Nascente 1205

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A SEMANA

Editorial

A feijoada que denunciou o governo

Um dos maiores jornalistas literários do Brasil, Joel Silveira (1918-2007) utilizou uma imagem saborosa, sem trocadilho, para identificar a causa do Golpe de 64: uma feijoada. Fora ela, sim, que derrubara Jango. Nela, oficiais de alta patente garantiam que o “dispositivo” estava sob controle, o que queria dizer que as forças armadas se manteriam fiéis ao presidente e conteriam os militares golpistas.

No Brasil de 2021, os golpistas já estão no poder e o preço do feijão inviabiliza a feijoada do povo, mas não impede a solidariedade dos que denunciam o novo período de trevas em que vivemos. Tem sido com o produto, nas ações do gás, e com a iguaria que lhe serve de base, a feijoada, que o NF tem se aproximado de diversas comunidades em situação de vulnerabilidade social para fazer o básico em uma situação de emergência: dar alimento a quem tem fome e promover conscientização.

No último dia 7, em Campos, Macaé e Rio das Ostras, enquanto bolsonaristas desfilavam as sandices do seu mundo paralelo, diretores e diretoras do NF percorreram pontos das duas cidades onde costumam ficar pessoas em situação de rua para levarem quentinhas. No cardápio, feijoada. A ação, como cabe a um sindicato, uniu solidariedade e luta. Nela, a denúncia da carestia e do aumento da miséria.

Jango foi derrubado essencialmente por defender a Reforma Agrária. A mesma que, tantas décadas depois, evitaria a fome atual do povo se não tivesse sido interrompida pela ganância das elites do país que patrocinaram o golpe. Não é de hoje, portanto, que o Brasil tem a sua história marcada pelo uso do fuzil contra aqueles que só querem o direito de plantar, colher e fazer três refeições por dia.

Espaço Aberto

Os povos da Amazônia resistem*

Carmen Foro**

A defesa da Amazônia é uma luta cotidiana. Uma luta da nação brasileira. Os crimes ambientais precisam ser denunciados e barrados por políticas ambientais públicas, a fim de fortalecer o Código Florestal brasileiro, por exemplo.

Contudo, o que se vê desgraçadamente, é esse desgoverno genocida, que ao invés de proteger e fortalecer os órgãos ambientais, de fazer a fiscalização efetiva da floresta e proteger seus povos, coloca-se à serviço de gananciosos que só têm interesse pelo lucro fácil, de incentivar a destruição da Amazônia. E finge que nada de grave está acontecendo. Este é desgoverno de Bolsonaro que sucateia e fragiliza as instituições ambientais. Assim como incentiva o desmatamento, a liberação de agrotóxicos, inclusive, alguns produtos já banidos de outros países e que são tão perigosos tanto para a saúde humana como ao meio ambiente.

Os povos da Floresta Amazônica têm que ser respeitados, fortalecidos para que possam exercer o genuíno papel de protetores da natureza. Para isso, são necessários projetos e políticas públicas que combatam o ritmo acelerado de desmatamento na floresta.

É um grande desafio defender a Amazônia da destruição causada pelo agronegócio de capitalistas nacionais e internacionais, de empresas mineradoras e dos desmandos do genocida Bolsonaro.
As consequências são os desequilíbrios ambientais, climáticos e sociais. Sigamos em luta para garantir o futuro da humanidade.

* Trecho de artigo publicado originalmente em is.gd/eanascente1205.
** Secretária-geral da CUT.

AMS

A FUP denunciou nesta semana que a gestão da Petrobrás desrespeitou a categoria petroleira ao ignorar o documento enviado pela federação, no último dia 02, cobrando o início imediato da negociação sobre o custeio da AMS, após a revogação da Resolução 23 da CGPAR, como confirmou decreto legislativo publicado ontem no Diário Oficial (is.gd/dec2621). Nenhum gestor ou gestora da empresa compareceu à reunião os representantes dos trabalhadores agendada para esta quarta, 08, em videoconferência.

