Revista Imagem 46

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp

Editorial

Não paramos de lutar!

Demorou , mas saiu essa edição da Revista Imagem! A Conjuntura nacional adversa, o processo de impeachment da presidente Dilma, a votação dos projetos de Lei do Pré Sal e das estatais acabaram adiando um pouco a finalização dessa que edição, que chega ao leitor focada em acontecimentos que marcaram o final do ano de 2015 e o início desse ano.
Em nossas páginas iniciais retratamos a tragédia de Mariana e como os trabalhadores estão fazendo para se recuperar depois da tragédia.
Apresentamos a produção dos assentamentos do MST na região Norte Fluminense (RJ) e como os pequenos agruicultores estão fazendo para escoar sua produção. Também não permitimos passar em branco o principal evento esportivo mundial, que são as olimpíadas e todos o legado (positivo e negativo) que deixará para o Rio de Janeiro.
Dedicamos um espaço maior para a greve de novembro de 2015, um movimento de mais de 20 dias que deixou marcas profundas nessa nova geração que entrou para a Petrobrás e que mantém acesa a chama em defesa da empresa pública e do petróleo para o povo brasileiro. E nos dá a certeza que não podemos parar de lutar.
Boa leitura

 

Tijolinho

Contraf-CUT lança cartilha de combate ao assédio sexual no trabalho

Material faz parte da campanha de prevenção e combate ao assédio sexual no trabalho

O assédio sexual no trabalho não é uma novidade e apesar das constantes campanhas de prevenção e combate ao tema, ainda vem sendo muito praticado nos locais de trabalho. Por isso, a Contraf-CUT, assessorada pelo Coletivo Nacional de Mulheres da Confederação, lançou a terceira edição da cartilha “Campanha de Prevenção de Combate ao Assédio Sexual no Trabalho”.
O assédio sexual no trabalho é sempre um ato de poder, sendo o assediador um superior hierárquico da pessoa assediada. A cartilha define assédio sexual de uma maneira bem clara. Podendo, o leitor entender o que é, onde buscar ajuda, como prevenir e combater o assunto dentro do local de trabalho.
Segundo a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Elaine Cutis, muitas trabalhadoras já perderam o emprego ou tiveram suas carreiras prejudicadas por dizer não aos assediadores. “Temos que dar um basta neste constrangimento, rompendo o silêncio. Esta cartilha é um dos instrumentos dessa luta de combate ao assédio sexual no trabalho”, orientou Elaine.
O tema, não é tratado como uma preocupação local, mas sim mundial, tanto que na cartilha é possível saber o que diz a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Esperamos que as informações contidas nesta cartilha contribuam para que tenhamos, cada vez mais, um ambiente saudável, pautado na dignidade e respeito às pessoas.
A publicação será distribuída em todas as federações e sindicatos do Brasil. Mais informações pelo telefone (11) 3107.2767.

Entidades lançam manifesto contra lei antiterrorismo

Entidades e intelectuais lançaram um manifesto de repúdio à tipificação do terrorismo. De acordo com o texto, divulgado junto a uma petição pública online, além de criminalizar movimentos sociais, a lei surge sem necessidade alguma, tendo em vista que já há outras tipificações para os crimes que sustentam o projeto.
“Combater o terrorismo propriamente dito não é uma necessidade brasileira. Depredação,homicídio, uso de explosivos, etc., já são crimes no Brasil. A criação de uma figura específica atende, sim, a pressões externas, sobretudo dos Estados Unidos e de outros países da OCDE, que têm em consideração realidade muito diferente da nossa, sem qualquer histórico de episódios que se assemelhem ao terrorismo”, diz trecho no manifesto, assinado por entidades como o Greenpeace, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Conectas Direitos Humanos, a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e outras dezenas de movimentos sociais, ONGs, intelectuais e outras personalidades.
O intuito da campanha é barrar o projeto de lei 2016/15 de autoria do Executivo e que foi aprovado dia 24 de fevereiro na Câmara dos Deputados. Esse projeto ainda precisa ser sancionado pela Presidenta Dilma Roussef.
Fonte: Revista Fórum

Osvaldão, comandante do Araguaia vira filme

O documentário “Osvaldão”, que conta a história de um personagem carismático oriundo das classes populares e que teve papel destacado como comandante da guerrilha do Araguaia, está nas telas dos cinemas brasileiros.
Com a direção de Vandré Fernandes, Ana Petta, Fábio Bardella e André Michiles, um quarteto de jovens que não eram nascidos quando da guerrilha, além de Renata Petta na produção, o documentário tem uma história pouco comum. Ele foi realizado de forma independente ao ser financiado por diversos movimentos sociais e contribuintes individuais. Não dependeu de empresas públicas ou privadas.
O filme fala sobre Osvaldo Orlando da Costa, um jovem nascido no município mineiro de Passa Quatro (MG), de família descendente de escravos. Depois de exercer várias atividades, inclusive como lutador de boxe no Vasco da Gama, ele ganhou uma bolsa de estudos na então Tchecoslováquia, onde se formou em engenharia.
Militante comunista

Osvaldão tornou-se militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, a partir de 1967, durante a ditadura civil militar, entrou fundo no projeto de guerrilha. Sua missão era preparar terreno para a deflagração do movimento. A narração do documentário é feita pelo ator Antônio Pitanga, pela cantora Leci Brandão e pelo cantor Criolo.
A guerrilha do Araguaia acabou sendo reprimida de forma violenta. Seus militantes foram assassinados por militares deslocados para combater um movimento que tentava dar os seus primeiros passos. Quase todos os guerrilheiros foram presos e assassinados fora de combate. Os corpos de alguns deles, entre os quais Osvaldão, estão desaparecidos até hoje.
Pelo relato de camponeses moradores da região, Osvaldão transformou-se numa lenda. Uma figura respeitada, não só pelo seu carisma como pelo poder de comunicação. Cultuado pelos habitantes locais, que também tiveram de enfrentar a repressão.
Fonte: Brasil de Fato

ONU denuncia impunidade da violência policial

De 220 operações realizadas, somente em uma o policial foi punido, no ano de 2013

A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou no Conselho de Direitos Humanos, a impunidade nos crimes cometidos por policiais e agentes de segurança no Brasil. O informe foi apresentado pelo relator especial do órgão, Juan Méndez, no dia 8 de março.
Dados nacionais analisados pela ONU apontam que, em 2013, cerca de seis pessoas morreram por dia em operações policiais, sendo a maioria dos casos, devido a uso excessivo da força. A instituição ressalta ainda que de 220 operações realizadas, somente uma teve como fim a condenação do réu, no ano de 2013.
Com dados do Infopen, sistema de informações e estatísticas de penitenciárias, a ONU aponta que somente na primeira metade de 2014, 545 pessoas morreram em presídios, sendo metades das mortes foram “intencionais”.
A organização pede ao governo que foque na redução da população carcerária do país, hoje, que é a quarta maior do mundo.

