[VERSÃO COMPLETA EM PDF DISPONÍVEL NO FINAL DA PÁGINA]
A SEMANA
Editorial
Que não ousem tentar privatizar a Petrobrás
A categoria petroleira sabe muito bem a diferença da Petrobrás sob uma gestão bolsonarista, que não cumpre o seu papel no desenvolvimento do país e na promoção de justiça social, da Petrobrás que pode voltar a ser de fato do povo brasileiro. Sabe ainda a importância geopolítica que o petróleo tem mesmo em um mundo em transição energética. Mais: não esquece que a Petrobrás é fruto do investimento de recursos, trabalho, corações e mentes de milhões de brasileiros nestas quase sete décadas de existência e que tem o dever moral de não abandonar esse legado.
Portanto, é questão de caráter, de ética e de consciência política atuar para que este patrimônio do povo não seja entregue. Além disso, atuar para que ele volte a servir a este mesmo povo, não sendo confundido com uma empresa especulativa qualquer como tem ocorrido.
O cenário é dificílimo. A companhia já vem sendo esquartejada e, por mais que ainda haja simpatia da população em relação à marca Petrobrás, os ataques constantes à sua imagem, o desprezo com a qual o atual governo a trata (e à vincula à alta dos combustíveis) faz crescer a percepção equivocada de que talvez fosse melhor realmente vendê-la. Pesquisas recentes (Poderdata, 2021; Datafolha, 2019; e Datafolha, 2018) mostram que maioria da população é contrária à venda das estatais, mas não se pode desprezar a capacidade desse governo (e desse Congresso) de tomar medidas impopulares e, até mesmo, de reverter a opinião da maioria em razão do apoio da mídia à venda da companhia.
Por isso, todos e todas às assembleias do Sindipetro-NF entre os dias 17 e 19. Somente juntos somos mais fortes.
Espaço Aberto
Apego suicida à desigualdade*
Amarildo Cenci**
A caça aos consumidores continua a todo vapor mirando as vendas de final de ano. Basta colocar o pé na internet para ouvir a gritaria das promoções. No entanto, o mundo maravilhoso das ofertas tentadoras se choca com a pobreza da renda.
Trabalhadores que sobrevivem de salário-mínimo, massacrados pela carestia e o arrocho salarial, só conseguem consumir o suficiente para voltar ao trabalho no dia seguinte. Renda comprimida, consumo baixo, produção em queda. O círculo vicioso que governos e empresários se negam a enxergar.
Concentrar renda e socializar a pobreza é a pior e a mais perigosa forma de enfrentar a crise econômica. Não se constrói uma nação sem elevar a renda de seus cidadãos. Não se ergue um país desvalorizando o trabalho e destruindo direitos. Nenhuma democracia sobrevive atolada na injustiça social.
Somos um país pleno de possibilidades governado por uma elite que possui um medo injustificável do desenvolvimento econômico e um apego suicida à desigualdade.
Ano passado, os deputados aliados com o Palácio Piratini aprovaram com sorrisos no rosto reajuste zero no mínimo regional [do Rio Grande do Sul]. O governador sancionou e empresários aplaudiram.
Certos empresários, que poderiam utilizar o mínimo regional como ferramenta para o crescimento econômico, tramam por sua extinção. O mais absurdo é ver entidades empresariais do setor do comércio cerrando fileiras contra reajuste, mesmo sabendo que poderia aquecer as vendas de final de ano.
*Trecho de artigo publicado no Portal da CUT, disponível em is.gd/eanascente1219. **Professor, presidente da CUT-RS.
Ação do gás hoje
A FUP e o NF voltam a realizar uma ação do gás, hoje, no bairro de Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio, com a disponibilização de 200 botijões para venda a R$ 50,00, considerado um preço justo que poderia ser praticado pela Petrobrás para o produto. A ação faz parte da Campanha Petroleiro Solidário, que somente no estado do Rio de Janeiro já disponibilização mais de 5 mil botijões — em todo o país, as ações petroleiras de venda de gás a preço justo ultrapassam 10 mil unidades.
Combustíveis
Documentário produzido pela FUP e Anapetro está causando grande impacto ao mostrar que a política de preços da Petrobrás, “que levou o Brasil a ter a gasolina mais cara do mundo e o gás de cozinha chegando a custar R$ 140,00 em algumas regiões do país”, poderia ser diferente. O documentário “A mentira como combustível. A verdade sobre a Petrobrás”, está disponível nas redes sociais das entidades.