Resistência

O PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Osvaldo de Oliveira, em Macaé, celebrou 11 anos no último dia 7. O assentamento teve origem na ocupação, por cerca de 300 famílias, de latifúndio improdutivo da antiga Fazenda Bom Jardim, que pertencia à “Rádio Difusora”, de Campos dos Goytacazes. A emissora, por sua vez, pertence ao ex-deputado estadual e ex-prefeito de São Francisco de Itabapoana (RJ), Barbosa Lemos.

Qualificação

Representado pelo diretor Alexandre Vieira, do Departamento de Saúde, o Sindipetro-NF participa nesta semana da oficina de Formação de Atores Multiplicadores para Atuação do Controle Social em Saúde da Trabalhadora e do Trabalhador, organizada pelo Diesat (Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho). Iniciada na última quarta, a atividade termina hoje.

Luto

A categoria petroleira da região perdeu na segunda, 6, o companheiro Rafael Neto, que atuava como operador de produção na P-50. O petroleiro estava em uma luta intensa contra o câncer de pâncreas, mas infelizmente não resistiu. O NF lamentou a morte e reforçou a importância da luta por um ambiente mais seguro para os trabalhadores, que muitas vezes são expostos ao benzeno e outras substâncias cancerígenas. Há suspeita de que o caso de Rafael esteja relacionado ao trabalho.

VOCÊ TEM QUE SABER

Um reajuste que não está caindo do céu

Fruto de luta da categoria e das negociações da FUP e sindicatos, petroleiros e petroleiras terão reajuste de 10,42%

A categoria petroleira terá reajuste salarial de 10,42%. O aumento foi possível graças ao Acordo Coletivo de Trabalho negociado pela Federação Única dos Petroleiros junto ao Sindipetro-NF e demais sindicatos filiados, no ano passado. O ACT, com validade de dois anos, garante o reajuste automático de 100% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE.

O reajuste com correção integral pelo INPC também contempla o vale refeição/alimentação, assim como a RMNR, o adicional de permanência no estado do Amazonas e benefícios educacionais (auxílio creche/acompanhante, auxílio ensino médio e programa jovem universitário). Lembrando que o ACT abrange tanto os trabalhadores da ativa, quanto aposentados e pensionistas, mas não incide nos valores das aposentadorias ou pensão.

Conquista

Para o Sindipetro-NF, essa é uma grande conquista da categoria petroleira, que apesar do cenário político instável, da pandemia e da atual gestão da Petrobrás, que tem pactuado com o atual governo fascista, conseguiu garantir o direito da categoria. Isso mostra a força da união dos trabalhadores e trabalhadoras.

“Sabemos que não seria fácil conseguir esse reajuste diante do atual cenário do país. Mas, graças ao trabalho intenso da FUP, dos sindicatos e a força dos trabalhadores, hoje, estamos com nossos direitos garantidos”, lembrou o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

Volta a presencial precipitada, avalia NF

De forma unilateral, a Petrobrás está divulgando para os trabalhadores a adoção de “ondas” de retorno ao trabalho administrativo presencial em suas sedes. De acordo com o calendário da empresa, os petroleiros e petroleiras têm até esta sexta, 10, para se posicionarem sobre a “Onda 1”, com início em 1º de outubro. Para o Sindipetro-NF, este retorno está sendo promovido de modo precipitado e sem a necessária negociação.

