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EDITORIAL
O dilema das ruas
Nesta pandemia há muito que se discute, entre os movimentos sindicais e sociais, sobre a necessidade de ir às ruas para fazer um contraponto à altura ao comportamento genocida que se origina no governo federal. Enquanto o presidente promove motocaços com desmiolados, os locais públicos se ressentem da manifestação da grande maioria da sociedade (o “somos 70%”), que não é cúmplice desse morticínio que ocupará páginas tristes da história brasileira.
Chegamos a um ponto, no entanto, em que a questão de tornou impositiva: entre a prudência e o comportamento correto de não provocar aglomerações, preservando vidas, e a necessidade de defender milhares de outras vidas na luta pela denúncia e deposição desse governo que continua a matar de modo cínico e cruel, toma-se o caminho de ir à luta apesar dos riscos.
É por isso que, neste dia 29, tomando todas as precauções possíveis, os movimentos sociais realizarão atos públicos por todo o país, adaptando uma antiga palavra de ordem do movimento estudantil: “o povo, na rua, Bolsonaro a culpa é sua”.
Os atos que estão sendo chamados, inclusive na região (página 3), orientam os participantes a utilizarem máscaras de boa qualidade, levarem álcool em gel e a manterem o distanciamento entre núcleos de pessoas que não estejam em convívio familiar. Sabe-se que nem sempre isso é possível quando se reúne tanta gente, mas será preciso tentar. Estamos em uma guerra e nossa arma é a mobilização.
Por mais que os ambientes virtuais sejam dotados de força para projetar as pautas da sociedade, e que a batalha de hashtags seja no mundo contemporâneo indicadora dos humores coletivos, nada substitui o simbolismo e o poder de transformação de uma grande mobilização presencial.
Aos minúsculos e tresloucados atos bolsonaristas haverão de se contrapor centenas de atos de esperança pelo país. O Brasil precisa voltar a respirar.
No futuro, quando filhos e netos cobrarem dos atuais ocupantes desta nau funesta a resposta sobre o que estavam fazendo para enfrentar o capitão genocida e sua horda de lunáticos, haveremos de dizer que estávamos nas ruas, do lado certo da história, somando vozes em uma rebelião pela vida. É um dever ético não permitir que este obscurantismo perdure. O tempo exige coragem.
ESPAÇO ABERTO
Quem vai pagar essa conta é você*
Dionilso Marcon**
Foi aprovada na Câmara dos Deputado a Medida Provisória nº 1031/2021, que trata da privatização da Eletrobras, a maior estatal do setor de energia brasileiro e da América Latina. Essa proposta é mais um crime contra o povo brasileiro, contra a soberania nacional e contra a segurança energética do país.
Para entender o que está em risco com a privatização da Eletrobras, é só olharmos os números: a estatal tem responsabilidade de 1/3 de toda a geração de energia elétrica do país, com 90% das suas fontes tendo baixa emissão de gases, e teve um lucro, apenas no 1º trimestre de 2021, de R$ 1,6 bilhão. Por que, então, vender uma empresa que dá tanto lucro?
Além dos números, a Eletrobras também tem responsabilidade social. Foi a partir da estatal que foi viabilizado o Programa Luz Para Todos, que atendeu cerca de 17 milhões de brasileiros durante os governos Lula e Dilma, principalmente as comunidades quilombolas, indígenas, assentados da reforma agrária e agricultores familiares, nos diversos rincões deste país. É através dela também que há o equilíbrio de preços da conta de luz, ou seja, com a sua privatização, a conta ficará mais cara.
Por falar em conta mais cara, a privatização da Eletrobras causará, de imediato, um aumento de 20% na conta. Quem paga essa conta é o consumidor, é o microempreendedor, é o povo brasileiro e o pior dessa história: os lucros não ficarão mais para o Brasil.
Privatizar a Eletrobras é entregar o nosso patrimônio, construído a duras lutas pelo povo brasileiro. É sobrepor os interesses privados aos interesses do nosso povo gaúcho – que também amarga com as tentativas de privatização da CEEE, da Corsan, do Banrisul e da Procergs – e brasileiro, correndo o risco de levar nosso país ao apagão e ao caos.