Boa leitura

Feminismo e política. Uma introdução

Em Feminismo e política: uma introdução, os cientistas políticos Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel discutem as principais contribuições da teoria política feminista produzida a partir dos anos 1980 e apresentam os termos em que os debates se colocam dentro do próprio feminismo, mapeando as posições de diferentes autoras e correntes. O resultado é um panorama inédito do feminismo atual, escrito de maneira a introduzir os leitores pouco familiarizados nas discussões, sem por isso reduzir sua complexidade.
Ao longo de dez capítulos, os autores abordam temas como a prostituição e o aborto, a representação política e a opressão sofrida pelas mulheres. Embasado em nomes reconhecidos da teoria feminista, como Carole Pateman e Nancy Fraser, Feminismo e política enriquece e amplia o debate sobre um dos movimentos mais discutidos na sociedade atual.
O livro mostra como o debate sobre a posição das mulheres nas sociedades contemporâneas abriu portas para questionar o universo da política.
Editora: Boitempo
2014
R$ 34,00

Meio ambiente

Depois da lama

Por Guilherme Póvoas

Mariana busca se recuperar do caos. Passados meses da tragédia com barragem em Minas Gerais, cidade tenta voltar a sua rotina

A lama deixou o campo da metáfora e passou a ser o sujeito. Como ensina a gramática, sujeito é aquele que concorda com o verbo. E o verbo, desde 5 de novembro do ano passado, é atingir, destruir, chegar… E assim vem sendo: “Lama destrói Mariana”, “Lama da barragem de Samarco chega ao mar do ES”, “Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce”, “Lama da Samarco/Vale-BHP destruiu mais de 600 km de rios, aponta Ibama” ou “Lama da Samarco afeta turismo em Linhares”… As manchetes catastróficas sobre o desastre ambiental brasileiro de proporções estratosféricas e reações tímidas se acumulam durante os últimos dois meses.
Foram 17 mortos deixados pelo desastre. E além das vítimas fatais e do impacto à natureza, o acidente nessa cidade da região central de Minas Gerais derrubou todo um sistema econômico estabelecido na comunidade. Quem trabalhava diretamente na barragem de Fundão vive o risco de perder seu emprego. Já Prefeitura de Mariana deve deixar de arrecadar 30% de seu orçamento em função do fim da operação na barragem. Por enquanto, a normalidade foi embora de Mariana junto com os 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério despejados principalmente sobre o distrito de Bento Rodrigues.
“Há um clima de insegurança e medo em relação à possibilidade de rompimento da barragem de Germano, muito maior que a de Fundão”, revela o coordenador de pastoral da Arquidiocese de Mariana, padre Geraldo Martins Dias, em entrevista à revista Imagem.
“Outra preocupação muito presente na população refere-se ao futuro da Samarco na cidade, afinal cerca de 80% da arrecadação do município vêm da mineradora”, constata ele.
A paróquia foi referência no recebimento e distribuição de doações aos desabrigados. E, agora, diante do rescaldo da tragédia, o padre levanta os questionamentos que afligem não só as vítimas e os moradores de Mariana, mas também o Brasil inteiro: “Até quando os atingidos ficarão em casas alugadas? Quando serão reconstruídos os distritos de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo para que as famílias voltem a fim de retomar a ‘normalidade’ de suas vidas?”
A Samarco é uma mineradora fundada em 1977, controlada pela BHP Billiton Brasil Ltda. e pela Vale S.A. Como produto principal, tem pelotas de minério de ferro, que são produzidas com a transformação de minerais de baixo teor. Esse material é vendido para a indústria siderúrgica mundial, inclusive à Ásia e Europa. A empresa diz gerar cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos.
Em janeiro, a Polícia Federal indiciou por crime ambiental não só o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, mas também outros seis executivos e técnicos envolvidos. Além disso, a própria empresa, a Vale e a VogBR – consultoria responsável pela declaração de estabilidade da barragem, emitida em laudo de julho de 2015 – também foram indiciadas.
O padre Geraldo, diante da grande quantidade de doações recebidas em Mariana – que chegou também em forma de dinheiro – e a responsabilidade das empresas em arcar com os prejuízos, sacramenta: “Não se pode esquecer que estamos diante de uma tragédia que tem responsáveis e culpados aos quais caberão responsabilidades de reparação, compensação e indenização. Não podemos, com as doações, substituí-los em suas responsabilidades. Passada a fase emergencial, o momento é de acompanhar e cobrar o que é devido aos atingidos.”

Terceirização chega a
75% do efetivo

Nos cálculos do Sindicato Metabase de Mariana, responsável por empregados da barragem, para cada trabalhador direto há três indiretos. Ou seja: cerca de 75% dos profissionais que trabalham para a mineradora são terceirizados. E, no Brasil, terceirização significa mais riscos, menores salários e poucos benefícios. É porta aberta à precarização enfim.
Isso fica escancarado no perfil das vítimas que morreram no desastre. Doze dos 17 mortos eram trabalhadores da barragem – apenas um deles exercia suas funções contratado diretamente pela Samarco.
“A condição que a terceira oferece não é a mesma. Não tem plano de saúde, não tem PLR. Consequentemente a qualidade cai, pois você está pagando menos ao trabalhador”, destaca o secretário do Sindicato Metabase, Ronilton Condessa.
Os dados da entidade apontam para 1600 profissionais contratados diretamente pela mineradora na região. Tanto esses como os terceirizados movimentam – ou movimentavam – a economia local de forma substancial. Por ora, as atividades estão suspensas para a restauração da barragem.
“Estamos com o pé bem atrás. O que era a empresa, hoje não é mais. A Samarco era uma das melhores empresas para se negociar. Antes ela trabalhava com a questão de valorizar o trabalhador, mas tudo isso foi por lama abaixo”, lamenta o dirigente sindical.
Os empregados da Samarco entraram em layoff, como é chamada a suspensão temporária do contrato de trabalho. Serão três meses sob esse regime. De acordo com a mineradora, essa proposta apresentada aos empregados faz parte do “esforço” da empresa em preservar sua força de trabalho. No entanto, a possibilidade de demissão existe, ainda que a Samarco diga que não trabalha com isso.
“O que a Samarco está falando hoje e o que é verdade tem uma diferença grande para nós. Nós estamos trabalhando para não haver demissão. Se a gente vai conseguir ou não é outra coisa”, completa Condessa, em entrevista à revista Imagem direto de Mariana.
Em entrevista concedida ao Diário do Comércio no dia 9 de março, o presidente do sindicato, Ronaldo Bento disse que o município está sofrendo com o acidente. Os funcionários da Samarco estão sendo mantidos, mas outras empresas estão demitindo e isso teve como consequência a queda de arrecadação em torno de 80%.

