Júlia Dolce / Do Brasil de Fato – As análises do balanço financeiro da Petrobras no ano de 2017, divulgado na segunda quinzena de março deste ano, estão sendo utilizadas como subsídio para acirrar ainda mais o desmonte da estatal, opinam pesquisadores e petroleiros. Eles destacam que o suposto prejuízo de R$ 446 milhões no ano passado, o quarto seguido de resultados negativos da companhia, não é grave, mas vem sendo repercutido dessa forma para justificar tentativas de privatização.
É o que analisa a diretora da Federação Única dos Trabalhadores (FUP), Cibele Vieira. Para ela, esse processo faz parte do comprometimento da reputação da Petrobras, consequente, principalmente, da Operação Lava Jato. A investigação completou quatro anos no último 17 de março e tem como uma de suas principais ações a apuração de recursos desviados dos cofres públicos da petrolífera.
“A Lava Jato cria esse pano de fundo de uma Petrobras quebrada por conta da corrupção. Estão fabricando esse déficit justamente para dar a impressão de uma empresa quebrada, para justificar sua venda. Mas qualquer analista sério que olhar os dados da Petrobras com mais cautela vai ver que a empresa é sólida. Tanto que ela cumpriu todas as metas operacionais de 2017, como o aumento da produção, e o lucro operacional”, ponderou.
Segundo nota divulgada pela Petrobras, a empresa teria alcançado um lucro líquido de R$ 7,089 bilhões em 2017, se não fossem por despesas extraordinárias de acordos com investidores estadunidenses. Essas dívidas, bem como a variação internacional no preço do barril de petróleo — que nos últimos anos caiu para cerca de US$ 30 o litro — são consideradas efeitos contábeis, ou seja, não indicam uma desvalorização da empresa.
Para Rodrigo Leão, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustível (INEEP), as medidas tomadas após a Lava Jato são muito mais danosas à empresa do que o suposto envolvimento de seus gestores nos casos de corrupção, ou os déficit contábeis.
“Não acho que em nenhum momento a Petrobras correu o risco de ficar quebrada. A preocupação que temos hoje com esse resultado, muito além desse pequeno prejuízo, é o viés estratégico da empresa. Ela vinha se caracterizando por ser uma empresa integrada e diversificada. Agora vem saindo progressivamente de outros segmentos, como o de refino. Com isso, ficamos reféns do mercado externo. Ou seja, a Petrobras era uma empresa que estava alterando a geopolítica e agora está em uma posição subalterna”, opinou.
De acordo com a FUP, ao mudar seu plano de negócio, a Petrobras reduziu investimentos e freou obras por todo o país, principalmente após a entrada do atual presidente da empresa, o engenheiro Pedro Parente, indicado pelo presidente golpista Michel Temer (MDB). Desde então, cerca de 25 mil trabalhadores próprios deixaram a empresa, por meio de planos de demissão voluntários, além de 150 mil trabalhadores terceirizados.
Para Cibele Vieira, o desemprego dos trabalhadores diretos e indiretos, que eram contemplados pela produção da Petrobras, é mais uma consequência do desmonte conduzido pela Lava Jato. Ela destacou que, antes, a empresa estimava uma geração de cerca de 1 milhão de postos de trabalho indiretos nas regiões beneficiadas.
“Isso tudo foi por água abaixo, o que a gente está vendo é que, o que poderia gerar emprego está gerando desemprego, porque a Petrobras está cancelando encomendas no Brasil e importando combustível de fora. Isso porque o governo quer vender as refinarias. O que sempre falamos é que eles têm que punir quem roubou, e não paralisar as obras, porque quando você faz isso, é o trabalhador da ponta que fica desempregado”, denunciou.