Próximo ao 28 de Abril, coordenador de Saúde e Segurança do NF avalia situação dos trabalhadores

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O próximo domingo, 28 de Abril, é Dia Mundial de Prevenção aos Acidentes de Trabalho e Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. O Sindipetro-NF mantém ação constante nesta área e é reconhecido como um dos sindicatos mais atuantes na defesa da saúde do trabalhador. Historicamente, grandes tragédias como as de Enchova e da P-36, na região, levaram a entidade a dar prioridade absoluta à área.

Para o coordenador do Departamento de Saúde do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, mesmo que a conjuntura atual seja de mais diálogo, tanto com o governo federal quanto com a gestão da Petrobrás, ainda é preciso avançar muito nos temas que envolvem a segurança e o bem-estar dos trabalhadores e das trabalhadoras. Ele cita as questões do baixo número de trabalhadores (efetivo) e de habitabilidade como problemas mais recorrentemente relatados pela categoria.

Confira abaixo entrevista do sindicalista à Imprensa do NF:

Diretor Alexandre Vieira

Imprensa do NF – Como você avalia o quadro atual da Segurança de Trabalho na indústria do Petróleo?

Alexandre Vieira – Posso falar mais da questão Petrobrás. Infelizmente, das operadoras, a gente não representa nenhuma outra. A gente representa algumas empresas do setor privado da indústria do petróleo que prestam serviço à Petrobras e são exceções dentro do contrato. Porque as empresas que a gente apresenta em geral tem contratos bons, com salários mais adequados à realidade do mercado. Só que a realidade da grande maioria das empresas, onde é a grande maioria dos acidentes, que é ainda a maior parte deles acontece com o pessoal do setor privado, é que os contratos vinham sendo muito rebaixados, vinham sendo colocados com valores ruins. E aí muita rotatividade da mão de obra, o que obviamente impacta na segurança e aumenta o número de acidentes. A gente espera que a nova gestão, algumas melhorias que estão tendo no contrato, isso melhore, mas a gente vê ainda questões como atraso de salário, atraso de FGTS, então assim nem o básico legal as empresas cumprem e quanto mais as questões de segurança.

Se você tem uma pessoa que não descansa bem, não se alimenta bem, não tá bem satisfeita, ela não vai trabalhar bem

Imprensa do NF – Quais são as denúncias mais frequentes recebidas pelo Sindipetro-NF sobre Segurança no Trabalho?
Alexandre Vieira – O que tem vindo muito é a questão de efetivo. Uma questão sempre presente o problema de efetivo, principalmente nas unidades que estão sendo desmobilizadas. E no setor privado é principalmente as questões de habitabilidade. Questão também nas plataformas da alimentação e tudo isso apesar de acharem que não é direto com a segurança. Se você tem uma pessoa que não descansa bem, não se alimenta bem, não tá bem satisfeita, ela não vai trabalhar bem. A pessoa tem que ir bem para o trabalho. Porque é um trabalho exaustivo, cansativo, penoso. Se você já chega mal, você já chega insatisfeito, você vai ter um trabalho ruim, não vai conseguir ter o foco que você deveria e isso vai com certeza aumentar o risco e o número de acidentes. Os acidentes estão sendo consequência de o trabalhador já não estar chegando bem ao seu posto de trabalho porque não teve um bom descanso, uma boa alimentação, não tá já com o mínimo de satisfação a bordo.

Imprensa do NF – Neste novo governo Lula e na nova gestão da Petrobrás foi possível ver maior abertura de diálogo sobre o tema. Mas já é possível ver resultados mais concretos?
Alexandre Vieira – Tem alguns resultados, mas a gente entende que algumas questões continuam estagnadas. Por exemplo: a gente vê um esforço sobre a questão da habitabilidade, como uma pessoa tá sendo tratada a bordo, a gente vê algum esforço, vê novos contratos, mas o contrato entrou, já está com problema nos contratos novos. Questão de ar condicionado a gente está tendo problemas, mas pelo menos as pessoas estão sendo desembarcadas. A gente tem visto esse esforço de desembarcar as pessoas, que a gente não via nos governos anteriores. Isso é fato. Tem que ser reconhecido. Tem aí uma busca para questão de melhoria dos MTAs, melhoria de ambientes, abertura de quadros, mas numa velocidade… já tem um ano de governo. As coisas são também demoradas, óbvio, mas outras questões como alimentação poderiam ser resolvidas de imediato e vêm se arrastando. Isso incomoda muito trabalhadores. Tem toda a questão dos riscos. Você continua vendo exames de audiometria serem cortados de equipes. Riscos auditivos sendo tirados de exames ocupacionais, então isso tem sim pouca mudança. E se anuncia mudanças ela corre no primeiro momento, como a questão da alimentação, mas já tá retroagindo. Então a gente está vendo que daqui a pouco o trabalhador e o sindicato representa vai perder a paciência com isso. Seja o governo se for não vai ter paciência suficiente que deixe o trabalhador passar por percalço e sem lutar.

Tem alguns resultados, mas a gente entende que algumas questões continuam estagnadas

Imprensa do NF – O que você percebe de diferença em relação à Segurança no Trabalho quando comparadas as realidades de petroleiros da Petrobrás com as das empresas privadas do setor petróleo?
Alexandre Vieira – Na realidade a gente vê que, seja Petrobrás, seja de outras operadores, os problemas são idênticos, os mesmos. A diferença é que com os sindicatos que representam os petroleiros da Petrobrás você têm mais têm mais denúncia, mais atuação sindical. Então você consegue evitar alguns acidentes, evitar alguns problemas, lutar contra algumas questões. Já o setor privado eles [os trabalhadores] estão colocados em sindicatos que não atuam, mesmo as empresas cometendo várias ilegalidades trabalhistas. Mas você não tem uma atuação forte desses sindicatos. Então a diferença em si está mais na questão sindical, de organização dos trabalhadores, que na questão empresarial. Porque as empresas vão sempre vir… não importa se elas têm programas lindos e maravilhosos sobre risco, sobre tudo, na hora do vamos ver a questão da produção, a questão do lucro vai pesar, e se você não tiver trabalhador organizado acaba se sujeitando aos riscos que colocam à integridade física e até mesmo à vida, o que não é aceitável

Imprensa do NF – Você considera que a categoria petroleira é suficientemente conscientizada sobre os temas que envolvem a Segurança no Trabalho?
Alexandre Vieira – A gente tem um trabalho, principalmente no nosso principal aeroporto, do Farol de São Tomé, onde sempre falamos que o mais importante é a saúde. Sem saúde você não tem emprego, você não embarca, você não trabalha, sua família passa necessidades em relação a isso. Então a gente tem essa fala e tenta conscientizar o pessoal nesse sentido. Mas tem o trabalhador que ainda não entendeu isso. É um processo que vai ser longo. Não é simples. Mas a gente faz o trabalho de colocar primeiro a vida em integridade na frente. Perdeu o emprego, perdeu uma promoção, alguma coisa assim, você recupera. Agora, uma vida, algum membro que foi quebrado, alguma coisa que afetou sua saúde, dificilmente você vai conseguir recuperar. Então é essa lógica que a gente tenta mudar. Mostrar que o mais importante não é um emprego. Mais importante é a vida.