“Somos contra. Muitos trabalhadores são do grupo de risco, devem precisar de uma terceira dose da vacina. No caso do estado do Rio, há ainda a tendência de nos tornar o epicentro da variante delta. A gente considera precipitado esse retorno, além de estar sendo feito sem diálogo. A empresa não procurou o sindicato para negociar. Vamos intervir para impedir isso e orientamos os trabalhadores e trabalhadoras que forem do grupo de risco a se manterem no teletrabalho”, afirma o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

As “ondas” começaram pela “Onda 0” em julho, com gerentes executivos e gerais no Edifício Senado, no Rio de Janeiro. Após a “Onda 1”, de outubro, estão previstas ainda as ondas 2 (novembro) e 3 (dezembro). No modelo da gestão, os trabalhadores têm até o dia 10 de cada mês para se manifestarem sobre a permanência no teletrabalho (que passa a ser híbrido) ou para retorno total no mês seguinte. Na “Onda 1”, o limite de vagas em cada local de trabalho é de 20%.

 

Sindicato presente no lado do bem nos protestos do dia 7

Neste momento lamentável que o nosso país vive, sofrendo os danos gerados pelo desgoverno de um presidente fascista, o 07 de setembro não poderia ser celebrado de outra maneira se não com ações solidárias, culturais e a favor da democracia. Por isso, o Sindipetro-NF participou de uma série de atividades na região junto a outras organizações em defesa de mais emprego, renda, dignidade e democracia.

A primeira atividade realizada pelo NF, neste 07 de setembro, foi a participação em um ato realizado no bairro Malvinas, em Macaé. O protesto, realizado junto a partidos e movimentos sociais, deu ênfase ao grito de Fora Bolsonaro!

Ainda em Macaé, a diretoria do NF distribui quentinhas para a população em situação de vulnerabilidade social. A ação aconteceu na Praça Veríssimo de Mello, sendo uma alusão a mais uma fala absurda do Governo Federal, que chamou de idiota quem prefere ter comida no prato a comprar uma arma.

Em Campos dos Goytacazes, o NF participou de ato cultural no Acampamento Cícero Guedes, do MST, nas terras que pertenceram à antiga Usina Cambaíba e foram destinadas pela Justiça à Reforma Agrária. Ainda em Campos, o sindicato distribuiu quentinhas com feijoada para a população em vulnerabilidade social.

Em Rio das Ostras, o NF esteve presente no ato político realizado contra o atual governo fascista. Houve distribuição de feijoada, feita com o feijão do MST.

SAIDEIRA

Cartilha lançada por entidades ajuda na prevenção a suicídios

Muitas vezes não é fácil suportar toda a carga que a exploração do mundo do trabalho nos impõe. E aguentar tudo isso sozinho é ainda pior, trazendo grandes consequencias para a nossa saúde mental.
Para contribuir com essa luta, nesta quarta-feira, 08, durante o NF ao Vivo sobre a campanha Setembro Amarelo, entidades do movimento sindical, entre elas o Sindipetro-NF, lançaram uma cartilha com informações importantes, que envolvem a prevenção ao suicídio e os cuidados com a saúde mental do trabalhador (disponível em is.gd/cartilhasa).

Participam da campanha e atuaram na produção da cartilha as áreas de saúde da CNQ (Confederação Nacional dos Químicos), da FUP (Federação Única dos Petroleiros), da CUT-RJ (Central Única dos Trabalhadores) e do Sindipetro-NF.

Heróis e heroínas se cuidam

“Lembrem-se somos heróis, somos heroínas, mas também precisamos nos cuidar, de si e dos outros. Saúde mental é uma obra coletiva podemos atuar para prevenir transtornos de ansiedade, depressão e até mesmo suicídios. Ninguém é uma ilha e ninguém é de ferro. Nossa força guerreira vem de estarmos juntos. Precisamos criar um ambiente de trabalho em que o diálogo seja franco e permanente, com os colegas, com o sindicato, com os coletivos de saúde e com as estruturas públicas de saúde mental. Não é vergonha pedir ajuda e não é invasivo ajudar. Cuidado, empatia e solidariedade são os valores dos verdadeiros heróis e heroínas”, afirma trecho da cartilha.

