NF 20 anos: Coordenador compara 2016 com 1996 e fala das lutas petroleiras

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Duas décadas de lutas urgentes

Coordenador do Sindipetro-NF fala sobre os 20 anos da entidade e compara conjuntura de 1996 com 2016

Vitor Menezes / Da Imprensa do NF / Boletim Nascente

O Sindipetro-NF começou na última semana a veiculação de peças publicitárias que marcam a passagem dos 20 anos da entidade, fundada em 2 de julho de 1996. Nesta entrevista, o coordenador geral do sindicato, Marcos Breda, fala sobre os propósitos da camanha e sobre as lutas atuais dos petroleiros. Segundo ele, passadas duas décadas da criação do NF, a categoria possui mais estrutura para a ação sindical, mas mantém uma urgência semelhante: a de resistir na defesa da Petrobrás e do País. Confira:

Imprensa do NF – Qual comparação você faz do momento atual do Sindipetro-NF em relação àquele da fundação, há 20 anos?
Breda – Acompanhei o sindicato todos estes anos, tenho trinta e três anos de trabalho na Petrobrás e posso dizer que hoje a nossa entidade dispõe de uma infraestrutura robusta e pronta para as lutas dos petroleiros e petroleiras. Avançamos também politicamente com atuação em movimentos sociais e em diversos espaços da sociedade. Também no contato com a categoria como por exemplo nossa presença nos aeroportos que já somam quatro e nas setoriais que realizamos no Terminal de Cabiúnas e nas empresas do setor privado. É claro que temos muito a realizar e é isso que move a diretoria do sindicato.

Imprensa do NF – A greve de 1995 foi um marco que esteve na raiz da fundação do sindicato, em 1996. Qual o papel, agora, da greve de 2015 neste novo momento da entidade?
Breda – Assim como a greve de 1995 impediu a privatização da Petrobrás, a construção da greve de 2015, vinte anos depois, teve como principal objetivo barrar o desmonte da empresa iniciado com a implantação de um programa de venda da empresa aos pedaços. A greve foi o primeiro passo dessa luta que aparentemente será longa. A participação da FUP no grupo de trabalho que está apontando soluções para o problema de financiamento da empresa também é parte importante dessa luta. É claro que os petroleiros e petroleiras terão que se manter preparados para reagir, com mais força ainda, quando a empresa anuncia vendas, como ocorreu recentemente em relação aos campos maduros de terra no Nordeste. A FUP juntamente com sindicatos que incluíram aqueles que saíram da federação fizeram um ato conjunto mostrando que esse assunto está acima de eventuais discordâncias entre as lideranças.

Imprensa do NF – Este ano de 2016 está mergulhado em um cenário de extrema atenção em relação aos direitos trabalhistas e aos avanços sociais. Quais são as mais importantes lutas do sindicato neste momento?
Breda – O diretoria do sindicato inicia suas reuniões com análises de conjuntura exatamente para estar atenta aos cenários que se apresentam como desafios para a classe trabalhadora. A nossa avaliação é que este será mais um ano de ataques aos direitos dos trabalhadores que vai exigir reação contundente. Sabemos que em momentos assim é sempre mais difícil avançar nas conquistas, mas temos que nos unir e trabalhar na organização dos trabalhadores para proteger as conquistas do passado de forma a não retroceder.

Imprensa do NF – Nestas duas décadas, o Sindipetro-NF teve eleitas direções afinadas com a CUT e os movimentos progressistas que nasceram e se fortaleceram na redemo-cratização da década de 1980. Após o governo Lula, um dos principais expoentes dessa geração, o sindicato recebeu críticas de que seria governista. Quais os limites entre o apoio a um projeto e o apoio a um governo?
Breda – O sindicato tem muita clareza em relação ao seu papel na defesa dos interesses da classe trabalhadora e sempre se posiciona de forma a proteger esses interesses. Um grande exemplo disso foi o ano de 2010. Era um ano eleitoral e apoiamos abertamente a continuidade de um governo do PT, opção que avaliamos ser a que melhor representava os interesses dos trabalhadores. Um pouco mais de um mês antes da eleição conseguimos, por meio de denúncias aos órgãos fiscalizadores, a interdição da primeira plataforma marítima de petróleo. A notícia virou manchete dos “jornalões” e muitos criticaram a diretoria do sindicato pelo o risco de atingir a imagem do governo. Ficou claro alí que o interesse dos trabalhadores sempre esteve à frente em qualquer circunstância. Hoje vivemos um momento ainda mais difícil, no qual o governo, fragilizado pelas tentativas sucessivas de golpe, se rendeu no setor petróleo e negociou com a oposição o projeto que ataca a Petrobras no pré-sal. Nós criticamos fortemente esta traição do governo, mas ao mesmo tempo não apoiamos o golpe, pois isso seria contra a democracia e, além disso, as opções que se apresentam com a queda do governo vão colocar os próprios entreguistas no comando do país. É dessa forma bastante lúcida que nos mantemos sempre do lado dos interesses dos trabalhadores.

