Nascente 1279

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A SEMANA

Editorial

Um 8 de março entalado na garganta

Neste 8 de março, os movimentos de mulheres estão especialmente engajados. Não que já não o fossem por tantas décadas de lutas, sendo responsáveis por vencer tantas barreiras e combaterem tantos preconceitos e injustiças. Mas, neste ano há um ar de reconstrução que, assim como em vários outros segmentos e temas, move as pautas e lutas feministas.

A razão é clara: as mulheres foram os principais alvos do governo Bolsonaro, justamente porque o machismo é um dos principais (talvez o principal) traços do bolsonarismo. A pavor que sente o homem (principalmente o homem branco) diante de mulheres empoderadas, o medo de perder privilégios advindos de um mando patriarcal histórico, tem sido um motor político que arregimenta a nata do atraso vociferante e violento brasileiro.

Isso continua muito forte no país, não muda de uma hora para a outra. Mas o cenário no novo governo — com a reconstrução de políticas públicas e a volta de um Ministério da Mulher que de fato se paute pelas lutas das mulheres — é completamente diferente (e justamente em razão do engajamento e do voto feminino). Se não fosse por tudo o mais, pela força do dia a dia, pela liderança, pela expressão política, pelo papel histórico, pela vanguarda em causas humanitárias, o Brasil já deveria ser grato às suas mulheres por terem livrado o país do fascismo. Foram essencialmente elas, desde #EleNão, as peças fundamentais dessa resistência e dessa virada.

Nestes tempos de reconstrução e de novos avanços, há muito o que denunciar, mas também muito a celebrar. É por isso que este 8 de março é tão especial e tem esse ar diferente. Um dia para soltar um grito de virada para ecoar por muitas décadas.

P-36: envie vídeo

O Sindipetro-NF vai marcar a passagem do 15 de março, quando a categoria petroleira lembra a tragédia da P-36, de um modo diferente neste ano: homenageando as famílias dos trabalhadores que foram vítimas do acidente, que por mais de duas décadas enfrentam suas dores e lembranças para estarem conosco nos atos anuais e nas demais lutas pela vida. Petroleiros e petroleiras, individualmente ou em grupos por unidades e locais de trabalho, já podem mandar vídeos com palavras de agradecimento para [email protected]. Não deixe de registrar a sua gratidão a estes guerreiros e guerreiras.

Aposentados

Aposentados, aposentadas e pensionistas têm reunião setorial nesta quarta, 8, às 10h, na sede do NF em Campos. A categoria vai debater assuntos relacionados à Petros e à AMS, entre outros. Haverá ônibus que deixará a sede de Macaé às 8h — com inscrição pelo whatsapp (22) 981780079.

GT Química

O NF convocou nesta semana os trabalhadores da GT Química, lotados em sua base sindical (Bacia de Campos, Macaé, Campos, Rio das Ostras e região) para participar de uma Assembleia Geral nesta quinta, 9, às 10h, em ambiente virtual. Em pauta a apreciação e votação da proposta de ACT.

Transferências

O NF realizou, na última segunda, 6, uma reunião setorial para tratar das transferências arbitrárias e aquelas realizadas por conta das desmobilizações na Bacia de Campos. A setorial foi motivada por uma nota publicada no sistema interno da empresa, no final de fevereiro, onde a Petrobrás comunicou a suspensão dos processos de transferência em todo o país. O sindicato está ouvindo a categoria para subsidiar as negociações.

Zé Maria 1

Uma das maiores lideranças sindicais do Brasil, o ex-coordenador da FUP e do NF, José Maria Rangel, solicitou afastamento da Diretoria Colegiada do sindicato. Zé Maria vai cumprir novas missões na Petrobrás, ajudando o governo Lula a trazer a companhia para o rumo da promoção do desenvolvimento com justiça social.

