O oitavo dia de greves que mobilizam petroleiros e petroleiras em quatro estados do país – Bahia, Amazonas, Espírito Santo e São Paulo (saiba mais abaixo) – foi marcado por novas ações solidárias realizadas pela FUP e seus sindicatos em protesto contra os preços abusivos dos combustíveis. Através de descontos que chegaram a mais de 50%, os Sindipetros de São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Norte Fluminense e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, voltaram a distribuir 450 botijões de 13 Kg de gás de cozinha a R$ 40,00 cada um e mais de 2 mil litros de gasolina ao preço médio de R$ 3,50.
Valores bem abaixo do que vem sendo praticado no mercado por conta dos reajustes abusivos dos derivados de petróleo, que seguem o Preço de Paridade de Importação (PPI). Em função dessa política, implementada pela gestão da Petrobrás em outubro de 2016, no governo Temer, e intensificada pelo governo Bolsonaro, os combustíveis são vendidos a preços internacionais e com custo de importação, apesar de produzidos nas refinarias brasileiras com petróleo nacional. Ou seja, cada vez que o preço do barril de petróleo, que é cotado em dólar, sobe lá fora, a Petrobrás reajusta os preços dos combustíveis aqui no Brasil. Com isso, só em 2021, a gasolina já aumentou 54%, e o diesel 41,5% nas refinarias.
Além de conscientizar a população sobre a perversidade dessa política de preços, que a FUP e seus sindicatos denunciam há quase cinco anos, os petroleiros ouviram as histórias de vida de pessoas que foram adquirir gás de cozinha e gasolina a preços justos. Em comum, elas narram as dificuldades crescentes que vêm passando para adquirir esses produtos, por causa dos constantes reajustes promovidos pela gestão da companhia.
Em Linhares, no Espírito Santo, onde foram distribuídos 100 botijões de gás, famílias ineiras se mobilizaram desde ontem para poder adquirir o combustível com preçlos acessíveis. Apesar da grande procura, a ação realizada pelo Sindipetro seguiu todas as normas de segurança para evitar aglomeração.
Em São Paulo, o Sindipetro vendeu 2 mil litros de gasolina por R$ 3,50 o litro, priorizando as mulheres motoristas e entregadoras de aplicativos, um dos segmentos que mais sofre com a precarização do trabalho e os aumentos abusivos dos combustíveis.
No Rio Grande do Norte, foram sorteados mais de 100 vouchers com descontos de R$ 50,00 em uma ação de mídia do Sindipetro-RN para conscientizar a população sobre os riscos da privatização da Petrobrás, que está encerrando suas atividades na maioria das unidades que tem no estado.
No Rio de Janeiro, os Sindipetros Caxias e NF ofertaram nesta manhã 350 botijões de gás de cozinha a R$ 40 na Vila Vintém, comunidade da Zona Oeste da cidade. Um público amplamente formado por mulheres foi à ação para adquirir o produto. Além dos botijões, foram distribuídas máscaras, essenciais para a redução do contágio por Covid-19.
Uma das mulheres presentes foi Jeovana Madalena, de 42 anos, que trabalhava como empregada doméstica e ficou desempregada com a pandemia. Em sua casa moram ela, o marido, a filha e um neto. O esposo de Jeovana também está desempregado e vive de “bicos”. Por isso, adquirir o botijão de gás por um preço cerca de 50% menor que o cobrado em depósitos próximos à sua casa é de grande importância. “Por causa da pandemia, fiquei desempregada. Meu marido e minha filha também. A gente só consegue comer por causa do Bolsa Família, de 400 reais. Esse gás hoje vai deixar a gente comprar mais coisa no mercado, né?”, diz.
A dura realidade do desemprego é quase uma constante nos depoimentos. Estão na mesma condição Adriana, 49 anos, integrante da escola de samba Unidos de Padre Miguel, da Vila Vintém; Lea Ferreira, 55, que vive de faxinas, mas está adoentada e sem poder trabalhar; e Marcos da Silva Neto, 45, cuja esposa também trabalha como empregada doméstica. São pessoas que precisam de qualquer oportunidade para garantir um mínimo para sua sobrevivência.
“Passo roupa, faço faxina, mas meu braço é operado. Às vezes alguém ajuda. Pra comprar o gás uma amiga me deu o dinheiro. E ganho cesta básica da minha igreja. Esse gás nesse valor nunca mais tivemos aqui. Minha prima mora do meu lado e também me ajuda, mas também tem as dificuldades dela. Ela sobrevive com 750 reais, que o neto dá pra ela”, narra Lea Ferreira.
