Tadeu Porto / Publicado originalmente no blog O Cafezinho*
Ontem tive que me preparar psicologicamente depois de ler a cativante coluna da Eliane “massa cheirosa” Cantanhêde que dizia, entre outras coisas, que “o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil” (a versão do Brasil, ame-o ou deixe-o como bem colocou meu ídolo Fernando Brito no Tijolaço).
Quase chorei consumido pela culpa de lutar contra um presidente conspirador que colocou em prática o projeto derrotado nas urnas.
Logo após, já estabilizado emocionalmente e muito curioso, fui buscar na mídia alguma crítica ao vice presidente golpista pelos erros grosseiros, não só acabar com a exitosa Controladoria Geral da União (CGU), mas também de colocar um articulador de corruptos no cargo.
Pra minha não surpresa, achei nada. Nem um “fora Temer” na grande mídia ou na página do MBL (que recebeu ajuda do PMDB por coincidência, eu acho).
As críticas que existem sobre Fabiano Silveira são exclusivamente dirigidas a ele, poupando, vergonhosamente, a escolha do presidente interino que resolveu inventar moda justamente no órgão responsável pelo combate a corrupção que nunca antes foi visto na nossa história.
Não obstante ao erro bisonho da escolha de um ministro da transparência que foi pego articulando a favor da obscuridade, fica ainda mais sinistra a tentativa de livrar a cara do Temer quando juntamos as peças dos áudios do Romero Jucá (homem forte do vice conspirador) que coloca de maneira muito clara um plano para colocar o Michel num grande acordo nacional, com supremo e tudo (!!!), para delimitar a lava jato.
Oras, vamos fazer um pequeno exercício de abstração: 1) Temer, segundo Romero Jucá, é o homem de um pacto nacional; 2) Esse mesmo Jucá vira ministro de planejamento do presidente interino mostrando, consequentemente, um avanço no que foi demonstrado nas conversas com Machado; 3) a operação Lava-Jato é combate a corrupção fruto de uma política que aconteceu com a CGU e Temer além de extinguir esta controladoria , fez um novo ministério e coloca um ministro que segue a cartilha apontada nas conversas entre o presidente do PMDB e o ex-presidente da Transpetro.
Sendo assim, cadê a dificuldade em imaginar que Fabiano Silveira foi colocado premeditadamente por Michel Temer para dificultar o acesso à dados e fatos, proveniente de uma política eficiente de transparência?
Onde está a complexidade em deduzir que modificar (leia-se atrapalhar) o trabalho concreto de uma controladoria da União caminha junto com as palavras do Sérgio Machado e do Romero Jucá que “a solução mais fácil era colocar o Michel” porque “delimitava [a lava jato] onde está”?
Bom, para nossa mídia é bem difícil enxergar que o Michel Temer encabeça uma articulação golpista de manutenção de poder. E olha, se a gente quiser criticar o usurpador – mesmo com essas cagadas concretas – pessoas influentes (infelizmente) como Eliane vai querer nos convencer que estamos jogando contra o Brasil.
E assim vai Michel, o usurpador: podendo cometer o erro que quiser, “fazendo experimentos” (palavras do ministro Gilmar mostrando que o STF também cultua a incapacidade e a mediocridade) com a nossa República como se fosse um lego para uma criancinha de 7 anos quebrar ou colocar peças na boca. O que seria até legal se não se tratasse do futuro do país e de uma aristocracia que passa a mão na cabeça da incompetência de um fantoche chamado de presidente em exercício para utilizá-lo no seu plano perverso – de mais de 500 anos – de perpetuação de poder.
Essa é a meritocracia do Temer: erre ou acerte, muito ou pouco, faça o trabalho da elite que vamos dar um jeito de te safar.
* Petroleiro e diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF)