Réplica: confira comentários do NF sobre respostas da Petrobrás a PCH-2

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp
Publicada no site do Sindipetro-NF, relato dos petroleiros de PCH-2 mereceu resposta, ítem a ítem, da Petrobrás, antes da interdição da unidade determinada pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE). Sobre esta resposta da empresa, no entanto, o sindicato precisa fazer os comentários abaixo (que, para facilitar o entendimento do contraponto, segue após a reprodução do texto da companhia):
 
“Nota de esclarecimento
 
Com relação aos questionamentos feitos através de carta publicada na página do Sindipetro NF, nesta segunda-feira (07), a Petrobras informa que o tema segurança é encarado pela Companhia com total seriedade e respeito. E mais, os profissionais encarregados por atestar a integridade das plataformas possuem qualificação para desempenhar a tarefa, e seguem o Código de Ética da Companhia e os Princípos Operacionais do E&P. Da mesma forma, os inspetores da Marinha do Brasil realizam suas atividades de forma competente e isenta. 

Esclarecemos abaixo os questionamentos enviados ao Sindipetro NF, de acordo com as práticas da Companhia, embasadas em padrões e procedimentos, periodicamente revisados e adotados largamente na indústria do petróleo:

1- O ESD-3, historicamente, em PCH-2, fica em ‘by-pass’

O Sistema Automático de Parada (ESD) da plataforma pode ficar desativado, temporariamente, conforme o padrão PG-2E7-00334 (Responsabilidades de desativação temporária de instrumentos ou de sistemas). Por exemplo, durante trabalhos de atualização da lógica de controle da planta de produção, conforme previsto na Especificação Técnica de Filosofia de Segurança para Instalações Marítimas de Produção; ou quando são realizados serviços aprovados pelo técnico de segurança com emissão de calor e luz.”
 
Comentário do NF:
Uma coisa é inibir o sensor temporariamente, com uma motivação justificável, com todos avisados dessa situação transitória e em prontidão para uma eventual emergência. Outra coisa muito diferente é o motivo da denuncia dos trabalhadores, que por isso mesmo fizeram questão de colocar o termo “historicamente” no texto mostrando claramente que é uma prática da gestão da unidade para evitar paradas de produção.
 
“2- O retorno da produção da plataforma foi realizado com um efetivo super-reduzido (faltando 03 operadores de produção: 01 operador de licença médica e 02 operadores transbordados para PCH-1 por falta de vaga);
A plataforma retomou a produção de forma parcial, operando com um separador de teste, uma bomba de transferência, com um terço da capacidade das bombas principais e sem descarte de água. Portanto, o efetivo a bordo estava adequado às necessidades do momento.”  
 
Comentário do NF:
A resposta mostra claramente que quem escreve só pensa em produção. Faltou responder se o efetivo estava adequado para uma nova emergência, pois a experiência do combate a incêndio do dia 19 deixou claro que a redução do efetivo seria desastrosa em uma nova ocorrência.
 
“3- O SG-501 está sem a sinalização na ESC das XV’s, tendo que se confirmar no local a sua abertura/fechamento (apesar do número super-reduzido de operadores);
Esta válvula de segurança (XV) está com o comando remoto operacional e a confirmação de abertura pode ser feita pelo operador da área, pela indicação de nível e variação de pressão em diversos outros pontos da planta de processo da unidade.”
 
Comentário do NF:
Ou seja, a denuncia procede e a sinalização não está funcionando. Só quem dá pouca importância para a segurança julga normal que uma sinalização de uma válvula de segurança fique sem funcionar.”
 
“4- Durante o retorno da produção os instrumentos de segurança (PSHH, PSLL, etc) do SG-501/V-402/V-403 não estavam (normalizados após o retorno da produção);
A partida foi realizada de acordo com as boas práticas de operação da indústria do petróleo, validadas em simuladores de processos, nas quais estão previstas que na partida da planta de produção, após longo período de parada, seja feita a inibição de determinados pressostatos, evitando o registro indevido gerado pelas golfadas iniciais dos poços.”
 
