“Racismo não existe…É coisa da sua cabeça!” Com essa frase a diretora do Sindipetro-NF, Conceição de Maria abriu a comemoração do Dia da Consciência Negra no sindicato. Uma frase que num primeiro momento pode chocar, mas que foi desmistificada pela própria diretora, quando começou a relatar fatos do cotidiano que demonstram o quanto ainda existe de racismo na sociedade brasileira.
“Se pensarmos no genocídio dos jovens negros, racismo não existe. Porque de 100 pessoas mortas, 79, no Brasil são jovens negros e negras” – comentou Conceição, fazendo uma reflexão sobre a data e mostrando que “vinte de novembro não é coisa de preto” é uma data para o povo brasileiro pensar.
A arte e cultura fizeram parte da comemoração dando leveza ao momento através da apresentação do Coral do Sindipetro-NF, com o repertório Canto das Três Raças, Sina, Sal da Terra e Tropicália.
Em seguida, foi instalada a Roda de Conversa para falar de “Memória e Construção da Identidade Negra” com o professor da Faculdade Batista de Macaé e Mestre em Políticas Públicas Educacionais pela UniRio, Jorge Luiz R. Santos e a professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e Doutora em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luciane Soares, mediada pelo diretor Ricardo Barbosa Junior.
Luciane Soares também citou casos recentes de racismo para contextualizar o tema e comentou “todo mundo repudia o racismo, que engraçado que ele exista” . Para a professora, o setor cultural é um lugar de disputa, onde o negro precisa assumir sua posição de protagonismo intelectual através da literatura, do cinema… A ocupação das praças públicas com saraus de poesias negras e cordéis foi sugerida por Soares como de grande importância para o movimento de resistência.
Na época de estudante, o professor Jorge Luiz Santos começou sua militância em 2008, participando de uma atividade no Sindipetro-NF. Em 2017, ele volta ao mesmo lugar para participar de um debate sobre racismo.
“O racismo é uma luta incessante que não acaba nunca! A gente não pode achar que vai dar conta de acabar com ele, porque não vai. Ele se renova a cada dia!” – afirmou o professor, que se tornou pesquisador da área por conta do racismo que sofreu em seus locais de trabalho, inclusive sendo impedido de ser diretor porque era negro.
Para Santos, ser negro é todo o dia enfrentar o racismo de maneira direta ou indireta. É necessário ter a sensibilidade de como desconstrói. Para ele o confronto pessoal adoece e desgasta, cansa e é demorado. A academia empodera e o caminho passa por aí. A pesquisa chancela a verdade.
Para fechar o evento foi exibido o documentário Menino 23, que trouxe imagens fortes de um tempo em que o nazismo era forte no Brasil e principalmente no seio de famílias ricas, no caso a Rocha Miranda, que adotava crianças negras para trabalhar em sua fazenda. A professora da UFRJ e membro do Neab-UFRJ/UFF Macaé, Caroline Guilherme, que orientou as conversas pós-filme ressaltou que era importante conhecer a história para que todos lembrem do que aconteceu e os fatos não se repitam.