Nascente 1209

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A SEMANA

Editorial

Brutalidade liberal e proteção a Paulo Guedes

A blindagem na grande imprensa ao ministro da economia, Paulo Guedes, no caso da conta no exterior, é muito representativa da forma seletiva como as elites brasileiras lidam com o tema “honestidade”. Também é sintomática sobre o modo como as direções dos grandes veículos, boa parte conglomerados igualmente com contas no exterior, não vêem problema que ricos façam definitivamente de tudo, independentemente de estarem ou não servindo em cargos públicos, para protegerem as suas fortunas.

Faz parte da lógica liberal fugir do estado. Os mais sofisticados falam até em direito à liberdade. Os apenas cínicos falam em “paciência, a vida é assim”. Os mais brutos comemoram a esperteza e a voragem dos seus iguais.

Imaginando-se uma hipotética reunião ancestral, em tribo ficcional que procurara estabelecer regras de convivência que protegessem a todos, Paulo Guedes seria o traidor que sabotaria as tentativas de solidariedade, que buscaria, por exemplo, proteger grande quantidade de alimento apenas para ele, no alto da montanha, longe do acesso dos demais.

Uma nota agravante sobre os tempos em que vivemos é que o ministro nem mesmo tem se dado ao trabalho de dar explicações mais detalhadas. A cafajestagem financeira não precisa mais de máscaras. Quando, em 2017, o ex-ministro Henrique Meirelles foi descoberto em situação semelhante, explicou que o seu recurso no exterior estava em um trust (que ele não controlava) e se destinava a receber parte da sua herança — além disso, que estarrecedor para um guedista, com aplicação direcionada a projetos de educação.

É contra todos estes que vale a pena lutar.

Espaço Aberto

Vendas de áreas do pré-sal. Bom para quem?

Rosângela Buzanelli**

Em comunicado divulgado na semana passada, a Petrobrás confirmou o que a imprensa já vinha noticiando: que recebeu ofertas bilionárias dos consórcios PetroRio/Cobra e EIG Global Energies Partners/Enauta/3R Petroleum para a aquisição dos campos de Albacora e Albacora Leste, na Bacia de Campos. Segundo a companhia, as propostas podem superar US$ 4 bilhões. O Sindipetro-ES entrou com ação popular contra a venda dessas duas áreas.

O teaser para a venda dos campos foi apresentado em setembro do ano passado, quando fiz uma publicação questionando a decisão da venda. Nesse momento reafirmo tudo o que eu disse.

Em primeiro lugar, esses campos são gigantes, localizados em águas profundas e ultra profundas, com descobertas no pré-sal. Os atrativos anunciados são motivos para investimento e não desinvestimento nesses campos, como óleo de alta qualidade, várias oportunidades exploratórias mapeadas e projeção de significativo aumento da produção. Um péssimo negócio para a Petrobrás.

São ainda anunciados como atrativos do negócio a inexistência de obrigação de conteúdo local, com potencial impacto negativo para as empresas nacionais, a economia e aumento do desemprego no país e, se não bastasse, a potencial redução de royalties no futuro, afetando as arrecadações do estado e municípios. Um péssimo negócio para o Brasil.

* Trecho de post da autora em seu blog, em is.gd/eanascente1209, sob o título “Petrobrás anuncia avanço na venda do pré-sal da Bacia de Campos e Sindipetro-ES entra com ação popular contra mais essa privatização. Um excelente negócio, para quem? ** Conselheira eleita no Conselho de Administração da Petrobrás.

Atenção para golpe

O Departamento Jurídico do NF alerta a categoria para novo golpe contra participantes de fundo de pensão. “A pessoa recebe uma carta alertando que há suposto direito de receber alto valor decorrente de ação coletiva desconhecida em São Paulo, sem dizer número ou quem a promove. O fraudador tenta convencer por meio de diversos termos técnicos descabidos e já apresenta valor a ser pago para que a pessoa possa ‘se habilitar’ e recolher antecipadamente os impostos, o que não faz sentido”, explica.

Desconfie

O Jurídico afirma ainda que casos como esses têm se multiplicado e é preciso ficar alerta. “Sempre que receber qualquer correspondência de órgão, associação ou escritório que nunca ouviu falar e que já apresenta valores para pagamento (em especial boletos), ou que demanda informações pessoais, desconfie e busque informações antes de retornar o contato ou de pagar qualquer valor de imediato”, orienta.

