Nascente 1356

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A SEMANA

Editorial

Se a farinha é pouca, hora de repartir o pirão

A maior prova de solidariedade, amadurecimento humano e consciência de classe é, numa situação de privação, ao contrário de entregar-se à competição preconizada pelo dito popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”, entregar-se à compreensão empática sobre a condição do outro e repartir igualmente o pouco pirão feito com a escassa farinha.

Por isso não poderia ser diferente a reação da categoria petroleira à greve dos trabalhadores e trabalhadoras da hotelaria. Como ilustra manifesto da plataforma P-35, reproduzido nesta edição como exemplo de consciência de classe, os petroleiros e as petroleiras apoiam o protesto e cobram o atendimento das reivindicações.

A paralisação, em forma de greve parcial — ao menos por enquanto —, começou a ter os seus efeitos percebidos já no café da manhã da última segunda, 09, com a restrição de itens disponíveis, e com a redução da frequência na limpeza das acomodações. E é assim mesmo que tem que ser, pois uma greve só causa efeito se causar redução ou interrupção no serviço, para que a empresa seja pressionada a restabelecer a normalidade por meio da negociação. É um direito básico dos trabalhadores.

Solidário ao Sinthop, o sindicato dos trabalhadores da hotelaria, o NF segue acompanhando o movimento e representando todo o apoio da categoria petroleira.

Reintegração na Halliburton

Em decisão do dia 3 de setembro, a 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região determinou a reintegração no emprego de trabalhador grevista da Halliburton, reconhecendo ainda o assédio moral a que o petroleiro foi submetido e condenando a prática de atos antissindicais por ocasião da Greve de 2017, na divisão operacional WP (Wireline Perforating) da empresa. A Halliburton já fora condenada em processo idêntico, relativo à mesma greve, em caso recentemente julgado pela 10ª Turma do mesmo TRT.

KN Açu dia 12

Os trabalhadores da KN Açu têm Assembleia Geral virtual convocada pelo Sindipetro-NF nesta quinta, 12, às 10h, para deliberar sobre o ACT 2024/2026. A votação terá duração de 24 horas pela plataforma Confluir. Caso rejeitem essa proposta, os trabalhadores decidirão sobre a aprovação do estado de assembleia permanente.

Wellbore dia 13

Trabalhadores da Wellbore têm Assembleia Geral nesta sexta, 13, às 8h, sobre o ACT 2024/2026. A assembleia será realizada de forma virtual. A votação terá duração de 24 horas e será realizada pela plataforma Confluir. Caso a proposta de acordo não seja aprovada, será deliberada a possibilidade de estado de assembleia permanente.

Voto livre

As centrais sindicais, entre elas a CUT, lançaram uma campanha para denunciar o assédio eleitoral nas eleições municipais de 2024. Com o lema “O voto é seu e tem sua identidade”, as peças de mídia alertam o trabalhador sobre o assédio para que a disputa eleitoral seja justa e embasada na liberdade absoluta de escolha. Além da publicidade, a campanha mantém canais de denúncia, via site e aplicativo, que garantem o sigilo sobre a identidade do denunciante.

Preços caem

O Dieese divulgou nesta semana que os preços da cesta básica caíram em todas as 17 capitais pesquisadas entre julho e agosto de 2024. As quedas mais expressivas foram registradas em Fortaleza (-6,94%), João Pessoa (-4,10%), Goiânia (-4,04%), Porto Alegre (-3,78%), Florianópolis e Natal (-3,38%), e Salvador (-3,28%). São Paulo teve o maior valor: R$ 786,35. No Rio, em terceiro, está em R$ 745,64.

Valor do mínimo

Mas ainda está muito longe de os trabalhadores que recebem o salário mínimo (atualmente em R$ 1.412,00) conseguirem suprir todas as suas necessidades fundamentais. Com base na cesta básica mais cara, a de São Paulo, o Dieese estimou que o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 6.606,13 em agosto de 2024. Em julho, o valor necessário era de R$ 6.802,88.

Desconto do APT

A direção da FUP voltou a cobrar dos gestores da Petrobrás a suspensão dos descontos arbitrários que a empresa vem efetuando desde junho nos contracheques dos trabalhadores e das trabalhadoras que receberam o Adicional Provisório de Transferência (APT). A empresa afirma que ainda está buscando uma solução para que esse impasse seja resolvido o quanto antes — para um problema que, diga-se, foi criado pela própria empresa na antiga gestão.

 

VOCÊ TEM QUE SABER

Cardápio feito de solidariedade de classe

Trabalhadores e trabalhadoras da área da hotelaria nas plataformas de petróleo da Bacia de Campos iniciaram, à zero hora da última segunda-feira, um movimento de greve pelo atendimento de reivindicações trabalhistas às empresas que prestam serviço à Petrobrás no segmento. A greve começou com um caráter parcial, com a redução ou substituição de itens do cardápio das refeições e redução da rotina de limpeza das acomodações.