Comoção mobiliza

A logística para receber doações que chegaram a Mariana foi montada pela Prefeitura. Porém, o tom e a velocidade necessária vieram da onda de solidariedade dos voluntários que se voltaram para as vítimas do desastre.
O coordenador de pastoral da Arquidiocese de Mariana, padre Geraldo Dias, conta à revista Imagem que os mantimentos – como roupas e comidas – chegaram de todo o Brasil. “Foi algo realmente surpreendente e revelador do quanto o povo brasileiro é solidário na dor e no sofrimento”, revela.
A velocidade com que as doações chegaram à cidade foi tanta que logo os espaços da Prefeitura para armazenar os materiais ficaram lotados. “As paróquias da cidade e o seminário da arquidiocese, solicitados pela Prefeitura, também abriram seus espaços para receber as doações, mas rapidamente também ficaram superlotados. Com isso, o poder municipal se viu obrigado a solicitar que não se enviassem mais doações”, relata o pároco.
Ele destaca o número grande de voluntários que se apresentaram para ajudar a organizar as doações – inclusive pessoas que vieram de outras cidades. “Foi realmente uma bela experiência em meio a tanta dor e sofrimento”, completa.

Box

CUT-MG denuncia arbitrariedades da Samarco em reparação a vítimas

A presidenta da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, vem acompanhando as consequências do vazamento de lama da Barragem da Samarco, em Mariana, desde o seu início, em ação conjunta de sindicatos e movimentos sociais, em busca de punição aos responsáveis pelo desastre. Em entrevista à Rádio Brasil Atual no dia 10 de março, ela conta que a empresa vem tentando manter o controle total, de maneira arbitrária e pouco transparente, das ações de reparação, que têm sido insuficientes.
“É a Samarco que vai determinando quem são os atingidos, em que grau essas pessoas foram atingidas e o que ela fará de reparação de danos”, denuncia Beatriz. Como exemplo, citou o caso de uma mulher de mais de 70 anos, que teve de comprovar por laudo médico incapacidade de torcer com as próprias mãos as roupas lavadas para que a companhia garantisse a reposição de sua máquina de lavar, perdida na tragédia.
Beatriz afirma que nos municípios e distritos atingidos diretamente pela lama, os estragos são visíveis, mas todas as comunidades que vivem da pesca, na bacia do Rio Doce, estão sofrendo as consequências. Estimativas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) indicam que pelo menos 1 milhão de pessoas foram atingidas de alguma forma e não têm recebido a reparação adequada.
“Tenho, permanentemente, ido aos locais atingidos pela lama e a situação é dramática. Os direitos são negados. As pessoas que se auto-organizam são discriminadas. Há uma violação permanente do direito das pessoas atingidas. Mudou a rotina das cidades, mudou a condição das áreas rurais. A ausência de visibilidade garante que a empresa siga atuando livremente”, denuncia.
Ela afirma que o Ministério Público estadual tem tido importante atuação, mas que órgãos dos governos estadual e federa deveriam estar mais ativos no atendimento e na proteção às pessoas, mas não têm feito o trabalho como deveriam.
Um ato nacional das centrais sindicais foi marcado para 28 de abril, em Mariana, para denunciar a precariedade nas relações de trabalho na mineradora. Na sequência, entre 29 de abril e 1º maio, os movimentos sociais farão um tribunal popular para discutir os crimes da mineração. “Vir ao local é importante porque é sujando o pé de lama que a gente entende o que foi esse crime e a sua dimensão. Nós precisamos cobrar a responsabilização de empresas que vêm para o Brasil, lucram bilhões de reais e não se importam com a vida”, diz.

 

Agricultura

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Por Robson Fraga e Érica Nascimento

Cansados de esperar a verdadeira reforma agrária, assentados da região norte do Rio partiram pra luta e hoje se sustentam com a produção frutas, legumes, mandioca e doces

Já não é de hoje que os assentamentos da reforma agrária, na região Norte do Rio de Janeiro, conseguem sobreviver dando a volta por cima na burocracia governamental. Mesmo com poucos recursos e enfrentando a morosidade do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no repasse de verbas federais, cerca de 2 mil famílias de trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra têm provado que com trabalho e determinação é possível produzir alimentos de forma sustentável. Elas sobrevivem da produção de frutas, legumes, mandioca e doces em onze assentamentos nos municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana e Cardoso Moreira.
Segundo a coordenadora estadual do MST, Elisângela Carvalho, o cargo chefe da produção é o abacaxi, mas, em menor quantidade, aparecem a cana, o coco, banana, feijão, legumes e mandioca que é transformada em farinha e biscoito.
Parte dos assentados estão organizados em duas cooperativas: a COOPSCAMP (Cooperativa de Agricultores Assentados de Campelo e Região), que trabalha na produção de frutas, legumes e mandioca, e a COOPAMAB (Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares de Marrecas e Babosa), que beneficia a cana-de-açúcar produzindo rapadura, açúcar mascavo e melaço. As duas estão sediadas em Campos dos Goytacazes e ajudam no desenvolvimento econômico destas comunidades agrícolas. Parte da produção é comercializada em feiras, transportada por caminhões fretados, e outra repassada a atravessadores que ficam com boa parte dos lucros dos assentamentos.
“Foi muito difícil a nossa adaptação aqui, achar o que poderia ser produzido a não ser a cana, ainda mais sendo uma área com pouca água. Mas, com muita luta e união conseguimos ficar, nos adaptamos e hoje produzimos e comercializamos nossos produtos”, disse em entrevista a um site da região, Josiel da Cruz, assentado e presidente da Coopscamp.

Dificuldades na produção

A falta de recursos e a demora nos repasses federais, ainda são um entrave à produção. A maior parte do dinheiro que chega aos assentamentos vem da venda direta da pequena produção ou dos baixos salários recebidos pelos assentados que suam a camisa na agricultura em propriedades privadas ou na construção civil. Destas atividades eles tiram o sustento familiar e o pouco que sobra aplicam na produção nos assentamentos.
“Muitas famílias ainda não conseguem produzir por falta de recursos. Não recebemos ajuda direta dos municípios, do Estado e o que chega da União é pouco e demora a vir. Além disso, as dificuldades climáticas e a falta de tecnologia, como processos de irrigação, dificultam a atividade rural. Mesmo assim, vamos tocando em frente” – afirmou Josiel..
Nos últimos cinco anos, a região passou por uma forte crise hídrica provocada pela escassez de chuva e o consequente esvaziamento dos rios Paraíba do Sul, Pomba e Itabapoana que abastecem os assentamentos e as propriedades rurais de forma geral. Mesmo assim, contrariando o clima, os assentados não desistiram. Focados na luta pela reforma agrária e no compromisso com a produção de alimentos saudáveis, eles tocaram suas pequenas produções e em dezembro passado participaram da VII Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, na capital.
“Em 2015, a participação da Região Norte foi ótima, com 45 feirantes e boa diversidade de produtos. Comercializamos abacaxi, coco, laranja, banana, abóbora, doces, artesanatos… Enfim, alimentos de qualidade produzidos nos assentamentos e acampamentos da região” – disse.

Como tudo começou

A busca por uma política agrária estadual começou em 1984, com a ocupação da Fazenda Campo Alegre, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, por cerca de 3 mil famílias de trabalhadores organizadas pela Comissão Pastoral da Terra. Segundo o MST, ‘o que forçou o governo a criar uma política agrária, o que até então não fazia parte das preocupações do Estado.’
De Campo Alegre saíram vários grupos que em seguida ocuparam as fazendas Boa Esperança, em Japeri; do Barreiro (atual Vitória da União), em Paracambi; da Conquista, em Valença; Pedra Lisa, em Nova Iguaçu e o Mutirão da Fé, em Queimados. Luta que transformou, na década de 1980, a Baixada Fluminense na principal área de conflitos fundiários do Rio de Janeiro. Nesta mesma época, o movimento de luta agrária foi marcado por importantes conflitos na região Serrana onde foram criados os assentamentos Alpina e Santo Inácio a partir da mobilização de posseiros, parceiros e arrendatários.

