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EDITORIAL
Não vão nos intimidar
O petroleiro Alessandro Trindade é um dos nossos mais valorosos diretores e surtirá efeito contrário ao pretendido pela gestão de inspiração fascista da Petrobrás o anúncio de abertura, pela empresa, de processo de demissão do companheiro. Não vão nos intimidar. A categoria petroleira há muito sabe do compromisso de não deixar nenhum combatente para trás e não vai ficar barato esse ataque antissindical infame.
Surpreendidos na tarde de ontem pela informação de que o diretor havia recebido telegrama da empresa, formalizando a decisão da companhia de suspender o seu contrato de trabalho — para que seja iniciado processo de apuração de falta que, de acordo com os bolsonaristas da companhia, criaria condições para demissão por justa causa de um dirigente sindical — toda a direção do Sindipetro-NF e da FUP, assim como suas assessorias jurídicas, iniciaram imediatamente a reação.
Os gestores bolsonaristas aninhados na companhia utilizam desculpa cínica, mentirosa, rasteira e portanto injusta, de que Trindade descumpriu ítem do Código de Ética da empresa por participar de ocupação de área da Petrobrás, durante mobilização popular. Como todos sabem, a ocupação “Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio”, reuniu famílias carentes de Itaguaí, da Zona Oeste do Rio e de outras regiões do estado em protesto contra a falta de moradia, de comida e de vacina, e também contra a política de preços dos combustíveis da Petrobrás, com liderança do Movimento do Povo e apoio de entidades petroleiras, MST, CUFA, entre outras. Portanto, tratou-se de manifestação plural, legítima, de várias frentes, e tomar um dirigente sindical como objeto de perseguição individual é das mais baixas formas de tentar calar a voz dos sindicatos. Detalhe: Alessandro não estava no momento da ocupação, chegou depois para levar doação de alimentos, pela Campanha Petroleiro Solidário, como tem feito em diversas comunidades.
O ataque a um diretor sindical configura ataque a toda a categoria. Não é por acaso que o mandato sindical confere garantias a um dirigente, justamente para que absurdos autoritários como este não progridam. O objetivo dos gestores é mandar a mensagem indireta a toda força de trabalho: “se fazemos isso com um diretor do sindicato, imagine o que não podemos fazer com você”.
O que eles não contam é com a força e a tradição dos petroleiros e petroleiras, responsáveis por uma das mais robustas organizações sindicais do país. E se mexeu com um, mexeu com todos e todas.
ESPAÇO ABERTO
Desfaçatez da mídia no 29M*
Letícia Montandon**
Não fossem os veículos da chamada mídia independente, como a Mídia Ninja, o Brasil de Fato, a Revista Fórum, a comunicação das centrais sindicais e dos sindicatos, como CUT e o próprio Sinpro-DF, além da mídia estrangeira, as imagens das manifestações registradas nesse 29 de maio pelo impeachment de Bolsonaro seriam entendidas apenas como uma epifania da esquerda, assim como a covid-19 foi considerada uma “gripezinha” pelo presidente do Brasil. Para se ter uma ideia, segundo a Central dos Movimentos Populares (CMP), só em São Paulo, cerca de 80 mil pessoas foram à Avenida Paulista, como mostra matéria publicada pela CUT Brasil. De acordo com a matéria, 213 cidades brasileiras dos 26 estados e do DF, além de 14 cidades no mundo, realizaram manifestações contra Bolsonaro e sua política genocida. Le Monde, da França; a BBC de Londres; o canal Al Jazeera, do Catar; a agência estatal do Kremlin RT, da Rússia; o indiano Times of India; o argentino La Nación, entre tantos outros, também abordaram as manifestações, não por questões ideológicas, mas porque a relevância do interesse público e o respeito aos fatos é o mínimo para qualquer jornalismo que se preze.
