Nascente 1215

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A SEMANA

Editorial

Categoria atenta e forte contra os entreguistas

O jornalista Ivan Longo, editor de política da revista Fórum, publicou nesta semana texto em que relaciona a viagem de Bolsonaro a Dubai aos discursos recentes, do próprio presidente e do ministro Guedes, que sinalizam o avanço da privatização da Petrobrás. Como mostrou a publicação, que ouviu lideranças petroleiras como o diretor do Sindipetro-NF e da FUP, Tadeu Porto, faz todo sentido.

“O Guedes está com um discurso de renovar os petrodólares e já tem um tempo que Bolsonaro fala em privatizar a Petrobrás. E me parece que se confirma cada vez mais que é uma agenda do governo. A Mubadala já comprou a Rlam, está em processo de tomada, e pode ser que os árabes se interessem, de fato, em se expandir geopoliticamente pegando mais ativos do Brasil”, disse Tadeu à Fórum.

O próprio ministro gerente de posto Ipiranga disse a que foi: “Aqui estão os petrodólares. Nós fizemos um grande movimento no final da década de 80, depois do choque do petróleo, para pegar essa reciclagem de recursos. Só que, naquela época, foi com endividamento. Nós fizemos uma expansão da infraestrutura com base em dívida. Agora nós vamos fazer com participação nos programas de investimento nossos, nas nossas parcerias de investimentos”.

O programa de acentuação da privatização já em curso está evidente. Muito possivelmente em razão deste governo saber que trata-se da última “janela de oportunidade” que poderá ter para entregar ao mercado o golpe final na Petrobrás, tão sonhado, uma vez que esta política entreguista está com data de validade fixada em 2022.

A categoria, portanto, segue atenta e forte contra os entreguistas.

 

Espaço Aberto

Intelectuais negros foram embranquecidos*

Rosana de Sousa Fernandes**

>> continuação da edição 1214

Afonso Henriques de Lima Barreto
Famoso escritor brasileiro e neto de pessoas escravizadas, vindo de uma situação que beirava à miséria. Em 1911 escreveu O Triste Fim de Policarpo Quaresma, sua principal obra.
Machado de Assis
Foi um homem negro retinto que apostou na cultura como forma de ascensão social, a ponto de se tornar funcionário público e diretor de bibliotecas, conhecido por toda a cidade. Inaugurou a literatura realista brasileira com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), inspirado em Balzac. Até hoje, Machado de Assis é uma das maiores referências da literatura lusófona.
Betty Boop
A pessoa em quem a personagem foi inspirada, a cantora Esther Jones, era negra. Sua interpretação no palco foi o que inspirou o cartunista Max Fleischer a criar a personagem Betty Boop. Esther passou a vida lutando pelos diretos da personagem que, em verdade era ela interpretando no palco.
Família Médici
É impossível estudar o renascimento italiano – e basicamente toda a história da cultura ocidental – sem passar pelos Médici. O que a história não costuma lembrar é que a origem da família vem de uma mãe ítalo-africana, de origem moura, que se casou com um branco. A mais importante família europeia da época era de origem negra.
>> continua na próxima edição

* Trecho de artigo publicado no Portal da CUT sob o título “20 de Novembro: Quem são os intelectuais negros que foram embranquecidos na nossa história”, disponível em is.gd/eanascente1214. ** Diretora adjunta da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT.

Luta pela PBio

A FUP informou nesta semana que o Ministério Público Federal emitiu parecer pela suspensão imediata da privatização da Petrobrás Biocombustível (PBio). O MPF quer que a empresa apresente estudos de impactos socioeconômicos, trabalhistas e previdenciários causados processo de venda da subsidiária. O parecer, que atende a ação civil pública ingressada pelos Sindipetros MG, BA e CE/PI, também prevê a convocação de audiências públicas sobre a privatização.

Wellbore

Petroleiros e petroleiras da Wellbore decidiram, em assembleia na última terça, 16, rejeitar a proposta do Acordo Coletivo apresentado pela empresa. Entre os votantes, 65% dos trabalhadores foram contra o acordo. O Setor Privado do Sindipetro-NF informou a decisão à empresa e aguarda uma nova proposta. A entidade se colocou à disposição para continuar o debate pelo atendimento das reivindicações da categoria.