Anos 90

Nos anos 1990, as lutas por terra avançaram pro interior do Estado. As regiões Norte Fluminense e a Baixada Litorânea passaram a ser palco da maior parte dos conflitos, o que, segundo o MST, está relacionado à organização do Movimento.
– É importante destacar a transformação da região Norte Fluminense, que à época concentrava os maiores latifúndios e a maior parte dos trabalhadores rurais do Estado; uma vez que o enorme poderio dos latifundiários da cana-de-açúcar foi colocado em cheque com a ocupação de terras usineiras. O marco inicial da estruturação do MST foi a conquista da fazenda Capelinha, em Conceição de Macabu, em 1996, e sua desapropriação no ano seguinte.
A partir daí, o movimento ganhou força e em 1997 o MST conseguiu atingir o coração da região canavieira ocupando as terras da Usina São João, a 7 Km do centro de Campos dos Goytacazes, hoje o assentamento Zumbi dos Palmares onde vivem 507 famílias: o maior assentamento do Estado.
‘Estamos buscando sempre aperfeiçoar o plantio. A agricultura é uma escola, a cada dia aprendemos lições para vivermos de maneira adequada, organizada e com bom humor, para poder trabalhar e tirar o sustento da nossa família, direto da terra que lutamos para ter e manter”, explicou seu Francisco, um dos mais antigos assentados do Zumbi dos Palmares e que usa uma técnica aprendida com o avó para aproveitar a água da mandioca no combate às pragas das lavouras.

Tempos modernos

Estruturados e focados na redistribuição de terras e de renda, os trabalhadores sem-terra ganharam representatividade e hoje, quase 20 anos depois de fincar a bandeira em Campos, estão assentados e também ocupam terras importantes nos municípios de Cardoso Moreira, São Francisco do Itabapoana, Bom Jesus do Itabapoana e São João da Barra.
– Nossas lideranças são todas as famílias Sem Terra que compreendem o processo da luta e fazem o movimento acontecer. Hoje temos 11 assentamentos ligados ao MST na Região Norte: Zumbi dos Palmares, Josué de Castro, Dandara dos Palmares, Terra Conquistada, Antônio de farias, Paz na Terra, Chê, Ilha Grande, Francisco Julião, Chico Mendes e Oziel Alves, localizados nos municípios de Cardoso Moreira, São Francisco de Itabapoana e Campos e acampamentos em outros municípios. Já são cerca de 2 mil famílias assentadas e a luta não vai parar por ai – concluiu Elisângela Carvalho, coordenadora estadual do MST.

Bravura e esperança dos que não fogem à luta pela terra

Nos quatro cantos da Região Norte Fluminense, a agricultura familiar é formada por grupos de resistência, com histórias que perpassam por despejos à vitória pela conquista das terras improdutivas. Uma luta marcada pela união e vontade de fazer a terra produzir e resgatar o meio de subsistência atropelado, inclusive, pela indústria do petróleo na região. A falta de incentivo, de estrutura, apoio e uso adequado dos recursos fornecidos pelo Governo Federal por um lado causa indignação, mas não mata a esperança.
Em Macaé, dois assentamentos dão exemplo. O primeiro, Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, ocupa uma área de aproximadamente 1600 hectares da antiga Fazenda Bom Jardim, região serrana macaense, declarada de interesse social para fins de Reforma Agrária em 2010. De lá para cá, as 52 famílias passaram por conflitos violentos e comemoram a vitória recente com o indeferimento do pedido de reintegração de posse.
O PDS Osvaldo Oliveira conta com cerca de 30 crianças e jovens, além de aproximadamente 15 pessoas com idade acima de 65 anos e que já engrenaram sua vida com a lida de plantio e sobrevivência do que produzem em uma área que corresponde a 4% de área total, mudando a paisagem e realidade local. A diversidade dos produtos agrícolas é grande: banana, aipim, milho, batata doce, inhame, taioba, hortaliças em geral, quiabo, feijão, abóbora, feijão de corda, frutíferas, entre outras.
Agora, o assentamento caminha para buscar mais incentivos, principalmente porque os recursos oriundos da Prefeitura de Macaé não atende a realidade e necessidade, segundo informou o assentado Diego Fraga, que participou no início de dezembro, da audiência pública para debater o orçamento municipal para a Agricultura para o ano que vem. Dos cerca de R$ 5 milhões destinados para a secretaria de Agro Economia, cerca de R$ 4 milhões são para a folha de pagamento, o que acaba inviabilizando a atuação da pasta. Para 2016, com a justificativa da crise econômica, o orçamento sofrerá uma redução absurda.
“O que preocupa muito a gente são os cortes. Fiquei estarrecido. No orçamento geral, a redução chega de 14 a 15%, porém, o corte na agricultura é quase 50%. E isso não condiz com a realidade de um município que tem uma quantidade enorme de agricultores. Quem conhece a região serrana tem isso muito claro. Os assentamentos de Macaé também atendem a outros municípios da região, e é importante dialogar isso com o parlamento e autoridades do município”, disse Diego.
A mesma angústia é compartilhada pelos pequenos agricultores do Assentamento Celso Daniel, localizado em Cabiúnas, Macaé, numa área de mais de dois mil hectares, onde trabalham 201 famílias. Além das dez toneladas mensais de produtos variados, como beterraba, cenoura, hortaliças, abacaxi, banana, laranja, feijão, aipim, abóbora, entre outros, os produtores também criam patos, cabras, galinhas, boi de corte e para produção de leite e fabricação de queijo.
Ainda com toda variedade e pequeno apoio da secretaria de Agro Economia, os pequenos agricultores encontram impasses para escoamento do produto, comercialização e acesso aos programas e recursos do Governo Federal, como o da merenda escolar, segundo o produtor os ajudam nesse sentido, porque na verdade não planejam e não projetam. Gilmar Monteiro. “A prefeitura tem nos apoiado, mas ainda deixam desejar na merenda escolar, por exemplo. Existe o recurso, eles têm ciência, mas não ajudam nesse sentido, porque na verdade não planejam e não projetam”, critica Monteiro.
No Celso Daniel, segundo informou o Gilmar, há oito anos existe a Coopemac, porém, segundo ele, não apresentou grandes avanços e, por conta disso, alguns agricultores se articularam e formaram um grupo informal, que não tem líder, mas que de forma organizada apresentam alternativas e autonomia para buscar incentivos. O grupo é formado por 14 famílias e atua há três anos.
Vizinho a Macaé, no município de Carapebus, o Assentamento João Batista Soares vive uma realidade não muito diferente. Com cerca de 65 famílias assentadas há oito anos, a diversidade de produção vem aumentando, segundo informou a atual presidente da Associação das Mulheres Trabalhadores Rurais de Macaé e região, Maria da Penha Nascimento Barros. Ela comemora a ascensão da sua produção este ano, em meio à crise e a seca que afetou a região a maior parte do ano. Ao lado do seu tio e primos, comemora a conquista com o suor e esforço oriundo do próprio bolso e dos produtos que vendem em Carapebus e Rio das Ostras.
“Os gestores dos municípios da nossa região não trabalham como deveriam para conseguir nos atender com os recursos do Governo Federal. É praticamente impossível tocarmos nossos lotes sem esses recursos que estão disponíveis, mas ao mesmo tempo presos. A demanda dos nossos direitos é grande, mas não temos apoio. Seria importante organizar aqui na região um fórum para debater esse assunto”, sugere Maria da Penha.