A nossa luta em Brasília é contra a entrega das nossas estatais, do patrimônio que é do povo, em defesa da soberania nacional e do nosso setor energético. Não podemos entregar a Eletrobras aos interesses daqueles que não têm compromisso com o povo trabalhador do nosso país.
* Artigo publicado no site Sul21 sob o título “O risco de privatização da Eletrobras: quem vai pagar essa conta é você!”, em is.gd/eanascente1190. ** Deputado federal (PT-RS).
GERAL
Greve pela vida: Semana de mobilizações no NF
Começou na última terça e segue até hoje a nova sequência de testagem de Covid-19 em trabalhadores e trabalhadoras que desembarcam das plataformas da Bacia de Campos pelo Farol de São Thomé, em Campos dos Goytacazes. A atividade faz parte da Greve pela Vida, iniciada no último dia 4, que denuncia a falta de adoção pela Petrobrás de medidas eficazes de prevenção à doença. O coordenador geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, participa das atividades do NF na região nesta semana, que incluíram, ontem, distribuição do kit greve em Cabiúnas (veja ao lado). Ele parabenizou a atuação do sindicato e criticou a postura da Petrobrás durante a pandemia, lembrando que o número de casos tem aumentado entre petroleiros e petroleiras, como demonstra boletim semanal da FUP/NF/Dieese.
“Quero parabenizar essa iniciativa do Sindipetro Norte Fluminense. Diferente do que pratica o governo federal, diferente do que pratica a gestão da Petrobrás, o Sindipetro-NF está aqui distribuindo as máscaras corretas para os trabalhadores e trabalhadoras de todas as empresas que desembarcam no Heliporto do Farol. Isso é muito importante, porque o número de casos está aumentando principalmente entre trabalhadores e trabalhadoras do setor de petróleo e gás”, afirmou Bacelar.
Diretor do Sindipetro-NF e ex-coordenador da FUP, José Maria Rangel também está entre os sindicalistas que participam do ato no Farol. Rangel destacou que até mesmo o início da distribuição de máscaras de melhor qualidade, pela Petrobrás, foi fruto da luta do sindicato: “qual era a máscara que a Petrobrás distribuía para vocês? Era uma máscara de TNT vagabundo que não protegia absolutamente nada”, lembrou.
Rangel chamou os petroleiros e petroleiras da Bacia de Campos a se manterem firmes no movimento de greve, seguindo a orientação do sindicato de cumprir rigorosamente as escalas, turnos e jornadas em todas as bases da região. “Fica aqui o nosso recado para que vocês cumpram a jornada de 14 dias como o sindicato está indicando. Ao desembarcarem nós estaremos aqui para fazer o teste”, disse.
A distribuição de máscaras de boa qualidade como resultado da ação do Sindipetro-NF também foi destacada pelo diretor do Sindipetro-NF Sérgio Borges. Assim como fez Rangel, ele lembrou que “nem máscara [a Petrobrás] queria dar”, complementando que a companhia “depois ofereceu uma máscara muito ruim, de qualidade péssima, e só quando o sindicato resolveu vir para cá e demais aeroportos para distribuir máscaras adequadas para os trabalhadores é que a empresa começou a se mexer”.
Os testes estão disponíveis nestes três dias para todos os petroleiros e petroleiras, independentemente da empresa de petróleo em que atuem, e também para os trabalhadores e trabalhadoras do próprio heliporto do Farol de São Thomé — que chegaram a ser impedidos de fazerem o teste pelas empresas aéreas durante a primeira atividade de testagens realizada pelo sindicato, na semana passada, no último dia 20. Os testes são o de antígeno, que permitem um resultado imediato, e são realizados em parceria com um laboratório de Campos dos Goytacazes.