Reincidentes

A imprensa brasileira esqueceu o jornalismo, se atrapalhou, e não soube como lidar com o fato (uma contradição) de que um ex-presidente do Brasil, líder das pesquisas para a próxima eleição, ser recebido por algumas das principais lideranças políticas da Europa é notícia, sim. Alguns veículos deram, acanhados. A maioria ignorou. Não aprenderam nada com o governo fascista que ajudaram a eleger e querem mais.

FUP na Câmara

Audiência Pública no próximo dia 24, convocada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados, vai debater a política de preços da Petrobrás para os combustíveis automotivos em todo o País. A FUP será representada pelo coordenador geral da Federação, Deyvid Bacelar. Requerida pelo deputado Zé Neto (PT-BA), a audiência vai discutir o projeto de lei (PL 9187/2017) que limita os reajustes dos combustíveis à variação da inflação medida pelo IPCA.

VOCÊ TEM QUE SABER

Política racista sob denúncia das ruas

Das Imprensas da CUT e do NF

O genocídio da população negra brasileira, mais afetada pelas altas taxas de mortalidade por Covid-19 do que a não negra, será um dos temas que serão denunciados no dia 20 de novembro, feriado que celebra o Dia da Consciência Negra. Este ano, a mobilização unificou as pautas específicas do movimento negro às lutas urgentes da classe trabalhadora brasileira para fazer grandes atos pelo #ForaBolsonaro em todo o país.

No Norte Fluminense, após o protesto da última sexta, 12, em Campos dos Goytacazes, os sindicatos e movimentos sociais que organizam o “Fora, Bolsonaro” também se somarão às manifestações da Consciência Negra em Macaé, nesta sexta, 19, 16h30, na Praça Veríssimo de Melo, em ato “Contra o racismo, a fome e o desemprego”. Em Rio das Ostras, o ato será no próprio sábado, com um café da manhã solidário, às 9h, na Feira do Âncora.

A gestão e o comportamento do presidente Jair Bolsonaro são responsáveis pela tragédia econômica e social vivida pelos brasileiros e a população negra, por diversos aspectos, é a mais impactada. Por isso, o grito dos brasileiros pelo impeachment do presidente será também o grito contra o racismo – uma das características deste governo, explica secretária-adjunta da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT Nacional, Rosana Fernandes.

“E racismo mata”, reforça a dirigente, complementando: “Não bastassem os índices da violência contra a população negra e a menor expectativa de vida, os números da pandemia mostraram que o índice de mortes por Covid-19 entre negras e negras é maior do que para a população não negra”.

Um dos dados do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid) do Senado, que apurou a a atuação e omissão do governo Bolsonaro no enfretamento desastroso à pandemia, levantado pelo Instituto Polis, mostra que a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros era de 250 por 100 mil habitantes enquanto a de brancos era de 157 óbitos por 100 mil habitantes.

Outro dado, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que negros representam 57% dos mortos pela doença enquanto brancos são 41%.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne 38 países, entre eles o Brasil, elaborou um relatório que mostra que em nosso país, o risco de morte por Covid é 50% maior para a população negra.

 

Está caro e a culpa é do Bolsonaro, explica Zé Maria

O diretor do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, realizou palestra na terça, 16, para alunos e alunas do ensino médio do Colégio de Aplicação de Macaé (CAP), na Cidade Universitária. A convite do professor da disciplina de Sociologia, Paulo Henrique Dantas, o sindicalista falou aos estudantes do segundo ano, no encerramento do ano letivo, sobre o preço dos combustíveis e o papel da Petrobrás.

“Toda vez que o barril do petróleo subir lá fora, sobe aqui dentro, como se a gente ganhasse em dólar. A gente não ganha em dólar. E quem é que está ganhando dinheiro com isso? São os acionistas da Petrobrás. Quem está sendo prejudicada com isso? A população”, explicou José Maria, sobre a Política de Paridade Internacional (PPI) adotada no governo Michel Temer e mantida no governo Bolsonaro.

