Petrobras ignora seu papel social ao abandonar campos maduros

Venda de ativos afasta Petrobras de seu papel social
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A estatal petrolífera norueguesa Equinor anunciou, no final de dezembro, que investirá US$ 345,8 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) para aumentar a recuperação do campo offshore de Statfjord Øst em 23 milhões de barris de óleo equivalente. A iniciativa faz parte de um ambicioso plano da companhia de alcançar um fator de recuperação médio de 60% em seus campos no Mar do Norte, hoje em torno de 50%.

No Brasil, a Petrobras demonstra postura diferente em relação aos seus campos maduros na Bacia de Campos, onde o fator de recuperação mal chega a 20%. Desde 2016, a estatal brasileira vem reduzindo os investimentos nesses ativos para dar prioridade às atividades no pré-sal da Bacia de Santos, sob a justificativa de que seriam mais produtivos.

A decisão da Petrobras é uma renúncia ao papel social que companhias estatais do setor de petróleo devem desempenhar em seus países. Na prática, o compromisso dessas empresas vai além dos resultados operacionais e financeiros, e abrange principalmente um papel estratégico no desenvolvimento econômico e social local.

Ao anunciar o investimento no campo de Statfjord Øst, um executivo da estatal norueguesa resumiu, com poucas palavras, o que é ter consciência sobre esse papel social:

“A decisão de melhorar a recuperação em Statfjord Øst agregará um valor considerável à sociedade e aos proprietários e criará efeitos positivos para os fornecedores. Nossa ambição é manter uma produção segura e lucrativa e assegurar atividades valiosas da plataforma continental norueguesa (NCS) por várias décadas”, disse Kjetil Hove, vice-presidente sênior da Equinor, segundo o site da revisa Offshore Engineer.

O que é fator de recuperação?

Por definição, o fator de recuperação representa o volume de óleo que se consegue extrair de um reservatório. No caso dos campos maduros, aumentar o fator de recuperação dos campos é crucial para garantir sua eficiência e a sustentabilidade de sua produção.

Ao vender seus campos maduros, a atual direção da Petrobras alega que os investimentos na produção desses ativos continuarão sendo feitos por empresas privadas, o que não corresponde à realidade. A recuperação de poços é uma atividade da indústria do petróleo que exige o uso de técnicas sofisticadas, cujos investimentos, no atual momento da indústria, estão mais compatíveis com a capacidade financeira de grandes companhias.

Como consequência, a mudança na política de investimentos da Petrobras se reflete de maneira dramática na economia do Norte Fluminense, com aumento do desemprego e perda de arrecadação das prefeituras locais, com impactos em serviços essenciais como saúde e educação.

 

Lógica financeira

Em recente live realizada pelo Movimento #PetrobrasFica, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou que, embora os ativos na Bacia de Campos estejam em fase madura, há técnicas disponíveis na indústria que poderiam prologar a vida útil dos campos na região. A queda de produção se deve, portanto, a uma decisão da companhia de não mais investir nesses projetos.

“A Petrobras está tomando uma decisão de abandonar essas áreas de campos maduros porque escolheu que vai ser uma empresa geradora de dividendos, para pagar a dívida, os juros. Vai ser uma vaca leiteira para o mercado financeiro, não está interessada em aumentar a produção”, disse Gabrielli.

O ex-presidente da Petrobras chamou a atenção para os impactos da atual política de investimentos no mercado de trabalho, que ameaçam desmobilizar o movimento sindical e a reivindicação por melhores condições de emprego. “Vai haver uma mudança muito profunda na categoria petroleira, com mais empresas e menores”.