A série de lives “Prejuízos da saída da Petrobras na Bacia de Campos” estreou, na segunda-feira passada, com a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, a geóloga Rosângela Buzanelli. Ela alertou para a urgência da participação de petroleiros e da sociedade em geral para a campanha Petrobras Fica.
“A estratégia atual da Petrobras é parar de produzir na Bacia de Campos. O que não for pré-sal da Bacia de Santos vai ser descartado. Não podemos subestimar e a gente tem que se engajar nessa campanha porque senão a Petrobras vai sair”, afirmou Rosângela.
Soberania energética
Segundo a geóloga, é preciso não perder a ideia de que os petroleiros têm a missão de trazer a soberania energética para o Brasil e que é um mito afirmar que a Bacia de Campos não pode produzir. A redução de quase metade da produção não se deve apenas ao fato de os campos ficarem maduros, mas sim por faltar muito investimento, pois ainda há campos com muita lucratividade.
“A estratégia atual é de quem olha o lucro máximo por um curto espaço de tempo e se quer remunerar o acionista e o investidor. É uma política da Petrobras que não olha para o país, para a sociedade”.
A geóloga argumentou que se as empresas privadas comprarem as áreas da Petrobras na Bacia de Campos, os investimentos não serão no mesmo volume feito da Petrobras no passado, pois são companhias que olham, primeiramente, o lucro diante dos riscos da atividade.
A Petrobras, por sua vez, sempre trabalhou para a busca da autossuficiência energética do país. Ultrapassou obstáculos ao longo de sua história, com a descoberta de campos em terra, em mar e, por fim, no pré-sal.
“O país está errado em entregar tudo de bandeja depois de superar tantos desafios”, completou Rosângela Buzanelli.
Perdas econômicas
Segundo o coordenador-geral do Sindipetro NF, Tezeu Bezerra, ainda existe muito petróleo a explorar na Bacia de Campos e só de 25% a 30% do petróleo dos campos maduros foram produzidos.
“O emprego foi embora e, pela primeira vez, a cidade de Campos não recebeu nada de royalties e de participação especial no mês passado. A tendência, se continuar, é que fique muito pior”, disse Bezerra.
Ele lembrou que quando o investimento da Petrobras ainda era alto na bacia, aeroportos, hotéis, bares, restaurantes e shoppings ficavam lotados nas cidades do Norte Fluminense e que, nos últimos anos, muitas lojas fecharam suas portas.
“A Petrobras hoje é totalmente o oposto do que a gente sonha. Querem transformar em uma empresa do terror. Não podemos desanimar na luta”, afirmou o coordenador-geral do sindicato.
Impactos sociais
Na quarta-feira (21), foi a vez de Maria Goretti Nagime, advogada trabalhista e criadora do PTinder. Para ela, é falsa a ideia de que privatizar ativos da Petrobras é algo polêmico.
“Não tem polêmica. Quando se privatiza, o lucro deixa de ir para o Estado e vai para uma empresa privada, para outro país. Que tipo de governante faz uma coisa dessa? Que tipo de ideologia pode explicar isso?”, disse.
Para Goretti, a presença da Petrobras no Norte Fluminense, nas últimas décadas, levou à ascensão social de muitas famílias, permitindo que as novas gerações pudessem avançar nos estudos.
“Isso se deu através dos direitos trabalhistas conquistados pela luta dos sindicatos, como a participação nos lucros e a cobertura de remédios no plano de saúde”, afirmou.
Segundo a advogada, quem promove a privatização “é o corrupto, que fica com uma parte dessa fatia da privatização, é uma pessoa vendida”. Ela lembrou que a extração de petróleo, historicamente, esteve associada a guerras entre países. No entanto, no país, a situação é diferente. “No Brasil, não precisa entrar em guerra porque é só comprar meia dúzia de políticos e de jornais e vender um patrimônio”.
Goretti é fundadora do PTinder, uma iniciativa para promover encontros entre pessoas de esquerda em meio à onda bolsonarista de 2018. O PTinder tem uma página no Faceboook que já ultrapassou 3 milhões de usuários e agora está no Instagram. Em seis meses, já tem 17 mil pessoas. “Foi uma boa ideia e as pessoas se casam mesmo”, comentou.
Ciência e Tecnologia comprometidas
Na sexta-feira (23), o reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF), Jefferson Manhães de Azevedo, falou sobre o papel da instituição no Norte Fluminense em gerar oportunidades aos jovens da região.
“Quando se investe em educação e em Ciência e Tecnologia, em plataformas de petróleo, oportunidades são criadas. O Brasil tem competência. É o caso do IFF, é uma prova de oportunidades para a juventude, principalmente a mais pobre”, disse Manhães.
No entanto, há dois problemas hoje. Um é local e refere-se às incertezas geradas com o menor investimento da Petrobras na Bacia de Campos, pois os cursos formam capital humano para atuar na companhia e em empresas que trabalham para a Petrobras.
“Não entendo o Norte Fluminense sem essa grande potência, que é a Petrobras. É um grande player, que deveria ser pautado pelos interesses na nação”, afirmou o reitor do IFF.
Para Manhães, a Petrobras deveria voltar a ser uma empresa forte, preocupada com o desenvolvimento nacional e em se articular com outros segmentos do setor produtivo.
Desmonte de ativos
O fator mais conjuntural tem relação com o desmonte que o atual governo pretende promover na área da Educação. “Em 2014, a Educação tinha projeto até 2024 e 10% do PIB deveriam ser aplicados na área. Agora, o governo diz que tem muito dinheiro na educação e que o problema é o mau uso. Não é verdade”, disse.
Segundo ele, o atual projeto de desmonte de universidade e institutos federais é de interesse do setor privado da educação. “Esse modelo que endeusa a iniciativa privada e demoniza o setor público tem interesses privados muito fortes”, completou.
Para o reitor do IFF, é preciso, ao contrário, democratizar a educação e reconhecer os mais pobres como sujeitos, pois famílias pobres não se sentem ainda no direito de frequentar uma escola de qualidade. “A condição socioeconômica não pode limitar a escolaridade do jovem. Nossa escola inverte essa lógica porque permite que ele estude mais, até o doutorado”.
Confira a programação das próximas lives
Acompanhe as nossas lives às segundas, quartas e sextas, sempre às 18h. Um especialista fala sobre como precisamos lutar para evitar o esvaziamento econômico do Norte Fluminense.
Nesta quarta-feira (28), a conversa será com Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP, com a mediação do coordenador do Sindipetro NF Tadeu Porto.
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