O diretor do NF disse ainda que a empresa deveria voltar a desempenhar um papel estratégico e social: “Qual é o papel da Petrobrás num país como o nosso? Vocês já ouviram falar ´tem que privatizar a Petrobrás´. A Petrobrás já está privatizada. Apesar de ser uma empresa que tem o governo federal como maior acionista, o gerenciamento já é o de uma empresa privada, por isso que o botijão [de gás] custa R$ 150 e a gasolina R$ 8 [o litro]”.

José Maria lembrou que “há algum tempo, o botijão custava R$ 44. A gasolina custava R$ 2,98. E também é mentira que a Petrobrás não dava lucro. Dava. Lucro de R$ 35 bilhões, R$ 40 bilhões. Mas como é que dava lucro? Investindo na produção, não na especulação.

 

Spie: NF solicita informações da categoria

O Sindipetro-NF participa, nas duas próximas semanas, de auditorias do Spie (Serviços Próprios de Inspeção de Equipamentos) em unidades da Petrobrás na região. Entre os dias 22 e 26, a inspeção será na UN-BC, e de 29 a 3 de dezembro, a inspeção acontece na UN-ES. A entidade solicita que os petroleiros e petroleiras enviem sugestões ou denúncias para contribuir na atividade dos auditores (para o email [email protected] ou Whatsapp 22-981231882).

A Petrobras vem sofrendo ataques à sua estrutura e segurança e a atividades de inspeção, manutenção e operação não são uma exceção. A Manutenção vem sendo terceirizada, a Operação sofre com redução de efetivo e a Inspeção teve profissionais deslocados para a gerência de obras e reparos. O que pode não estar compatível com Anexo II alínea a) da NR-13, que determina dedicação exclusiva dos TIE (Técnico de Inspeção de Equipamentos) a atividades de inspeção,avaliação de integridade e vida residual.

“A auditoria visa à gestão da integridade estrutural de caldeiras, vasos de pressão e tubulações nos termos da NR-13, em aspectos relacionados à instalação, operação e manutenção com foco na segurança e saúde do trabalhador e no meio ambiente. Conforme critérios da portaria Inmetro 582 e 537 de 2015 bem como seus documentos complementares”, explica o coordenador do Departamento de Saúde do NF, Alexandre Vieira.

SAIDEIRA

Categoria não deve votar na “APS”, indicam FUP e sindicatos

Da Imprensa da FUP

Desde o ano passado, a FUP e seus sindicatos vêm travando uma batalha judicial contra a criação da Associação Petrobrás Saúde (APS), que a Petrobrás tenta legitimar através da eleição para os Conselhos Deliberativo e Fiscal, que nada mais é do que um jogo de cartas marcadas. Na tentativa de legitimar esse processo, a gestão da Petrobrás está convocando os beneficiários da AMS – titulares, ativos, pensionistas e aposentados – a votar. A orientação expressa da FUP e dos sindicatos é que a categoria não participe.

As representações dos trabalhadores do Sistema Petrobrás – FUP, FNP e SINDMAR – ingressaram com Ação Civil Pública, cobrando a suspensão imediata do processo eleitoral, que teve início na semana passada. As entidades, que juntas representam um universo de aproximadamente 280 mil beneficiários da AMS, entre titulares e dependentes, questionam a legitimidade desta eleição, que foi imposta sem transparência e de forma flagrantemente ilícita, contrariando o próprio estatuto da APS, que também é repleto de irregularidades.

A Ação Civil Pública ingressada pelas entidades coloca sob suspeita o regulamento e a comissão eleitorais, denunciam a manipulação e alteração do calendário eleitoral, entre outras irregularidades, como a “usurpação de competência da Assembleia Geral para disciplinar a realização das eleições, reduzida à mera apuração dos votos” e “ilícitas restrições de natureza regulamentar ou infraestatutária”.