Comentário do NF:
A denúncia dos trabalhadores é exatamente essa e quem responde tenta desqualificar. Entre estes trabalhadores estão operadores que sabem se é ou não necessário adotar procedimentos para as tais golfadas iniciais naquela unidade.
 
“5- Header de teste estava sem a PSV (instalada após o retorno da produção);
A tubulação (header) possui válvula de segurança (PSV), que foi substituída recentemente. Além disso, esta tubulação é contingenciada pelo sistema de segurança dos compressores de gás da plataforma.”
 
Comentário do NF:
Ou seja, a denúncia procede e quem responde não afirma que estava com PSV no momento do retorno. Somente cita uma substituição de PSV sem negar o fato gravíssimo de um header operar sem PSV. Além disso, tenta uma desculpa sem sentido de contar com a proteção do compressor.
 
“6- O Sistema de Dreno Fechado (Sloop) está fazendo o descarte por mangote, direto para o Oleoduto de P9;
O sistema de drenagem de PCH-2 está interligado ao oleoduto da P-9, em condições seguras, por meio de mangote certificado a operar em pressões bastante superiores às exigidas no processo. Além disso, a tubulação possui diversas válvulas e equipamentos que garantem a integridade da operação.”
 
Comentário do NF:
Ou seja, a denúncia procede e não é a condição normal de operação.
 
“7- O P-501 está operando com componentes de segurança (XV de entrada, PSHH) em override e sem as suas PSV’s;
O permutador P-501 não está operando. Ele possui válvula de segurança (PSV) instalada e os componentes de segurança estão inibidos, conforme previsto na Especificação Técnica de Filosofia de Segurança para Instalações Marítimas de Produção e evitando-se o registro indevido gerado pelas golfadas iniciais dos poços.”
 
Comentário do NF:
Quem responde tenta desqualificar a denúncia com um desmentido que joga com palavras dizendo que não está operando e ao mesmo tempo sujeito às golfadas dos poços. A denuncia não se refere ao momento de retorno do poço como quem responde tenta convencer.
 
“8- Linha de água produzida dos separadores de produção e o SG-501, com baixa espessura (com bacalhau e braçadeira);
A baixa espessura em linhas de tubulação industrial só pode ser constatada por meio de medição e validada por profissional habilitado (PH). Juntas sobrepostas e abraçadeiras são procedimentos operacionais de engenharia consagrados na Indústria de Petróleo e na Petrobras. Esses reparos provisórios serão substituídos na parada de produção a iniciar no final do mês de fevereiro. Além disso, uma Unidade de Manutenção e Segurança (UMS) está prevista para apoiar a revitalização de PCH-2, a partir de outubro deste ano.”
 
Comentário do NF: 
A resposta parte do princípio de que a existência de normas que prevêem reparos provisórios dá a empresa um salvo conduto para usar isso de forma indiscriminada nas plataformas da Bacia de Campos. É preciso atentar para que essas mesmas normas tratam “reparos provisórios” como situações excepcionais e temporárias. A enorme quantidade e o descontrole sobre a validade dessas soluções são bastante conhecidos pelos trabalhadores e essa resposta não convence mais.
 
“9- Pediu-se a “colaboração” dos executantes para efetuar trabalhos sem análise de simultaneidade e sem a permissão de trabalho;
Os empregados que atuam nas plataformas seguem rigorosamente os Princípios Operacionais do E&P, que preconizam o respeito pela segurança operacional, pela saúde das pessoas e pela preservação do meio ambiente, e o Código de Ética da Petrobras. Os empregados lotados em PCH-2, junto com técnicos de diversas gerências da UO-BC e das unidades de Serviço de Logística e de Apoio do E&P, engajaram-se com grande empenho para recuperar a unidade seguindo todos os procedimentos técnicos e de segurança com agilidade e dedicação – fato que foi destacado pela equipe de vistoriadores da Marinha do Brasil.”
 
Comentário do NF:
Será que seria essa a resposta da empresa caso um acidente tivesse acontecido durante o período em que ocorreu o que agora é chamado de “empenho”. Geralmente as análises dos acidentes referem-se a isso como “falta de atenção” ou “descumprimento do procedimento de PT´s”. Estão certos os trabalhadores de cobrar o cumprimento dos procedimentos e exigir segurança em todas os trabalhos.
 
“10- O Sistema de Incêndio que foi reprovado através de RTI de 1994, e novamente em RTI de 2001, somente em 2005 teve o Anel de Incêndio substituído e em 2010 as ADV’s condicionadas;
Conforme descrito no próprio questionamento acima, os problemas foram detectados e as manutenções corretivas feitas. Ressalta-se que estas manutenções preventivas e corretivas fazem parte da realidade da atividade da indústria do petróleo no ambiente marinho.”
 
Comentário do NF:
Quem responde considera normal identificar um problema em 1994 e solucionar parcialmente em 2005 e somente em 2010 corrigir problemas na primeira reação a um incêndio de uma plataforma que são as ADV´s. É um extremo descaso com a segurança dizer que isso faz parte da realidade no ambiente marinho. Se fosse algo que interrompesse a produção? É claro que não levariam todo esse tempo para corrigir, mesmo que fizesse parte da realidade do ambiente marinho.
 
“11- Sistema de Drenagem aberta da área dos separadores, das bombas de transferência e da chegada de óleo dos poços submarinos no cellar deck está obstruído ou com raquetes;
Os trechos do sistema de drenagem aberta (atmosférica) que estavam obstruídos estão sendo limpos pela equipe de manutenção a bordo. Esses trechos em manutenção não afetam o processo da plataforma, que possui alternativas para o tratamento do óleo e da água oleosa recolhidos pelo sistema de drenagem da unidade.”
 
Comentário do NF:
Ou seja, a denúncia procede e a existência e uso de alternativa não significa que seja melhor ou mais seguro que o funcionamento normal de um sistema que está relacionado com a contenção dos vazamentos, tão freqüentes nas unidades da Bacia de Campos.
 
“12- Operação do descarte de água do SG-502 A está operando em ”Manual” nos últimos 03 anos;
O equipamento está operando normalmente, em modo automático. Eventualmente, durante a manutenção do sistema de controle de nível, os separadores podem ser operados de forma manual, com a segurança garantida pelo monitoramento dos sistemas de alarmes na sala de controle.”
 
Comentário do NF:
Novamente o jogo de palavras tenta esconder exatamente o que a denuncia expõe: O sistema de descarte de água está com problema crônico que faz com que seja operado manualmente de forma frequente nos últimos três anos.
 
“13- MB-501 A/B operando com as linhas de sucção e descarga com bandagens;
As bandagens (reparos não-metálicos) são procedimentos operacionais de engenharia consagrados na Indústria de Petróleo e na Petrobras. Os reparos provisórios em PCH-2 serão substituídos na parada de produção a iniciar no final do mês de fevereiro. Além disto, uma Unidade de Manutenção e Segurança (UMS) está prevista para apoiar a revitalização de PCH-2, a partir de outubro deste ano.”
 
Comentário do NF:
Novamente o uso de normas para situações excepcionais e provisórias de forma indiscriminada e descontrolada como no ítem 8.
 
“14- Válvula de carregamento do canhão Z-4701 (Oleoduto PCH-2 x PCH-1) com pequena passagem, e com isso o operador tem de procurar um ponto em que a válvula tenha vedação;
A válvula do lançador de pig (elemento de limpeza do oleoduto) está programada para ser substituída na próxima parada de produção, que se inicia no final de fevereiro. A segurança do equipamento é garantida através de diversos instrumentos, previstos no procedimento de abertura do lançador de pig.”
 
