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A SEMANA
Editorial
Elitismo tolera Covid e acidente de trabalho
O que nos mata de Covid-19 também é o que nos mata por acidentes de trabalho: elitismo, desprezo pela vida dos mais pobres. No caso da doença, o ranço histórico da elite brasileira a fez crer que ela estaria imune, o que não é de todo errado, dado que os números mostram que a doença, qualquer doença, sempre atinge mais aos mais vulneráveis. No caso dos acidentes de trabalho, aí, efetivamente, as mortes são apenas de pessoas descartáveis para essa elite. O comportamento empresarial indiferente às suas próprias responsabilidades com a prevenção — quando muito, escudando-se em campanhas do tipo “use EPI” — encontra abrigo fácil no andar de cima.
Nesta semana, em um programa de TV, comentaristas diziam, como se não falassem de gente, que a economia “precisa” de uma taxa de desemprego de equilíbrio, em torno dos 10%. Um disse ter ouvido isso de um “especialista” e os demais mostraram-se encantados com a lógica de que, se não houver esse contingente, a inflação sai do controle. Demonstraram apenas algum lamento pelo fato desse percentual, no Brasil atual, estar em 14,7%, acima do “necessário”.
Se tivessem lido Marx, esses comentaristas lamentáveis não se mostrariam surpresos com a “revelação” do “especialista”. Foi ele quem, no século XIX, já há um bom tempo portanto, identificou a necessidade do capitalismo manter um “Exército industrial de reserva”, exatamente para pressionar para baixo os salários e inibir o poder de reivindicação dos trabalhadores. Nesta semana, em que se marca a passagem do Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (27 de julho), é preciso lembrar que a eliminação de trabalhadores é um projeto, e que precisamos estar contra ele.
Espaço Aberto
Bolsonaro se entrega para o centrão*
Marcio Kieller**
O desgoverno Bolsonaro se jogou de vez nos braços do Centrão, e sepultou de vez o discurso que ainda convencia alguns de que era diferente e que mudaria a lógica da velha política, não entrando na histórica ciranda do toma lá dá cá de distribuição de cargos e proventos. Isso foi o que se constatou nos últimos acontecimentos no país, com o anúncio do desgoverno Bolsonaro de fazer uma minirreforma ministerial que utiliza a força centrípeta do governo para fazer o centrão desembarcar em seu mandato e sua gestão, que diga-se de passagem, é desastroso em todas as áreas e lugares em que atua. E quando falamos da tática adotada pela cúpula Bolsonaro, essa é de busca um fôlego para aguentar a ofensiva popular que pressiona o presidente da Câmara Legislativa para abrir o processo de impeachment.
Chega deste desgoverno, deste descaso e do descompromisso com a vida, a saúde, os direitos e o patrimônio do povo; pois, são os corpos das trabalhadoras e trabalhadores que estão tombando todos os dias e já se aproximam de quase 550 mil mortes pelo coronavírus! É necessário a pressão da população, dos partidos progressistas e democráticos, das centrais sindicais, confederações, federações e sindicatos em conjunto com os movimentos sociais, sobre o presidente da Câmara Artur Lira, para autorizar o processo de abertura do impeachment para que Bolsonaro pague pelos crimes de responsabilidade e pelo genocídio do povo brasileiro que vem cometendo. Basta! Fora Bolsonaro! Impeachment já!
* Trecho de artigo publicado originalmente em is.gd/eanascente1199, sob o título “O novo nada mais é que mais do mesmo: o desgoverno Bolsonaro se entrega para o centrão”. ** Presidente da CUT-PR.
Mande seu vídeo
Ainda dá tempo. Mande seu vídeo de até um minuto para celebrar os 25 anos do Sindipetro-NF, contando algum fato marcante da sua trajetória de trabalhador ou trabalhadora junto ao seu sindicato. Os primeiros 60 vídeos garantem uma mochila comemorativa aos seus realizadores. O envio deve ser feito por meio da página is.gd/video25nf. A campanha foi lançada no dia 2 de julho, dia do aniversário. O objetivo é compartilhar histórias de uma construção coletiva. Os vídeos serão publicados nas redes sociais.