Com a permissividade dos diversos governos brasileiros, há décadas o sistema de comunicação do País registra a cooperação entre empresários ligados aos veículos de comunicação de massa e setores dominantes, interessados na legitimação do “sistema”. Na relação profana, o direito humano à comunicação é substituído por um sistema de “produção” descompromissado com a mensagem transmitida. Por outro lado, a sociedade civil, historicamente, se mostra empenhada em reverter esse cenário. Exemplo disso é o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação – composto por sindicatos, associações e outras organizações da sociedade civil –, que há 30 anos vem lutando por um sistema de comunicação que amplie os espaços de fala ao mesmo tempo em que propicie, através de políticas públicas, os meios e as tecnologias necessárias para expressar as diversas opiniões, pondo fim ao fatal oligopólio da mídia brasileira.
GERAL
Petrobrás abre processo de demissão de diretor do sindicato
Parece não haver limites para o autoritarismo da gestão bolsonarista na Petrobrás. Na tarde de ontem, o Sindipetro-NF tomou conhecimento de que um dos seus diretores, Alessandro Trindade, recebeu notificação formal de abertura de processo de demissão, por justa causa, sob acusação de ter liderado ocupação de famílias carentes em área da Petrobrás, em Itaguaí, em 1º de Maio.
Alessandro de fato esteve no local, mas representando o grupo Petroleiros Solidários, que distribui cestas básicas para a população carente, com doações de trabalhadores da Petrobrás. O movimento Petroleiros Solidários começou no início da pandemia, quando o desemprego, que já tinha números alarmantes, aumentou substancialmente. Alessandro criou, na ocasião, este movimento e vem, desde então, contando com a ajuda de vários trabalhadores e trabalhadoras da empresa. Já foram distribuídas 4 mil cestas básicas. Junto ao Sindipetro-NF, Alessandro também participa da ação do gás a preço justo, comercializando o botijão a 40 reais; já foram 2 mil botijões de gás de cozinha vendidos a preço justo em diversas comunidades do Rio de Janeiro.
Quando o terreno foi ocupado, avisaram ao Sindipetro-NF e à FUP, para que conseguissem alimentos para as famílias. Alessandro, diretor do sindicato, prontamente atendeu ao pedido de levar cestas básicas àquelas pessoas, que não tinham o que comer. A Petrobrás, então, acusou o sindicalista de fazer parte da organização daquela ocupação, quando na verdade ele faz parte da organização do movimento Petroleiros Solidários, que leva alimentos a quem precisa.
“O sindicato não vai silenciar diante desta injustiça. Continuaremos lutando junto à toda a categoria petroleira por comida no prato de todo o povo brasileiro. Vamos buscar todos os recursos possíveis, para reverter esta demissão injusta”, disse Tezeu Bezerra, coordenador geral do Sindipetro-NF.
Participe da assembleia para votar indicativo de suspensão
A diretoria do Sindipetro-NF aprovou em reunião nesta semana o indicativo de suspensão do movimento de greve no Norte Fluminense, a ser submetido a assembleia da categoria nesta quinta, 03, e sexta, 04. O sindicato orienta, no entanto, que os petroleiros e petroleiras se mantenham mobilizados, inclusive com a continuidade do desembarque com 14 dias nas plataformas e cumprimento rigoroso de escalas e jornadas nas demais bases.
“Ante a continuidade da política genocida perpetrada pela gestão da Petrobrás, insistindo na manutenção de práticas que expõem cada vez um número maior de trabalhadores aos riscos de contaminação e/ou de acidentes. Torna-se salutar, após os movimentos realizados durante o mês de maio, uma reflexão acerca das estratégias e táticas adotadas na greve ora em curso”, afirma edital de chamamento da assembleia (disponível em is.gd/edital020621).
Além da suspensão do movimento, em data a ser divulgada pela diretoria do Sindipetro-NF, a assembleia tem como pauta a aprovação de um manifesto contra a escala ilegal de 21 dias de embarque, imposta de modo unilateral pela gestão da Petrobrás, e a manutenção do estado de Assembleia Permanente.
