Nascente 1282

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A SEMANA

Editorial

Governo nosso só se faz com a gente

Política é correlação de forças. E todo mundo sabia que seria assim. A eleição de Lula, em 2022, foi um feito histórico impressionante, tanto em razão da sua trajetória tão única e espetacular, depois de muitos o considerarem morto politicamente, quanto em razão do momento de necessidade imperiosa de derrotar o fascismo no Brasil. Mas a história (e o Congresso Nacional, e o “mercado”, e a mídia liberal…) mostra que isso não basta.

O governo Lula será tanto mais nosso, dos trabalhadores, do povo, daqueles que mais precisam, quanto nós demonstrarmos capacidade de pressão sobre as suas decisões. Não há espaço vazio na política e a nossa única arma é a união, a mobilização, a cobrança constante nas ruas e nas redes.

Por isso a categoria petroleira iniciou, com paralisações nas entradas dos expedientes, protestos e assembleias nas bases da FUP em todo o país, na última sexta-feira, uma fase de extrema pressão pelo alinhamento da gestão da Petrobrás às diretrizes do programa de governo eleito em 2022: suspender e reavaliar os processos de privatizações herdados, estancar novas possíveis vendas, voltar a investir na ampliação da empresa e no fortalecimento do setor e, sobretudo, colocar a companhia de fato a serviço do povo, razão dela ter sido criada também em razão de uma grande pressão popular, na campanha “O Petróleo é Nosso”.

Um governo nosso só se faz com a gente.

 

Hora da pressão

O Conselho de Administração (CA) da Petrobrás se reúne nesta quarta, 29, para tratar, entre outros assuntos, sobre o ofício enviado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) no dia 1º de março, solicitando a suspensão da venda de ativos que tiveram signing (pré contrato assinado): Polo Norte Capixaba, Polos Golfinho e Camarupim (ES), Polos Pescada e Potiguar (RN) e Lubnor (CE). No último dia 17, a Diretoria Executiva da companhia, que está no final de seu mandato, encaminhou à apreciação do CA proposta de retomada das privatizações em curso.

Petros 1

Na sexta, 24, os membros do Conselho Deliberativo da Petros, apesar de devidamente notificados e de várias advertências e manifestações dos seus participantes e assistidos, aprovou o pagamento dos superbônus para a direção da Petros, no vultoso valor de R$ 9,5 milhões.

Petros 2

Para a FUP e seus sindicatos, a aprovação foi uma afronta aos mais de 70 mil ativos, aposentados e pensionistas dos Planos Petros do Sistema Petrobrás dos repactuados e não repactuados, os PPSP-R e o PPSP-NR, que amargam o pagamento de bilionários equacionamentos.

Eleições no NF

A Junta Eleitoral que coordena o pleito para a Diretoria Colegiada e Conselho Fiscal 2023/26 divulgou nesta semana a homologação da chapa única inscrita e reforçou a divulgação do calendário que prevê o período de eventuais pedidos de impugnação. Todas as informações do processo eleitoral, divulgadas pela Junta, estão disponíveis no site do NF pelo qr code acima.

Químicos

A FUP se reuniu no último dia 20 com o presidente do Conselho Federal de Química (CFQ) e os presidentes dos Conselhos Regionais de Química dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Paraíba e Espírito Santo. A Federação e os sindicatos continuam na busca de resolução para o impasse sobre os conselhos. Saiba mais em is.gd/cftcrq.

Setor privado

O Departamento de Trabalhadores do Setor Petróleo Privado, do Sindipetro-NF, chama a categoria a enviar sugestões e demandas para as negociações de Acordo Coletivo de Trabalho das empresas Champion, Halliburton, SLB, Baker, Wellbore e Expro. As sugestões devem ser enviadas até o dia 30 de abril para o e-mail [email protected].

NF na Alerj

O diretor Benes Júnior representou o Sindipetro-NF na última segunda, 27, em audiência pública convocada pela Comissão de Trabalho, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), para debater a lei do piso salarial regional. “Diversas categorias apontam que a defasagem salarial no estado já afeta mais de dois milhões de trabalhadores e trabalhadoras”, declara a presidente da Comissão, deputada Dani Balbi (PCdoB).

