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A SEMANA
Editorial
Pilantragem de paróquia na versão nacional
Um veterano vereador em Campos dos Goytacazes costumava contar, em roda com repórteres, que era comum que muitos pais o procurassem para pedir uma “forcinha” para que o filho ou filha fosse aprovado no concurso para ser aluno da então Escola Técnica Federal de Campos, atual IFF. Não havia a menor chance de que o então parlamentar pudesse interferir no processo, mas ainda assim ele assumia de bom grado a missão, dizia que iria sim dar um jeito de garantir a vaga sonhada.
O resultado saía e só havia duas opções: se o candidato fosse aprovado (por mérito próprio, claro), a família ficaria agradecida ao vereador; se não fosse, o parlamentar diria que fez de tudo, mas de tudo mesmo, até havia subido um pouco o seu lugar na classificação, mas o pretendente foi tão mal na prova que não houve modo de aprová-lo. A família agradecia mesmo assim pelo empenho.
É algo neste nível de pilantragem que Bolsonaro está fazendo, agora, com o preço dos combustíveis. Ele sabe que não vai haver redução a curto prazo, especialmente de modo a ser sentida pelo consumidor, mas simula estar fazendo de tudo para consegui-lo. Sua gestão é carne do mesmo corpo neoliberal que sustenta a política rentista na empresa, e esse troca-troca na presidência da companhia é apenas cortina de fumaça. Sua esperança é a de que seja ampliada uma percepção que já pode ser identificada em pesquisa, a de que a Petrobrás é a grande culpada pela carestia nos postos: a empresa tem “Muita responsabilidade” para 64% dos entrevistados, percentual que é de 45% para Bolsonaro e dos mesmos 45% para a guerra na Ucrânia. Ele acredita que o povo, enganado e agradecido, vai reconhecer o seu empenho.
Rápido como um coelho
José Mauro Ferreira Coelho. Este nome está sendo grafado no Nascente apenas para reparar uma injustiça. Se isso não ocorresse, ele seria o primeiro presidente da Petrobrás a não ser citado pela publicação desde o início da sua circulação, em 1996. Com permanência de apenas 40 dias no cargo, momento que passou rápido como um coelho, ele foi substituído por outro bolsonarista, Caio Mário Paes de Andrade. Para o bem da empresa e do país, o Sindipetro-NF espera que este também não tenha vida longa na gestão da companhia. Pelo menos não superior aos desafortunados meses que faltam para acabar 2022.
Diesel em falta
A FUP alertou nesta semana que o Brasil corre o risco de desabastecimento de óleo diesel no início do segundo semestre deste ano, em função da prevista escassez de oferta no mercado internacional e do baixo nível dos estoques mundiais. Apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil importa atualmente cerca de 25% de suas necessidades internas.
Marcha em Macaé
Movimentos pela tolerância religiosa, em Macaé, promovem no próximo dia 4 a Caminhada Macaense pela Liberdade Religiosa, com concentração às 9h na Praça Veríssimo de Melo. Haverá marcha pelo Calçadão, expressões dos atabaques, jongo, capoeira, samba de roda e poesia. Há menos de um mês, uma mulher foi vítima de uma tentativa de homicídio provocada por intolerância religiosa, no Lagomar.
É para sempre
Ser petroleiro, ser petroleira, é para sempre. O Sindipetro-NF está reforçando junto à parcela da categoria que está se aposentando que é necessária uma refiliação à entidade após o desligamento da Petrobrás. A filiação não é mantida automaticamente. Além dos contatos individuais, o sindicato vai divulgar a campanha de refiliação nas suas mídias e solicita a todos os trabalhadores e trabalhadoras que fiquem atentos a esta necessidade e que, também, alertem seus colegas de trabalho.
Fertilizantes
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado promoveu, na última terça, 24, audiência pública para debater a dependência do Brasil da importação de fertilizantes. O tema é central para a soberania e a segurança alimentar do país. A categoria petroleira foi representada pela FUP, com participação do diretor Gerson Castellano. A audiência foi proposta pelo senador Jaques Wagner (PT-BA).