O coordenador geral do sindicato, Tezeu Bezerra, explicou que atuação da entidade é mais uma forma de pressionar a Petrobrás a abandonar a postura negacionista que tem sido a tônica do governo Bolsonaro. “Estamos fazendo isso porque existe um protocolo definido pela Fiocruz, defendido e produzido por nós, que diz que a Petrobrás e demais empresas devem fazer testes no meio da escala e no desembarque, para que os petroleiros possam ir para casa tranquilos, sabendo que não vão levar a doença para as suas famílias”, explicou.
CABIÚNAS – Atividade da Greve pela Vida, ontem, no Terminal de Cabiúnas, promoveu a distribuição de camisas do movimento “Luto pela vida do meu companheiro”, máscaras PFF2 e de faixas pretas para a categoria colocar nos braços em forma de luto pelos colegas mortos pela Covid-19. Além de vários diretores do Sindipetro-NF, participou da ação sindical o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Genocídio brasileiro obriga a ir para a rua
Num momento em que o país chega a mais de 450 mil mortos pela Covid-19, movimentos sociais, sindicais e sociedade chamam uma série de atos “Povo na rua pelo #ForaBolsonaro” para este sábado, 29. As cidades de Campos dos Goytacazes (10h, Praça São Salvador), Macaé (9h30, Praça Veríssimo de Mello) e Rio das Ostras (8h, Feira do Âncora) terão atos com a participação do Sindipetro-NF. Os organizadores orientam os participantes a utilizarem, de preferência, máscaras PFF-2 e a levarem álcool em gel, além de manter distanciamento seguro.
Setor privado: Categoria elabora pautas do acordo
Neste mês de maio começaram as negociações dos Acordos Coletivos dos petroleiros e petroleiras da Halliburton, Schlumberger e ExproGroup. Para construir pautas de reivindicações que realmente representem as necessidades da categoria, o sindicato solicita aos trabalhadores e trabalhadoras que encaminhem sugestões e propostas para o Departamento do Setor Privado.
Tanto na Expro quanto na Halliburton serão negociados novos acordos coletivos. Na Schlumberger será debatido o termo aditivo do acordo coletivo aprovado de 2020-2022.
As sugestões devem ser encaminhadas para o e-mail [email protected] até 17h da próxima segunda, 31, para a elaboração pela assessoria jurídica das propostas que serão encaminhadas às empresas.
Assembleia hoje na OilTanking
O Sindipetro-NF convocou para hoje, 27, às 15h, assembleia dos petroleiros e petroleiras da OilTanking, pelo aplicativo Zoom. Em pauta para debate está a proposta de Acordo Coletivo de Trabalho de 2021 apresentada pela empresa.
Para participar é necessária inscrição prévia através do link is.gd/oiltanking. Após a inscrição, o trabalhador ou trabalhadora receberá um e-mail de confirmação contendo informações sobre como entrar na reunião.
CURTAS
Festim
Segue até este domingo, 30, a quinta edição do Festim (Festival de Esquetes de Macaé). As atrações postadas nas redes sociais. Diariamente há apresentações de música, dança e documen-tários. No fim de semana tem mostra de esquetes selecionadas de todo o Brasil e convidados. O evento tem o Sindipetro-NF entre seus apoiadores. As apresentações são feitas no Instagram (@festim_festival), no Youtube (Festim Festival) e no Facebook (Festim Festival de Esquetes de Macaé).
Alto nível
Continua de alto nível e imperdível a série de webinários do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que ficam disponíveis no Youtube após serem veiculados ao vivo às terças-feiras, 19h. Nesta semana, o convidado foi o pesquisador do Instituto, José Luiz Fiori, que falou sobre “Mudança na Geopolítica da Energia e do Petróleo”.
Sem noção da P-26
As gerências da Petrobrás não cansam de surpreender (negativamente). No último dia 24, um gerente da plataforma P-26 promoveu aglomeração desnecessária ao fazer soar alarme simulado de emergência, às 6h30, provocando reunião no ponto de encontro. Orientação da própria Petrobrás, durante a pandemia, tem sido a de que os trabalhadores e trabalhadoras permaneçam o máximo possível em seus camarotes e evitem aglomeração.
