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A SEMANA
Editorial
Governo nosso só se faz com a gente
Política é correlação de forças. E todo mundo sabia que seria assim. A eleição de Lula, em 2022, foi um feito histórico impressionante, tanto em razão da sua trajetória tão única e espetacular, depois de muitos o considerarem morto politicamente, quanto em razão do momento de necessidade imperiosa de derrotar o fascismo no Brasil. Mas a história (e o Congresso Nacional, e o “mercado”, e a mídia liberal…) mostra que isso não basta.
O governo Lula será tanto mais nosso, dos trabalhadores, do povo, daqueles que mais precisam, quanto nós demonstrarmos capacidade de pressão sobre as suas decisões. Não há espaço vazio na política e a nossa única arma é a união, a mobilização, a cobrança constante nas ruas e nas redes.
Por isso a categoria petroleira iniciou, com paralisações nas entradas dos expedientes, protestos e assembleias nas bases da FUP em todo o país, na última sexta-feira, uma fase de extrema pressão pelo alinhamento da gestão da Petrobrás às diretrizes do programa de governo eleito em 2022: suspender e reavaliar os processos de privatizações herdados, estancar novas possíveis vendas, voltar a investir na ampliação da empresa e no fortalecimento do setor e, sobretudo, colocar a companhia de fato a serviço do povo, razão dela ter sido criada também em razão de uma grande pressão popular, na campanha “O Petróleo é Nosso”.
Um governo nosso só se faz com a gente.
Hora da pressão
O Conselho de Administração (CA) da Petrobrás se reúne nesta quarta, 29, para tratar, entre outros assuntos, sobre o ofício enviado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) no dia 1º de março, solicitando a suspensão da venda de ativos que tiveram signing (pré contrato assinado): Polo Norte Capixaba, Polos Golfinho e Camarupim (ES), Polos Pescada e Potiguar (RN) e Lubnor (CE). No último dia 17, a Diretoria Executiva da companhia, que está no final de seu mandato, encaminhou à apreciação do CA proposta de retomada das privatizações em curso.
Petros 1
Na sexta, 24, os membros do Conselho Deliberativo da Petros, apesar de devidamente notificados e de várias advertências e manifestações dos seus participantes e assistidos, aprovou o pagamento dos superbônus para a direção da Petros, no vultoso valor de R$ 9,5 milhões.
Petros 2
Para a FUP e seus sindicatos, a aprovação foi uma afronta aos mais de 70 mil ativos, aposentados e pensionistas dos Planos Petros do Sistema Petrobrás dos repactuados e não repactuados, os PPSP-R e o PPSP-NR, que amargam o pagamento de bilionários equacionamentos.
Eleições no NF
A Junta Eleitoral que coordena o pleito para a Diretoria Colegiada e Conselho Fiscal 2023/26 divulgou nesta semana a homologação da chapa única inscrita e reforçou a divulgação do calendário que prevê o período de eventuais pedidos de impugnação. Todas as informações do processo eleitoral, divulgadas pela Junta, estão disponíveis no site do NF pelo qr code acima.
Químicos
A FUP se reuniu no último dia 20 com o presidente do Conselho Federal de Química (CFQ) e os presidentes dos Conselhos Regionais de Química dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Paraíba e Espírito Santo. A Federação e os sindicatos continuam na busca de resolução para o impasse sobre os conselhos. Saiba mais em is.gd/cftcrq.
Setor privado
O Departamento de Trabalhadores do Setor Petróleo Privado, do Sindipetro-NF, chama a categoria a enviar sugestões e demandas para as negociações de Acordo Coletivo de Trabalho das empresas Champion, Halliburton, SLB, Baker, Wellbore e Expro. As sugestões devem ser enviadas até o dia 30 de abril para o e-mail [email protected].
NF na Alerj
O diretor Benes Júnior representou o Sindipetro-NF na última segunda, 27, em audiência pública convocada pela Comissão de Trabalho, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), para debater a lei do piso salarial regional. “Diversas categorias apontam que a defasagem salarial no estado já afeta mais de dois milhões de trabalhadores e trabalhadoras”, declara a presidente da Comissão, deputada Dani Balbi (PCdoB).