Setor privado
Petroleiros e petroleiras da Oiltanking têm reunião setorial hoje, às 19h, em ambiente online, para debater as demandas da categoria. O Setor Privado está com agenda intensa de setoriais e assembleias, como as que aconteceram nos últimos dias na Wellbore e na Expro. É muito importante que a categoria petroleira permaneça atenta ao site e redes sociais do sindicato e acompanhe as atividades.
Halliburton
A FUP divulgou ontem nota para comunicar o cancelamento da assembleia nacional dos petroleiros e petroleiras da Halliburton, que estava marcada também para ontem, às 19h, em razão de compromisso da empresa de apresentação de nova contraproposta nos próximos dias. A Federação agradeceu o apoio e a paciência da categoria e voltará a dar novas orientações sobre novos passos nas negociações do ACT em breve em seu site e nas redes sociais.
VOCÊ TEM QUE SABER
Assembleia de sexta a domingo online
O Sindipetro-NF convocou nesta semana os petroleiros e petroleiras para a assembleia virtual, que começa nesta sexta, 17, às 20h, e segue até o domingo, 19, também às 20h, para votar os indicativos de mobilização da categoria contra a política de privatização do Sistema Petrobrás. Os indicativos de “Mobilizações e Estado de Greve Nacional da Categoria Petroleira alertando o Governo Federal a fim de que não encaminhe Projeto de Lei para privatização da Petrobrás ao Congresso Nacional” e “Aprovação de estado de assembleia permanente para luta contra a privatização conforme indicado pelo Sindipetro-NF”.
Antes do período de votação, os petroleiros não filiados devem ser inscrever nesta quinta, 16, de forma digital, das 8h às 17h para webinar (pré-assembleia), que será realizado no mesmo dia às 19h. Essa inscrição é obrigatória para ter direito ao voto.
Já os trabalhadores filiados ao Sindipetro-NF poderão exercer direito de voto após preencher dados individuais da página de votação na internet, e assistir obrigatoriamente a um vídeo didático sobre a campanha reivindicatória e a negociação coletiva de trabalho em curso. O link de votação na assembleia será disponibilizado pelo Sindipetro-NF no site e nas redes sociais do sindicato.
Mobilização nas bases
Na manhã de ontem, o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, e o diretor Guilherme Cordeiro estiveram no Heliporto do Farol de São Thomé, em Campos dos Goytacazes, para conscientizar os trabalhadores sobre a importância da luta contra a privatização da Petrobrás.
“Estamos aqui para dialogar com os trabalhadores, porque soubemos que o Governo Bolsonaro está tentando, em meio todo o esquema de corrupção, colocar um projeto de lei para privatizar a Petrobrás. E nós trabalhadores e trabalhadoras, petroleiros, como defensores da empresa, estamos convocando toda categoria para participar da assembleia com indicativo de aprovação do estado de greve. E caso o governo insista nesse projeto, vamos chamar uma greve de fato, com parada de produção, uma greve forte. Porque não vamos aceitar toda essa destruição do nosso país”, frisou o coordenador, Tezeu.
O diretor Guilherme aproveitou o momento para ressaltar os danos da privatização. “É só pensarmos na mentira, que foi ventilada que a venda de ativos iria gerar oportunidades para os trabalhadores terceirizados. E hoje temos em vista o que acontece nas unidades que foram entregues. A gente vê vermelho hoje parada, Pargos parada. Porque as empresas não conseguiram gerir os campos”, ressaltou.
Quadro nacional
Todas as demais bases da FUP também estão em período de assembleia para votar o indicativo de Estado de Greve Nacional, em calendário que segue até o próximo dia 21. O NF fez a opção, no entanto, de não submeter à assembleia o indicativo de “contribuição assistencial a ser recolhida pelos sindicatos ao longo de 2022 para custear atividades e mobilizações contra as privatizações.”
MTAs precários denunciados pelo NF ao MPT
O Sindipetro-NF denunciou nesta semana ao Ministério Público do Trabalho a situação precária dos módulos temporários de acomodação (MTAs) na plataforma P-35. Além disso, o sindicato também enviou um ofício à gestão da Petrobrás cobrando explicações com relação as condições dos MTAs instalados da unidade e sobre outros possíveis casos.
