Normando Rodrigues: “CPI fornece a Bolsonaro e à milicada a chance de passar à História como ladrões, em lugar de genocidas”

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[Por Normando Rodrigues, assessor jurídico do Sindipetro NF ]

A CPI fornece a Bolsonaro e à milicada a chance de passar à História como ladrões, em lugar de genocidas. Abre-se uma saída desonrosa pela porta dos fundos.

Quarteladas

O cordel da “corrupção” incomoda muito mais à classe média, do que o genocídio cometido pelos fascistas aos quais ela se aliou.

Afinal, as vítimas preferenciais da “peste” são os mesmos “suspeitos de sempre” cotidianamente mortos pelas polícias: pretos, pobres…

Foi sob o pretexto da corrupção que, na quartelada de 3/4/2018, o general Villas Bôas disse saber “quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras, e quem está preocupado apenas com interesses pessoais”.

Agora, depois de 30 meses de governo fascista, e de 535 mil mortos, o Brasil inteiro aprendeu que são os soldados de Villas Bôas os que só pensam em seus interesses pessoais.

Muitos desses guerreiros-de-boquinha estão envolvidos no escândalo das vacinas, com destaque para o papel do coronel reformado Élcio Franco.

Sacos pretos

“Número 2” do general-de-comício Pazuello, no Ministério da Saúde, Franco assinou o contrato da Covaxin, mas não fez só isso.

Por obra e graça de Franco, 110 milhões de reais destinados à compra de vacinas foram desviados para gastos bélicos. Literalmente, 2,2 milhões de doses da Pfizer viraram combustível e peças de aeronaves.

Franco, reconheça-se, apenas seguiu a linha genocida de Bolsonaro, Guedes e Pazuello, sintetizada por este último ao declarar que preferiria só comprar “sacos pretos”, para os cadáveres.

(Des)prestígio

Depois o coronel virou assessor do general-de-casa-civil Eduardo Ramos, e estava ao lado do brigão Lorenzoni, na coletiva de imprensa em que Onyx disse que “ia pegar lá fora” os irmãos denunciantes.

Ramos, com Franco de assessor, se juntou ao Mito e ao general Heleno-do-Haiti, para receber em 2 de julho o chefe da CIA, William Burns. A foto oficial do jantar explicitou quem “manda”: Burns ficou no centro, e não Bolsonaro.

Os fardados renunciam ao “centro da foto”, à soberania, ao petróleo, à Eletrobrás, à ECT, à base de Alcântara, à Amazônia, ao Pantanal, e a qualquer outra coisa, para manter prestígio e privilégios. Porém, não admitem críticas!

Marielle

O general-interventor, Braga Neto, é aquele sob cuja responsabilidade na segurança pública do RJ Marielle foi assassinada. Ele jamais se indignou com o crime a ponto de perguntar quem mandou o vizinho de Bolsonaro matar a vereadora.

Braga Neto, contudo e com coturno, se embraveceu por mencionarem sua “banda podre”, pegou em armas, e soltou notinha ameaçadora.

Em socorro ao ministro da defesa, o tenente-brigadeiro-sem-doce, Baptista Junior, confirmou em entrevista a 9 de julho que a intenção do mimimi era mesmo intimidar.

Mimimi

É lamentável que o egodistônico presidente do STF, em lugar de repudiar a militância política armada, novamente se tenha dedicado a passar pano no golpismo de Bolsonaro e de seus guardas pretorianos.

“In-Fux-we-trust” à parte, fato é que os milicos foram pegos com a boca na botija. Todavia, o que foi exposto é ainda muito pouco, ante o que fizeram.

O esperneio da tosca nota de Braga Neto e comandantes, revela o pavor que sentem não pela incriminação no caso Covaxin, e sim pelo inevitável encontro com o tribunal da história, que os julgará pelo maior genocídio do Brasil.

Nurembergue

Os “estrelados” sabem que pegar Bolsonaro, Pazuello e pazuellitos, pelas vacinas, ante o extermínio de centenas de milhares de brasileiros, seria pagar um preço muito baixo.

Algo como condenar os responsáveis pelo holocausto, por terem desviado pacotes de rações da Cruz Vermelha, destinados aos prisioneiros.

Ninguém foi parar no Tribunal de Nurembergue por desvio de rações. E é o próximo Nurembergue, já visível no horizonte, o que aterroriza os militares.

[Foto: Sérgio Lima/AFP]