VOCÊ TEM QUE SABER
Todo mundo na luta contra privatizações
Ato público no Heliporto do Farol de São Thomé, na última sexta-feira, marcou a participação do NF em dia nacional de paralisações contra a continuidade das privatizações em áreas da Petrobrás. No mesmo dia, foi aberto o período de assembleias para avaliar indicativos de aprovação de estado de greve (para pressionar contra as privatizações) e de aprovação de manifesto que, além de denunciar as vendas de ativos, cobra avanços na resolução de pautas regionais (publicado na edição passada do Nascente e disponível no site do NF).
A categoria reivindica a resolução de problemas como o caos aéreo, as péssimas condições de habitabilidade, as transferências abusivas de trabalhadores, a incorporação dos trabalhadores do terminal de cabiúnas e o adicional de dutos da Transpetro, além da precariedade dos contratos com terceirizadas.
Mostra de força
As assembleias começaram pelas plataformas, salas de controle e turnos de terra e seguem até o próximo dia 30. Nesta semana, há assembleias presenciais na base de Imboassica (terça, 28, 13h), segmento administrativo da base de Cabiúnas (quarta, 29, 7h) e na base de Imbetiba (quinta, 30, 13h). Também na quinta, 30, às 19h, acontece assembleia online para trabalhadores em home office ou de folga. O sindicato estimula a participação massiva da categoria para mandar o recado claro de combate às privatizações.
As potências de Ive, Duda e Bete em seminário do NF
Para encerrar as comemorações do mês da mulher, o Sindipetro-NF promove nesta quinta, 30, às 18h30, o seminário político “Nossa força está na união”, que trará a voz de três mulheres potentes para uma troca com o público do evento no teatro do sindicato em Macaé. São elas a influenciadora Ive Brussel, a vice presidente da CUT, Duda Queiroga e a diretora do Sindipetro-BA, Elizabete de Jesus Sacramento.
Após a roda de conversa, haverá uma apresentação de samba com o grupo Sou + Elas, composto por Clarissa Silva no vocal; Laura Andrade no surdo; Katia Froes no Tantan; Quezia Barboza no reco-reco e Patrícia Dal no pandeiro.
Inscrições
Para participar do evento é necessária inscrição, por conta da lotação limitada em 180 lugares (pelo link is.gd/sem300323).
Trabalhador tem dedos amputados
Um trabalhador, que não teve o nome divulgado, sofreu amputação das terceiras falanges (distais) dos dedos indicador, médio e anelar da mão direita, em decorrência de um prensamento durante uma operação na última sexta, 24 na embarcação Skandi Vitória, na Bacia de Campos.
O diretor do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, que coordenada o Departamento de Saúde da entidade, embarcou na terça, 27, para a unidade para participar das investigações.
Fechamento repentino
De acordo com as informações iniciais, dois trabalhadores auxiliavam a abertura do hatch (tampa da escotilha), que é acionado por um pistão hidráulico, quando ocorreu o fechamento repentino do equipamento.
O navio PLSV Skandi Vitoria é fretado pela TechnipFMC e presta serviços na indústria do petróleo como apoio nas operações que envolvem tubulações submarinas.
Seminário do NF debate futuro das lutas sobre Petros e AMS
O Sindipetro-NF realiza a partir desta quinta, 30, o I Seminário Petroleiro para Sempre, organizado pelo Departamento de Aposentados. O evento segue até o domingo, 2, para planejar as lutas dos aposentados e pensionistas para os próximos anos.
“Nosso desejo é que discutamos as linhas gerais que vão gerir o Departamento. Para isso nós abrimos inscrições, temos cerca de 80 pessoas inscritas, convidados palestrantes para passar as informações técnicas e de conjuntura política às pessoas para que na tomada de posições, dos aposentados e pensionistas, eles fiquem inteirados não só do que está ocorrendo como do que pode ocorrer no futuro”, explica o coordenador do departamento, Antônio Alves da Silva (Tonhão).
