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A SEMANA
Editorial
Como assim uma greve no governo Lula?
A categoria petroleira está em período de assembleias em todo o país para avaliar o indicativo de greve unificada, chamada pelas duas federações que representam sindicatos petroleiros no Brasil. O movimento é uma continuidade da greve de advertência realizada em 26 de março passado. Nas bases, muitos companheiros e companheiras se perguntam: precisávamos mesmo estar passando por isso em pleno governo do presidente Lula, um ex-sindicalista metalúrgico, a maior liderança popular produzida no seio do sindicalismo brasileiro? Como pode isso?
É possível que muitos não se recordem, mas não foi muito diferente nos dois primeiros governos Lula, entre 2003 e 2010. Neste período, a categoria petroleira teve que travar muitas lutas para manter a Petrobrás enquanto empresa pública, afastando de fez a onda privatizante de FHC, e também para avançar em conquistas no Acordo Coletivo de Trabalho.
Em 2009, a Petrobrás e diversas empresas privadas do setor iniciaram uma série de cortes de direitos dos trabalhadores, alegando que enfrentavam dificuldades em decorrência da crise internacional de 2008. A resposta petroleira foi uma greve unificada nacional de cinco dias, entre 23 e 27 de março. A companhia reagiu com extrema violência, mas a categoria resistiu e conseguiu arrancar da empresa uma proposta com avanços em relação à segurança, às horas extras de turno e ao regramento da PLR. E este é apenas um exemplo. Outros movimentos grevistas aconteceram sob governos progressistas no Brasil, como as greves petroleiras de 2013 e 2015 sob o governo Dilma Rousseff.
Tudo isso não impediu que a categoria entendesse que, sob governos de esquerda, ainda que com dificuldades, são maiores as chances de diálogo e avanço nas reivindicações. Mas isso não significa que estas chances são plenas, desprovidas de obstáculos — como se por um comando mágico todos os problemas fossem resolvidos.
A luta é de Classe. Todo governo, mesmo um governo como o de Lula, está sob disputa. E o movimento sindical petroleiro está onde sempre esteve: ao lado da classe trabalhadora, dos petroleiros e das petroleiras. A categoria pode se orgulhar de ter sido decisiva para que esteja se dando esse momento de reconstrução do país, tendo ajudado a afastar o obscurantismo destrutivo do governo fascista anterior, mas isso não tira a sua independência sindical, a sua autonomia para lutar, a sua altivez.
Somos e seremos sempre, independentemente de governos, uma categoria de luta, que se respeita e se faz respeitar.
Pauta extensa em Cabiúnas
A diretoria do Sindipetro-NF está de olho no crescimento de pendências não resolvidas pela gestão da Petrobrás em Cabiúnas. Os petroleiros e petroleiras da unidade acumulam problemas que se arrastam há muito tempo, alguns há anos, e querem avanço e resolutividade. Um dos mais crônicos é o da alimentação, mas também há dificuldades com os locais de batidas de ponto (que a empresa promete solucionar), entre muitos outros. O sindicato está presente na base com frequência, cobra a companhia e não descarta, para breve, chamar mobilizações.
Volta pra casa
A FUP solicitou aos seus sindicatos, entre eles o NF, que realizem levantamentos para identificar petroleiros e petroleiras dos estados da Bahia e do Sergipe que têm interesse em voltar para os seus estados. O objetivo é recompor os efetivos das Fafens BA e SE, que estão sendo reabertas. Informe seu interesse em is.gd/fafenbase.
Setorial na Green
Petroleiros e petroleiras da Green World têm reunião setorial com a diretoria do Sindipetro-NF nesta quinta, 22, às 10h. A categoria discute temas relacionados ao Acordo Coletivo de Trabalho. O sindicato estimula a participação dos trabalhadores e das trabalhadoras. A reunião será online, pela plataforma teams.
Corte aqui
Artigo do pesquisador Mahatma dos Santos, na Carta Capital desta semana, mostra que, embora o resultado da Petrobrás no primeiro trimestre de 2025 (1T25) reverta o prejuízo do trimestre anterior e equivalha a 95,9% de todo o lucro líquido acumulado em 2024, a companhia anunciou um ciclo de “austeridade” e “corte de gastos”. De fora, apenas os dividendos dos acionistas.
Fartura acolá
No próximo dia 30, a Petrobrás fará o pagamento referente a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), com uma redução de aproximadamente 30%. A justificativa da estatal para a redução é um prejuízo contábil registrado nos últimos três meses de 2024. Mas os dividendos aos acionistas ficaram 207% acima do lucro, o maior pagamento proporcional ao lucro líquido da história da empresa.