A assembleia vai acontecer em duas modalidades, para filiados e não filiados ao Sindipetro-NF. No primeiro caso, o participante poderá exercer o direito de voto após preencher dados individuais em uma página específica no site da entidade e assistir obrigatoriamente a um vídeo didático sobre a campanha reivindicatória e a negociação coletiva de trabalho em curso. Já os não filiados devem acessar um link de votação em separado, com necessidade de envio de documentos previstos em edital para conferência.
NF continua nas bases
Durante toda a semana, a diretoria do Sindipetro-NF esteve nas bases e aeroportos da região, em diálogo permanente com a categoria. Houve atividades no Heliporto do Farol, em Cabiúnas e no Aeroporto de Macaé, com conscientização sobre o momento político do país, distribuição de máscaras PFF-2 e do kit greve. O sindicato também voltará a fazer testes em massa de Covid-19 na categoria, como no testaço realizado pela entidade nos dias 20, 25 e 26 e 27 de maio, no Heliporto do Farol — quando foram aplicados 379 testes e identificados 12 casos positivos, inclusive entre motoristas de ônibus que transportam os trabalhadores.
O Sindipetro-NF avalia como positivo o saldo da Greve pela Vida, que conquistou ampla repercussão na imprensa e mostrou para a sociedade o modo com a Petrobrás negligencia a prevenção à Covid-19, à exemplo do governo Bolsonaro. Iniciado em 4 de maio, o movimento mostrou a força e a capacidade de luta do sindicalismo petroleiro, mesmo em um momento difícil para a organização dos trabalhadores como uma pandemia.
A entidade orienta a categoria a permanecer atenta aos informes do sindicato, a participar da assembleia, atuar sempre em sintonia e manter o fluxo de informações sobre a realidade de cada local de trabalho pelo e-mail [email protected].
Calendário
Votação online* para filiados
De 17h de 03/06/2021 às 17h de 04/06/2021.
Votação online* para não filiados
De 17h de 03/06/2021 às 17h de 04/06/2021 – votação online* “em separado” para os não filiados e envio da documentação listada no edital para o email: [email protected]
*Link será disponibilizado no site do Sindipetro-NF no horário informado no edital.
Edital disponível em
https://is.gd/edital020621
CURTAS
Invasão na FUP
A sede da FUP, no Rio, foi invadida no último dia 28. Foi registrada ocorrência e abertas investigações para saber se o evento foi um roubo ou uma tentativa de intimidação ao trabalho desenvolvido pela entidade. Além de arrombar as salas da Secretaria Geral e da Coordenação Geral, revirar armários e gavetas e espalhar papéis pelo chão, os invasores levaram duas TVs – uma delas, de 60 polegadas –, um projetor e um laptop, no balanço inicial feito pela FUP.
Contas aprovadas
Em assembleia na semana passada, petroleiros e petroleiras aprovaram as contas do NF relativas ao exercício de 2020 e previsão orçamentária de 2021. Participaram da assembleia, convocada no último dia 22 por meio de edital publicado no site da entidade (aqui), 57 associados. O resultado foi de 52 votos pela aprovação das contas (91%), 2 votos pela rejeição (4%) e 3 abstenções (5%).
Vitória
Área de extremo simbolismo histórico, o conjunto da antiga usina Cambaíba, em Campos dos Goytacazes, será destinada ao Incra para fins de reforma agrária. Na terça, 01, a Justiça autorizou a desapropriação. “Foi com alegria que recebemos a notícia da decisão pela imissão de posse da Cia Usina Cambahyba. Foram mais de 21 anos lutando pela desapropriação dessas terras que marcam a história de Campos mas também a história do país”, comemorou o MST.
