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A SEMANA
Editorial
Uma missão para sua vida religiosa
A carestia está deixando nu o presidente Bolsonaro (com o perdão da possível imagem terrível que esta expressão possa provocar). Pelo viés econômico, o seu governo está morto. Fosse no mundo real apenas como os cínicos gostam de bradar — “é a economia, estúpido!” —, poderia-se ter como certa a derrota do projeto de reeleição desse infortúnio no ano que vem. Em todo lugar, especialmente nos supermercados e nos postos de combustíveis, o murmúrio das queixas forma ondas no ambiente.
Mas há outra fronteira a ultrapassar: a pauta dos costumes, de viés religioso. Bolsonaro ainda é muito forte no eleitorado conservador que acredita que seu governo é “defensor das famílias”. Esta é uma frente em que é preciso atuar para que mais esta farsa seja desmascarada. A população brasileira é muito religiosa e este é um ponto que não pode ser negligenciado. Dinheiro, portanto, não explica tudo.
E ao contrário do que pode parecer, não se trata de negar a legitimidade ou até mesmo a honestidade do comportamento religioso. As crenças, os pensamentos mágicos, os diferentes modos de ter fé, têm sido essenciais para nos manter de pé diante da grande interrogação que é a vida. Trata-se de disputar, nestes espaços, o resgate dos valores que priorizam o amor, a fraternidade, o bem querer, a compreensão, o perdão, a solidariedade. Basta isso para que todos percebam o quanto o projeto bolsonarista nada tem a ver com esses fundamentos.
Também não se trata de estigmatizar essa ou aquela religião. Todas têm seus vendilhões e todas têm uma maioria de seguidores bem intencionados. Trata-se de retomar pontes de diálogo e mostrar como o mal também se disfarça de messias.
Espaço Aberto
Ser feminino depende do feminismo
Thamy Frisselli**
Uma vez eu li em um dos meus estudos feministas a seguinte frase “se você nasce mulher você já está em desvantagem”. Infelizmente essa é a realidade da mulher brasileira. As mulheres morrem todos os dias por serem mulheres. Vítimas de uma violência estrutural, machista e misógina, onde o Estado é o primeiro violador.
A violência começa na infância, quando meninos têm de usar azul e meninas rosa, quando as meninas são responsabilizadas desde cedo pelo trabalho doméstico não remunerado, quando dentro de casa são abusadas sexualmente pelo parente mais próximos e ao disputarem o mercado de trabalho, além do constante assédio sexual, são desvalorizadas em sua remuneração, mesmo ocupando o mesmo cargo que os homens.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 85% do total de casos de violência contra crianças e adolescentes estão relacionados ao feminino. A forma mais grave da violência doméstica é o feminicídio, que passou a ser reconhecido legalmente com a Lei 13.104, de 2015. O feminicídio é qualquer homicídio cuja vítima seja mulher e o motivo do crime seja relacionado ao seu gênero.
Só sairemos desse buraco se enfrentarmos a crise sexista e misógina implementada há pelo menos cinco anos nesse governo golpista. É preciso cuidar dos mais vulneráveis, aceitar sair do lugar de privilégio, só assim começaremos a nos revolucionar.
* Trechos de artigo publicado no jornal Brasil de Fato Distrito Federal, sob o título “O ser feminino que depende do feminismo para evitar o feminicídio”, disponível em is.gd/eanascente1213. ** Mulher, ativista, jornalista, feminista e sindicalista.
Coerência
A conselheira administrativa da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, votou contra o pagamento de antecipação da remuneração aos acionistas relativa ao exercício de 2021, no valor total de R$ 31,8 bilhões (cerca de US$ 6 bilhões), que somados aos R$ 31,6 bilhões anunciados em 4 de agosto totalizam R$ 63,4 bilhões (cerca de US$ 12 bilhões) em antecipações. O voto da representante dos trabalhadores foi minoria e o projeto acabou sendo aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobrás.
Caminhoneiros
O Portal da CUT informou ontem que há uma tendência de crescimento na adesão à greve dos caminhoneiros autônomos, após derrubadas 11 de 29 liminares que o governo Bolsonaro havia conseguido na Justiça para tentar impedir a paralisação. Entre outros pontos, a categoria defende o fim da política de paridade internacional dos preços dos combustíveis, em sintonia com a visão da FUP e seus sindicatos.