VOCÊ TEM QUE SABER

NA LUTA Diretores do NF, militantes da base petroleira e de movimentos sociais posam em frente ao Heliporto do Farol, em intervalo entre falas no saguão em dia de protesto

Todo mundo na luta contra privatizações

Ato público no Heliporto do Farol de São Thomé, na última sexta-feira, marcou a participação do NF em dia nacional de paralisações contra a continuidade das privatizações em áreas da Petrobrás. No mesmo dia, foi aberto o período de assembleias para avaliar indicativos de aprovação de estado de greve (para pressionar contra as privatizações) e de aprovação de manifesto que, além de denunciar as vendas de ativos, cobra avanços na resolução de pautas regionais (publicado na edição passada do Nascente e disponível no site do NF).

A categoria reivindica a resolução de problemas como o caos aéreo, as péssimas condições de habitabilidade, as transferências abusivas de trabalhadores, a incorporação dos trabalhadores do terminal de cabiúnas e o adicional de dutos da Transpetro, além da precariedade dos contratos com terceirizadas.

Mostra de força

As assembleias começaram pelas plataformas, salas de controle e turnos de terra e seguem até o próximo dia 30. Nesta semana, há assembleias presenciais na base de Imboassica (terça, 28, 13h), segmento administrativo da base de Cabiúnas (quarta, 29, 7h) e na base de Imbetiba (quinta, 30, 13h). Também na quinta, 30, às 19h, acontece assembleia online para trabalhadores em home office ou de folga. O sindicato estimula a participação massiva da categoria para mandar o recado claro de combate às privatizações.

PROGRAMAÇÃO INTENSA No último dia 23, Teatro do NF lotado em Mostra

As potências de Ive, Duda e Bete em seminário do NF

Para encerrar as comemorações do mês da mulher, o Sindipetro-NF promove nesta quinta, 30, às 18h30, o seminário político “Nossa força está na união”, que trará a voz de três mulheres potentes para uma troca com o público do evento no teatro do sindicato em Macaé. São elas a influenciadora Ive Brussel, a vice presidente da CUT, Duda Queiroga e a diretora do Sindipetro-BA, Elizabete de Jesus Sacramento.
Após a roda de conversa, haverá uma apresentação de samba com o grupo Sou + Elas, composto por Clarissa Silva no vocal; Laura Andrade no surdo; Katia Froes no Tantan; Quezia Barboza no reco-reco e Patrícia Dal no pandeiro.
Inscrições
Para participar do evento é necessária inscrição, por conta da lotação limitada em 180 lugares (pelo link is.gd/sem300323).

 

Trabalhador tem dedos amputados

Um trabalhador, que não teve o nome divulgado, sofreu amputação das terceiras falanges (distais) dos dedos indicador, médio e anelar da mão direita, em decorrência de um prensamento durante uma operação na última sexta, 24 na embarcação Skandi Vitória, na Bacia de Campos.

O diretor do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, que coordenada o Departamento de Saúde da entidade, embarcou na terça, 27, para a unidade para participar das investigações.

Fechamento repentino

De acordo com as informações iniciais, dois trabalhadores auxiliavam a abertura do hatch (tampa da escotilha), que é acionado por um pistão hidráulico, quando ocorreu o fechamento repentino do equipamento.

O navio PLSV Skandi Vitoria é fretado pela TechnipFMC e presta serviços na indústria do petróleo como apoio nas operações que envolvem tubulações submarinas.

Seminário do NF debate futuro das lutas sobre Petros e AMS

TONHÃO Planejamento das ações

O Sindipetro-NF realiza a partir desta quinta, 30, o I Seminário Petroleiro para Sempre, organizado pelo Departamento de Aposentados. O evento segue até o domingo, 2, para planejar as lutas dos aposentados e pensionistas para os próximos anos.

“Nosso desejo é que discutamos as linhas gerais que vão gerir o Departamento. Para isso nós abrimos inscrições, temos cerca de 80 pessoas inscritas, convidados palestrantes para passar as informações técnicas e de conjuntura política às pessoas para que na tomada de posições, dos aposentados e pensionistas, eles fiquem inteirados não só do que está ocorrendo como do que pode ocorrer no futuro”, explica o coordenador do departamento, Antônio Alves da Silva (Tonhão).