53 e 43 na Petros
A eleição da Petros está chegando, com votação entre 14 e 28 de junho. A FUP e seus sindicatos apoiam a chapa “Juntos pela Petros”. Para o Conselho Deliberativo, a chapa 53, com Rafael Crespo (titular), diretor do NF, e Anselmo Braga (suplente), diretor do Sindipetro-MG. Para o Conselho Fiscal, chapa 43, com Felipe Grubba (titular), diretor do Sindipetro Unificado-SP, e Luiz Mário (suplente), ex-diretor da FNP e do Sindipetro-RJ.
PELA VIDA – Ato unificado das Centrais sindicais, em Brasília, no gramado em frente ao Congresso Nacional, dispôs ontem 600 cestas com alimentos produzidos pelo MST e pela Contag, em referência à cobrança pelos R$ 600 do auxílio emergencial. O protesto, que pode ser considerado um esquenta para as manifestações deste sábado, 29, denunciou o negacionismo do governo Bolsonaro no enfrentamento à pandemia e a perversidade da política econômica neoliberal guedista. Após o ato, as centrais entregaram uma Agenda Legislativa para a Classe Trabalhadora à presidência da Câmara dos Deputados e do Senado.
NORMANDO
Tempos cruzados
Normando Rodrigues*
O fascismo é anacrônico desde o nascimento, na Milão de 1919. Renega o presente, e pretende um futuro retrógrado a partir de um passado idealizado, que nunca existiu.
O monstro é, no entanto, um fenômeno de massa com densidade suficiente para causar distorções no contínuo espaço-temporal.
Tudo começou com a reação da direita, contra o crescimento da igualdade.
Reação
Era visível que a resposta bestial, iniciada já em 2005, faria a cadela do fascismo parir um Bolsonaro, o que nos atiraria na polarização das décadas de 1920 e de 1930.
Agora as confusões temporais se multiplicam e banalizam. É preciso estar atento, porque o “tempo” não é mais linear.
Há apenas quatro semanas o Senado abriu a fase preliminar do nosso “Tribunal de Nurembergue”, dedicado à apuração de responsabilidades pelo genocídio, e entramos no verão europeu de 1945.
Nurembergue
Em resposta, o Füher reuniu e cumprimentou a multidão, despido de máscaras em todos os sentidos, em frente ao palácio de governo. Brasília em 30 de abril de 2021, ou Berlim em julho de 1937?
Daí o ex-ministro das relações exteriores diz jamais ter agredido a China. É que não era Ernesto Araújo. Quem falava mansinho com Renan Calheiros era seu gêmeo Ribbentrop, perante o tribunal, em abril de 1946.
O Duce reage e convoca manifestações do “agronegócio”. É a “Batalha do Trigo”, na Itália de 1925. Notável diferença, o tratoraço de Bolsonaro trouxe ao brasileiro destruição ambiental e fome. Nada de pão, só circo.
Robusto
Mas a estrela do julgamento – na impossibilidade de se trazer o próprio Mito -, é o ministro mais robustamente ligado à mortandade.
Estamos em março de 1946 e Hermann Göring, o n° 2 de Hitler, afirma que fez testagens em massa para combater a pandemia, como todo o Brasil sabe.
No domingo seguinte o mesmo Pazuello, ministro do Reich, se junta ao Duce na cavalgada de motocicletas, movimento que atropela 450 mil mortos. Estamos na Roma de junho de 1933.
Posto de gasolina
Contudo, como até mesmo nessa barafunda espaço-temporal as motos demandam combustível, todos os caminhos do labirinto levam ao posto de gasolina do Largo do Loreto, na Milão de 28 de abril de 1945.
O atual ciclo fascista terminará outra vez com o corpo de Mussolini pendurado pelos pés, literal ou metaforicamente. Meses depois, no nosso “futuro” 1945, não se encontrará quem tenha votado no Duce, no Füher, ou no Mito. Todos dirão que votaram em Amoedo.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]
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