Luto
O Sindipetro-NF comunicou com pesar, no último sábado, a morte do petroleiro aposentado Edelvan de Souza. Seu corpo foi velado e sepultado no Cemitério Campo da Paz, em Campos dos Goytacazes. O companheiro trabalhou a maior parte do tempo na plataforma de Pampo, na Bacia de Campos, onde foi muito querido pelos companheiros e conhecido como Souza. O Sindipetro-NF lamenta a perda do companheiro de se solidariza com toda família e amigos.
VOCÊ TEM QUE SABER
Assembleias cheias para mostrar força
A categoria petroleira do Norte Fluminense está em período de assembleias para votar indicativos de greve e de eleição de delegados e delegadas ao 21º Congrenf. No início desta semana, o coordenador geral do Sindipetro-NF, Sérgio Borges, fez um chamado eloquente para que os petroleiros e petroleiras participem de modo massivo, como forma de pressionar a gestão da Petrobrás a avançar em soluções para diversas reivindicações dos trabalhadores.
O sindicato já está recebendo atas das assembleias das plataformas e dos turnos de terra. Nesta semana também acontecem as assembleias nas bases administrativas. A categoria tem demonstrado indignação com a política de austeridade da empresa para com os empregados e de generosidades para com os acionistas. Borges citou questões como o teletrabalho, os equacionamentos da Petros, Participação nos Resultados, regime de trabalho, sucateamento das áreas operacionais, entre outros.
O indicativo nacional de greve foi aprovado pelo Conselho Deliberativo da FUP, e referendado pela Diretoria Colegiada do Sindipetro-NF, em razão da intransigência da Petrobrás em relação a temas importantes em negociação. Recentemente aconteceram duas reuniões tensas com a Petrobrás sobre teletrabalho e remuneração variável.
Estão sendo realizadas duas assembleias no mesmo dia: uma para o indicativo de greve e outra para escolha dos delegados do Congrenf. Sendo assim, os petroleiros de plataforma e turnos de terra deverão imprimir as duas listas, uma para cada assembleia.
Todo mundo nas assembleias
O Sindipetro-NF reforça a importância da presença massiva dos petroleiros e petroleiras nas assembleias. A participação da base é essencial para mostrar à gestão da Petrobrás que a categoria está unida e pronta para a luta por seus direitos. Os editais de convocação e os documentos necessários para a realização das assembleias estão disponíveis no site do sindicato.
Calendário e pautas das assembleias
Calendário
Cabiúnas – Adm
21/05 às 7h
Cabiúnas – Turnos
18/05, 20/05, 22/05, 24/05 e 26/05 todas às 19h
Imbetiba /Praia Campista
20/05 às 13h
Imboassica – Igrejinha
22/05 às 13h
Plataformas e Turnos de Terra
Atas até dia 29/05
Setor Privado
De 17/05 a 29/05
Pautas das Assembleias
Aprovação de GREVE, com data a ser divulgada pelo Sindipetro-NF, em função da pauta pré-aprovada pela categoria, com os itens abaixo:
1) Defesa do teletrabalho com regramento negociado coletivamente.
2) Contra redução da remuneração variável dos trabalhadores.
3) Por recomposição dos efetivos.
4) Por segurança em todo o sistema Petrobras, nas prestadoras de serviço e no período de manutenção e partida da FAFEN PR.
5) Pelo fim do equacionamento da Petros.
6) Por um plano de cargos e salários justo e isonômico.
7) Ação RSR.
8) As definições de greve sejam construídas de forma conjunta entre as federações (FUP e FNP).
Obs. Na assembleia seguinte, nas mesmas datas, a categoria elege delegados e delegadas ao Congrenf, conforme edital específico.
Votação aberta para Conselhos Deliberativo e Fiscal da Petros
Está aberto desde a segunda, 19, e segue até 2 de junho o período de votação das eleições para os Conselhos da Petros, e os trabalhadores e trabalhadoras têm seus candidatos. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos (Conttmaf) e a Federação das Associações de Aposentados, Pensionistas e Anistiados do Sistema Petrobras e Petros (Fenaspe) apoiam a chapa “Petros para os participantes”.
Em manifesto, a chapa destaca que “deliberar e fiscalizar a gestão e os investimentos do segundo maior fundo de pensão do país não é algo trivial. Afinal de contas, são R$ 135 bilhões em patrimônio e 133 mil participantes e assistidos divididos em 24 planos. É uma responsabilidade enorme: garantir que, após décadas de dedicação, esses trabalhadores e suas famílias tenham a tranquilidade que merecem. Mas essa responsabilidade já faz parte do nosso cotidiano há muitos anos”.
Vote 51 e 62
Para o Conselho Deliberativo, o movimento sindical petroleiro apoia Adaedson Costa e Ana Paula Baião (Dupla 51). Para o Conselho Fiscal, o apoio é para Paulo Cesar Martin (PC) e Jane Sant’Ana (Dupla 62). Saiba mais sobre as chapas e perfis dos candidatos nos sites do NF e da FUP.
