José Luis Fiori*
No começo de 2021, o preço do barril do petróleo deu um salto de quase 35%, chegando a US$ 73,38 nos primeiros dias de março, nos mercados asiáticos. Como a atual política de preços da Petrobras tem como componente central do reajuste o valor dos combustíveis as cotações internacionais, o consumidor brasileiro passou a conviver, nos últimos meses, com aumentos frequentes do preço da gasolina e do diesel. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre o começo de janeiro e o final de fevereiro, o diesel subiu 15,1%. Mas, o que está por trás das elevações do barril do petróleo no mercado internacional?
Antes de tudo, é importante lembrar que a elevação abrupta dos preços do petróleo, nestes primeiros meses de 2021, surpreendeu diversos analistas do mercado financeiro e petrolífero. Havia a expectativa, por um lado, de que a Opep+ (bloco que inclui Opep e outros grandes produtores como a Rússia) retomaria a produção de petróleo, depois do corte de cerca 10% realizado em abril de 2020 e, por outro, de que a vitória de Biden criasse um afrouxamento das sanções impostas ao Irã e à Venezuela, o que permitiria o aumento da oferta global do petróleo. Por isso, o Morgan Stanley e várias outras agências previram uma estabilização do preço do barril, até o segundo semestre de 2021, em torno de US$ 50-55. Todavia, uma soma de fatores e acontecimentos econômicos, ao lado de alguns “acidentes geopolíticos”, elevou o preço do barril acima dos US$ 70 neste mês de março.
Do lado econômico, a retomada da economia chinesa, cuja previsão de crescimento é de 6,5% em 2021, tem causado um efeito “controlador” mais eficiente do contágio econômico da pandemia. Nos EUA, aprovação pelo Congresso um pacote de estímulo econômico no valor de US$ 1,9 trilhão, elevando para US$ 5 trilhões os gastos em programas de ajuda econômica contra a pandemia, já teria tido um efeito positivo sobre a demanda americana. Um outro pacote econômico, no valor de € 750 bilhões, aprovado pelo parlamento europeu como ajuda aos países mais atingidos pelos efeitos sanitários e econômicos da pandemia, também sinalizaria um horizonte de recuperação econômica na região.
Do lado geopolítico, novos fatos e alguns acidentes de percurso pesaram também na aceleração imprevista do preço do óleo. Entre estes:
- a onda de frio que resultou na queda da produção de petróleo no estado americano do Texas, em fevereiro;
- as baixas temperaturas, principalmente no Japão e no Sudeste Asiático, que fizeram a demanda por energia da região crescer excepcionalmente no início de 2021;
- a decisão da Opep+, tomada no início do mês de março, de manter o corte da produção dos países-membros pelo menos até o mês de abril de 2021;
- o ataque dos rebeldes Houthis do Iêmen ao porto de Ras Tanura, utilizado pela Arábia Saudita para exportação do seu petróleo;
- os ataques de origem ainda não identificada contra instalações petrolíferas no território da Síria;
- a perda da confiança dos analistas e investidores com relação à possibilidade de relaxamento das sanções americanas contra o Irã e a Venezuela;
- as primeiras iniciativas do governo de Joe Biden estarem apontando na direção da manutenção ou agravamento da competição e rivalidade com a Rússia, gerando expectativas de novas sanções, sobretudo contra o grande projeto de construção do gasoduto entre a Rússia e a Alemanha, através do mar Báltico, o Nord Stream;
- e por fim, depois da realização, no dia 12 de março de 2021, da primeira reunião do QUAD, “Diálogo de Segurança Quadrilateral” reunindo EUA, Japão, Índia e Austrália, houve um fortalecimento dos laços econômicos e militares entre esses países, construindo um novo anel militar em torno da China.
Somando e subtraindo, tudo indica que o preço do petróleo deva flutuar entre os valores de US$ 60-65 nos próximos meses, se depender apenas dos fatores econômicos e geopolítico ocorridos até o presente momento. Mas, não é improvável que novos “soluços geopolíticos” possam elevar este preço para US$ 70-75. Independente de que lugar o preço irá parar, não há dúvidas que a incerteza continuará dando o “tom” no mercado de petróleo em 2021.
- Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Economia política Internacional, PEPI. Coordenador do GP da UFRJ/CNPQ e membro do INEEP – Artigo publicado originalmente no UOL