A categoria é representada pelo Sinthop (Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria Embarcados Nas Plataformas de Petróleo) e o anúncio sobre o da greve foi feito pelo presidente da entidade, Sildo Moreira, na semana passada. O sindicato negocia há vários meses melhorias nas condições de trabalho da categoria, sem avanços.

Entre as reivindicações dos trabalhadores estão aumento salarial, vale alimentação, mais segurança no trabalho, pagamento de anuênio, aumento no número de trabalhadores (POB), pagamento de adicionais, respeito aos atestados médicos, melhorias nos equipamentos de trabalho, fim do assédio moral e cumprimento das convenções coletivas.

Solidariedade do Sindipetro-NF

O Sindipetro-NF é solidário à luta dos trabalhadores da hotelaria, que cuidam da alimentação e da higiene das instalações. Desde o início do ano a categoria petroleira tem feito denúncias sobre a queda da qualidade nos serviços, quando acabou-se por revelar a realidade enfrentada pelos empregados das empresas que prestam o serviço à Petrobrás, de salários baixos, direitos reduzidos e casos de assédio.

O NF começou, então, a apoiar a organização dos trabalhadores, em parceria com o Sinthop, realizando diversas reuniões em suas sedes e apoiando nos processos negociais com as empresas, assim como na pressão para que a Petrobrás revisse os contratos.

A entidade reforça, junto à categoria petroleira, a necessária solidariedade de classe neste momento, com a compreensão acerca dos transtornos causados pelo movimento. Como trabalhadores, também sabemos o quanto é justa a reivindicação e o quanto uma greve só produz efeitos com a provocação de um impacto sobre os serviços. Exemplo dessa solidariedade é o manifesto de apoio à greve feito pelos petroleiros e petroleiras da plataforma P-35 (acima).

O Sindipetro-NF segue acompanhando o movimento e solicita relatos da categoria petroleira para [email protected] ou por meio dos contatos de Whatsapp dos diretores (disponíveis no site da entidade).

Manifesto de Apoio à Greve da Hotelaria nas Plataformas de Petróleo da Bacia de Campos

Nós, trabalhadores da Petrobras reunidos em assembleia na P-35, expressamos nosso total apoio e solidariedade à greve dos trabalhadores da hotelaria nas plataformas da Bacia de Campos. Reconhecemos a importância crucial desses profissionais, responsáveis pela alimentação, higiene e bem-estar a bordo, e reafirmamos nosso compromisso com a luta justa por melhores condições de trabalho.

As reivindicações apresentadas pelo SINTHOP são legítimas e urgentes. A luta por aumento salarial, segurança no trabalho, respeito aos direitos e a dignidade no ambiente de trabalho é, na verdade, a luta de todos nós, que também enfrentamos desafios e pressões cotidianas. A melhoria nas condições da hotelaria é uma melhoria nas condições de todos os trabalhadores embarcados.

P-35, 9 de setembro de 2024

 

Pela unificação dos PCCs das subsidiárias

A Comissão de Negociação do novo Plano de Cargos e Carreiras se reuniu, no último dia 6 de setembro, para avaliar os planos de cargos existentes nas empresas pertencentes ao sistema Petrobrás. Termobahia, PBio, TGB e Transpetro apresentaram dados como a tipologia de cargos, índices de progressão salarial e processos decisórios que gerenciam os níveis hierárquicos dessas empresas. As informações deixaram nítidas as diferenças existentes entre os planos de cargos aplicados em cada subsidiária.

A diretora da FUP, Cibele Vieira, afirmou que a FUP, enquanto representante da categoria petroleira e referendada pela Plenafup, defende um único plano de cargos para todo o sistema Petrobrás e inclusive, com uma única tabela salarial. Cibele destacou ainda dois pontos importantes a se considerar nessa negociação. O primeiro com relação à PBio, sobre a reparação do ano em que seus empregados ficaram com um reajuste menor do que os demais do Sistema. E o segundo, sobre a necessidade de trazer representantes do RH da ANSA (FAFEN PR) para a mesa de negociação de plano de cargos.

Critérios para cedidos

Sérgio Borges, diretor da FUP e Sindipetro NF, cobrou informações detalhadas sobre critérios referentes à progressão na carreira para os empregados cedidos, reforçando a importância de a empresa garantir que não haja prejuízos a esses empregados.

 

SAIDEIRA

CUT lança Plataforma Eleitoral e Carta Compromisso para pleito

Da Imprensa da CUT

A CUT lançou esta semana sua Plataforma Eleitoral com 13 pontos que a entidade aponta serem importantes para que, na hora do voto, o trabalhador e a trabalhadora escolham seus candidatos a prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras, nas eleições deste ano.