CULTURA E MEMÓRIA – Na última sexta, 3, o Sindipetro-NF, representando pelo diretor José Maria Rangel, esteve na UFF de Campos para oferecer um exemplar do livro “Nos tempos do Trianon – Campos se diverte”, impresso com apoio do sindicato, para compor a biblioteca. A obra foi recebida pela diretora da universidade no município, Ana Costa. “É uma alegria receber esse trabalho tão importante de resgate histórico de um patrimônio que nos pertenceu, mas que infelizmente, foi retirado pelo Capital. A gente agradece ao Sindipetro-NF. A biblioteca certamente ficará mais enriquecida com essa obra”, declarou a diretora.

NORMANDO

Peste

Normando Rodrigues*

Desde março de 2020 tornaram-se frequentes as lembranças de “A Peste”, de Albert Camus. Mas nem todas as invocações atentam para as conexões entre o conteúdo político do livro e a realidade distópica do Brasil fascista.

Na ficção do filósofo do absurdo, junto com a praga vem a supressão das liberdades de deslocamento e de debate político. E tanto o futuro possível, como os sonhos que a ele levam, são sequestrados pela opressiva realidade. Não se vive, se sobrevive.

Tais efeitos são tão drásticos que os sobreviventes têm dificuldade de acreditar no flagelo, e de início preferem se considerar ainda livres. Embora a maioria logo supere essa fase, muitos empacam no negacionismo.

Prisão

A negação, por sua vez, é a atitude do governo na Orã empesteada de Camus, e na mal amada Brasília de Bolsonaro, o que gera irracionalismos e retrocessos, pois a melhor maneira de conter o amanhã é com as grades do ontem.

A nós, trancados no passado, resta vivenciar os sofrimentos que a epidemia nos inflige, e entender que o luto é o preço a pagar pela passagem de volta a um futuro humano e fraterno.

Mais ainda, é possível reconstruir a sociedade a partir desse martírio, pois, para além da indignação ante o genocídio, a adversidade nos obriga à reflexão sobre quem somos e que vida desejamos. Daí o luto vira luta.

Claro, o governo fará o que estiver a seu alcance para minimizar o luto e neutralizar a luta. Todavia, o item “governo” demanda uma observação importantíssima sobre “A Peste”, de Camus, e sua correspondência na sociedade brasileira.

Camus usa o trato diferenciado das epidemias pelo governo francês – que reagia de uma forma na França Metropolitana, e de outra nas colônias – como alegoria de outra enfermidade, muito mais brutal do que “A Peste”.

Por trás do cenário da Orã flagelada, o verdadeiro mal, o real inimigo cujo desafio faz surgir o que há de melhor e de pior na humanidade, não é o que ataca o corpo humano, e sim uma moléstia do organismo social.

Brasil

A “peste” social retratada por Camus é a colaboração para com o fascismo, por parte do governo francês de 1940-1944. E, evidentemente, nossa parte correspondente também não é o coronavírus, nem a Covid-19 que ele causa.

Fora as semelhanças até aqui, nosso caso é ainda pior do que na narrativa de “A peste”. Não nos desafia um governo que “colabora” com um inimigo fascista. O próprio governo é o inimigo fascista.

Bolsonaro é o vetor principal da mazela que já matou perto de 600 mil brasileiros, e que destruiu a democracia: a ignorância política. Claro, isso se deve à anterior infecção dos 38% de brasileiros que votaram no fascismo.

Há cura para a pandemia brasileira. Por mais medonha que seja a treva bolsonarista, ela se desfaz ante qualquer luz. Os mais afetados, contudo, tenderão a reagir com barbarismo à tentativa de esclarecimento, assim como combatem a vacinação obrigatória.

Exatos vinte anos depois de “A Peste”, o escritor americano Bernard Malamud ganhou o prêmio Pulitzer de 1967 com seu excepcional “O faz-tudo”, romance que parte de um caso real de antissemitismo, ocorrido na Rússia de 1911.

Dentre muitas lições, a narrativa de Malamude demonstra que, “em um país doente, cada passo rumo à saúde é um insulto àqueles que vivem na doença da nação.”

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]

 

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