SAIDEIRA
Assine a Flix que está ao seu lado nas lutas da classe trabalhadora
Plataforma de vídeos gratuitos, feita para quem busca informação com foco na luta dos trabalhadores, cultura popular e temas que a mídia tradicional não mostra, a Fatoflix agora conta com o apoio do Sindipetro-NF. Os associados podem ajudar a manter esse projeto vivo com uma contribuição mensal simbólica e fortalecer a luta em defesa da democracia e da justiça social.
Todos que apoiarem terão direito a curadoria especializada, através de mostras de filmes e documentários produzidos ou indicados pelo Sindipetro-NF de forma exclusiva na plataforma; mostras temáticas e acesso a seleção de filmes alinhados aos temas mais relevantes para o sindicato; comunicação contínua com dicas e novidades através de newsletter específica sobre as mostras de filmes de maior interesse, além da newsletter geral da Fatoflix.
Outros benefícios são: minicursos e clubes digitais para os associados, incluindo filmes sobre temas relevantes, e conteúdos e serviços reservados, com produções próprias e novos conteúdos programados.
A Fatoflix reúne filmes e documentários selecionados para fortalecer a luta em defesa da democracia e da justiça social, combatendo a desinformação e as fakes news. A plataforma de streaming foi criada em agosto do ano passado e a assinatura é solidária, com o valor mínimo de R$ 100,00. Para contribuir, basta entrar na plataforma (http://fatoflix.com.br/) e acessar o item “Apoie”.
O sindicato convida seus associados a contribuírem, reforçando o compromisso coletivo com a democratização da informação.
HOMENAGEM A diretora do Sindipetro-NF e da FUP, Bárbara Bezerra, foi uma das mulheres homenageadas, no último dia 15, em atividade promovida pelo mandato da deputada estadual Elika Takimoto (PT) para marcar o “Maio pelos Direitos das Mulheres”, na Alerj. Bárbara é graduada em Ciências Sociais pela UFRN e, na Petrobras, atua em outra área de formação, de técnica de segurança no trabalho. A sindicalista tem obtido grande destaque.
NORMANDO
Beijos, afagos e privatizações
Normando Rodrigues*
O frenesi de nossos tempos, com os sentidos agredidos por uma enxurrada de informações desconexas a cada nano segundo, propicia confusões mentais.
Por exemplo, ante um fascista animalesco, um outro que saiba usar talheres tende a ser lido como “civilizado”. Mas o que revela a realidade fascista de ambos é a prática.
Dando obviedade à imagem, Bolsonaro é um fascista clássico, agressivo como um chimpanzé canibal e covarde como qualquer valentão de escola. Comparado a ele, Tarcísio de Freitas, hábil em mesuras para que se entre na câmara de gás, é o “fascista moderado”, como se fosse possível juntar as duas palavras.
O que importa é que os dois são capazes de matar, sendo Tarcísio, o “polido”, muito mais letal do que o desmiolado expulso do Exército, como o demonstra sua gestão homicida da PMSP (em números oficiais, os mortos pelos militares paulistas aumentaram 101,5% de 2023 para 2024).
E, por falar em “gestão”, ocorre na Petrobrás o mesmo jogo de cordialidade insincera, encenado ao extremo de beijinhos entre a presidência e incautas direções sindicais.
No caso da estatal do petróleo, as teatrais conversas em “off” e a informalidade e camaradagem seguidamente falseadas, servem à ocultação do que muitos sabem e pouquíssimos admitem:
A Petrobrás foi privatizada.
Desde que FHC colocou as ações da Petrobrás nas prateleiras da bolsa de Nova Iorque, até o momento em que Temer e Bolsonaro nomearam escroques do mercado financeiro para a cabeça da empresa, a estatal seguiu uma linha quase contínua de transformação, com “soluços” desenvolvimentistas na dúzia de anos sob o PT, pelos quais a provinciana burguesia brasileira cobrou o exorbitante preço do Golpe de 2016 e da adesão ao fascismo.
A transformada Petrobrás de hoje não é predominantemente uma empresa de petróleo, nem “de energia”, nem muito menos um agente da “transição energética”. É uma organização privatizada que tem por objetivo prioritário a geração de dividendos para seus acionistas.
A verdade se reflete nos números da estatal (mais de 94 bilhões de reais em 23 e perto de 76 bilhões em 24, em dividendos) e também na contínua deterioração e sucateamento de unidades, instalações e equipamentos, assim como na terceirização e precarização dos postos de trabalho.
A verdade continuará disfarçada em discursos e textos laudatórios do respeito à vida, à diversidade e ao pluralismo, e até em pouco custosas iniciativas práticas nestes temas, desde que em nada alterem os interesses privados condutores da gestão.
E a verdade seguirá velada por beijinhos, abraços e afagos dos que optaram servir ao dinheiro.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]
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