Luto
Dirigentes sindicais e trabalhadores de sindicatos petroleiros lamentaram a perda, nesta semana, para a Covid-19, da companheira Angela Teixeira, que atuou por 35 anos no Sindipetro-RJ e estava aposentada. Muitos deram, nas redes sociais e grupos, testemunhos do empenho de Angela nas lutas populares, com grande contribuição para o fortalecimento do sindicalismo.
FORA BOLSONARO O Norte Fluminense teve grande participação, no último sábado, nos protestos promovidos em todo o País pelo impeachment do presidente Bolsonaro, por vacinas contra a Covid-19 e pelo auxílio emergencial. Cartazes e faixas também traziam reivindicações em defesa das universidades públicas e do SUS. As principais cidades da região com atos públicos foram Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio de Ostras. Na primeira, os manifestantes se reuniram na Praça São Salvador, no Centro. Na segunda, houve concentração na Praça Veríssimo de Mello seguida de caminhada pela Avenida Rui Barbosa. E na terceira, o protesto se concentrou na Feira do Âncora. Todas as manifestações na região contaram com participações de diretores e diretoras do Sindipetro-NF.
NORMANDO
Vacinas descartadas
Normando Rodrigues*
“Toda e qualquer vacina está descartada!”… disse Bolsonaro em 21/10/20, sobre 155 mil cadáveres, total que já triplicou.
Os números revelam a intencionalidade genocida, como mostra a estimativa do prof. Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas.
A recusa da vacina da Pfizer determinou a morte de 14 mil brasileiros, podendo o total ter variado entre 5 e 25 mil mortos.
Rebanho
Mas ao usar a Bic contra o Butantã o Mito matou entre 80 e 82,7 mil pessoas, ou segundo o “Estado de São Paulo” perto de 90 mil almas, apenas por consequência do “não” à Coronavac.
A jornalista Vanessa Bárbara desvendou a lógica do genocida num cálculo simples. Bolsonaro ainda busca a “imunidade de rebanho”, que “seria alcançada” com 70% da população infectada: 148 milhões de viventes.
A este total Vanessa aplicou uma taxa de mortalidade moderada, de 1%, mas este percentual é hoje de 2,8% (dado do Ministério da Saúde, em 31/5/21).
4,14 milhões de mortos
Números precisam de tradução. Quando Carla Zambelli discursou que o fim das aulas presenciais impediu a “imunidade de rebanho” das crianças, o que ela quis dizer é que pelo menos uma em cada 50 crianças (2,8%) deveria morrer para “imunizar” as outras 49.
Ao tratar a população rigorosamente como gado, Bolsonaro e suas lideranças trabalham para a morte de 4,14 milhões de homens, mulheres e crianças, preferencialmente pobres e negros.
Essa é a razão do delivery moto-vírus, da sabotagem ao isolamento social, de não haver testagem e rastreamento, dos seguidos ataques ao uso de máscara, e de se trazer a Copa América: fazer um “mata-mata” histórico.
Risca no chão
A guerra contra o povo é resultado natural da ideologia de Bolsonaro. Mas há quem esqueça que o fascismo é inconciliável com a razão e com a política, e prefira se juntar a quem mata.
Foi o que fizeram o já citado “Estadão”, e “O Globo”, no domingo, 30 de maio. Sem meios-termos nem eufemismos, esses jornais optaram por Bolsonaro e pelas mortes, ao não divulgar as manifestações de sábado.
Cúmplices
O senador Ciro Nogueira (PP/PI) explicou o silêncio dos jornais: Bolsonaro é mais atraente ao “centro” (“direita”). Atração “temperada” pela previsão de 5,5% para o PIB deste ano, e pelo favoritismo dentre os que se vacinam nos EUA.
Os livros de história registrarão que “O Globo” e o “Estado de São Paulo” se juntaram àquele tipo de fascista capaz de protestar na frente dos hospitais, enquanto meio milhão de brasileiros morriam.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
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