Levantamento feito pelo jornal Valor Econômico, divulgado nesta semana, mostra que pelo menos 300 mil trabalhadores perderam seus empregos em empresas investigadas pela Operação Lava Jato, entre 2013 e 2016. O impacto estimado pela Associação de Empresas de Serviços do Petróleo, também citado pela publicação, é ainda maior: cerca de 440 mil demitidos no mesmo período. Este contingente é maior do que o número de habitantes, somados, das cidades de Macaé, Rio das Ostras e Quissamã.
Não foi por falta de aviso. Há dois anos, em março de 2015, o então ministro da Advocacia-Geral da União, Luís Adams, havia alertado que o País deveria perder cerca de 500 mil empregos nas empresas do setor petróleo, com a Lava Jato. Na época, a Agência Brasil registrou:
“Adams acredita que a melhor saída para que a investigação dos atos de corrupção na estatal [Petrobrás] não acabem comprometendo a economia brasileira pode estar na efetivação de acordos de leniência, quando os grupos envolvidos assumem suas culpas e se comprometem a fazer uma série de medidas para pagar financeiramente pelos crimes cometidos e evitar futuros desvios de conduta, em troca da volta à condição de poderem fechar contratos com a área pública. O acordo passa pela AGU e pela Controladoria-Geral da União (CGU).”
Adams advertiu que as 23 grandes empresas investigadas pela Lava Jato formavam o topo de uma cadeia produtiva que envolvia outras 50 mil empresas e que, juntas, respondiam por 13% do PIB brasileiro.
Sindicatos alertaram
Em dezembro do mesmo ano, Centrais Sindicais e representações patronais realizaram em São Paulo um encontro para firmar um “Compromisso pelo Desenvolvimento”, onde também defenderam a realização de acordos de leniência para salvar os empregos, sem comprometer a eficácia das investigações.
“O ponto mais claro de convergência entre as partes é a defesa da aplicação de acordos de leniência para “destravar” as atividades econômicas na cadeia de petróleo e gás, atualmente em compasso de espera por conta da Operação Lava Jato”, registrou a CUT na época.
Para o Sindipetro-NF, como também ficou evidente com a operação Carne Fraca, a opção do aparato jurídico e policial pelo espetáculo, em detrimento da responsabilidade com as vidas de milhares de famílias, cobra o seu preço em desemprego e retração econômica.
Um dos diretores da entidade, Tezeu Bezerra, lembra que o sindicato e a FUP (Federação Única dos Petroleiros) sempre defenderam as investigações e a punição de todos os envolvidos em casos de corrupção, mas que também sempre alertaram sobre como o modelo de delação premiada — que preserva os executivos das empresas, mas não as empresas — era nocivo para os empregos. Em sintonia com o que defendem as centrais sindicais, ele afirma que o mais responsável seria o modelo do acordo de leniência.
Ainda de acordo com o levantamento do Valor Econômico, o número de empregados caiu, entre 2013 e 2016, de 251,9 mil para 107 mil na Andrade Gutierrez; de 27,4 mil para 8,3 mil na UTC; de 181,5 mil para 85 mil na Odebrecht; e de 3,5 mil para 469 na Engevix.
[Presidente da CUT, Vagner Freitas, fala em evento da Central, em 2015, realizado para defender empregos por meio de um “Compromisso com o Desenvolvimento” / Foto: Roberto Parizotti]