficácia da política de prevenção à Covid-19 nas instalações da Petrobrás. Dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram hoje que 73% dos casos de contaminação entre petroleiros e petroleiras acontecem em plataformas de petróleo.
O sindicato, junto à FUP e demais sindicatos, apresentaram desde 2020 um conjunto de procedimentos a serem seguidos pela empresa para que haja redução nos riscos de contaminação — incluindo itens como uma proposta de escala que mantenha em 14 dias o embarque, garantia de testes e de máscaras de qualidade e fim das quarentenas de pré-embarque nos hoteis. As recomendações foram avalizadas pelo Ministério Público do Trabalho e pela Fiocruz. Ainda assim a empresa insiste em descumpri-las.
Além de impactar diretamente a categoria petroleira, o grande número de casos em instalações da Petrobrás acaba por aumentar os riscos em cidades onde a empresa opera. Os quase 10 mil possíveis contaminados pela doença foram desembarcados nestes municípios, contribuindo para a disseminação. Embora os dados não cheguem a esse nível de detalhamento, sabe-se que a grande maioria destes desembarques acontecem em Campos dos Goytacazes (RJ), no Heliporto do Farol de São Tomé. Essa preocupação com os efeitos negativos do comportamento da Petrobrás para as cidades tem levado o Sindipetro-NF a atuar em parceria com as autoridades locais de saúde.
Greve pela Vida
Em razão da negligência da empresa na prevenção à Covid-19 em suas instalações, a categoria petroleira do Norte Fluminense está em greve desde 0h do dia 4 de maio, sob orientação sindical de cumprimento rigoroso das escalas, turnos e jornadas em todas as unidades da empresa, em terra e no mar.
Acompanhe casos de Covid na Petrobras
Da Imprensa da FUP
Em parceria com a FUP e o Sindipetro-NF, o Dieese lançou esta semana um informativo semanal (is.gd/dieesecovid01) sobre os casos de Covid-19 na Petrobrás e no setor de energia. “Nesta semana o Brasil chega a marca de 436,8 mil óbitos e 15,6 milhões de pessoas contaminadas pela Covid-19. Na Petrobrás chegamos a 32 mortes e 6.441 trabalhadores contaminados”, destaca o boletim, com base nos números divulgados pelo Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Petróleo. “Até o momento, 16,27% do total de trabalhadores da Petrobrás tiveram algum tipo de contato com a Covid-19”, informa o Dieese no levantamento.
“Os dados aqui apresentados e sumariamente comentados são provenientes do Boletim de Monitoramento Covid-19, realizado pelo MME e atualizado semanalmente, e do Painel Dinâmico de Dados de Covid de Instalações de Exploração e Produção, elaborado pela ANP e atualizado a cada comunicação de ocorrência de suspeitos ou confirmados pelas empresas. Cabe destacar que enquanto os dados do MME tratam de cada empresa do setor de energia federal, os dados da ANP dizem respeito à toda atividade de E&P, de diversas empresas – ou seja, não incluem apenas informações da Petrobrás controladora, não incluindo informações das subsidiárias”, destaca o Dieese.
Petroleiros que orgulham categoria
O Sindiptero-NF recep-cionou ontem no aeroporto de Macaé trabalhadores da P-40 que solicitaram o desembarque ao término da escala de 14 dias, conforme orientação do sindicato para a greve pela vida. Segundo relatos de trabalhadores a pressão a bordo é grande para estender a jornada.
Após o desembarque, os trabalhadores foram levados pelo Coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, e os diretores Eider Siqueira e Bárbara Bezerra, para fazer o teste de antígeno, que sai no mesmo dia.
O Sindipetro-NF segue no trabalho de conscientização da categoria petroleira sobre a importância de priorizar a vida, reforçando o movimento grevista iniciado no último dia 4 de maio, que pressiona a Petrobrás pela adoção de protocolos eficazes de prevenção à Covid-19.
O sindicato alerta os petroleiros e as petroleiras a não caírem na artimanha da empresa de comprar trabalhadores por meio da promessa de pagamento de horas extras aos que permanecerem a bordo por mais de 14 dias ou ficarem tempo maior do que os seus turnos e jornadas nas bases de terra.
O documento para desembarque e retorno ao trabalho após a folga está disponível no site da entidade.
5º Festim começa com agenda cheia
Começou no último dia 17 e segue até 28 de maio a quinta edição do Festim (Festival de Esquetes de Macaé). Durante a semana, de segunda a sexta-feira, a programação é postada nas redes sociais, com a participação de convidados especiais. Diariamente há apresentações de música, dança e documentários.
Nos finais de semana dos dias 22, 23, 29 e 30, será transmitido no canal do YouTube do Festim a gravação do festival, com a mostra de esquetes selecionadas de todo o Brasil e convidados.
O evento tem o Sindipetro-NF entre seus apoiadores. As apresentações são feitas no Instagram (@festim_festival), no Youtube (Festim Festival) e no Facebook (Festim Festival de Esquetes de Macaé).
CURTAS
P-38
Após denúncia nesta semana de que os petroleiros e petroleiras da plataforma P-38 estavam sem acesso a qualquer alimento no intervalo entre 21h30 (horário do último lanche) e 5h da manhã (quando é servido o café da manhã), a gestão da Petrobrás resolveu o problema. “Esse resultado só demonstra como é importante a união e a mobilização da categoria em torno de um problema”, afirmou o diretor sindical Alexandre Vieira. A entidade reforça a importância do envio de denúncias para [email protected].