Recursos para fomentar a agricultura

Segundo uma análise feita pelo Economista, Mestre e Doutor em Engenharia de Produção e Professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Alcimar das Chagas Ribeiro, baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado no seu Blog (bit.ly/1XgTAZr), os municípios de maior expressão no total das lavouras temporária e permanente da agricultura da região Norte Fluminense são: Campos dos Goytacazes que responde por 51%, São Francisco de Itabapoana com 28% e Quissamã com 14%. Macaé amarga 2% e os municípios de Carapebus e Conceição de Macabu tem uma representação de 0%.
Em junho, a presidenta Dilma Rousseff anunciou que agricultura familiar terá um volume recorde de R$ 28,9 bilhões na safra 2015/2016, um valor 20% maior do que foi liberado ano passado. Trata-se de um plano que reúne ações voltadas para os pequenos e médios agricultores, como a liberação de crédito por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a compra pelo poder público de itens por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), além de assistência técnica para os agricultores e taxas de juros menores que as praticadas no mercado.
Em 2002 foram investidos R$ 2,3 bilhões, no ano passado, R$ 24,1 bilhões e em 2013 o governo liberou, R$ 21 bilhões.Uma visão e entendimento que a Agricultura é uma alternativa a crise econômica, principalmente nos estados e municípios onde a indústria do petróleo controla a economia e recebe prioridade. Os pequenos agricultores estão ávidos desses recursos e da Reforma Agrária.

Capa

Para ficar na memória

Por Fernanda Viseu e Vitor Menezes

A categoria petroleira arregaçou as mangas e saiu em defesa da Petrobrás como mola propulsora da economia brasileira e contra o PL do Pré Sal que foi aprovado em fevereiro pelo Senado e reduzirá a participação da Companhia na exploração do petróleo na camada do pré-sal, caso não seja vetado pela presidente Dilma Roussef

No dia 1º de novembro de 2015 a categoria petroleira iniciou uma greve que passou a fazer parte da história dos petroleiros. Foi a primeira greve que não teve motivos salariais e sim políticos. Seu principal objetivo era debater a Pauta pelo Brasil documento dos petroleiros que defende a retomada de um papel desenvolvimentista para a Petrobrás, como empresa indutora da economia nacional e promotora de geração de riquezas para promover a justiça social, além de pressionar a Petrobrás a alterar o Plano de Negócios e Gestão (PNG) que prevê um verdadeiro desmonte da empresa, com uma redução de 40% da companhia em quatro anos. A categoria também não aceitava o corte de direitos dos trabalhadores, a redução dos efetivos, e as políticas que aumentavam a insegurança no trabalho. Foram mais de cem dias tentando negociar a Pauta pelo Brasil com a Petrobrás, sem nenhuma resposta positiva.
A greve nas bases do Sindipetro-NF durou 20 dias. No mar, a adesão chegou a 50 unidades, entre plataformas e UMS (Unidade de Manutenção e Serviço). Em terra, o movimento foi intenso no Terminal de Cabiúnas, em Macaé, e também contou com trancaços em bases administrativas, como a de Imbetiba, e aeroportos.
Nas plataformas, a greve começou com indicativo de ocupação e controle de produção pelos trabalhadores. As unidades eram monitoradas pelo movimento a todo instante, sendo classificadas como “totalmente paradas”, “parcialmente paradas” e “operadas pela contingência”. Houve perdas de produção estimadas em 450 mil barris diários nos primeiros dias da paralisação.
Em uma segunda fase do movimento, o indicativo passou a ser o de desocupação, com o desembarque dos grevistas. A partir deste ponto, a greve ganhou ainda mais visibilidade em terra com a ação dos militantes desembarcados nos bloqueios nos aeroportos da região – Cabo Frio, Macaé e Campos (Farol de São Thomé e Bartolomeu Lisandro) – e até fora da base do NF, no aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, por onde estavam embarcando “fura-greve” para plataformas da UO-Rio, na Bacia de Campos, e foi montado um plantão da categoria .

Cabiúnas

O movimento de greve também seguiu muito forte no Terminal de Cabiúnas, da Transpetro, em Macaé. Numa primeira fase do movimento que durou três dias ocorreu a ocupação do Terminal pelos grevistas que trabalhavam em turno. No terceiro dia do movimento, os trabalhadores administrativos aderiram à greve. Segundo o diretor do Sindipetro-NF, Cláudio Nunes, foi uma experiência nova para todos, tanto direção quanto trablhadores, e a primeira vez que os administrativos participaram ativamente.
No terceiro dia do movimento, os petroleiros assumiram o controle do carregamento de gás GLP durante 24 horas. A gerência chegou a chamar a Polícia Militar e um caminhão de GLP chegou a avançar sobre a balança. Foi nesse momento que os trabalhadores deitaram no chão para impedir o carregamento.
A gerência acabou bloqueando os crachás dos trabalhadores e foi aí que os grevistas começaram a realizar vigílias do lado externo.
Durante toda a greve, os trabalhadores do Tecab e diretores do Sindipetro-NF deram uma grande demonstração de força e unidade se mantendo reunidos nos portões da base, que ficou bloqueado pela empresa, durante todos os dias da greve.

Sociedade informada

Para envolver a sociedade, foram realizados ainda uma passeata que percorreu os bairros de Imbetiba e Centro em Macaé e uma audiência Pública e um ato público na Câmara de Vereadores de Campos, que aprovou moção de apoio ao movimento. Como forma de explicar os motivos da greve, o Sindipetro-NF editou o jornal “O Grito” que mostrava os riscos do novo Plano de Negócios para a população. Incluindo o aumento do número de demissões.
Outra ferramenta de comunicação utilizada diariamente, foi a Rádio e TV NF (www.radionf.org.br). Durante toda a greve, diretores do Sindipetro-NF, da FUP e de outros Sindipetros participavam ao vivo de programas na emissora que avaliava o movimento e dava informes à categoria.