Repescagem
A Prefeitura de Campos dos Goytacazes, que há algumas semanas havia acabado com a repescagem na vacinação para coibir a ação dos “sommelier de vacina”, voltou atrás e passou a programar repescagem com locais e horários específicos. A mudança atende, entre outras situações, a dos petroleiros e petroleiras que, muitas vezes, estão embarcados durante o período de vacinação em sua idade.
Tragédia diária
Nesta semana, quando tem-se a passagem do Dia Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, nunca é demais lembrar que a tragédia brasileira nesta área continua. De acordo com G1, com dados do MPT e da OIT, o Brasil ocupa a segunda colocação entre os que mais perdem trabalhadores em decorrência de acidentes de trabalho, entre os países do G20. São 6 mortes para cada 100 mil empregos — atrás apenas do México.
Seminário hoje
As mudanças no mundo do trabalho, a precarização dos serviços, o aumento da informalidade e desrespeito às regras de saúde e direitos dos trabalhadores e trabalhadoras são alguns dos temas que serão debatidos no Seminário Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, promovido pelo CES-RJ (Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro), a partir das 14h, com transmissão aberta a todos os interessados, pela página do Facebook do CES-RJ. Diversos especialistas em saúde pública integram a programação.
VOCÊ TEM QUE SABER
Segurança é a prioridade das prioridades
O Sindipetro-NF tem como prioridade entre as suas diversas frentes de atuação a luta pela segurança no trabalho. Nesta semana, que registra a passagem do Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (27 de julho), a entidade reafirma a atenção que dá ao tema e chama os petroleiros e petroleiras a se manterem alertas em relação às condições de habitabilidade e segurança em seus locais de atuação no setor petróleo. Os relatos devem ser enviados para [email protected].
De acordo com o estudo “Perfil dos acidentes de trabalho fatais em empresa de petróleo no período de 2001 a 2016“, dos pesquisadores e pesquisadoras Hilka Flávia Saldanha Guida, Marcelo Gonçalves Figueiredo e Élida Azevedo Hennington, a maioria dos acidentes do trabalho no setor petróleo acontecem na área de exploração e produção.
“Há predominância de fatalidades na área de exploração e produção (55,0%), área de refino (15,0%) e engenharia/obras (13,0%). As plataformas apresentaram o maior número de óbitos (19,4%), seguida das refinarias (14,4%) e poços de petróleo (8,1%); veículos automotores causaram 15,8% dos acidentes fatais. As ocupações com mais acidentes fatais foram motorista ou ajudante de motorista (14,4%), técnico de manutenção (9,9%), técnico de operação (9,5%), ajudante (6,8%), auxiliar técnico (5,9%) e operador de equipamento (4,5%)”, relatam os pesquisadores.
Os dados foram levantados a partir de relatórios da própria Petrobrás, além de documentos sindicais e de notícias da imprensa. Como frequentemente alerta o Sindipetro-NF, os relatos dos petroleiros e petroleiras são essenciais para manter o monitoramento sobre os casos, que muitas vezes tendem a ser escondidos pelas empresas, por meio da subnotificação.
Na avaliação dos pesquisadores “as mortes na indústria de petróleo e gás atingiram principalmente trabalhadores terceirizados da área de exploração e produção, sobretudo em atividades relacionadas com o trabalho em plataformas, corroborando estatísticas internacionais sobre o alto risco do trabalho offshore”.
Tomando como referência dados de 2018, “a força de trabalho atuante na empresa em 2018 totalizava 236.526 trabalhadores, sendo 158.056 (66,8%) terceirizados e 78.470 (33,2%) próprios. Do total de terceirizados, 50,4% dos trabalhadores estavam envolvidos em atividades operacionais consideradas de maior risco”.