Novo Horizonte
Uma grande rede de solidariedade tem se formado em defesa das famílias da Ocupação Novo Horizonte, em Campos dos Goytacazes, que sofrem vários tipos de arbitrariedades. A categoria petroleira, que tem tradição em apoio às causas justas, pode contribuir de muitas formas: informando-se mais sobre a ocupação nas redes sociais e fazendo doações pelo pix [email protected].
Carta da AMS
Centenas de aposentados receberam carta da Petrobrás, que alega um suposto erro no cálculo do Grande Risco da AMS desce o início aposentadoria, e comunica que há valores para serem amortizados a partir de outubro de 2021. O Jurídico do NF orientou a categoria a abrir um protocolo na companhia, requerendo a indicação dos exatos meses em que o grande risco foi supostamente cobrado de forma incorreta. Mais informações por [email protected].
VOCÊ TEM QUE SABER
Privatização da Petrobrás: Categoria precisa estar pronta para luta
“Cada vez que o petróleo sobe e o combustível sobe, ela tem um resultado melhor. Se nós levarmos a Petrobras para um novo mercado, por exemplo, que é o que está acontecendo com a Eletrobras, vocês não tenham dúvida: problema de crise hídrica, problema de combustível, tudo isso foram monopólios de estatais por 30 ou 40 anos. E nós estamos andando nessa direção, nós estamos fazendo a Eletrobras, Correios. Estou propondo isso: vamos transformar esse veneno numa vacina, igual soro antiofídico”.
A fala acima, do ministro da economia, Paulo Guedes, na saída de um evento no último dia 24, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, não deixa dúvida sobre a intenção do governo em apresentar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para viabilizar a venda por completo da Petrobrás. Seja distorcendo os fatos ou mentindo deliberadamente, tanto Guedes quanto Bolsonaro têm se empenhado para popularizar o tema — vencendo a resistência da população à privatização da companhia.
Na avaliação do Sindipetro-NF, o movimento entreguista do governo não pode ser negligenciado. O risco é real e precisa ser enfrentado à altura. Por isso, explica o coordenador geral da entidade, Tezeu Bezerra, o sindicato intensificou as setoriais nas bases desde o mês de outubro e dialoga com os trabalhadores e trabalhadoras, junto à FUP e demais sindicatos, sobre a necessidade de uma greve nacional contra a privatização.
A associação entre venda de empresa estatal e queda de preços de um produto ou serviço não se confirma na prática, mas a confusão tem apelo popular e pode influenciar a opinião pública. Uma categoria estratégica como a petroleira precisa contribuir para explicar para a população o que realmente está em jogo, a vulnerabilidade energética e a entrega de recursos gigantes do pré-sal para petrolíferas privadas.
NF ao vivo
Além das setoriais, o sindicato tem dialogado sobre a greve em outras frentes de interação. Para a noite de ontem, após o fechamento desta edição do Nascente, estava prevista a realização do NF ao vivo da semana (toda quarta-feira, 19h30) com o tema “Privatização da Petrobrás”. Para conversa moderada pelo próprio Tezeu, o programa convidou o também diretor do sindicato, Alexandre Vieira, o técnico do Dieese, Cloviomar Cararine, e o economista Rodrigo Leão, do Ineep. O vídeo fica disponível no canal do Youtube e na página do Facebook do Sindipetro-NF.
Um fundo para garantir vigor econômico da região
O coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, participou no último dia 29 de audiência pública sobre a implementação do Fundo Soberano para o estado do Rio de Janeiro. O encontro, organizado pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), foi conduzido pelo presidente da Casa, deputado estadual André Ceciliano (PT), na Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro), em Campos dos Goytacazes, e reuniu representantes de diversos setores da região.
Tezeu começou sua fala parabenizando ao deputado por conseguir reunir tantas representações sociais e políticas em prol de um debate que envolve toda a região e falou sobre o sentido do Fundo Soberano. “O maior exemplo de Fundo Soberano que nós temos, é o da Noruega. País este, que usou os recursos oriundos do petróleo com muita habilidade e que hoje tem um dos maiores IDHs do mundo, infelizmente, diferente do que aconteceu no Norte Fluminense. Então, não podemos cometer os mesmos erros, que foram cometidos com os royalties, ao permitir que eles fossem usados para qualquer coisa. O Fundo Soberano tem que ter a missão de garantir a permanência de um setor produtivo forte e de garantir a vida dos brasileiros”, ressaltou.