O fim da greve e seus resultados

No sábado, 20 de novembro, em assembleias lotadas nas sedes de Campos e Macaé, a greve foi suspensa após a empresa apresentar uma proposta de formação de um Grupo de Trabalho para debater a Pauta pelo Brasil.
Esse Grupo de Trabalho teria 60 dias para produzir um relatório que seria encaminhado à gestão da empresa e ao governo federal, contados a partir do final da greve. A atuação do GT tem sido norteada pelas reivindicações apresentadas pela Pauta pelo Brasil.
Estudos do Grupo de Economia da Energia da UFRJ e de Grupo Interministerial, que analisaram os principais impactos da retração do setor petróleo, desmonstram que para cada R$ 1 bilhão que a Petrobrás deixar de investir, o PIB brasileiro encolherá R$ 2,5 bilhões. Estima-se que, se for mantida a atual política do governo e do PNG da companhia, 20 milhões de empregos deixarão de ser gerados até 2019.
No mesmo dia, o sindicato divulgou nota intitulada “A greve que nos muda para sempre”que registrou a importância histórica do movimento e a necessidade de manter a mobilização contra os ataques à Petrobrás e contra a agenda conservadora do Congresso Nacional e do Governo Federal.
“A categoria petroleira empreendeu ao longo destes 20 dias de greve uma das mais importantes lições políticas da sua história recente. Além de ser a maior greve das últimas duas décadas, o movimento que por ora se suspende teve a característica única de ser eminentemente ideológico, a favor de uma visão de mundo baseada na justiça social e no uso das riquezas naturais em benefício de todos. Uma greve que teve a coragem de ultrapassar pautas corporativas e debateu com a empresa, com o governo e com a sociedade uma Pauta pelo Brasil” – descrevia o documento.
O Sindipetro-NF também avaliou que a formação do Grupo de Trabalho, com representantes da FUP e da Petrobrás, para discussão de alternativas ao Plano de Negócios e Gestão que vinha sendo implementado pela companhia foi uma conquista sem precedentes no campo da influência dos trabalhadores sobre a condução dos destinos da empresa. Nele, os petroleiros chegaram com a força política de uma greve histórica e com a racionalidade objetiva de propostas concretas.
Passados alguns meses da greve, esse Grupo de Trabalho já teve reuniões e a expectativa é que apresente propostas que alterem algumas decisões da empresa. Entretanto, até o fechamento desta edição haviam ocorrido três reuniões de trabalho. Para acompanhamento das reuniões, a Federação criou um link específico em seu site, que pode ser acessado por qualquer pessoa http://fup.org.br/gt-pauta-pelo-brasil.

Anunciada venda de campos terrestres

Contrariando os interesses da categoria petroleira, no dia 2 de março a Petrobrás anunciou a venda de campos terrestres ao mercado. São 98 concessões de produção, além de seis blocos exploratórios, totalizando 104 concessões terrestres, localizadas em Sergipe e nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Espírito Santo.
Os sindicatos petroleiros dessas regiões decidiram em reunião entrar com ações jurídicas conjuntas. Além disso o movimento sindical petroleiro está realizando vários atos em todo país contra a venda desses ativos.

Entrevista

Greve de 2015 – Marca de uma geração

Caroline Cavassa

Ao avaliar a greve de novembro de 2015, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, não tem dúvidas de que ela já entrou “para história, não só da nossa categoria, mas também do movimento sindical brasileiro”. A comparação com 1995 é inevitável, mas para Zé Maria a juventude petroleira cravou sua marca nessa greve. “Tenho certeza que, assim como a minha geração sempre se referiu à greve de 95 como um grande momento de luta e resistência, a geração pós 2002 hoje tem a sua própria história, sem dever nada a ninguém”, declara.

Imagem – Vinte anos após a maior greve dos petroleiros, a história se repetiu de maneira semelhante a de 1995. Como foi liderar um processo de resistência tão importante para a categoria e para o Brasil?
Zé Maria Rangel – A greve de 1995 teve como ponto de partida um acordo do ano anterior que não foi cumprido pelo governo. Por trás disso tudo, estava uma figura bem conhecida dos petroleiros, FHC, que, na época, além de não cumprir o Acordo assinado por Itamar Franco, não quis negociar com os trabalhadores e ainda por cima quis liquidar com a categoria. A FUP, de maneira muito habilidosa, conseguiu dar um caráter político àquele movimento, pautando na sociedade a necessidade de se derrotar o projeto neoliberal dos tucanos, que tinha por base ataques de direitos e privatização.
Passados 20 anos, mais uma vez, conseguimos ir além dos muros da Petrobrás e derrubarmos as tentativas de enfraquecimento e fatiamento da companhia. A greve de 2015 garantiu aos trabalhadores discutir os rumos da maior empresa do país e fez a Petrobrás reconhecer a Pauta pelo Brasil, que eram as principais reivindicações dos petroleiros. Foi um orgulho coordenar um processo como esse, tendo ao meu lado dirigentes e militantes sindicais valorosos, junto com os movimentos sociais, que são nossos aliados de primeira hora. Nossa greve certamente entrará para história, não só da nossa categoria, mas também do movimento sindical brasileiro.

Imagem – Você viveu duas experiências bem distintas. Em 1995, estava dentro de uma plataforma e agora, no comando do movimento, como coordenador da FUP…

Zé Maria Rangel – O que o trabalhador quer das suas lideranças? A verdade. Em 95 eu embarcava em Itajaí (SC). Lá, não tinha telefone e o contato com a terra era através de rádio ou por ligação internacional, que era caríssima. Ou seja, era uma situação complicada, e eu, como um dos líderes do movimento na plataforma, tinha que confiar nas informações que me eram passadas para poder retransmiti-las aos trabalhadores.
Durante um movimento paredista forte como o nosso, o terreno é fértil para boatos e a comunicação deve ser a mais segura possível. Penso que conseguimos fazer isso, como demonstrou a força da nossa greve. O mais importante é que ganhamos o nosso pessoal para a nossa causa.

Imagem – Essa foi a primeira grande greve da nova geração de petroleiros. A conscientização e disposição de luta desses jovens trabalhadores foram o diferencial dessa greve?

Zé Maria Rangel – A combinação juventude e experiência, quando bem dosada, consegue ter sucesso em todos os segmentos da sociedade. Os jovens hoje compõe a maior parte da nossa categoria e deles será a responsabilidade de continuar a fazer da Petrobrás a maior e mais admirada empresa do Brasil. Eles entenderam o recado e se jogaram de corpo e alma na empreitada da defesa da companhia e dos nossos direitos, que foram duramente conquistados nos últimos anos. Tenho certeza que, assim como a minha geração sempre se referiu à greve de 95 como um grande momento de luta e resistência, a geração pós 2002 hoje tem a sua própria história, sem dever nada a ninguém.

Os trabalhadores viveram dias difíceis em 2015, devido a uma conjuntura extremamente complexa, não só na Petrobrás, como em todo o país. Os petroleiros seguiram os indicativos da FUP e arregaçaram as mangas nas lutas contra o retrocesso, para impedir o golpismo e defender a soberania e as conquistas da classe trabalhadora. Uma das grandes vitórias foi barrar a votação do PLS 131, do senador José Serra, que acaba com o papel da Petrobrás de operadora única do Pré-Sal e sua garantia de participação mínima nos consórcios. Os petroleiros saem dessa greve mais fortes para as próximas lutas?