Além da Plataforma, a CUT lançou uma Carta Compromisso, que deverá ser assinada pelos candidatos e candidatas nessas eleições para que se comprometam com a defesa da classe trabalhadora.

“Já é uma tradição a CUT lançar uma plataforma, a cada eleição municipal ou geral, contendo as principais demandas da classe trabalhadora em relação a temas que são objeto de políticas públicas”, conta Sergio Nobre, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores.

O presidente da Central, Sergio Nobre chama a atenção para a cidade que queremos e como dirigentes sindicais devem se “apropriar” da Plataforma Eleitoral da CUT como um documento de orientação à ação dos militantes e apoiadores a candidatos e candidatas comprometidos com o projeto democrático popular que estamos construindo no Brasil atual.

“Neste ano, traçamos um desenho de como deve ser a cidade onde queremos morar como trabalhadores e cidadãos, aqueles que constroem a sociedade com o seu trabalho e nela reivindicam espaço para que possam viver com dignidade, respeito e como sujeitos de direitos. Direitos aos serviços públicos de qualidade em educação, saúde, segurança, mobilidade, emprego, liberdade de organização sindical, particularmente dos servidores públicos, qualificação profissional, esporte, cultura e lazer, entre outros temas”, disse, em entrevista ao Portal da CUT.

 

ALESSANDRO DE VOLTA! O presidente da CUT-RJ, Sandro Cezar, o Sandrão, o coordenador geral do Sindipetro-NF, Sérgio Borges, entre vários outros sindicalistas, gravaram vídeo nesta terça, 10, durante a chegada do diretor licenciado do Sindipetro-NF, Alessandro Trindade, ao trabalho na base de Imbetiba, em Macaé. O contrato do petroleiro foi restabelecido após intensa luta do movimento sindical.

 

 

 

NORMANDO

Machismo, racismo e classe

Normando Rodrigues*

Em agosto de 2021, o Império Americano saiu de Cabul com o rabo entre as pernas, varrido pelos mesmos fundamentalistas de Deus que havia apoiado contra a União Soviética, 40 anos antes.

O acontecimento alegrou os corações críticos dos que celebramos a luta anti-imperialista. Porém, em certos círculos a alegria se tornou delírio, e os integrantes de determinada seita trotsquista tupiniquim ousadamente declararam que as mulheres afegãs estariam em melhores condições sob o governo do Talibã do que em uma estrutura política fantoche dos EUA.

Outras seitas trotsquistas apoiam o fascismo ucraniano, o que pode ser hipótese de um psicodelismo ideológico. Contudo, o fato que interessa é outro.

Ocorre que a doença de quem se diz marxista-leninista-trotsquista, e ainda assim é pró-Talibã, é o reflexo oposto de outra moléstia, uma chaga que se constitui no problema maior da esquerda, no Brasil e no dito Ocidente em geral. Uma alucinação diametralmente contrária e todavia tão irreal e nociva quanto. Trata-se da lógica identitarista, segmentada e destituída de força transformadora, capturada e muito bem assimilada pelo mercado.

Ainda no exemplo do montanhoso país asiático, agora um emirado islâmico, o desvario identitarista afirmaria que a situação das mulheres justifica a manutenção opressora do imperialismo, caindo na rasteira arapuca da cega computação binária.

E a computação binária identitarista o que explica verem no indiscutivelmente grave episódio da importunação sexual de um ministro de estado negro, a uma ministra de estado negra, o fim do governo, da esquerda, das lutas sociais. O viralizado “retrocesso de anos”.

Um bom aproveitamento do episódio, e do “fim”, seria “dar fim” às explicações dissociadas do todo, como a do “racismo estrutural”, tão determinista quanto o mais raso e ortodoxo materialismo histórico da URSS. Aliás, se a esquerda se dispusesse a aprender com a história do feminismo na URSS, talvez descobrisse que o machismo, tal qual o racismo, é sim estrutural, mas não só. E talvez concluísse que não basta mudar as estruturas, ou empoderar negros e mulheres, para extinguir o racismo e o machismo.

Falta aos grupelhos e movimentos que atuam de antolhos nas causas feminista, antirracista, LGBT… e de quaisquer outros segmentos, uma lição pregada incansavelmente de Marx a Lukács, de Angela Davis a Susan Neiman. A lição segundo a qual a desarticulação entre bandeiras de grupos e uma pauta universal, torna os objetivos dos grupos particularistas. Não há emancipação do negro, da mulher, das pessoas trans, sem emancipação dos trabalhadores e vice-e-versa.
Objetivos particularistas não mudam o mundo.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]

 

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