A terceira mesa do 18º Congresso dos Petroleiros e Petroleiras do Norte Fluminense teve como tema “Direito para todos, Petrobrás para quem? e reuniu o assessor da FUP e técnico do Dieese, Cloviomar Cararine e o pesquisador do INEEP, Mahatma Ramos. A finalidade principal dessa mesa foi subsidiar os delegados e delegadas presentes ao Congresso na construção da pauta de reivindicações e nas negociações com as empresas de petróleo.
Logo no início de sua apresentação, Cloviomar chamou atenção para a conjuntura da negociação com um governo de extrema direita em final de mandato, em fase de troca de presidente da Petrobrás e na aceleração ainda maior da venda de ativos da Companhia. “Qual será a ação do governo se tiver uma greve e como isso poderá impactar na campanha eleitoral de 2022?” – questionou o economista.
Para subsidiar os debates, Cloviomar mostrou houve uma mudança em relação ao perfil da categoria de 2014 para hoje. A Petrobrás reduziu seu quadro de funcionários diretos para cerca de 35 mil trabalhadores, fruto de PIDVs e vendas de ativos. Atualmente, só 5,76% das despesas da empresa são com trabalhadores
Isso também aconteceu com terceirizados que saíram de 560 mil a 99 mil. Em sete anos, aconteceu uma redução de 302 mil trabalhadores entre próprios e terceirizados. Com concentração no Sudeste (RJ, ES e SP) e uma queda drástica no Nordeste.
Lucro e inflação
O lucro da Petrobrás também tem impacto nas negociações. De 2003 a 2013, a Petrobrás teve 30 bilhões de lucro e dividendos e em 2021 chegou a 106,7 bilhões de lucro. A Companhia pagou 101,4 bilhões de dividendos, sendo que 43% desse total foi para fora do país.
Lucro esse que vem da venda de ativos e do aumento da venda dos derivados a preço de importado, redução de gasto do pessoal e o aumento da produção do pré-sal, principalmente no Campo de Búzios.
A respeito das perdas da categoria petroleira, Cloviomar informou que em 2021 houve uma perda acumulada em 3,8% e que há uma previsão de que o IPCA na data base de setembro seja de 9,72%, talvez fique num índice entre 10% e 11%.
O mercado internacional do petróleo
“Estamos vivendo um momento de forte e intensa disputa de recursos e distribuição de riquezas”. O alerta foi feito pelo pesquisador do INEEP, Mahatma Ramos.
A pandemia trouxe uma queda brusca de consumo, cortes de oferta e aumento da volatilidade e oscilação de preços das comoditiies de energia. Segundo Mahatma, esses dois anos explicitaram uma dependência energética e os países se tornaram mais dependentes uns dos outros. A queda da demanda de petróleo no mundo em 2020, que não foi compensada pela oferta, acabou tornando o mercado desequilibrado e dependente de uma fonte energética. Isso culminou numa enorme disputa de interesses que é o pano de fundo da guerra na Ucrânia.
Como efeitos dessa guerra estamos vendo a tentativa da Europa em reduzir o consumo de petróleo e gás, o bloqueio de petróleo russo, a instabilidade e alta do preço do barril com a escassez russa. Em paralelo há uma desorganização de mercado e uma tentativa de bloqueio econômico à Russia, com ameaça aos países que se mantiverem neutros de também poderem sofrer sanções.
Segundo o pesquisador, “por outro lado a China e a Rússia tentam conter a ascenção americana preservando a posição russa no Ocidente e criando um novo mercado no Oriente. Isso só demonstra que a transição energética ainda é pautada pela defesa pela segurança energética”.
No meio dessa crise mundial, quando o petróleo é objeto de disputas politicas mundiais, Mahatma comenta que a Petrobrás poderia assumir um papel de destaque se tivesse se mantido integrada com a visão estratégica que tinha nos governos anteriores. Infelizmente o que vemos hoje é um encolhimento da empresa, tanto em relação a número de funcionários, quanto ativos.
Essa terceira mesa do 18º Congrenf foi mediada pelos diretores Rafael Crespo e Marcelo Nunes, transmitida pelo facebook e youtube da entidade. A íntegra está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=D44uYRnBC4k