O coordenador do NF falou ainda sobre a importância da Ompetro (Organização dos Municípios Produtores de Petróleo) nos debates e também da disponibilidade do sindicato de contribuir com pesquisas importantes sobre o cenário do petróleo. “Gostaria de falar também sobre a importância do papel da Ompetro, apesar de nunca termos sido convidados para uma reunião, nós temos muito a contribuir como trabalhadores, como sindicato, com estudiosos que temos como o Dieese e o Ineep, que trazem pesquisas importantes sobre o setor. Nós temos várias propostas para restabelecer os investimentos da Petrobrás. Não sei se todos sabem, mas na nossa região, os investimentos caíram de 10 milhões para cinco milhões ao ano. Com isso, eu sinto vergonha, quando vejo representantes dos governos regionais batendo palma para atual gestão da Petrobrás, que tem reduzido a nossa empresa a uma empresa de fundo de quintal. Nós sabemos e acreditamos no potencial da empresa e por isso, chamamos todos em defesa da Petrobrás”, conclamou.
O objetivo do encontro foi apresentar a Emenda Constitucional 86/21, que criou o fundo – uma poupança com recursos dos excedentes dos royalties e participações especiais do petróleo para financiar o desenvolvimento do estado a médio prazo. “O Fundo Soberano é uma poupança pública para financiar investimentos de infraestrutura, ciência e tecnologia, novos produtos, projetos que gerem emprego e riqueza no Estado do Rio de Janeiro. Para que a nossa economia tenha fôlego para ir além dos royalties do petróleo. É hora de pensar o estado de forma a diversificar a nossa base produtiva para aumentar a receita, que é o nosso grande problema”, explica Ceciliano.
Petrobrás tem negligência desmascarada
O Sindipetro-NF recebeu denúncias sinalizando que a Petrobrás ofereceu máscaras aos trabalhadores, apenas na primeira semana do retorno ao trabalho presencial nas bases. A empresa teria alegado que as máscaras acabaram, porém, os trabalhadores afirmam que na sede do Parque dos Tubos há em estoque mais de 80mil máscara PFF2 NM 12.564.354.
Essa não é a primeira vez, que a empresa age de forma negligente com relação ao fornecimento de máscaras. O NF já recebeu várias denúncias dos trabalhadores offshore ao longo da pandemia.
O sindicato questionou a Petrobras e foi informado que houve um problema na distribuição das máscara, que seria resolvido logo.
O NF ressalta que é extremamente preocupante que, logo no retorno ao trabalho presencial, com apenas 20% do total de trabalhadores nas bases, a empresa já apresente problemas. Ao mesmo tempo em que insiste no retorno do trabalho presencial nas bases, a Petrobrás demonstra negligência com a saúde do trabalhador ao não oferecer condições mínimas de segurança, mesmo sabendo que a pandemia ainda não acabou.
O Sindicato segue atuando pela vida dos trabalhadores e cobrando condições de segurança. Para isso, é muito importante que a categoria petroleira mantenha o sindicato informado sobre as condições de saúde e segurança no trabalho. Os relatos podem ser enviados para [email protected]. A identidade do denunciante é preservada.
SAIDEIRA
Às vésperas do Halloween, NF questiona assembleia fantasma
Poderia ser só uma brincadeira de Halloween, a festa do terror norte-americana com tantos adeptos no Brasil. Mas, neste caso, a travessura tem consequências muito reais. O Sindipetro-NF precisou entrar em juízo na sexta, 29, para que seja imediatamente suspensa a alteração estatutária e as deliberações da Assembleia Geral e Extraordinária “fantasma”, realizada pela Associação Petrobrás Saúde. A entidade foi criada pelo governo Bolsonaro para gerir a Assistência Médica dos empregados da Petrobrás.
Em nota, o Jurídico do NF explicou que “após registrar a APS [Associação Petrobrás de Saúde] em cartório, já em duvidosa prática perante o Código Civil, a gestão Bolsonaro alterou sozinha o estatuto da entidade, numa pseudo-assembleia para a qual a empresa convocou a si própria, e da qual somente ela participou, deliberando a eleição dos órgãos diretivos da APS. E nessa assembleia, pasmem!, a Petrobrás incluiu formas de cobrança da AMS incompatíveis com as cláusulas do ACT em vigor!”