Cabiúnas
Diante dos relatos recebidos pelo Sindipetro-NF de que trabalhadores de Cabiúnas têm sido convocados para a extensão de escala, o NF informa que não há prerrogativa para aumento de jornada. Os petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense estão em greve, com os contratos de trabalho suspensos, conforme dispõe a Lei de Greve. Não há, portanto, relação de subordinação dos trabalhadores às chefias.
Cumprir a escala
O sindicato reforça a orientação aos petroleiros e petroleiras de Cabiúnas e demais bases de terra sobre o cumprimento da escala normal neste período de greve. Para o administrativo, a orientação é de cumprimento de jornada de 8 horas e horas extras apenas no sobreaviso. Para o pessoal de turno, o comportamento na greve é de cumprimento de escala de 6 x 9 , com jornada de 12 horas previstas e não atendimento de chamados na folga.
Luto
O Sindipetro-NF registrou e lamentou nesta terça, 18, a informação da morte do petroleiro Carlos Henrique Bispo dos Santos, 33 anos, da CSE – Mecânica e Instrumentação (parte da Aker Solutions do Brasil). O trabalhador estava a bordo da P-47, sentiu dores abdominais, desembarcou, foi hospitalizado em Macaé e não resistiu. O sindicato cobrou investigação sobre a morte e sua possível relação com o trabalho e com a Covid-19.
RECADO CLARO E DIRETO – Faixa estendida pelo Sindipetro-NF no aeroporto de Cabo Frio, nesta terça, 18, dá o recado: durante a greve não há relação de subordinação às chefias. Não adianta a gestão da empresa continuar a coagir os trabalhadores a cumprir uma escala maluca que não tem previsão no Acordo Coletivo e carece de amparo legal. Vontade de gerente não é lei.
MAIS NA RÁDIO NF
Homofobia em debate
Na semana em que marca o Dia Internacional Contra a Homofobia, no 17 de Maio, o Podcast da Rádio NF debate o tema “Desafios da comunidade LGBT+ na indústria do petróleo”, em entrevista com a diretora do Sindipetro-NF Leide Morgado. O áudio é disponibilizado às sextas-feiras e a versão em vídeo aos sábados.
MAIS NO SITE
Acesse os formulários
Estão disponíveis no site do Sindipetro-NF o formulário para que o petroleiro e petroleira registre a forma como a empresa está tratando a escala em seus locais de trabalho. Também está disponível o modelo de pedido de desembarque aos 14 dias e de embarque após 21 dias de folga.
NORMANDO
O terceiro cavaleiro
Normando Rodrigues*
João não era o apóstolo delirante dos quatro do apocalipse, e sim o “Figueiredo”, que preferia cheiro de cavalo a budum de gente. Depois veio FHC, o “protegido”, que cavalgou para se aproximar do “agronegócio”.
Daí foi a vez do “Mito”, chamado de “cavalão” no passado, e que agora se enforquilha na sela e martela a montaria em qualquer pequeno trote, com sua estupidez costumeira.
Bolsonaro pode ser péssimo cavaleiro, mas como o 3° dos quatro imaginados pelo apóstolo João, semeia a fome por onde passa.
Fome
Em toda a América Latina e Caribe de 2019, quase 48 milhões de pessoas passaram fome, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO-ONU. A situação já era, então, pior do que em 2015.
Esta deterioração da segurança alimentar tem nome e sobrenome. Chama-se neoliberalismo colonial. O mapa da fome segue o rastro de governos submissos ao Império, que tomaram nosso continente na “Onda Conservadora”.
O Brasil, com 23% da população da Latinamérica, deu uma notável contribuição à fome desde o golpe de estado de 2016, cujos objetivos foram cumpridos: entregar o petróleo do pré-sal e tornar os ricos mais ricos, e os pobres mais pobres.
Se a fome cresce sob governos de direita, ela naturalmente se extrema sob a direção do fascismo. O Brasil que Bolsonaro odeia é aquele que saiu do “mapa da fome” da FAO, em 2014.
O relatório da Organização divulgado em novembro de 2020 coloca o Brasil como o novo epicentro da fome em nosso continente. E segundo pesquisa da USP, 55% dos lares brasileiros experimentam, hoje, insegurança alimentar graças a Bolsonaro.
Sim, a América Latina foi a região do mundo mais afetada pela pandemia de Covid-19. Mas as políticas públicas adotadas por Bolsonaro potencializaram a fome, a contaminação, e o desemprego.
Vírus
Bolsonaro e Guedes representam o concubinato fascismo-neoliberalismo e acentuam a fome a partir de uma irracionalidade fundada em mitos. Desfaçamos alguns:
– Não há escassez de alimentos, nem no planeta, nem no Brasil; a fome se alastra em meio à abundância, e por isto é uma indignidade em dobro, como diz o secretário geral da ONU, António Guterres;
– O agronegócio não alimenta a população; a maior responsável pela comida na mesa dos brasileiros é a agricultura familiar;
– O agronegócio não gera riquezas; ele desindustrializa, aumenta a desigualdade social e destrói o meio ambiente.
No seu próximo voto, pense no que está na mesa.
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