Deyvid Bacelar*
Enquanto a grande imprensa alardeia o fato de a Petrobrás ter anunciado que obteve prejuízo no terceiro trimestre deste ano, ela esquece de outros dados que são mais importantes para verificar o estado em que a estatal se encontra atualmente. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, destaca que o prejuízo atingiu R$ 3,8 bilhões, o que representa um valor 30% menor do que aquele alcançado no mesmo período de 2014. A reportagem do jornal ainda opina que o balanço divulgado pela companhia – afora os problemas de câmbio, de queda do preço do petróleo e de pendências com a Receita Federal – mostra que “o plano de corte de investimentos e redução de custos operacionais apresenta resultado”. Já o portal G1 ressalta o lucro líquido obtido nos três trimestres de 2015, no valor de R$ 2,102 bilhões, e sublinha que esse número significa 58% a menos na comparação com o mesmo período do ano passado. Em comum entre essas matérias, reside o fato de se preferir dar destaque a números que indicam que, supostamente, a empresa vai mal. Entretanto, o próprio balanço da Petrobrás mostra que a história não é bem assim.
Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que os resultados operacionais da estatal são muito bons. Os relatórios financeiros dos dois primeiros trimestres de 2015 divulgados pela Petrobrás, na comparação com os dois primeiros trimestres de 2014, já haviam mostrado que os resultados deste ano são melhores. No primeiro e segundo trimestres de 2014, o lucro operacional obtido foi, respectivamente, R$7,57 bilhões e R$8,84 bilhões; já no primeiro e segundo trimestres de 2015, o lucro operacional foi, respectivamente, de R$13,33 bilhões e R$9,48 bilhões.
O último relatório da companhia também apresenta dados bastante positivos. Quando considerado o acumulado dos nove primeiros meses de 2015, se comparado ao mesmo período de 2014, o lucro operacional aumentou 149%, saltando de R$ 11,5 bilhões para R$ 28,6 bilhões, um número bastante expressivo. Se considerado somente o terceiro trimestre deste ano, na comparação com o terceiro trimestre de 2014, o lucro operacional saltou de R$ 4,92 bilhões para R$ 5,81 bilhões. Lembrando que o lucro operacional significa o resultado daquilo que a Petrobrás ganha, menos os custos, chega-se à óbvia conclusão de que a empresa está melhor neste ano do que no ano passado, ou seja, ela está passando por um evidente processo de recuperação, ao contrário do que a mídia afirma.
Além desses números indicativos da solidez da Petrobrás, deve-se lembrar, também, que o balanço da estatal demonstra a força da classe petroleira, porque reivindicações da Pauta pelo Brasil estão sendo atendidas. No que diz respeito a questões sobre endividamento, por exemplo, a Pauta pelo Brasil propõe “alongar e viabilizar operações financeiras que troquem dívidas em dólares, por reais”. A Petrobrás já acenou positivamente a isso, tanto que trocou uma dívida com o Banco do Brasil de US$ 1 bilhão para R$ 4 bilhões e prolongou o prazo para pagamento, sublinhando ainda, que essa se mostrou a alternativa mais vantajosa para contrato de financiamento. No próprio balanço, destaca-se que o prazo médio da dívida aumentou de 6,10 anos, em 31/12/2014, para 7,49 anos em 30/09/2015.
Outro aspecto defendido pela Pauta é a reformulação da política de geração de caixa, em que se defende, sobretudo, a elaboração de “uma política de preço, para os derivados do petróleo, de longo prazo e adotar critérios seletivos que protejam os consumidores de baixa renda, como o gás de cozinha por exemplo”. Em relação a isso, o balanço também ressalta que, a partir do dia 30/09/2015, houve aumento de 4% para o diesel e 6% para a gasolina.
Por fim, uma outra reivindicação da Pauta refere-se a fontes de investimento e recomenda “estabelecer relações financeiras com o Banco do BRICS e o Banco de Infraestrutura da China”. Esse ponto também já está sendo contemplado na estratégia da estatal. O jornal Valor, de 16/11/2015, por exemplo, informa que a companhia está negociando empréstimos com agências de crédito estrangeiras, e dentre elas está uma japonesa. Além disso, neste ano, a Petrobrás já anunciou um contrato de financiamento com o Banco de Desenvolvimento da China, no valor de US$ 3,5 bilhões, e está, de acordo com informações do jornal O Globo, de 07/10/2015, negociando com investidores estrangeiros – dentre eles, investidores chineses – um aporte financeiro para poder concluir as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ). No que concerne ao Banco dos BRICS, ainda não é possível estabelecer relações financeiras com ele porque suas primeiras operações devem ter início somente em janeiro de 2016.
De qualquer forma, o que importa salientar é que a luta pela defesa da soberania nacional e da Petrobrás como empresa integrada de energia segue firme, e que não será aceito, pelos trabalhadores, nenhum retrocesso na conquista dos seus direitos.
*Coordenador geral do Sindipetro BA e representante dos trabalhadores no C.A da Petrobrás.