Diante de uma realidade cada vez mais difícil, com uma crise econômica sem fim, a ausência do auxílio emergencial e a inflação em rota de crescimento, não foi difícil ouvir críticas ao presidente Jair Bolsonaro. E os últimos acontecimentos políticos do país fizeram surgir na lembrança de alguns dos participantes da ação um passado recente no qual a vida era melhor.
“Moramos eu, minha esposa, minha enteada e um bebê que vai chegar, graças a Deus! Esse trabalho aqui (do preço justo) tem que ser reconhecido. O melhor presidente que a gente teve foi Lula! O que a gente tem hoje, eu agradeço a ele. Ele trouxe de volta para o país a área metalúrgica, que foi muito crucificada nos anos 80. Sei que é um homem íntegro, honesto, verdadeiro. Ele foi solto e vai ser absolvido, porque não tem nada contra ele. Esses que tão acusando ele é que não prestam. O que Bolsonaro tá fazendo com o povo brasileiro é uma vergonha! O Brasil vai dar mais uma chance para o Lula, porque ele merece e só ele que ajuda a gente”, disse Fábio de Souza, morador da Vila Vintém.
Segundo Alessandro Trindade, diretor do Sindipetro-NF que esteve na equipe da ação do preço justo na Vila Vintém, a mobilização foi de suma importância para a população local, que já sofre bastante com a pobreza e a ausência do Estado na promoção do bem-estar econômico e social. Foi também mais uma oportunidade para conversar com as pessoas sobre a necessidade de combater a atual política de preços da Petrobrás e a privatização da companhia.
“A categoria petroleira combate a política de preço de paridade importação para os combustíveis desde que ela foi implementada, em 2016, uma política que pesa no bolso de toda a população, e ainda mais no bolso dos mais pobres. Por isso procuramos promover essas ações onde as pessoas mais precisam. E também onde podemos conversar com elas sobre a importância de uma Petrobrás pública e cada vez mais forte”, explicou ele.
Greve dos petroleiros por segurança e empregos avança
Os trabalhadores do Sistema Petrobrás estão em greve desde o dia 05 de março, em movimentos regionais que denunciam a precarização das condições de trabalho, os riscos de acidentes e o avanço da pandemia nas instalações da empresa. Na Bahia, a greve teve início com os petroleiros da Refinaria Landhulfo Alves (Rlam) – a primeira das oito refinarias colocadas à venda que teve a negociação concluída pela Petrobrás com um fundo árabe de investimenos, o Mubalada – e vem avançando com a participação dos trabalhadores dos campos terrestres e do Terminal Madre de Deus, que também sofrem os impactos das privatizações. Nesta sexta (12), houve adesão dos petroleiros do polo de Miranga.
No Espírito Santo, a greve tem mobilizado os petroleiros dos campos terrestres e das plataformas, com atrasos nos embarques feitos no aeroporto de Vitória. Nesta sexta, foi a vez dos petroleiros da Unidade de Tratamento de Gás de Caçimba (UTGC), em Linhares, se somarem ao movimento. No Sindipetro Unificado de São Paulo, a greve vem mobilizando trabalhadores das refinarias de Paulínia (Replan) e de Capuava (Recap) e também os terminais da Transpetro. No Amazonas, os trabalhadores da Refinaria de Manaus (Reman) seguem participando dos atrasos feitos pelo Sindipetro nas trocas de turno.
Novas adesões começam a ser desenhadas também em outras bases da FUP que aprovaram a greve. Estão sendo feitos atrasos no turno na Regap, em Minas Gerais, na Refinaria Abreu e Lima e no Terminal Aquaviário de Suape, em Pernambuco. No Norte Fluminense, os trabalhadores aprovaram estado de greve. No Paraná, a greve foi aprovada na Usina de Xisto (SIX), onde os trabalhadores estão se organizando para intensificar as mobilizações.
Com pautas de reivindicações diversas, os sindicatos da FUP denunciam os impactos das privatizações nas relações de trabalho, em função das transferências compulsórias feitas pela gestão da Petrobrás, da redução drástica de efetivos e do sucateamento das unidades, principalmente as que estão sendo vendidas. O resultado desse desmonte é o risco diário de acidentes, sobrecarga de trabalho, assédio moral e descumprimento rotineiro do Acordo Coletivo de Trabalho.