Debate essencial
Disponível no youtube, o mais recente webinário do Ineep debateu “O papel do refino no Brasil de combustíveis em constante alta”. Participaram como expositores a pesquisadora Carla Ferreira e o pesquisador Eduardo Costa Pinto, ambos do Ineep. De janeiro de 2019 a 1º de maio, os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha na refinaria tiveram altas que superaram os 120%, impactando a inflação, que saltou 24,95%.
Saúde mental
Realizado nesta semana, na Unicamp, um seminário sobre prevenção de transtornos mentais no trabalho inaugurou uma parceria entre a universidade e o Ministério Público do Trabalho para enfrentar o problema que afeta a milhares de trabalhadores e trabalhadoras. O diretor da área de Saúde da FUP, Raimundo Teles, representou a categoria petroleira. O NF também é muito atento ao tema, especialmente em razão dos casos que levam ao suicídio, e mantém campanhas e debates sobre o assunto.
VOCÊ TEM QUE SABER
Novos relatos reforçam gravidade da queda
Uma decolagem que chegou a algo entre cinco a oito metros de altura, e não a apenas um. Um forte estrondo e muita fumaça na turbina, e não apenas uma pane silenciosa administrável com facilidade. Novos relatos recebidos pelo Sindipetro-NF nesta semana sobre o acidente com uma aeronave, no último sábado, 21, no heliponto da plataforma P-51, confrontam versões iniciais e reforçam a necessidade de investigação rigorosa com participação do sindicato. A entidade protocolou na empresa documento que cobra a instalação de uma comissão de apuração, com um representante sindical.
De acordo com os trabalhadores, a gestão da companhia está amenizando o tratamento de um caso que foi muito mais grave e que, por muita sorte, não vitimou fisicamente passageiros e tripulantes do helicóptero. No momento do acidente, 18 petroleiros e três tripulantes estavam a bordo da aeronave.
“A turbina explodiu. Muita fumaça no momento e muita limalha no helideck. Eles estão afirmando que eles desligaram o segundo motor por segurança. O piloto estava a segundos de fazer a manobra da saída. Mas não foi assim. Não chegou a pegar fogo, mas houve um estrondo de metal e em seguida ouvimos a desaceleração da turbina. Foi sério, mas querem passar pano”, relatou um dos passageiros ao Sindipetro-NF.
O mesmo trabalhador, que teve a identidade mantida em sigilo pelo sindicato, é que conta que a aeronave “subiu de cinco a oito metros de altura, de acordo com o vídeo [do circuito interno da empresa, requerido pela entidade] e quem estava de fora visualizando a operação”. Depois do acidente, os petroleiros foram desembarcados por meio de transbordo de barco para a P-56.
Somente na manhã na última terça, 24, a aeronave foi retirada do heliponto. Desde a manhã do sábado a unidade vinha sendo mantida em produção mesmo com o heliponto interditado pela presença da aeronave com defeito, o que contraria a NR-37 — como denunciou o sindicato.
O acidente
O acidente aconteceu na manhã de sábado, 21, por volta das 7h, com o helicóptero da Omni táxi aéreo, prefixo PR-OHE, modelo S92. A aeronave retornava do voo de troca de turma do horário de 6h45, após a decolagem na P-51 com destino ao Farol de São Tomé o equipamento apresentou problemas técnicos quando levantava voo, perdendo força e se chocando com o helideck. Não houve feridos.
NF se reúne com SMS e cobra correções
Em reunião nesta terça, 24, com a gerência de SMS da Petrobrás, o Sindipetro-NF cobrou da empresa a resolução dos problemas de alimentação, higiene e conforto a bordo das unidades da Bacia de Campos. A entidade foi representada pelo coordenador geral, Tezeu Bezerra, pelo diretor de Saúde, Alexandre Vieira e pela diretora do Setor Privado, Jancileide Morgado.
A pauta da reunião foi baseada nas dezenas de denúncias que o Sindipetro-NF recebeu nas últimas semanas com relação a alimentação de má qualidade, banheiros sujos e problemas na climatização nas plataformas. Os relatos podem ser enviados para o e-mail [email protected].
O sindicato cobrou melhorias no cardápio, a garantia do direito dos trabalhadores de se alimentarem a qualquer hora, além do pedido do índice de medição de contrato.