Champion

Petroleiros e petroleiras da Champion recusaram a proposta do acordo coletivo apresentada pela empresa. Em assembleia realizada na terça, 5, 75% dos trabalhadores decidiram pela reavaliação do acordo. A categoria reivindica 7% de reajuste, enquanto a empresa oferece apenas 4% O NF solicitou nova reunião com Champion para dialogar sobre os anseios da categoria e aguarda uma resposta para voltar a negociar o ACT.

Outubro rosa

O rosa tomou as redes sociais do Sindipetro-NF para marcar o mês dedicado aos cuidados com a saúde da mulher. A entidade também associa o mês de outubro à denúncia dos casos de feminicídio e vai aumentar a divulgação, em suas mídias, da campanha de estímulo às denúncias de violência física e psicológica contras as mulheres. Outra iniciativa será o apoio do sindicato ao projeto Carrocinha do Samba, que neste mês será totalmente com mulheres sambistas para marcar o Outubro Rosa.

 

VOCÊ TEM QUE SABER

Categoria aprova mudança para turno 12h

Petroleiros e petroleiras de terra da base do Sindipetro-NF aprovaram ontem em assembleia online mudanças para escalas de turno. Separados por 50 gerências com realidades diferentes, os votos somaram participações de mais de 500 trabalhadores. No resultado geral, foram 506 votos favoráveis ao turno de 12 horas, 11 pelo turno de 8 horas e 2 pela abstenção.

A categoria também aprovou a última minuta de acordo proposto pela empresa (por 357 votos favoráveis, 51 pela rejeição e 111 abstenções), além de rejeitar a aprovação de estado de greve (foram 157 votos pelo estado de greve, 230 contrários e 132 abstenções).

Os resultados detalhados por gerência estão sendo organizados pelo sindicato para serem divulgados nesta quinta-feira para a categoria, no site e redes sociais da entidade.

O coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, parabenizou “a todos os trabalhadores que se mobilizaram nesses dias, fazendo o que o sindicato indicou de enviar e-mails para relações sindicais da Petrobrás, que foi totalmente intransigente e não queria negociar. Somente graças a todos conseguimos avançar, fazer minuta única, postergar a validade das tabelas e escolher as tabelas favoritas”, lembrando que ainda “há luta por melhorias no transporte destes trabalhadores e por outros pontos colocados nas setoriais”.

Também diretor do NF, Benes Júnior, que participou de NF ao Vivo na noite de ontem sobre as mudanças no turno, destacou o desafio de realizar “50 assembleias em uma.”

Construção

A assembleia de ontem foi precedida, também nesta semana, por duas reuniões setoriais na última segunda-feira. A primeira reuniu trabalhadores e trabalhadoras da SCR, da Fiscalização remota da GDSO da SSUB e da CSD. A segunda reuniu a parcela da categoria que atua em demais setores de turno.

Uma primeira setorial, no último dia 22, em conjunto com o Sindipetro-ES, havia dado a largada na organização dos petroleiros e petroleiras na discussão das mudanças de turno. Na semana passada, entre os dias 27 e 29, o sindicato realizou uma série de dez reuniões setoriais sobre o turno. Os encontros detalharam as características de cada setor de trabalho e mobilizaram a categoria para fazer pressão sobre a gerência de relações sindicais pela abertura de diálogo. A pressão deu resultado e o sindicato conseguiu mais uma semana, para a realização de assembleias.

 

Apesar de Bolsonaro, Luta contra exposição continua

Thaiany Pieroni / Para Imprensa do NF

A luta do dia 05 de outubro tem se tornado cada vez mais necessária. Há nove anos, a partir de uma plenária realizada pela Comissão Nacional Permanente de Benzeno (CNPBz), esta data é uma referência para lembrar das inúmeras vítimas desta substância tóxica e também alertar sobre novos casos. É o Dia Nacional da Luta contra a exposição ao Benzeno.

Apesar desta luta ser de grande importância, infelizmente, ainda existem pessoas remando no sentido contrário. Um exemplo disso pode ser observado quando, em agosto de 2019, por meio da portaria 972, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) extinguiu dezenas de comissões tripartites que atuavam para estabelecer condições dignas de saúde e segurança para os trabalhadores. Entre elas estava a CNPBz, com mais de 20 anos de atuação, e que foi responsável pelo Acordo Nacional do Benzeno, assinado em dezembro de 1995.

As comissões eram fundamentais para que as empresas se preocupassem com o respeito aos parâmetros mínimos de segurança, o que agora, se tornou muito mais difícil de ser fiscalizado.

Apesar da extinção formal da comissão e das demais barreiras encontradas, a Bancada dos Trabalhadores da CNPBz resiste em manter ações de conscientização e alerta sobre os riscos da matéria-prima.