Imprensa do NF – Há dez anos, quando a Petrobrás ainda sentia os efeitos de uma lacuna no ingresso de trabalhadores próprios, era nítida uma certa distância entre os petroleiros mais antigos e os mais novos, o que se refletia na ação sindical. Como está esta relação na atualidade? Está mais equilibrada?
Breda – Os sindicatos tiveram que acompanhar essa mudança e mesmo ainda sendo preciso mudar bastante a forma de o sindicato se comunicar com esse novo perfil da categoria já é possível verificar uma sensível modificação. A própria diretoria do sindicato hoje tem um grande número de jovens diretores que tem conseguido estabelecer um contato maior com essa parcela cada vez maior de novos petroleiros e petroleiras.

Imprensa do NF – Embora represente os petroleiros do Norte Flumi-nense, o Sindipetro-NF, por sua projeção e capacidade de ação, tem uma significativa atuação nacional. Como a entidade consegue conciliar demandas locais com demandas nacionais? Isso por vezes não frustra o trabalhador que está mais próximo das questões do dia a dia?
Breda – Essa é uma tarefa de formação política das mais importantes e se traduz em um grande desafio para o movimento sindical. A luta do dia a dia dos trabalhadores não pode ficar isolada e é papel das lideranças correlacionar essas lutas com o contexto geral e classista. A ação do sindicato nos embates gerais da classe trabalhadora deve ter o trabalhador do chão de fábrica como ator principal é não como coadjuvante. No NF temos procurado exercitar esse conceito em todas as oportunidades de participação nas lutas mais gerais, oferecendo infraestrutura e incentivando a participação não só dos trabalhadores como da população das cidades sedes do sindicato.

Imprensa do NF – O Sindipetro-NF comemora 20 anos em um momento em que a Petrobrás enfrenta uma das piores crises de imagem da sua história. O sindicato tem conseguido contribuir para separar a má imagem dos que desviaram recursos da empresa, em relação à grande maioria honesta dos seus trabalhadores?
Breda – Nesses vinte anos o sindicato sempre reforçou o caráter nacionalista da Petrobrás. Sempre defendeu a Petrobrás 100% pública e atuando como mola propulsora do desenvolvimento nacional. Sempre destacou o orgulho de trabalhar na maior empresa do país e o fato dela pertencer a todo o povo brasileiro. Os desvios nessa empresa não começaram nos últimos anos e nosso sindicato durante esses vinte anos denunciou muitos desses desvios que agora tomaram vulto com a operação lava jato. A FUP e seus sindicatos temos atuado de forma a esclarecer a opinião pública para a grande confusão proposital que a grande mídia acaba difundindo “que na Petrobrás são todos ladrões”. Diversos editoriais das entidades deixam claro que os desvios se restringem a meia dúzia de corruptos, que logicamente têm que pagar pelos crimes, sendo julgados e presos.

Imprensa do NF – O que o sindicato vai procurar destacar na campanha de mídia dos seus 20 anos? Quais os valores serão reafirmados e qual o conceito das peças publicitárias?
Breda – A campanha tem como principal objetivo destacar as nossas lutas. Nesses vinte anos o Sindipetro-NF participou de muitas lutas e em todas elas o grande objetivo foi fazer avançar a classe trabalhadora. É importante verificar que nossas lutas não foram unicamente por interesses imediatos, lutamos por democracia, por liberdade e por manter o patrimônio do povo. Estes são os valores que queremos passar na campanha.

Imprensa do NF – O que você diria sobre a entidade a um petroleiro que está chegando agora à categoria e, eventualmente, ainda não é filiado ao NF? O que você acredita que pode convencer um jovem a ingressar no movimento sindical?
Breda – A luta sindical é coletiva e cada um pode e deve fazer sua parte, seja participando como liderança, seja participando enquanto um dos integrantes da categoria. Para isso sindicalizar-se é fundamental. A sindicalização contribui para além do financiamento da luta sindical pois é uma demonstração inequívoca de unidade dos trabalhadores. A nova geração de petroleiros e petroleiras precisam despertar para a organização sindical construída com muita luta pelos que os antecederam e ocupar estes espaços de luta de maneira crescente. Este deve ser o projeto de toda a entidade que se pretende perene.

Imprensa do NF – Você é otimista em relação ao futuro da entidade?
Breda – Sou muito otimista em relação ao nosso futuro por saber que a categoria petroleira é de luta e não se intimida diante dos desafios. A trajetória que fizemos nos credencia para novas e grandes lutas que certamente serão realizadas pelas novas gerações.

 

[Foto: Elisângela Martins / Para Imprensa do NF]