No documento, o Sindipetro-NF solicita um relatório de inspeção do MTA da P-35, em relação a adequação a NR37, devendo a Cipa participar de sua elaboração e aprovação. O sindicato exige ainda a desativação de todos os módulos que não estejam com a negociação tripartite em curso e a identificação das unidades que possuem Módulos de Acomodação Temporários e Estabelecimento de negociação Tripartite para a regularização.
O NF lembra que a norma determina que o módulo de acomodação temporária só pode ser instalado, com o intuito de aumentar a capacidade de acomodação da plataforma, durante a execução de campanhas de manutenção, reparação, montagem, comissionamento, descomissionamento, desmonte ou intervenções de sondas em plataformas fixas.
NF denuncia imposição de 14×14 na P-48
O Sindipetro-NF recebeu denúncia de que a gerência da plataforma P-48 quer impor uma escala de 14×14 para a categoria em 2022, sob a justificativa de que a unidade receberá uma UMS (Unidade de Manutenção e Serviço). A medida não encontra previsão no Acordo Coletivo de Trabalho e será contestada pelo sindicato junto à empresa.
Os petroleiros e petroleiras relatam que foi dito aos trabalhadores que a escala de 14×14 será mantida “na maior parte do ano”. Além disso, a gerência ameaça: quem se recusar a aceitá-la será transferido para ativos da companhia que estão sendo privatizados.
O sindicato condena com veemência o comportamento da gerência, que não tem amparo legal para impor uma escala e muito menos para ameaçar trabalhadores com transferências.
A entidade entende que o clima de terror provocado pelos prepostos da companhia busca encobrir um problema gerado pela própria gestão: os baixos efetivos gerados pela progressiva política de desmonte da companhia.
A orientação do sindicato é a de que os petroleiros e petroleiras resistam e não aceitem as imposições individuais. A questão precisa ser tratada coletivamente e será cobrada à empresa.
O Sindipetro-NF solicita ainda à categoria que mantenha o envio de denúncias e relatos para [email protected]. É garantido o sigilo da identidade dos denunciantes.
Petros: Recadastramento ainda suspenso
Participantes da Petros aguardam orientações da Fundação sobre o processo de recadastramento, após a suspensão provocada por incorformidades relatadas pela categoria. De acordo com o representante dos trabalhadores no Conselho Deliberativo, Norton Almeida, houve quedas no sistema, travamentos, entre outros problemas. O conselheiro solicitou a verificação e a Petros decidiu pela suspensão, que será seguida de envio de novas instruções para que os participantes façam a atualização.
SAIDEIRA
Justiça condena Petrobrás a devolver mensalidades retidas
Da Imprensa da FUP
Em julgamento nesta segunda, 13, dos recursos de embargos e declaração feitos pela FUP e seus sindicatos no processo de Dissídio Coletivo da greve que os petroleiros realizaram em maio de 2018, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou a Petrobrás a devolver o valor das mensalidades sindicais que foram usurpadas das entidades. De forma arbitrária, a gestão da empresa decidiu por conta própria reter o repasse das mensalidades sindicais, sob o argumento de pagamento das multas da greve, mesmo sem o dissídio coletivo ter transitado em julgado e sem qualquer tipo de autorização judicial.
Durante o julgamento, a Ministra do TST Kátia Arruda, que passará a ser a relatora do dissídio coletivo de greve, lembrou que o Estado Democrático de Direito veda a auto tutela, ou seja, a “chamada justiça pelas próprias mãos”, ressaltando que a Petrobrás só poderia requerer a retenção dos valores através de uma ação de cumprimento na justiça trabalhista e nunca fazer uma execução privada contra as entidades sindicais.
Objetivo era criminalizar
Para o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, a vitória das entidades sindicais nesse julgamento reforça a resistência da categoria e comprova o autoritarismo da gestão da Petrobrás, que age conforme o governo Bolsonaro, atacando e perseguindo os movimentos sociais. “O objetivo sempre foi criminalizar e inviabilizar a organização sindical petroleira. Mas, apesar das arbitrariedades dos gestores, a FUP e seus sindicatos jamais se calaram diante das privatizações, dos ataques sucessivos aos direitos dos trabalhadores e da absurda política de preços dos combustíveis, que gera lucros abusivos para os acionistas, às custas da fome e do desemprego de milhões de brasileiros. Continuaremos resistindo ao autoritarismo, ao fascismo e ao desmonte da Petrobras”, afirma.