Na região e no Rio, sindicato em peso no protesto do 24J
Cerca de 500 cidades brasileiras voltaram a ter atos pelo impeachment do presidente Bolsonaro, no último sábado, 24. A diretoria do Sindipetro-NF participou dos protestos em Campos dos Goytacazes, Macaé, Rio das Ostras e Rio de Janeiro. A entidade tem avançado nas articulações com demais sindicatos e movimentos sociais para dar cada vez mais peso às manifestações.
A Imprensa do NF fez cobertura para as redes sociais dos protestos com presenças dos representantes da entidade. No Facebook e no Instagram, diversos posts registraram como foram as manifestações nestas cidades e as falas de algumas das principais lideranças. Um vídeo no canal do Youtube do sindicato também resume o registro dos atos.
O Sindipetro-NF tem feito ainda um trabalho de conscientização, em suas mídias, para que a própria categoria petroleira participe mais dos protestos. “Eu queria falar para o petroleiro, a petroleira, que não foi para a rua hoje, nesse dia em que a gente está aqui lutando para defender também o emprego de cada trabalhador, cada trabalhadora, próprio ou terceirizado da Petrobrás. Não podemos ficar sentados no sofá assistindo a toda uma destruição da nossa empresa. Nós temos que ir para a rua fortalecer os sindicatos e aqueles que lutam por um país mais justo”, disse o coordenador geral do NF, Tezeu Bezerra, durante ato no Rio.
NF faz programa ao vivo e apoia atividades
Celebrado no domingo, 25, o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha foi um dos temas pautados para o NF ao vivo da noite de ontem (o programa também teve como pauta o Dia da Prevenção de Acidentes do Trabalho, o 27 de julho). O encontro, previsto para às 19h30 (após o fechamento desta edição do Nascente) teve moderação progra-mada para ser realizada pela coordenadora do Departamento de Cultura, Barbara Bezerra, com participações da diretora do Departamento do Setor Privado, Jancileide Morgado, além de apresentação da cantora Andréa Martins.
Transmitido do teatro do Sindipetro-NF, em Macaé, com adoção de cuidados de prevenção à Covid-19, o programa está disponível no canal do Youtube e na página do Facebook do sindicato.
Atividades em Campos
O Sindipetro-NF tem mantido atuação conjunta com os movimentos sociais no apoio a eventos que discutam os temas da mulher negra latino americana e caribenha. Em Campos dos Goytacazes, a entidade é parceira na realização de programação vasta, que começou com atividades no sábado, 24, dentro da manifestação “Fora. Bolsonaro”, e se estendeu ao longo da semana, incluindo roda de conversa e workshop de trança afro.
No próximo dia 6, às 15h, a programação será concluída com a atividade “Mulheres quilombolas e suas histórias”, no Estádio do Grêmio, no bairro de Custodópolis.
SAIDEIRA
NF apoia Carrocinha do Samba e leva música aos macaenses
Para celebrar o 208º aniversário de Macaé, o projeto Carrocinha do Samba realiza hoje a sua sexta edição. O projeto cultural e de solidariedade tem o apoio do Sindipetro-NF. A carrocinha circula pelas vias da cidade levando música boa aos moradores, além de incentivar a arrecadação de recursos para os músicos — que vivem um momento difícil, diante das restrições geradas pela pandemia do Covid-19.
Criado há um ano, o projeto Carrocinha do Samba já arrecadou quase 400 cestas básicas, ajudando mais de cem famílias de artistas macaenses.
A programação começa ao meio-dia, com passagem da Carrocinha do Samba pelos bairros Centro, Barra, Fronteira, Aeroporto, Vila Badejo, Barreto e Lagomar.
Doações
Durante o percurso, a população poderá doar alimentos. O projeto também tem uma conta disponível para receber qualquer valor. O banco é Itaú, agência 0941, conta corrente 84794-9 (CPF 075772837-54).
Além de contribuir com cestas básicas e outros recursos, o NF patrocinou a testagem para Covid-19 para todos os músicos participantes, para garantir a segurança do evento.
O apoio da entidade ao projeto mereceu o reconhecimento carinhoso do grupo à entidade, por meio da entrega de “Certificados de Gratidão” ao sindicato, durante a quinta edição, realizada em 22 de maio. A diretoria do NF foi representada no evento por Jancileide Morgado, Eider Cotrim e Bárbara Bezerra.
NORMANDO
Desapego
Normando Rodrigues*
A mudança climática bate à porta, e com ela os eventos extremos. Em lugar de um regime de chuvas regular, e de rios aéreos previsíveis, temos cada vez mais estiagens prolongadas e calamitosos dilúvios concentrados.
Também extremas são as temperaturas. Máximas cáusticas no verão, mínimas enregelantes no inverno, estas últimas lidas pela imbecilidade bolsonarista como “provas” de que o aquecimento global não existe.
Ao menos as ondas de frio costumam despertar as campanhas de “desapego”, que incentivam a doação de agasalhos e cobertores aos iguais. Mas nem sempre a reação à miséria visível é esta.
Desumano
Da Renovação de Haussmann na Paris do 2° Império, às pedras pontiagudas colocadas sob os viadutos de São Paulo por Bruno Covas, a expulsão dos pobres é uma constante das “modernizações urbanas”.
Para tratar assim ao semelhante, a abnegação que se faz é outra. Renuncia-se não ao cobertor velho, mas à humanidade. E quando este embrutecimento é louvado em público, a inversão de valores se completa.
De fato, a “remoção” é sempre aplaudida pelos jornais dos ricos, que incentivaram desde a brutal limpeza de uma “Berlim sem mendigos”, pelo fascista Hitler, até o despejo de pedintes no rio Guandu, sob o liberal Carlos Lacerda.
Desterro
Em fevereiro de 2018, o golpista Temer, ávido por agradar aos americanos e aos milicos, envolveu o exército na chamada “Operação Acolhida”, para prestar auxílio humanitário aos venezuelanos que cruzam a fronteira em busca de refúgio.
De sua criação até janeiro de 2020, a ação foi comandada pelo general-de-comício Pazuello, e desde então é amplamente propagandeada como um sucesso ideológico contra o malvado governo bolivariano. Mas existe a obscuridade.
Como os brasileiros, apenas uma minoria desses venezuelanos encontra emprego em Pindorama. E dentre estes o Ministério Público do Trabalho descobriu refugiados como mão de obra praticamente escrava, em empresas de SP e de SC.
Desinteresse
O interesse de Pazuello, é outro. Nos 7,5 meses de 2020 em que (não) respondeu pela Saúde, o Intendente faturou R$ 885 mil para suas viagens. São cerca de 4 mil reais por dia, se presumirmos que o ministro não ficou um dia sequer em casa.
Pazuello recebe mensalmente acima do limite constitucional, mas quatro outros generais-de-ministério o superam: o general-de-vice Mourão, o general-de-Haiti Heleno, o general-interventor-do-Rio Braga Neto, e o general-civil Ramos.
Enquanto 55% dos nossos experimentam insegurança alimentar, e aprendem a “consumir” lixo de açougues e refugos do beneficiamento de arroz e de feijão, cada um desses quatro estrelados ganha inconstitucionalmente acima de R$ 100 mil por mês.
Desambição
Como grandes abnegados, os milicos se agarram tenazmente a seus cargos. Exemplo notável, Ramos se recusa a deixar a Casa Civil, apesar de demitido por Bolsonaro para abrir espaço a quem é do ramo.
Esse honroso “patriotismo” chamou a atenção do diretor do Institut d’Études Politiques de Paris, um dos mais respeitados centros de ciências sociais do planeta.
Na acertada leitura de Gaspard Estrada, Bolsonaro atenta contra a democracia, assim como Trump o fez. A diferença é que nos EUA os militares condenaram as várias tentativas de golpe, enquanto aqui eles próprios são a ameaça, diz o pesquisador.
“Ameaça” regiamente recompensada.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
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