O momento atual é fruto de uma série de fatores e isso todos precisam compreender. Temos uma crise mundial na indústria do petróleo e, além disso, o acirramento da crise do capital, que ainda persiste. O país vive uma crise política séria, onde setores derrotados na eleição de 2014 ainda querem o poder através de um golpe. Ou seja, a soma de tudo isso reflete diretamente na Petrobrás.
Desde a criação da empresa, há 62 anos, os setores entreguistas da nação querem doar nosso petróleo para as multinacionais. Nós, petroleiros e movimentos sociais, estamos resistindo bravamente a este cenário extremamente conturbado. Tudo que conseguimos até agora foi vencer algumas batalhas. Sabemos que a vitória final está longe, no entanto, temos disposição e um exército laranja na ponta dos cascos para defender a democracia e a nossa soberania.

Imagem – Qual o principal legado político que a greve de 2015 deixa?

Zé Maria Rangel – Que lutar sempre vale a pena. Como diz o Pepe Mujica: “A única luta que se perde é aquela que se abandona”.

Imagem – E o legado de conquistas?

Zé Maria Rangel – O debate. E digo o debate sobre o futuro da empresa, que é algo inédito no país. Além disso, conseguirmos a manutenção do nosso Acordo Coletivo de Trabalho na sua integralidade, que é algo excepcional, principalmente diante de um cenário onde todas grandes operadoras estão demitindo e reduzindo salários.

Imagem – Quais são as perspectivas da FUP e de seus sindicatos para dar continuidade à luta em defesa da Petrobrás, do pré-sal e do Brasil?

Zé Maria Rangel – O governo tem que entender, se é que ainda não sabe, que a única empresa que pode fazer a roda da economia do país voltar a girar é a Petrobrás, por conta da sua capilaridade a nível nacional. Nossa luta é pelo Brasil, pelo nosso povo, pela nossa soberania, com trabalho e renda.
E isso não é querer muito. É?

Escândalo

Olimpíada: ergue e destrói coisas belas

Carlos Monteiro

Muito se falou, durante os preparativos para a Copa do ano passado, que o legado do Mundial faria o Brasil viver novos dias. Melhoria nos transportes, investimentos da iniciativa privada em diversas frentes e novas praças esportivas construídas sem a utilização de dinheiro público foram algumas das muitas promessas. Mas a dura realidade dos fatos revelou outro cenário. A mobilidade urbana está mais para imobilidade, houve pouquíssimo dinheiro privado em obras de infra-estrutura e foi enorme a participação pública na construção e reforma de vários estádios.
Agora chega a vez de o Rio sediar a Olimpíada. Novamente o discurso do legado vem à tona. Diferentemente do que ocorrera na Copa, quando o sentimento de que nada daria certo tomava conta da população, os preparativos para os Jogos do Rio transcorrem com desenvoltura. A capital do estado passa por visível processo de transformação urbana. A Zona Portuária, com a revitalizada Praça Mauá e novos museus, além do ecologicamente correto Veículo Leve sobre Trilho (VLT), que cortará todo o Centro da cidade até o Aeroporto Santos Dumont, são expoentes do projeto. O BRT, a expansão do Metrô até a Barra e outras obras focadas na questão da mobilidade, sobretudo na Zona Oeste, também merecem destaque.

Custo Social

Do ponto de vista da remodelação e da reorganização urbana, e dos prazos assumidos para o término das obras, a Olimpíada vai bem. Entretanto, o que acaba por não entrar nessa contabilidade é o fator humano, o custo social. Segundo estimativas do Instituto Igarapé, instituição sem fins lucrativos apoiada pelos governos do Canadá, Reino Unido e Noruega, entre outras instituições internacionais (www.igarape.org.br), até o ano que vem o número de pessoas removidas de suas casas, em todo o país, por conta de obras planejadas para os Jogos e a Copa, pode chegar a 100 mil.
Condecorada, em 2013, com o primeiro lugar no concurso internacional de urbanismo Urban Age, concedido pelo Deutsche Bank e a London School of Economics, a Vila Autódromo, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, é um duro exemplo da política de desapropriações imposta pela prefeitura do Rio, para dar prosseguimento às obras olímpicas. Das 2.450 pessoas que formavam a comunidade, apenas 800 ainda resistem no local. Os outros 1.650 moradores foram expulsos. O caso da Vila Autódromo é um triste legado olímpico. Segundo dados da Secretaria Municipal de Habitação, divulgados no livro SMH 2016: Remoções no Rio de Janeiro Olímpico, somente entre 2009 e 2013, cerca de 67.000 pessoas (20.299 famílias) foram removidas de suas casas por conta de intervenções urbanas para os Jogos.

Isenção de Impostos

O custo social proporcionado pelos preparativos da Olimpíada extrapola as remoções. No bolso do contribuinte o impacto também é grande. Além da alta nos preços dos aluguéis e dos serviços, mais uma vez o dinheiro público entra em jogo, assim como ocorrera na Copa. Segundo o site Contas Abertas, entidade da sociedade civil sem fins lucrativos, que diz fomentar a transparência, o acesso social à informação e o controle social, o governo federal deixará de arrecadar R$ 3 bilhões, graças a isenções fiscais concedidas durante a realização dos Jogos. O valor representa cerca de 10% do déficit orçamentário, de R$ 30,5 bilhões, previsto para o ano que vem. A maior isenção, mais de R$ 900 milhões, será, ainda de acordo com o Contas Abertas, para os impostos incidentes nas importações de bens, mercadorias ou serviços.
Em agosto do ano passado, a Autoridade Pública Olímpica (APO), consórcio formado pelos governos federal e estadual, e prefeitura do Rio – uma das garantias oferecidas pelo Brasil ao Comitê Olímpico Internacional (COI) –, revisou o orçamento oficial dos Jogos. Segundo o órgão, a maior competição esportiva do planeta custará R$ 38,7 bilhões. Quase R$ 10 bilhões a mais do que os R$ 28,8 bilhões estimados quando o Rio se candidatou a sede da Olimpíada, em 2009.
As contas apresentadas pela APO, entretanto, não representam o custo final da competição. O novo orçamento ignora os gastos da prefeitura do Rio para mobiliar os apartamentos da vila olímpica, estimados em R$ 62 milhões, e para adquirir bolas, redes, obstáculos e barcos, cerca de R$ 100 milhões, ambos os números segundo a própria prefeitura. Também não entraram na conta os R$ 14 milhões gastos com a obra de saneamento da Marina da Glória, nem os R$ 80 milhões pagos em indenizações, por conta das remoções na Vila Autódromo. Com tudo isso somado, o custo final dos Jogos chegará a 38,9 bilhões. Significa dizer que a Olimpíada do ano que vem custará, no mínimo, 43% a mais do que a Copa do Mundo do ano passado. Segundo dados do governo federal, foram gastos R$ 27,1 bilhões no Mundial.