Zé Maria 2

Em e-mail enviado à diretoria, Zé Maria registrou: “Continuarei lutando por uma sociedade mais justa e fraterna, sem qualquer tipo de discriminação, onde as oportunidades sejam para todos(as), mas em uma outra trincheira. Agradeço o carinho e cumplicidade de todos(as) durante os meus longos anos como dirigente sindical e estarei por aqui , com a mesma coragem de sempre”.

Eleições no NF

A Junta Eleitoral responsável pela condução da eleição da diretoria colegiada e do conselho fiscal do Sindipetro-NF, para o mandato 2023-2026, divulgou na última sexta, 3, no site do sindicato, o edital com os prazos para inscrições de chapas e demais datas referentes ao pleito. A inscrição poderá ser feita a partir desta quarta, 8, até o dia 17 de março, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, na sede do Sindipetro-NF em Macaé.

VOCÊ TEM QUE SABER

Percentual de mulheres estagnado no setor

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgada em 2022 com os dados que, mesmo sob muito boicote do então governo federal, o IBGE conseguiu levantar, mostra que a população feminina no Brasil é de 51,1%. O país tem 108,7 milhões de mulheres e 103,9 milhões de homens.

Essa maioria de mulheres se conserva desde o início da série histórica dessa pesquisa, iniciada em 2012. O dado é revelador, portanto, de uma enorme desproporção: o de mulheres empregadas em empresas da indústria do petróleo.

De acordo com levantamento feito pelo Dieese/NF, a pedido da Imprensa do NF, na última década o percentual de mulheres praticamente não se alterou. Em todo o Brasil, elas representavam 16,8% no setor petróleo como um todo em 2011. Dez anos depois, em 2021, eram 16,5%. No Sistema Petrobrás, em 2012 as mulheres representavam 17,1%, em todo o Brasil. Em 2022, esse percentual oscilou levemente para baixo: 17,0%.

No recorte para o Norte Fluminense, nos municípios que compõem a base do Sindipetro-NF, a estagnação é ainda mais evidente: 10,5% em 2011 e 10,7% em 2021 para toda a indústria do petróleo (Petrobrás e demais empresa do setor). Os dados, antecipados pelo Nascente, serão publicados com mais detalhamentos no site da entidade nesta semana.

Proporção inalterada

Para o economista Carlos Takashi, técnico do Dieese que fez o levantamento junto aos dados, “na indústria de petróleo e gás nos municípios base do Sindipetro-NF, entre 2010 e 2021, não houve mudança percentual significativa no emprego de mulheres. Segundo a RAIS, em 2010 elas representavam 10,1% do total de trabalhadores e trabalhadoras dessa indústria e em 2021 passaram a 10,7%. Teve um aumento de 1363 petroleiras no Norte Fluminense de 2010 para 2021, mas ele ocorreu na mesma medida do aumento de petroleiros, de modo que a composição da força de trabalho na indústria de petróleo e gás no NF por sexo se manteve inalterada”.

 

Entrevista / Bárbara

Equidade assusta patriarcado

Vitor Menezes

Responsável por alavancar, junto a tantas outras companheiras de luta, a campanha #PorMaisMulheres-aBordo, a diretora do Sindipetro-NF, Bárbara Bezerra tem atuação destacada nas causas feministas e na defesa das reivindicações das mulheres petroleiras. Nesta entrevista ao Nascente, ela avalia o quadro de participação feminina no movimento sindical, a falta de mulheres na indústria do petróleo e mostra-se otimista em relação ao crescimento desta participação. Confira alguns dos principais trechos da conversa, que será publicada na íntegra no site do NF:

Nascente – O que os movimentos de mulheres petroleiras destacam neste 8 de março como principais reivindicações?
Bárbara – O movimento das petroleiras destaca que precisamos continuar reivindicando um espaço mais democrático, principalmente dentro da indústria do petróleo e gás. Precisamos de mais representatividade, mas precisamos também de mais oportunidades para que as mulheres petroleiras consigam exercer cargos de liderança, consigam ter carreiras, consigam ter espaços, consigam ter proteção à maternidade. Sem mulheres não há democracia.