As palestras serão sobre conjuntura política e sobre Petros, Previdência e AMS, além de dinâmicas com os participantes. Vão fazer exposições sindicalistas e assessores técnicos como Carlos Takashi (Dieese), Antônio Bráulio (Anapar), Norton Cardoso (Conselho da Petros), Rafael Crespo (Sindipetro-NF), Karla Trindade (Psicóloga), Luiz Felippe (Anapar/FUP), Marcello Gonçalves (Sindipetro-NF), além do próprio Antônio Alves.

Isolamento

O local do evento, um hotel na região do Alto Caparaó, em Minas Gerais, foi pensado para garantir isolamento aos participantes, assim como o momento adequado, como explica Tonhão: “O momento é propício para isso. Nosso pessoal esperou por um momento propício como esse, uma conjuntura um pouquinho mais favorável. Passamos, nos últimos seis anos, um período de extrema e absurda pressão contra nós, por parte tanto do governo federal quanto dos órgãos governamentais, e da própria Petrobrás. Estamos pagando um PED [Plano de Equacionamento de Déficit] absurdo, que está trazendo muitas dificuldades para todos os aposentados e pensionistas. Estamos com problemas no nosso plano de saúde de auto-gestão. Então, todos esses assuntos serão discutidos de forma calma, tranquila, e para isso precisávamos de um local isolado, para que as pessoas tenham a tranquilidade de buscar o que for melhor para a categoria. Para isso será realizado em um hotel no Alto Caparaó, em Minas Gerais”.

 

NORMANDO

Purgando decepções

Normando Rodrigues*

“Mantemos prostitutas para o nosso prazer, concubinas para nosso cuidado diário, e esposas para nos dar filhos legítimos e para serem fiéis guardiãs de nossas casas.”
A frase poderia vir de qualquer dos mais de 58 milhões de seres humanos que votaram em Bolsonaro há 5 meses. Mas tem 23 séculos.

O texto é parte da acusação do ateniense Apolodoro a um certo Estéfano e sua companheira Neera, na qual são listados os papéis admissíveis às mulheres, conforme a classe (escrava ou livre), a posição de classe (sacerdotisa, agricultora, dona de casa), a idade (virgem, mãe, idosa) e a relação funcional com os homens (esposa, viúva, prostituta).

A visão de mundo é de rígida hierarquia, a partir da dominação de homens sobre mulheres, de cidadãos livres sobre escravos, e de ricos sobre pobres. É a sociedade do “sabe com quem tá falando?” e do “se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”, da juíza Gabriela Hardt.

A dominação hierárquica é o oposto da igualdade. Só multidões já convencidas de serem inferiores aos dominadores, podem ser dominadas. É esse convencimento que forma as damares machistas, os héliosnegões racistas, e os holidays neoliberais, pilares da desigualdade.

Assim naturalizada a desigualdade, o mesmo acontece com a prostituição e com a escravização, todas tão harmonizadas (vinhos…) ao capitalismo do século XXI quanto o foram antes ao imperialismo do século XIX, ou à Atenas do século III a.C.

Nós, marxistas, chegamos ao “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis, para entender que as opressões se inter-relacionam, e que não se pode estabelecer prioridade de combate a uma, apenas. O fascismo, entretanto, sempre soube disso, como evidencia a cruzada antifeminista e antitrans, dos seguidores de Bolsonaro e Donald Trump.

Que os fascistas o façam, é previsível. Insólito, e repugnante, é ver pretensos militantes de esquerda, que deveriam ser os pedreiros de um futuro igualitarista, contribuindo decisivamente para a coisificação da mulher enquanto usuários da prostituição, como se fossem incapazes de relacionar a exploração de corpos femininos com o capitalismo e a escravização.

Reconhecer que a mulher é protagonista da própria história, passa por impedir que meninas e mulheres sejam mercantilizadas e pela desnaturalização da prostituição.

O capitalismo hierárquico, escravizador e cafetão, não precisa da ajuda de quem se diz socialista em público e age como fascista na cama.

Não precisa porque a dominação já conta com as armações de senadores declarados suspeitos, e de magistradas “Ctrl+C Ctrl+V”. Gente que, remunerada por dinheiro público, se dedica profissionalmente a perpetuar a escravização.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]

 

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