“A alimentação a qualquer hora é uma garantia que o trabalhador tem por lei, mas que infelizmente não estava sendo cumprida. Também pedimos o índice de medição de contrato. Até porque os contratos são caros, os trabalhadores deveriam ter acesso a serviços de qualidade, mas infelizmente isso também não vem acontecendo”, declarou Tezeu Bezerra.
FUP e FNP farão atos nas suas bases na entrega da pauta
FUP (Federação Única dos Petroleiros (FUP) e FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) decidiram realizar, no próximo dia 2, atos em todas as bases petroleiras do país para marcar a entrega conjunta das pautas das duas organizações sindicais, à Petrobrás, para a Campanha Reivindicatória.
A decisão pela atuação unificada na campanha foi tomada em reunião, na sede da FUP, no Rio, na última segunda, 23. O objetivo é avançar na construção da unidade da categoria petroleira neste ano decisivo para a Petrobrás e o Brasil.
Além disso, haverá outra reunião, também no dia 02, para definição dos próximos passos da negociação pela unidade, incluindo aí as regras para o funcionamento de uma possível mesa única.
Vídeo com os dirigentes
O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, e o secretário geral da FNP, Eduardo Henrique, gravaram um vídeo em que explicam a atuação conjunta das duas federações, disponível nos sites e redes sociais das entidades.
Petrobrás: Indicado para presidir não atende requisito
Do Brasil de Fato
Apontado pelo governo federal como novo presidente da Petrobras, Caio Mário de Andrade não tem a experiência exigida em lei para assumir o comando da maior empresa do país. Isso é o que indicam a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Observatório Social da Petrobras (OSP), ligado à Federação Nacional dos Petroleiros.
Andrade foi indicado nesta segunda-feira (24) para assumir o lugar do químico José Mauro Ferreira Coelho, que perdeu o emprego após apenas 40 dias no cargo. Coelho foi o terceiro presidente da Petrobras durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o qual critica o custo dos combustíveis no ano eleitoral, mas não muda a política de preços da estatal.
Andrade é formado em Comunicação Social e tem pós-graduação e mestrado em Administração. Foi presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e é atual secretário especial Desburocratização, Gestão e Governo Digital, ligado ao Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. Segundo seu currículo, Andrade nunca trabalhou numa empresa do setor de energia ou petróleo – áreas em que atua a Petrobras —, o que contraria a Lei das Estatais, que determina experiência de pelo menos 10 anos no setor.
SAIDEIRA
TRT anula punição da empresa a líder nacional dos petroleiros
Da Imprensa da FUP
O Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (32ª Vara do Trabalho de Salvador/BA) deu ganho de causa para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, no caso da suspensão de 29 dias que o dirigente sindical sofreu na Petrobrás, em março de 2021, por participar do movimento grevista contra a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam).
Em sua sentença, proferida na última sexta-feira, 20, o juiz do trabalho Rodolfo Mário Veiga Pamplona Filho declara ilícita e torna nula a punição de Bacelar, afirmando que existem “normas internacionais que regem as relações trabalhistas, a exemplo do teor da Convenção n. 98 da OIT, que protege os trabalhadores, individualmente, contra todo ato de discriminação em atividades sindicais, primeiramente, quanto à liberdade sindical, ante a necessidade de manutenção do emprego, vedando a prática de qualquer conduta repressiva limitadora do exercício desse direito dos trabalhadores”.
Bacelar recebeu a notificação extrajudicial no dia 30 de março de 2021, assinada pela gerente setorial de Negociação Sindical da Petrobrás, Marta Regina Dal Cere Garcia. Em 1º de abril, o comunicado sobre a aplicação de medida disciplinar de suspensão por 29 dias, assinado por Grey de Campos Zonzini, gerente geral da Rlam, na época. O documento alegava que “o empregado violou, de forma cristalina, os deveres de colaboração, diligência e respeito inerentes ao pacto laboral”, além de colocar que “o reclamante foi punido exclusivamente com suspensão de 29 dias, quando poderia ter sido até mesmo despedido com justa causa”.
A sentença proferida por Pamplona lembra à Petrobrás que “um dirigente sindical só pode ser dispensado por falta grave, mediante a apuração em inquérito judicial, e que as condutas apontadas como motivo para a aplicação da suspensão não configuram atitudes graves a ponto de extrapolar os limites da liberdade de expressão e o exercício regular do direito de greve”.