Comentário do NF:
O procedimento citado na resposta parte do princípio que as válvulas vedam. Ou seja, o risco de um vazamento na válvula causar um acidente e atingir pessoas não está previsto no procedimento. Aguardar a parada de produção mostra novamente o descaso com a segurança quando é preciso assumir custo pela parada da produção. O valor financeiro da produção que deixaria de acontecer durante o tempo de parada necessário para trocar a válvula é o preço que vale o acidente e até morte de um trabalhador.
 
“15- Algumas tubulações que ainda estão com o ‘reparo’ de bandagem, recebem a pintura e passam a impressão de estarem sem a necessidade de conserto.
Complementando o descrito na resposta ao item 13, estas tubulações, após reparadas, precisam ser pintadas de forma a restabelecer a cor que indica o tipo de fluido (gás, óleo, água quente ou fria, entre outros), preservando assim a segurança da operação.”
 
Comentário do NF:
Faltou dizer que isso só se justifica por manterem o reparo “provisório” por um longo tempo.
 
“16- O local do acidente foi “maquiado” para a liberação da inspeção da marinha.
O local do acidente foi devidamente reparado, conforme os padrões e as normas técnicas internas e internacionais vigentes. Cabe ressaltar que os profissionais da Marinha do Brasil que estiveram a bordo para a perícia técnica realizaram todos os testes possíveis, acompanhados pelos técnicos de bordo, constatando que todos os equipamentos e sistemas de segurança da unidade estavam operacionais.”
 
Comentário do NF:
Tentam dar a denuncia a interpretação de que há uma crítica dos trabalhadores sobre a capacidade dos profissionais da Marinha. Na verdade a crítica é a forma como a recuperação foi tratada pela alta gerência da Petrobras desde o início. Determinaram antecipadamente a data em que estaria tudo pronto (01-02-2010). A denuncia é que tudo foi feito “às pressas”, e buscou-se esconder problemas. Por mais experientes que sejam e são os profissionais da Marinha não há como verificar tudo.
 
“17- Todos os presentes ficaram fortemente preocupados com os relatos aqui descritos, e com a sensação do “sentimento” de que a SEGURANÇA estar relegada a 2º plano, é na verdade um fato real.
Estranha-se a afirmativa acima, pois no mesmo dia em que a Marinha do Brasil atestou as condições de segurança operacional da unidade, toda a equipe a bordo de PCH-2 reuniu-se no heliponto e discutiu o serviço realizado, constatando que a unidade estava tão ou mais segura que antes do evento.”
 
Comentário do NF:
Acreditando-se nessa improvável informação, não há nada de estranho que dias depois os trabalhadores analisem tudo que aconteceu. E então, reunidos em uma setorial solicitada pelo sindicato, cheguem a conclusão de que a SEGURANÇA em Cherne 2 está relegada a segundo plano.
 
“18- Após reunião setorial realizada dia 4/02 houve a paralisação da MB 501 A (bomba transferência de óleo exclusiva para o separador de teste) por vazamento na conexão da voluta com o ciclone da bomba.Colocou-se então em operação outra bomba ( 501 B) que logo após apresentou o mesmo problema (vazamento de óleo) porém maior e que continuou operar por ordem da chefia com “contenção de óleo na área do sinistro (modulo 5). Local este que aconteceu fogo com prejuízos materiais. A continuidade da operação foi questionada pelos operadores. A decisão da gerência de parar a produção somente aconteceu com a ação e pressão dos petroleiros embarcados de vários setores da plataforma no local de trabalho.
Seguindo os procedimentos operacionais de segurança da Petrobras, a devida notificação do problema na bomba de transferência à gerência da unidade e a avaliação técnica, o equipamento sofreu manutenção e, após reparo, retornou às condições operacionais sem apresentar falhas.”
 
Comentário do NF:
Faltou dizer que sem a presença de diversas pessoas no local nada seria parado. E que os gestores insistiram em continuar operando, acabando por ceder diante da capacidade de organização dos trabalhadores.