Reportagem publicada na manhã de hoje, no site da revista Carta Capital, do repórter Victor Ohana, mostra que a Petrobrás está entre as empresas investigadas em pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre colaboração com a ditadura militar do pós-1964 no Brasil.
Outras empresas com marcas muito conhecidas também estão na relação, como a montadora de automóveis Fiat e o jornal Folha de S.Paulo. A lista inclui ainda a produtora de cobre Paranapanema, a Companhia Docas de Santos, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Itaipu Binacional, a empresa de alimentos Josapar, a Companhia Brasileira de Material Ferroviário (Cobrasma, extinta em 1998) e a Aracruz Celulose.
“No dia seguinte ao golpe de 64 [1º de abril de 1964], a Petrobras já dispunha de uma estrutura militarizada de repressão aos trabalhadores nas refinarias. Em 8 de abril daquele ano, uma semana depois, a petrolífera havia formado a Comissão Geral de Investigação, a CGI, composta por três generais. Em seis meses, a CGI fez um levantamento de três mil “suspeitos” entre os 36 mil funcionários”, relata a revista.
A publicação ouviu a socióloga Lucieneida Praun, que integra a equipe de pesquisa da Unifesp. De acordo com ela, a empresa abriu 1,5 mil processos contra trabalhadores, que geraram 712 indiciamentos e 516 demissões.
“Outros estudos já mostravam que a Petrobras possuia um sistema articulado de vigilância, segundo a coordenadora. Há relatos de uso de dependências da empresa para a tortura de trabalhadores, como no caso de Mário Lima, deputado federal e presidente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, que liderava os trabalhadores da histórica Refinaria Landulpho Alves e acabou preso logo depois do golpe, cita a professora. Praun acrescenta ainda o uso de carros da Petrobras para o transporte de trabalhadores capturados”, também relata a revista.
Em outubro de 1964, a CGI foi substituída por uma “Divisão de Segurança e Informações” (Divin), que ” executou importante papel nos anos seguintes, especialmente em 1967 e 1968, quando ocorreu uma nova leva de demissões”. A pesquisadora disse ainda à Carta Capital que há registro da atuação desse órgão pelo menos até o fim da ditadura, em 1985. A pesquisa procurar identificar até quando a estrutura foi mantida, mesmo após a abertura política.
A pesquisa é realizada com parte dos recursos pagos pela Volkswagem, em processo movido pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público de São Paulo, em acordo de reparação pela participação da empresa no regime militar. Estão mobilizados 45 pesquisadores em todo o país, que começaram os trabalhos neste mês de novembro. A Volksvagem se comprometeu a pagar R$ 36,3 milhões em indenizações individuais e a iniciativas de reparação e memória. Para a pesquisa da Unifesp foram destinados R$ 2 milhões deste montante.
A Petrobrás não havia respondido a revista até a publicação da matéria.