O momento é grave, quase uma nova P-36 e os erros de gestão se repetem.

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AOS COMPANHEIROS DA BACIA DE CAMPOS

O momento é grave, quase uma nova P-36 e os erros de gestão se repetem.

A diretoria do Sindipetro-NF faz mais um alerta nesse grave momento que vivemos. No último dia vinte e seis de dezembro ocorreu um incêndio de grandes proporções em P-20 que poderia ter se transformado em mais uma tragédia na Bacia de Campos, com um número até maior de mortes que as explosões e o afundamento da P-36. No entanto, a primeira iniciativa da empresa foi tratar como fosse um simples “incidente” um incêndio que precisou de brigada, rede de dilúvio e dois navios especiais para combate a incêndios (FIRE FIGHTERS) para ser extinto. Avaliações responsáveis indicam ser necessário um período de no mínimo quatro meses para unidade voltar a produzir por causa da extensão dos danos materiais envolvidos, e o sindicato já recebeu denuncia de que há uma tentativa de reduzir esse tempo pela metade. A quem interessa minimizar o acidente?

Dessa vez, as equipes dos valorosos trabalhadores da unidade conseguiram controlar a situação, e o saldo foram dois trabalhadores acidentados, mas não podemos encarar como normal que isso aconteça. Se o desfecho fosse outro estaríamos nesse momento lamentando as mortes como ocorreu na P-36. Por trás do incêndio existem erros de gestão que vem se repetindo ao longo dos anos na Bacia de Campos, e na Petrobras como um todo, que precisam de correção. Os incêndios com vítimas que ocorreram em refinarias mostram que a insegurança está espalhada por toda a companhia. Se mais esse acidente não for usado pela Presidência da Petrobrás para mudar o modelo, uma nova tragédia virá.

Os programas de gerenciamento, de redução de custos e incremento de eficiência e da produção na empresa (como o PROCOP e o PROEF) estão sempre se repetindo, uns mais intensos e agressivos outros mais brandos. Nenhum deles atingiu seus objetivos, mas deixaram e continuam deixando marcas nos danos para a saúde e segurança dos trabalhadores. Na Bacia de Campos, recentemente, o absurdo “sucateamento” das plataformas que passaram a produzir sem parar. Foi a política do terror pela “produção a qualquer custo” que resultou em um gigantesco passivo de problemas e atingiu em cheio os trabalhadores. O sindicato reagiu com denuncias em todas as instâncias e órgãos de fiscalização e quinze interdições de plataformas ocorreram. Aqueles que implementaram essa política foram premiados com a gerência dos próprios planos de recuperação da eficiência que eles derrubaram. Os atuais gestores estão trilhando o mesmo caminho quando, por exemplo, trabalham com possibilidade de reduzir de forma irresponsável o tempo de retorno da P-20, priorizando a produção.

Após as várias interdições, este novo plano, dessa vez para tentar recuperar a eficiência e, ao mesmo tempo, sair do cenário de abandono que as plataformas atingiram está, novamente, cobrando sua conta na saúde e segurança dos trabalhadores. Com um número interminável de serviços para corrigir o que foi sucateado, com os diversos gargalos que a produção de petróleo em alto mar impõe, restou a irresponsabilidade de flexibilizarem as normas de segurança como, por exemplo, dobrar o número de permissões de trabalho que podem ser liberadas por um mesmo operador, para acelerar o processo de recuperação da eficiência.

Os resultados da pressa para retomar a eficiência e reverter os danos à integridade estão claros. O efetivo que já é extremamente baixo se agravou com o aumento exponencial das demandas de permissões de trabalho para operadores e para o pessoal da manutenção. A infraestrutura aérea pensada com a lógica dos remendos e das improvisações foi levada ao caos com o aumento estratosférico do número de voos. Para completar, novas experiências e novos planos de gestão para as plataformas mais novas e que estão chegando, tentam transformar a Bacia de Campos em laboratório para mais uma vez os trabalhadores pagarem a conta com insegurança e sofrimentos. Estes e outros erros de gestão – por exemplo, o rodízio imposto aos técnicos de enfermagem e segurança que contribui para a falta de experiência nas instalações da plataforma, tão necessária em momentos de crise – derivam dos erros anteriores, e formam uma “ciranda” que pode levar a mais tragédias e mais mortes.

Já passou a hora da alta gestão da empresa começar a assumir erros, cobrar de quem realmente tem responsabilidade e reconhecer quem está se desdobrando para manter os resultados que tanto lhes interessa. Parar e ouvir os trabalhadores e seus representantes é o primeiro passo. Cobrar daqueles que levaram a empresa a esse “ciclo vicioso” que sempre termina em tragédia e dor é o segundo.

Chega de acidentes e mortes! Chega de doenças e mutilações! Enquanto alguns engravatados estão pensando como economizar com comida a bordo, ou no próximo “biombo” para embarcar trabalhadores, ou ainda pensando outro slogan depois do último – “Gente, é o que inspira a gente”, pessoas estão arriscando suas vidas em acidentes como esse.

Os trabalhadores da Bacia de Campos estão no limite! A administração da empresa terá que dar respostas para tudo isso! O Sindipetro-NF já mostrou que não foge a luta e mais uma vez, neste ano de 2014, vai empunhar as bandeiras da saúde e da segurança.

Vida, é o que inspira a gente!

Macaé, 02 de janeiro de 2014

Diretoria Executiva do Sindipetro-NF