A poeira do primeiro turno das eleições ainda não baixou e são muitas as análises que circulam na internet e são discutidas na mídia. Cada um enxerga os dados sob determinada ótica. A nossa é bem conhecida: a de defesa dos direitos dos trabalhadores. E é com essas lentes que observamos os resultados no estado do Rio de Janeiro.
Se o que as urnas nos mostram está longe do que gostaríamos, há também boas notícias. Bolsonaro tem sua principal base no Rio de Janeiro, mas teve que amargar o resultado pífio de seus candidatos: Crivella por pouco não perdeu a vaga no segundo turno e Luiz Lima, do PSL, partido que elegeu Bolsonaro, teve menos de 7% dos votos. O filho Carlucho foi reeleito vereador, mas perdeu 35 mil votos em relação à eleição passada. A ex-mulher de Jair mal passou de 2 mil votos. A onda bolsonarista foi contida e hoje há um avanço dos progressistas.
Na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, PT e PSOL ganharam cada um uma cadeira a mais em relação à legislatura passada. O PT consolidou a prefeitura de Maricá com um resultado de destaque nacional: o prefeito petista Fabiano Horta foi reeleito com mais de 88% dos votos. O Partido dos Trabalhadores foi para o segundo turno em São Gonçalo e disputará também o segundo turno com o vice-prefeito em Itaboraí. O PDT saiu vitorioso em Niterói e em outras três cidades. A grande presença de mulheres, negros/as, indígenas e trans entre os eleitos também surge como uma resposta ao conservadorismo que vinha se impondo nos últimos anos. A sociedade não aceita o retrocesso.
Estamos longe de chegar a um cenário positivo, mas já começamos a caminhar para ele. Derrotar a extrema-direita, que faz do ódio e do caos a sua plataforma de governo e ignora regras básicas do jogo democrático, é sim um alento e faz uma sinalização importante para o futuro.
No entanto, temos outros desafios, considerando que a chamada direita tradicional ganhou espaço nas urnas. É verdade que não há dúvida de que é um mal menor, mas é um mal. Os partidos de direita, como o DEM, o PSC, o Republicanos e o PSD, apenas para citar alguns, são históricos inimigos dos direitos dos trabalhadores e do patrimônio público. Eles atuaram juntos no golpe de 2016, que abalou nossa democracia e levou a extrema direita ao poder. Também são responsáveis pela imposição das reformas Trabalhista e da Previdência, que atropelaram conquistas históricas e não geraram nenhum dos postos de trabalho prometidos. No drama dos quase 14 milhões de desempregados, existe a digital desses partidos.
A alta abstenção é outro fator que merece nossa atenção. O Rio de Janeiro teve o recorde de falta de eleitores às urnas: 28%. Na capital, a abstenção chegou a 32,79%, e os votos brancos e nulos somaram 19,23%. Ou seja, mais da metade dos eleitores do Rio não escolheu seus representantes para concorrer ao pleito no 2º turno. Temos um desafio de dialogar com a população e aprofundar o debate sobre a importância do voto.
Temos pela frente o segundo turno em alguns municípios, uma disputa preciosa. Em várias cidades importantes do país, a batalha continua. O PT é o partido com maior número de candidatos no segundo turno. Tem chance de eleger prefeitos em 15 cidades, entre elas São Gonçalo, Recife, Vitória, Santarém, Juiz de Fora, Diadema e Contagem. Temos outras candidaturas importantes de esquerda como a do PSOL em São Paulo e do PCdoB em Porto Alegre.
Mas as forças progressistas precisam dar conta do desafio que se prepara desde já para 2022. Derrotar a extrema direita é o principal, mas não o único. Revelar quem é essa direita que agora quer lavar as mãos da responsabilidade com o caos em que vivemos e conquistar novamente os eleitores para o processo democrático eleitoral devem estar entre nossas prioridades. E não se trata de uma disputa simplesmente eleitoral, mas de construir condições mínimas para que possamos reaver direitos e sair desse pesadelo vivido nos últimos anos em que a fome, a miséria e a falta de condições dignas de vida voltaram a se alastrar. Se na eleição de 2020 voltamos a dar passos nesse sentido, precisamos nos preparar, de fato, para a longa caminhada.
Fonte: CUT-Rio