Cláudio da Costa Oliveira*
Na apresentação do novo Plano de Negócios da Petrobras, Pedro Parente ressaltou que não precisa perguntar ao governo sobre reajustes de combustíveis. Ele disse:
“A principal diferença é que, se quisermos mudar o preço hoje, mudamos. Se quisermos mudar amanhã, mudamos. Avaliamos a condição de mercado. Não temos que perguntar nada a ninguém. Podemos fazer os movimentos que consultem os interesses da empresa. É decisão de natureza empresarial – disse Parente, que afirmou que até a última reunião de diretoria, ainda não havia necessidade de reajuste.”
Sendo que a receita bruta da Petrobras alcança o valor de R$ 400 bilhões/ano. Desta receita 75%, ou seja R$ 300 bilhões, corresponde à venda de derivados de petróleo no mercado interno. O valor de R$ 300 bilhões é superior ao PIB de países como Uruguai, Paraguai e Bolívia.
A Petrobras é uma estatal e por isto tem praticamente o monopólio da distribuição de derivados de petróleo no mercado brasileiro. Como pode o governo Temer atribuir a uma única pessoa o poder de reajustar seus preços?
Quando Parente diz: “Se quisermos mudar (o preço) amanhã, mudamos”. Na verdade, ele está dizendo: “ Se eu quiser mudar amanhã, eu mudo. ”
Quando Parente diz: “Podemos fazer os movimentos que consultem os interesses da empresa. É decisão de natureza empresarial”. Ele está dizendo: “Vamos estabelecer os preços que maximizem os lucros da empresa e a distribuição de dividendos, como exige Wall Street.”
Quando Parente diz: “Até a última reunião de diretoria, ainda não havia necessidade de reajuste.” Ele está dizendo: “No momento não podemos aumentar preços, pois os preços no mercado interno hoje estão acima do mercado internacional e em função disto outras empresas (Ipiranga, Shell etc ) estão importando derivados e tomando mercado da Petrobras.”
Na verdade, a Petrobras de Parente está vazando informação de que poderá reduzir os preços. Isto é para fazer com que a concorrência (Ipiranga, Shell etc) pense bem antes de investir em novas estruturas para importação. Importação de combustíveis exige investimentos para armazenagem, transporte etc. Aparentemente a concorrência da Petrobras já alcançou seus limites de capacidade de importação com a estrutura que dispõe no momento.
A Petrobras de Parente jamais vai reduzir os preços dos combustíveis para beneficiar os consumidores brasileiros. Isto foi feito no governo passado de 2010 a 2014 o que provocou violenta reação de Wall Street e parte da mídia brasileira. O que mostra que os objetivos de uma empresa estatal é totalmente incompatível com uma empresa listada na bolsa de volares.
Redução de preço no mercado interno só ocorrerá se isto provocar aumento no lucro da Petrobras. Por exemplo: se uma redução de 5% nos preços, permitir à Petrobras aumentar 10% no volume de vendas no mercado interno, tomando mercado dos concorrentes (Ipiranga, Shell etc) isto poderá provocar um aumento no lucro da empresa e assim Parente se justificaria em Wall Street.
Por outro lado, se os preços do barril aumentarem no mercado internacional, alcançando US$ 90/ US$ 100, Parente poderá estabelecer um preço dos derivados no limite para matar a concorrência, não permitindo nenhuma importação por terceiros, maximizando os lucros da Petrobras e a distribuição de dividendos para Wall Street. É isto que eles chamam de administração competente de uma estatal da importância da Petrobras?
Como o governo Temer pode atribuir tais poderes a uma única pessoa? E como ficam os brasileiros?
Bem, os brasileiros podem ter certeza de que estarão sempre pagando pelos combustíveis os preços que maximizam os dividendos de Wall Street. É nisto que estão transformando a Petrobras. “É Fantástico”.
*Economista aposentado da Petrobras
[Artigo publicado originalmente no blog O Cafezinho, aqui]