Nascente – Você é uma das lutadoras pela maior presença de mulheres a bordo. Como está esse quadro? Você tem percebido aumento nessa presença?
Bárbara – A Simone de Beauvoir tem uma frase que diz que quando começam a retirada de direitos sempre começam pelas mulheres. Então, não é diferente o reflexo nas mulheres a bordo. Em plataforma a gente sempre tem um universo bem pequeno de mulheres. Em geral em torno de três por cento. Com o avanço do fascismo no Brasil, a gente foi diminuindo mais ainda. Quando começaram a diminuir os quadros nas plataformas, começa-se a diminuir pelas mulheres.

Nascente – Nas atividades do sindicato neste mês da mulher tem sido destacado o valor da união para promover a liberdade. Você tem percebido este espírito nas mulheres? Estão mais unidas nas lutas?
Bárbara – Sim. Essa frase é muito bonita e importante para a mulher, né? A nossa liberdade está na nossa união. Isso são os elos de afeto que a gente observa para a gente avançar, que se chama dentro do movimento feminista sororidade.

Nascente – Na sua avaliação, por que o feminismo ainda incomoda tanta gente? Quais são as barreiras a superar?
Bárbara – Eu acredito que o feminismo incomoda o patriarcado, incomoda uma cultura capitalista , uma cultura machista, uma cultura onde é necessário manter a mulher nos serviços, no servir, no cuidar, de forma gratuita, para que outros possam enriquecer e manter essa estrutura de capital, de patriarcado tão grande. Eles criam muitos rótulos negativos ao feminismo, falam que a mulher feminista é feia, é descuidada, é abortista. Criam vários termos pejorativos, mas é apenas para desestruturar o movimento. Porque o lema do feminismo é só equidade de direitos.

Nascente – No sindicalismo especificamente, o que é preciso ser feito para aumentar a participação das mulheres? Quais as suas expectativas quanto a isso?
Bárbara – Eu gostaria muito de ter mais mulheres no movimento sindical, mas assim como outros espaços de poder, o movimento é muito violento à presença feminina, é muito hostil, é muito difícil de convencer uma mulher. Mas entendo a dificuldade de entrar para o movimento sindical, entendo como todo espaço de poder é difícil de ser ocupado por uma mulher, mas tenho expectativas muito positivas de que isso há de mudar. Acredito que dias melhores virão.

 

Mês da Mulher: Artes, roda de conversa, cafés e seminário em programação vasta

Uma série de atividades promovidas ou apoiadas pelo Sindipetro-NF está movimentando o mês da mulher no Norte Fluminense. Nesta quarta, 8, em parceria com a Secretaria Municipal da Mulher de Macaé, o teatro do Sindipetro-NF receberá a peça “Maria”, que aborda o tema da violência doméstica de forma poética, a partir de relatos verídicos, estudados em campo e transformados em dança experimental a partir do corpo urbano do Coletivo Flores, companhia de Dança profissional do CIEMH2 Núcleo Cultural. Depois da apresentação haverá uma roda de conversa.

A programação segue com Rita Von Hunty no próximo dia 11 (vagas esgotadas), que vai falar da “Importância do Teatro para construção de Patrimônio e Memória”. No dia 23, também na sede de Macaé, a Mostra Feminina de Cultura Sindipetro-NF. O Departamento de Cultura do NF promove ainda, no dia 30 de março, um seminário com o tema “A nossa liberdade está na união”, para debater o papel da mulher no novo cenário político cultural do Brasil, com a participações de mulheres que são referências na política, comunicação e cultura. Além disso, durante todo o mês acontecem os cafés com as mulheres petroleiras. Já estão agendados os cafés de Imbetiba (8/03), Farol (15/03), Parque de Tubos (22/3) e Cabiúnas (29/3). Outras bases e locais de trabalho ainda estão em fase de agendamento pelo NF.

Programação

01/03
Seminário Interno funcionárias e diretoras.
08/03
• Café da manhã em Imbetiba – 7h.
• Palestra dentro da Petrobras a convite de UNBC/SMS/SEG.
• Apresentação teatral e roda de conversa (parceria com Sec da Mulher) – 18h30.
• NF ao vivo – 19h30.
11/03
Rita Von Hunty – 18h30 — Teatro do NF.
14/03
Café da manhã na SBL.
15/03
• Café da manhã em Farol – 7h.
• Audiência Pública da Pref. de Macaé – 17h.
16/03
Café da tarde com aposentadas e pensionistas (Campos) – 16h.
21/03
Café da tarde com aposentadas e pensionistas (Macaé) – 16h.
22/03
Café da manhã no PT – 07h.
23/03
Mostra Teatral – 18h.
29/03
• Café da manhã em Cabiunas – 7h.
• Participação do dia da Mulher no Sesc Campos – 9h.
30/03
Seminário de Encerramento – 18h – No Teatro da Sede de Macaé.

NORMANDO

Não fui eu

Ana Maria Rosinha*

Nos últimos dias, temos visto em toda grande mídia notícias sobre trabalhadores em condições análogas à escravidão em produtoras de vinho no Rio Grande do Sul e em canaviais na Bahia. Há alguns anos, tivemos também notícias sobre mulheres na mesma situação na indústria da moda. Temos ainda muitas histórias de mulheres exploradas como escravas sexuais ou mulas para o tráfico de drogas.
Nada disso é novo e vem se repetindo ao longo da história do Brasil.

A destruição da proteção aos direitos dos trabalhadores perpetrada pelo golpe “com Supremo, com tudo” é também responsável pelo aprofundamento da terceirização que intermedeia a responsabilidade pelas poucas garantias ao trabalhador. A real contratadora, como as vinícolas gaúchas e as Zaras da vida, esconde-se sob o manto do “não fui eu, foi a empresa prestadora de serviços a culpada pela escravização”. Será mesmo?

Não! A responsabilidade é de ambas, já que incumbe a quem contrata fiscalizar as condições em que o contrato é cumprido.

Por outro lado, a situação da mulher nesse mundo de exploração extrema do trabalho, é ainda pior, já que, além de condições aviltantes, como a faxineira proibida de aquecer a marmita na casa dos patrões, ainda tem dupla ou tripla jornada numa sociedade em que o trabalho doméstico e a criação dos filhos recaem principalmente sobre elas.

Mesmo as mulheres inseridas no mercado de trabalho com salários e situações razoáveis, são submetidas à indignidade de ganhar menos do que os homens porque “engravidam”, como se todos os homens não tivessem nascido de uma mulher.

Nem tudo está perdido, entretanto.

Lufadas de bons ventos vêm do Planalto Central trazendo a tentativa de proibir explicitamente que o trabalho feminino seja remunerado de forma diferente do trabalho masculino. É uma gota de frescor e traz alguma esperança, mas é preciso muito mais.

É preciso combater o ranço escravocrata que torna a empregada doméstica invisível e nega seus direitos trabalhistas; é preciso que a igualdade chegue à divisão do trabalho doméstico e educação dos filhos; e é preciso que tenhamos a decência de tomar para nós, a cada dia, a responsabilidade que é nossa. Não dá para dizer “não fui eu” e desviar o olhar, quando a exploração bate às nossas portas.

Somente superando o “não fui eu”, e radicalizando as consequências jurídicas, morais e sociais da escravização, podemos pensar em pagar nossa dívida para com as grevistas da indústria têxtil de 1912, e reviver seu slogan.
Pão para todos! E rosas, também!

* Mestre em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense e advogada no escritório Normando Rodrigues & Advogados. Interina. [email protected]

 

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