A assessoria do sindicato comparou a manobra ao de uma “empresa de fachada, aquela pessoa jurídica laranja, ou aquela “associação” que faz assembleia mas apenas o “dono” aparece.” “É assim que a gestão Bolsonaro na Petrobrás organiza a APS, a pseudo-associação com a qual querem substituir a AMS. Assembleia fantasma para fazer o associado pagar mais! É esse tipo de autoritarismo militar que se fará na gestão da APS”, protestou.
CECILIANO VISITA NF – Antes da audiência pública da Alerj sobre o Fundo Soberano, no último dia 29, na Uenf, o NF recebeu, na sede de Campos dos Goytacazes, o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), André Ceciliano (PT), acompanhado do presidente do PT no estado do Rio, João Maurício de Freitas. O diretor do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, esteve entre os que recepcionaram Ceciliano na sede da entidade, assim como o coordenador geral da entidade, Tezeu Bezerra e o diretor sindical Guilherme Cordeiro.
Normando
A cor das cotas
Normando Rodrigues*
A colonização, a escravização e o imperialismo, estabeleceram as cotas étnico-sociais a favor dos brancos, como barreiras eficazes à democracia. Alterar essas cotas incomoda muito.
Enquanto mergulhávamos no esgoto fascista, em 2018, o movimento estudantil sueco atacava a herança racista de uma das mais reputadas faculdades de medicina da Europa, o bicentenário Instituto Karolinska.
A entidade, coorganizadora do Prêmio Nobel, abriga uma coleção de 800 crânios humanos reunidos no século XIX.
O objetivo dos professores oitocentistas era legitimar o colonialismo com uma mítica relação entre a pretendida superioridade intelectual branca e formas e tamanhos cranianos. O tipo de fake science popular entre fascistas.
Crânios baianos
O caso virou incidente internacional, com a reivindicação da devolução de 82 caveiras, decapitadas ilegalmente de cadáveres finlandeses.
Os ladrões de tumbas foram os professores-médicos suecos Anders Retzius e seu filho Gustav. Amigo deles, o cirurgião-chefe da Sta. Casa de Salvador, na época, o inglês Jonathan Abbott, colaborou com crânios baianos.
E seis dos oito crânios exportados para a Suécia eram de indígenas mortos numa revolta contra os brancos.
Jalecos brancos
Médicos com melhores olhares foram trazidos ao nosso país pela Organização Pan-americana da Saúde. Todavia, como em sua maioria eram não-brancos, foram expulsos por Bolsonaro assim que eleito, ainda antes de tomar posse.
Na expulsão, médicos brasileiros brancos (são 82%) se juntaram para chamar os voluntários da OPAS de “escravos”. Entre os agressores, a Capitã Cloroquina, que não consegue diferenciar um pênis pronto para a cópula, de uma torre com cúpula.
Fascismo é o nome do regime que talvez seja o mais competente para manter os brancos atendidos por incompetentes médicos igualmente brancos, enquanto os não-brancos não veem médicos, não importa a cor.
A cota branca
Além de serviços médicos brancos, a histórica cota dos brancos lhes permite comer um corte com osso a 500 reais o prato, na “Fogo de Chão”, com direito a assistir, do lado de fora, 500 não-brancos a se engalfinhar por um osso.
Sincronizada com a desindustrialização do país, a cota branca faz o estaleiro de iates de luxo Azimut-Benetti, em Itajaí, ter faturamento histórico. Suas vendas para os brancos sobem na proporção da fome e da miséria dos não-brancos.
A cota branca inclui clubes de proprietários brasileiros de ecológicos Teslas de 1,5 milhão de reais, todos fãs daquele Elon Musk que declarou ter derrubado Evo Morales, em 2019, para se apossar das reservas de lítio da Bolívia.
Terceira Via
Foi a cota branca que matriculou a filha de Bolsonaro no Colégio Militar, sem concurso e sob sigilo de 100 anos, prazo igual ao do segredo baixado sobre o cartão que comprova a vacinação contra Covid do presidente do Brasil fascista.
Um outro Brasil aprovou, entre 2012 e 2014, leis que reduziram um pouquinho a cota dos brancos na educação e na administração públicas. Está prevista a revisão dessas normas durante o próximo mandato presidencial.
Reeleito, Bolsonaro – que “nunca escravizou ninguém” – já anunciou que atacará as restrições legais à cota branca. Mas não só ele.
A cota branca, vigente há meio milênio, estará do mesmo modo protegida no caso de um governo da Terceira Via, opção pura, inodora, insípida, “incolor” e, apesar disso, branca.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]
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