 

RECEPÇÃO “CALOROSA” – O presidente da Petrobrás, Joaquim Silva e Luna, teve uma recepção “calorosa” na última sexta, 12, durante visita a Imbetiba, em Macaé. O Sindipetro-NF realizou protesto na entrada da base para denunciar a política de preços de combustíveis da empresa e os desinvestimentos da empresa na Bacia de Campos. “Nós temos muito petróleo para explorar ainda na Bacia de Campos. Nós precisamos de investimentos, não de desinvestimentos”, disse no protesto o coordenador do sindicato, Tezeu Bezerra.

 

NORMANDO

Fome de que?

Normando Rodrigues*

O Brasil tem pela frente uma escolha entre a perpetuação da fome e a transformação da injusta realidade. E esta última não se resume à eleição de 2022. É uma tarefa cotidiana e gigantesca.

No século XVI, François Rabelais usou do grotesco para satirizar Igreja, juízes, advogados e nobreza, em seus cinco livros sobre os gigantes Pantagruel e Gargântua, com os quais inaugurou a literatura moderna em França.

Há poucos meses a Editora 34 publicou os livros reunidos, em tradução do genial poeta Guilherme Gontijo Flores (do qual “Carvão :: Capim” é coletânea obrigatória). Pantagruel e Gargântua caricaturam um traço marcante dos donos do poder: a gula!

A gula dos personagens funciona como síntese das outras seis irmãs, todas sistematizadas pelo Papa Gregório I, no século VI: luxúria; avareza; ira; soberba; preguiça; e inveja.

Gregório foi um padre sensibilizado pela carestia, e a seu modo compreendeu – como o atual papa Francisco – que a pobreza é efeito das faltas capitais dos abastados. Até hoje, porém, a maioria dos cristãos se recusa a ver na acumulação de muito, por poucos, a verdadeira causa do pouco, de muitos.

Mister Moro

Para os neoliberais, defensores da fome, buscar um candidato que, ao contrário do papa, restrinja o debate sobre a miséria à lógica da filantropia, é um ato de fé. Mister Moro atendeu a essa expectativa em seu discurso inaugural de campanha, ao apontar a solução da “caridade” e da “compaixão” e ao citar o “combate” ao desemprego com as reformas liberalizantes que o causam.

Não há “ricos”, “lucros” ou “grandes fortunas”, no discurso de Mister Moro, que sequer contrasta a fome brasileira com o fato de sermos o segundo maior produtor de alimentos do planeta.

Para Mister Moro, o único mal do fascismo brasileiro é a corrupção. Até a pandemia é obra do acaso, sem responsáveis.

Ministro de Bolsonaro, Mister Moro defendeu castigos corporais nos presos, e licença para policiais matarem. Tortura e pena de morte, por vias transversas.

Mister Moro, portanto, não passa de mais um fascista. Navega na “Segunda via”, como precisou Bernardo de Melo Franco.

A contrapartida a Mister Moro se deu cinco dias depois, no Parlamento Europeu. Vislumbrou-se um futuro em que, para falar de Brasil, se deve falar de “latino-americanos, europeus, africanos, asiáticos, seres humanos das mais diferentes origens”, que juntos podem “construir um mundo melhor para todos.”

Construção possível a partir da leitura de que os problemas de todos têm raízes comuns a serem enfrentadas. Raízes que, “libertadas” da ação do estado, determinaram desemprego, fome e emergências climáticas.

Escolha

Esse “futuro” se materializa na candidatura de Lula, contudo sempre apresentada por Globo, Estadão, Folha, e por outros arautos da minoria endinheirada, como “volta ao passado”.

Contra esse futuro possível, lançam-se todas as candidaturas paridas do concubinato fascismo-neoliberalismo, triturador de seres humanos e do meio ambiente, projeto comum a Bolsonaro, Moro, Doria, Leite, Ciro, Mandetta, et caterva.

E, embora seja um projeto típico da economia política do século XIX, desde Collor e FHC a Casa Grande o apresenta como se fosse “moderno”.
Verdadeiramente moderno era Rabelais, que logo em seu primeiro livro de Pantagruel descreve o inferno: um lugar onde as almas trabalham em empregos detestáveis e são mal remuneradas. O inferno é o neoliberalismo da Terceira via. Esteja ele amasiado ao fascismo da Segunda via, ou não.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]

 

1215merge