MATA MOSQUITO – Reunião no Sindipetro-NF com o diretor José Maria Rangel e grande reunião no Sindicato dos Bancários (foto), na terça, 14, e previsão de manifestação em frente à Câmara de Vereadores (na tarde de ontem, após o fechamento desta edição do Nascente) estiveram na agenda dos profissionais do combate ao mosquito e do PSF (Programa Saúde da Família) de Campos dos Goytacazes, que foram desligados da prefeitura a partir de 2010. O NF tem apoiado a luta da categoria pelos seus direitos.
NORMANDO
Ridi Pagliaccio
Normando Rodrigues*
Rodrigo Araújo Alves, Diretor Executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, da Petrobrás, é um homem de riso fácil.
Rodrigo disse que a Petrobrás passou pela pandemia de Covid-19 “rindo”.
Rodrigo não está sozinho. Muita gente ri com ele. E os sorridentes, embora sejam minoria, são representativos, reconheçamos.
La gente paga e ridere vuole qua
(As pessoas pagam, e querem rir)
Diferentemente do público de um espetáculo bufão, os risonhos companheiros de Rodrigo não são exatamente “pagadores”.
O gozo de Rodrigo é o dos acionistas que lucram com a destruição da Petrobrás. Sem interesse em cuidar da galinha dos ovos de ouro, optaram por depenar a ave de seus principais meios de sobrevivência no médio e longo prazos.
O lesado foi o estado, que construiu a empresa e nela investiu pesadamente até 1974, para agora a ver entregue às raposas.
E se Arlecchin t’invola Colombina
(E se Arlequim envolve a tua Colombina)
Casada com os brasileiros, a Petrobrás foi envolvida por esses alegres arlequins numa trama que a tornou única dentre as grandes petrolíferas do planeta.
Única a abrir mão, por vontade própria, de reservas comprovadas de óleo e gás; de sua fatia no mercado brasileiro; e de sua empresa de varejo de derivados, atividade cujo lucro custeava a exploração e produção.
Única a alienar refinarias lucrativas; a vender dutos por ela construídos e dos quais depende; e a sair da pesquisa e desenvolvimento de fontes renováveis de energia.
Ridi, Pagliaccio, e ognun applaudirà
(Ria, Palhaço, e todos vão aplaudir)
O tempo da risada é o instantâneo. Importa somente o ganho privado imediato, resultante do desmanche da Petrobrás, e as fortunas geradas a cada pedaço esquartejado.
Se essa palhaçada fosse apresentada a um público sério, é muito provável que a turba indignada colocasse os atores a ferros, e os responsabilizasse pela liquidação do patrimônio de todos, em proveito de poucos.
Por enquanto, porém, a trama se desenvolve sob o olhar permissivo de uma assistência entorpecida, disposta a pagar gasolina a 10 reais o litro. Além disso, os liquidantes contam com a cumplicidade dos carabinieri (ministério público e judiciário).
Tramuta in lazzi lo spasmo ed il pianto
(Transforme em piada o espasmo e o choro)
Rodrigo e os especuladores passaram rindo pelas centenas de trabalhadores mortos pela Covid em toda a cadeia industrial, para que os ridentes pudessem rir, com seus dividendos. Isso, fora os desempregados.
Talvez Rodrigo e seus rentistas sejam fãs do palhaço sem graça Fábio Porchat, que se lamentou ante a perspectiva de os brasileiros votarem “com o estômago” em 2022.
A frase do fofo Porchat, dita em meio a 116 milhões de brasileiros que não fazem as três refeições, e mais 20 milhões que disputam ossos no lixo, é antes de tudo uma piada de mau gosto – ou bem ao gosto dos ricos.
Ridi del duol, che t’avvelena il cuor!
(Ria da dor, que envenena seu coração!)
Il Pagliaccio, de Ruggero Leoncavallo, tem apenas dois atos encenados em 80 minutos. Curta para este gênero de arte, costuma ser montada em conjunto com a ópera de ato único Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni.
E Cavalleria Rusticana, que aparece em “O Poderoso Chefão III”, de Coppola (EUA, 1990), deveria chamar a atenção dos endinheirados polichinelos que fatiam a Petrobrás à noite, pelo menos por um verso:
Vendetta avrò pria che tramonti il dì “(Serei vingado antes que se faça dia).
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
1219merge