O juiz também chamou a atenção da companhia, explicando que, além da legislação celetista, a Petrobrás desrespeitou normas internacionais e entendeu que houve desproporcionalidade da punição aplicada pela empresa. A Petrobrás ainda pode recorrer da decisão.
Sobre o caso
No dia 5 de abril de 2021, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, recebeu punição disciplinar da Petrobrás, com suspensão de 29 dias, por meio da Gerência Geral da Refinaria Landulpho Alves (Rlam). A punição foi derrubada no dia 7 de junho, pelo Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (32ª vara de Salvador/BA), que assegurou o direito de o dirigente exercer sua atividade sindical, sem interferências da empresa.
NORMANDO
Espírito de Porco
Normando Rodrigues*
O recém nomeado ministro Adolfo Saquecida nutre valores e crenças da era das cavernas.
Não há, contudo, contradição entre pensar como troglodita e ter aparência moderninha. Ao contrário, Saquecida incorpora o espírito de porco de nosso tempo.
Misoginia
A brutalização da sociedade e da política depende da escravização do universo feminino. E nesse quesito o discípulo de Guedes alçado à pasta das minas destruidoras e energia brasileira internacionalizada, está bem servido.
Saquecida é o protótipo do neoliberal tosco que coloca granada no bolso dos pobres. Já se declarou inimigo de cotas étnicas e sociais e foi capaz de comparar a opção do estado pelos ricos com a escolha do namorado por uma garota.
Além de se mostrar um ignorante da diferença entre “estado” e “indivíduo” (não por acaso Mussolini pregava essa identificação), Saquecida é um machista inseguro da própria masculinidade, que idealiza a “garota” como a que escolhe sempre o dinheiro. E por essa “garota” ele toma todas as mulheres.
Opção
Escapa a Saquecida que o estado brasileiro, além da construção de uma sociedade livre, justa e solidária, tem por missão: “o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (tá na Constituição!).
Por esse motivo o estado não pode optar só pelos ricos ou só pelos saqueadores e genocidas que surrupiam a coisa pública e que já trucidaram 666 mil brasileiros, apenas com a Covid-19.
Saquecida, claro, não defende o favorecimento dos ricos por desconhecer que o estado deve cuidar de uma sociedade complexa, plural e diversa (Atenção! Não são sinônimos!). Ele o faz por ideologia.
Garota abstrata
A lógica de Saquecida é a do pensamento liberal, nucleado no indivíduo abstrato, que não respira e nem depende da sociedade para viver. Esse núcleo é também comum ao tipo de “liberdade” que Guedes e o Lobisomem defendem.
Trata-se da liberdade negativa, limitada a “quanto menos o estado intervir nas relações sociais, mais livre o indivíduo será”. Livre até para escravizar outros indivíduos, desde que isso seja lucrativo.
É essa a liberdade cafajeste que Saquecida usa para dizer:
– “com um bustiezinho, uma calça colada, você fala assim: ‘pô, essa mulher deve ser solteira'”;
ou
– “alemães, italianos e japoneses foram mais ‘maltratados’ no Brasil, nos últimos anos, do que os negros”.
Espelho
O jeito Saquecida de ser continuará a garantir a proteção estatal aos garimpeiros que poluem e destroem a floresta, e que estupram e matam mulheres e crianças indígenas.
Continuará porque pelo menos 31% dos brasileiros se identificam com lobisomens e saquecidas. Apoiam o assassinato político, a submissão da mulher e todas as discriminações convenientes.
Assim legitimada, a escolha pelos ricos justifica, por exemplo, o desvio de R$ 22 bilhões para subsidiar juros do crédito rural, no chamado Plano Safra. Dinheiro público que, sem previsão no orçamento, bancará o envenenamento de solo e água pelos agrotrogloditas.
Curiosamente, em 2014 Saquecida foi retirado à força da galeria do plenário da Câmara dos Deputados por protestar contra algo muito menor do que a doação de 22 bilhões para o agro-envenenador.
Na ocasião, enquanto o governo Dilma tentava aprovar no Congresso uma flexibilização muito menos impactante das contas públicas, Saquecida, usando uma máscara de bandido com “Fora PT”, berrava “vá para Cuba!”
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
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