Luta do NF

A diretoria do Sindipetro-NF também não desistiu dessa luta. A luta pelo reconhecimento a exposição do Benzeno vem sendo travada há anos pelo NF, que participava da Comissão Estadual do Benzeno desde 2015, mas, que mantém o acompanhamento de debates da bancada dos trabalhadores na CNPBz e realiza debates com a categoria em setoriais, rodas de conversa e transmissões ao vivo no facebook.

Com essa mobilização, o Sindipetro-NF obteve decisões favoráveis nas ações civis públicas de reconhecimento da exposição de petroleiros ao benzeno nas plataformas Vermelho II e P-40, com isso foi reconhecida a exposição dos trabalhadores das plataformas à essa substância cancerígena.

Além disso, o Sindipetro-NF se disponibiliza a auxiliar os trabalhadores e trabalhadoras a realizarem os exames que possibilitam uma analise dos indicadores mais especifica, tendo em vista que o único exame realizado pela Petrobrás é a contagem de reticulócitos, que não tem precisão total nos resultados. Os interessados podem entrar em contato com o setor da saúde pelo whatsapp (22) 98123 1882.

Covid-19: Necessidade de ampliação da imunização

Mesmo com a indicação de queda nos números de contaminação, nos mais recentes boletins da Covid-19 na Petrobrás — produzidos em conjunto pelo Dieese, FUP e NF e divulgados semanalmente —, os sindicatos petroleiros continuam a considerar precipitada a adoção de “ondas” de retorno ao trabalho presencial na companhia. Nesta semana, manteve-se a redução no número de casos confirmados e de trabalhadores hospitalizados. No entanto, o número de mortes aumentou em um caso e chega a 58.

Uma preocupação especial é com a necessidade de ampliar a imunização em sua forma completa (duas doses). O boletim da semana mostra que 40,8% da categoria não tomou ainda a segunda dose. Mesmo assim, a empresa ignora a proposta de regramento apresentada pelos trabalhadores e insiste em impor o retorno ao trabalho presencial, sem qualquer negociação com a FUP e seus sindicatos.

As “ondas” de retorno ao trabalho presencial começaram pela “Onda 0” em julho, com gerentes executivos e gerais no Edifício Senado, no Rio de Janeiro. Após a “Onda 1”, de outubro, estão previstas ainda as ondas 2 (novembro) e 3 (dezembro). No modelo da gestão, os trabalhadores têm até o dia 10 de cada mês para se manifestarem sobre a permanência no teletrabalho.

 

SAIDEIRA

Leilão hoje coloca ambiente em risco e será judicializado

Da Imprensa da FUP

A FUP e sindicatos filiados são radicalmente contrários à realização da 17ª Rodada de Licitações da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) e defendem a suspensão imediata de um certame temerário que vai ofertar nesta quinta-feira, 7, 92 blocos exploratórios marítimos nas Bacias de Campos, Santos, Pelotas e Potiguar.

A federação questiona a legitimidade de um leilão em áreas de novas fronteiras exploratórias, sensíveis ecologicamente e que não apresentaram estudos prévios de avaliação de impacto ambiental. “A atividade exploratória de hidrocarbonetos nestas áreas vai ocasionar impactos ambientais nocivos irreversíveis a ecossistemas sensíveis e de inestimável valor para a conservação da biodiversidade marinha”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Ele alerta para a inevitável judicialização da 17ª Rodada, a exemplo do que ocorreu com a 12ª Rodada, realizada em 2013, e até hoje sub judice. A 12ª rodada colocou em licitação áreas em bacias de nova fronteira, em região de aqüíferos, e áreas em bacias maduras para exploração e produção de gás natural partir do processo não convencional de fraturamento hidráulico. “As duas rodadas mais devastadoras do ponto de vista ambiental são a 12ª e a 17ª, com áreas de enorme valor ambiental, que abrigam espécies ameaçadas de extinção e próximas a santuários ecológicos da Reserva Biológica do Atol das Rocas e do Parque Nacional Fernando de Noronha”, destaca Bacelar.

 

ESTRELA DOS PROTESTOS – Com a instalação de botijões de gás gigantes nos protestos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Salvador, a categoria petroleira tem chamado a atenção da população para a política criminosa de preços mantida pela Petrobrás, que prevê a paridade com o dólar. Muitos manifestantes param para fazer fotos em frente aos botijões infláveis, que trouxeram o slogam “Tá caro? Culpa é do Bolsonaro”. Desde o início do governo Bolsonaro, o gás de cozinha já aumentou 87% nas refinarias.