As palestras serão sobre conjuntura política e sobre Petros, Previdência e AMS, além de dinâmicas com os participantes. Vão fazer exposições sindicalistas e assessores técnicos como Carlos Takashi (Dieese), Antônio Bráulio (Anapar), Norton Cardoso (Conselho da Petros), Rafael Crespo (Sindipetro-NF), Karla Trindade (Psicóloga), Luiz Felippe (Anapar/FUP), Marcello Gonçalves (Sindipetro-NF), além do próprio Antônio Alves.
Isolamento
O local do evento, um hotel na região do Alto Caparaó, em Minas Gerais, foi pensado para garantir isolamento aos participantes, assim como o momento adequado, como explica Tonhão: “O momento é propício para isso. Nosso pessoal esperou por um momento propício como esse, uma conjuntura um pouquinho mais favorável. Passamos, nos últimos seis anos, um período de extrema e absurda pressão contra nós, por parte tanto do governo federal quanto dos órgãos governamentais, e da própria Petrobrás. Estamos pagando um PED [Plano de Equacionamento de Déficit] absurdo, que está trazendo muitas dificuldades para todos os aposentados e pensionistas. Estamos com problemas no nosso plano de saúde de auto-gestão. Então, todos esses assuntos serão discutidos de forma calma, tranquila, e para isso precisávamos de um local isolado, para que as pessoas tenham a tranquilidade de buscar o que for melhor para a categoria. Para isso será realizado em um hotel no Alto Caparaó, em Minas Gerais”.
NORMANDO
Purgando decepções
Normando Rodrigues*
“Mantemos prostitutas para o nosso prazer, concubinas para nosso cuidado diário, e esposas para nos dar filhos legítimos e para serem fiéis guardiãs de nossas casas.”
A frase poderia vir de qualquer dos mais de 58 milhões de seres humanos que votaram em Bolsonaro há 5 meses. Mas tem 23 séculos.
O texto é parte da acusação do ateniense Apolodoro a um certo Estéfano e sua companheira Neera, na qual são listados os papéis admissíveis às mulheres, conforme a classe (escrava ou livre), a posição de classe (sacerdotisa, agricultora, dona de casa), a idade (virgem, mãe, idosa) e a relação funcional com os homens (esposa, viúva, prostituta).
A visão de mundo é de rígida hierarquia, a partir da dominação de homens sobre mulheres, de cidadãos livres sobre escravos, e de ricos sobre pobres. É a sociedade do “sabe com quem tá falando?” e do “se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”, da juíza Gabriela Hardt.
A dominação hierárquica é o oposto da igualdade. Só multidões já convencidas de serem inferiores aos dominadores, podem ser dominadas. É esse convencimento que forma as damares machistas, os héliosnegões racistas, e os holidays neoliberais, pilares da desigualdade.
Assim naturalizada a desigualdade, o mesmo acontece com a prostituição e com a escravização, todas tão harmonizadas (vinhos…) ao capitalismo do século XXI quanto o foram antes ao imperialismo do século XIX, ou à Atenas do século III a.C.
Nós, marxistas, chegamos ao “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis, para entender que as opressões se inter-relacionam, e que não se pode estabelecer prioridade de combate a uma, apenas. O fascismo, entretanto, sempre soube disso, como evidencia a cruzada antifeminista e antitrans, dos seguidores de Bolsonaro e Donald Trump.
Que os fascistas o façam, é previsível. Insólito, e repugnante, é ver pretensos militantes de esquerda, que deveriam ser os pedreiros de um futuro igualitarista, contribuindo decisivamente para a coisificação da mulher enquanto usuários da prostituição, como se fossem incapazes de relacionar a exploração de corpos femininos com o capitalismo e a escravização.
Reconhecer que a mulher é protagonista da própria história, passa por impedir que meninas e mulheres sejam mercantilizadas e pela desnaturalização da prostituição.
O capitalismo hierárquico, escravizador e cafetão, não precisa da ajuda de quem se diz socialista em público e age como fascista na cama.
Não precisa porque a dominação já conta com as armações de senadores declarados suspeitos, e de magistradas “Ctrl+C Ctrl+V”. Gente que, remunerada por dinheiro público, se dedica profissionalmente a perpetuar a escravização.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
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