Rede Brasil Atual – “Saímos de cabeça erguida. A gente fez história, e vamos continuar fazendo”, disse um manifestante enquanto deixava o prédio; reintegração foi pedida pelo Iphan
A Polícia Federal realizou hoje (25) a desocupação o Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Cultura, no centro do Rio, que estava ocupado por cerca de 50 manifestantes havia 70 dias, em protesto contra o governo interino de Michel Temer e contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os ocupantes deixaram o local de forma pacífica. Em assembleia em frente ao prédio, ainda na manhã desta segunda-feira, eles vão definir os rumos do movimento.
Os artistas e membros de coletivos culturais saíram repetindo palavras de ordem, em especial “Fora, Temer”, principal bandeira do movimento. “Saímos de cabeça erguida. Primeiramente, fora, Temer! Segundo, nesses dois meses que estamos juntos aqui provamos que somos lutadores e guerreiros. A gente fez história, e vamos continuar fazendo”, disse um manifestante enquanto deixava o prédio.
A tropa chegou por volta das 8h, fortemente armada, acompanhada de um oficial de Justiça exigindo que todos se retirassem do local em cinco minutos, sem nenhum pertence. Após conversa, foram negociados 30 minutos para que o acampamento fosse desmontado. Uma mulher foi agredida pelos militares e os advogados foram impedidos de entrar, segundo os manifestantes.
O pedido de reintegração de posse foi feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no último dia 15, argumentando que o movimento estava impedindo o acesso dos funcionários e pondo em risco o patrimônio artístico do local, incluindo quadros de Cândido Portinari e um tapete de Oscar Niemeyer. “Temos documentado que isso não aconteceu”, disse um manifestante durante a desocupação.
Nos 70 dias de ocupação, os artistas cariocas promoveram pelo menos mil atividades culturais gratuitas no local, como seminários, shows, aulas, debates e oficinas de capacitação. Pelo menos 100 mil pessoas foram mobilizadas. O movimento faz a gestão democrática de três espaços do prédio: pilotis, mezanino e auditório. Em nota, os artistas afirmaram que todos os órgãos que funcionam no edifício mantinham suas atividades regularmente, coabitando harmonicamente com as atividades culturais, artísticas, políticas e sociais da ocupação.
“Encerramos um ciclo. Subvertemos esse espaço de forma artística e inovadora, como o governo deveria fazer. Aí chegou a polícia fortemente armada quando só precisávamos de diálogo. As pessoas aqui agiam em prol da cultura, em defesa da democracia e contra o governo golpista”, disse um manifestante.
As mobilizações começaram logo após o anúncio que Temer iria extinguir o Ministério da Cultura. Ocorreram ocupações em todos os estados, segundo o movimento, com apoio de diversos artistas. Após a reação, Temer desistiu de extinguir a pasta. Ainda assim, os artistas decidiram permanecer nas ocupações em protesto contra o governo Temer, tido como ilegítimo e golpista.
As ocupações continuam na Bahia e em São Paulo, onde os manifestantes terão até dia 31 para deixar a sede da Fundação Nacional de Artes (Funarte), ocupada desde maio.