 

NF NAS RUAS PELO FORA BOLSONARO – Protestos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro tomaram as ruas de mais de 300 cidades, no último sábado. A FUP e os sindicatos petroleiros, como o Sindipetro-NF, deram ênfase ao preço dos combustíveis e as privatizações. Na região, os maiores protestos aconteceram em Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras. Campos teve protesto que começou com concentração na Praça São Salvador e se estendeu com passeata — a entidade foi representada pelos diretores José Maria Rangel, Guilherme Cordeiro e Sérgio Borges. Em Macaé, a manifestação começou na Praça Veríssimo de Melo e continuou com caminhada pelo Calçadão — o sindicato foi representado por Bárbara Bezerra, Leide Morgado, Eider Cotrim, Marcelo Nunes e Benes Júnior. No protesto de Rio das Ostras, a entidade foi representada pelo diretor Silvando Bispo. Na capital, o protesto voltou a reunir milhares de pessoas e o NF foi representado pelo coordenador geral, Tezeu Bezerra, e pelos diretores Tadeu Porto e Rafael Crespo.

 

NORMANDO

Máquina do tempo

Normando Rodrigues*

A escravidão nos marcou tanto, que ainda hoje determina fenômenos como o morticínio de jovens negros, a restrição de oportunidades, e a pequena senzala chamada “quartinho de empregada”.

Foi do “quartinho” que em agosto a babá Raiana tentou fugir e caiu cerca de 10 metros. Isso na mesma Salvador da Revolta dos Malês, de 1835, cuja pauta pelo verdadeiro direito de ir e vir é atualíssima.
A família escravista do caso Raiane poderia se chamar “Guedes”, nome do escroque-mor de Bolsonaro, que se indigna contra empregadas na Disney e filhos de empregados nas universidades.

Rumo ao passado

Guedes é cria do concubinato neoliberal-fascista que no Chile de Pinochet fez o peso da indústria no PIB do país cair de 25% para 10%, e multiplicou a desigualdade social.

Aqui, essa dupla chaga constrói o passado. A participação da manufatura no PIB caiu a 10,3%, nível da década de 1910, e 52% da população está em insegurança alimentar.

O processo de substituição de importações, que terminou de industrializar o Brasil, foi revertido. Agora as importações substituem a indústria.

Junto com a indústria, foi-se o efeito positivo da educação na mobilidade social e distribuição de renda, anulado pela sociedade agrocrata.

De 2012 a 2021 a escolaridade média foi de 6,4 para 8,1 anos na metade mais pobre da população, mas a massa salarial dessa parcela despencou 26,2%, graças à Reforma Trabalhista de Temer, e a Paulo Guedes.

A ascensão social sob Bolsonaro-Guedes está reservada para os agrotrogloditas e seus capitães-do-mato, e para os matadores de velhinhos da saúde privada, área na qual o racismo é ainda mais visível.

Na área de saúde no Brasil, 78% dos executivos, e mais de 67% dos profissionais da medicina, são brancos. Quanto à origem, só 6,8% dos médicos vêm das classes “D” e “E”, o que explica os Mengeles e Capitãs Cloroquina.

Essa alva saúde privada, limpa e cheirosinha, lucrou com a pandemia. Por exemplo, a Qualicorp faturou R$ 517 milhões no 1° semestre deste ano, e cobrou um reajuste de 16%, o dobro da inflação no período.
Com esse resultado o chefe da empresa, Bruno Blatt, pôde contratar a cantora Ludmila e fechar as áreas de evento do Copacabana Palace para a “festinha” de 15 anos de sua filha, no sábado, dia 2 de outubro.

Ossos

Para tristeza do papai, no dia seguinte não foi a comemoração da filhinha que saiu na manchete do “The Guardian”, e sim a nossa realidade social fascista, retratada em ossos.

A memorável foto de Domingos Peixoto, capa do “Extra” em 29 de setembro, mostrou famélicos a vasculhar carcaças, e foi replicada pelo jornal londrino.

Lado a lado, a festa da debutante e a catação de proteínas no lixo não contrastam. Longe disso, se complementam em simbiose perfeita. Uma existe em função da outra, tal e qual “elois” e “morloks”.

Em 1895, H. G. Wells publicou seu “A Máquina do Tempo”, alegoria extrema da luta de classes. No romance, 800 mil anos no futuro a humanidade teria evoluído para duas raças distintas.

Os “elois”, simplórios, belos e graciosos, servem de gado, mantidos pelos mal-acabados “morloks”, que vivem no subterrâneo e se alimentam dos primeiros.

Para quem ainda não entendeu: os acepipes e regalos servidos na celebração do Copa, foram feitos de almas e corpos humanos. Assim como o lucro dos Guedes.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]

 

1209merge