Praça Mauá: do caos à excelência

Até o comecinho do século passado, o fluxo marítimo nas águas da Baía de Guanabara restringia-se, basicamente, a saveiros que atracavam em pontes de madeiras. Com a intensificação do comércio, foi necessária uma rápida adaptação aos novos tempos. Ao fim de seis anos de obras, em 1910, surgia o novo Porto do Rio de Janeiro e, junto com ele, a Praça Mauá, homenagem a Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.
Da inauguração, com pompa e circunstância, até o começo das obras de revitalização para a Olimpíada, em 2010, a praça, e toda a Zona Portuária, passaram por acelerado processo de degradação. Altos índices de criminalidade, galpões abandonados, casas e prédios à beira do desmoronamento compunham o triste cenário. Hoje, a realidade é outra.
Segundo a concessionária Porto Novo, uma Parceria Público-Privada formada com a prefeitura do Rio, estão sendo realizadas obras e prestação de serviços em uma área de 5 milhões de metros quadrados, que abrange os bairros da Gamboa, da Saúde e de Santo Cristo, além de parte do Centro. Ainda de acordo com a Porto Novo, as reformas no sistema viário, com a construção da Via Binário em substituição à Rodrigues Alves, que se transformará em uma imensa alameda, e de dois túneis, entre outras melhorias, fará aumentar em 27% a capacidade do tráfego na região.
Ainda no quesito mobilidade, além dos 17 quilômetros de ciclovia, entrará em atividade o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Ecologicamente correto, e xodó da prefeitura, o bonde do terceiro milênio, movido a energia elétrica, percorrerá todo o Centro até chegar ao Aeroporto Santos Dumont, na entrada da Zona Sul.
Se a mobilidade urbana ganhará com as novidades na Zona Portuária, a cultura nem se fala. Além do Museu de Arte do Rio (MAR), sucesso de público e crítica, o Museu do Amanhã, ousado projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, de 15 mil metros quadrados, acaba de ser inaugurado. Trata-se, segundo informações do site oficial da instituição, de “um museu de ciências onde o frequentador é convidado a examinar o passado, conhecer as transformações atuais e imaginar cenários possíveis para os próximos 50 anos, por meio de ambientes audiovisuais imersivos, instalações interativas e jogos disponíveis ao público em português, inglês e espanhol.”
As obras de revitalização do Porto agradaram em cheio também os comerciantes locais. Presidente do Polo Região Portuária, funcionária aposentada do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INT) e porta-bandeira do Bloco Carnavalesco Escravos da Mauá, fundado por empregados da estatal, Izair Ramunch festeja:
– A revitalização não é um sucesso só do ponto de vista comercial. Ela trouxe significativos benefícios para a população local. Entre os muitos projetos comunitários que desenvolvemos, está o Sabores do Porto. É uma feira gastronômica, no histórico Largo São Francisco da Prainha, organizada pelos moradores do Morro da Providência.
Para Izair, o processo de revitalização da Região Portuária é um sucesso porque valorizou a melhoria da qualidade de vida da população local e contou com a participação de importantes atores locais.
– Quando fundamos o Escravos da Mauá, em 1993, começamos um forte processo de integração com a comunidade do entorno da Praça Mauá. Depois, em 2007, quando começou a se pensar na revitalização da região, reunimos a comunidade muitas vezes no INT para discutirmos o projeto, que trouxe diversas melhorias, como saneamento básico, calçamento de vias, sem contar os museus, especialmente o do Amanhã, que é a coisa mais linda que já vi – festeja a presidente do Polo Região Portuária.

Lazer

Finais de semana sem sair da região

Po Robson Fraga e Júnior Costa

As cidades da região oferecem alternativas para quem quer passar um final de semana diferente com seus filhos. Em Macaé e Rio das Ostras, praias, cachoeiras, lagoas, riachos, montanhas e trilhas seduzem milhares de pessoas e são locais de diversão garantida. Em Campos, a maior e uma das mais antigas cidades do interior do Rio também oferece opções de lazer para as famílias fluminenses.

Distante 274 quilômetros da capital, Campos dos Goytacazes é considerada a maior cidade do interior do Rio de Janeiro com 4.032 km² de extensão. Rica na produção de cana de açúcar e com economia baseada na extração de petróleo, a cidade que começou a ser colonizada pelos portugueses em 1627, conta hoje com cerca de 500 mil habitantes, segundo o IBGE. Território de belezas naturais, a planície goytacá, como também é chamada, é um verdadeiro convite à prática de esportes radicais, mas também a um belo descanso.
Um dos maiores atrativos é a Lagoa de Cima. Localizada a 25 quilômetros do Centro, com acesso pela BR 101, em Ururai, é o lugar ideal pra quem busca sombra, lazer e adrenalina. São 15 km² de área, com profundidade média de 4 metros, abastecidos pelos rios Urubu e Morto. Local escolhido por diversas famílias durante a temporada de férias, mas super movimentado durante todo o ano. Quem não abre mão de desfrutar deste conforto é o empresário e atleta amador Antônio Chebabe Neto. Há cinco anos, ele recorre à Lagoa para praticar o Wakebard*.
– É um tesouro que temos pertinho de casa. Uma ótima opção pra praticar esportes dentro da água e em todo o entorno. Por ser de água doce e calma é um excelente programa também pras crianças.
Outra opção de lazer é a praia do Farol de São Thomé. Com uma orla de 16 quilômetros, a cerca de uma hora da cidade, durante a temporada de verão ela atrai em média 40 mil turistas de todos os cantos do Rio e de estados vizinhos. O lugar oferece boa infra-estrutura hoteleira, quiosques com variados petiscos e bons restaurantes. Quem mora em Campos, sempre arranja um tempinho pra visitar o Farol: seja pra fugir do calor, que em média supera os 30 graus durante todo o ano, ou para curtir shows ao ar livre e as férias escolares dos filhos. A jornalista Fernanda Lisboa, por exemplo, conta com orgulho ser freqüentadora do balneário desde a infância.
“A infra-estrutura da orla, os amigos que reencontro sempre, e a beleza do Farol me levam à praia o ano todo. Nesta época de férias, o balneário é uma ótima opção de lazer pros meus filhos” – afirma Fernanda Lisboa..

Contato com o verde

Pra quem prefere fugir da agitação das praias e gosta mesmo de um lugar mais sossegado, Campos também oferece outras opções. Uma delas é o bosque Manoel Cartucho. Um lugar para relaxar, fazer piquenique, respirar ar puro e pensar na vida. Os capixabas André Dias e a esposa Jéssica, não perdem a oportunidade de curtir o lugar com o pequeno Samuel.
“O bosque é ótimo. É limpo, bem estruturado, seguro e fica dentro da cidade. Aqui, posso deixar meu filho brincar livremente, ter contato com a natureza, pisar no chão sem qualquer perigo. Recomendo!” – sugere o cinegrafista André Dias.
A jornalista Valéria Vieira está sempre por lá. Nascida no estado do Espírito Santo, ela escolheu a cidade de Campos pra trabalhar, morar e criar o filho João Vitor. Segundo ela, o Bosque, que pertence ao hospital Psiquiátrico Manoel Cartucho de Castro, é um ótimo lugar para passar os fins de tarde.
“Quem vive esta vida agitada dos grandes centros precisa de um lugar para recarregar as baterias. Aqui tem parquinho pra criançada, lugar pra andar de bicicleta, fazer exercícios, ler um bom livro… Enfim, um ótimo lugar pra descansar e brincar com os filhos” – ressalta Valéria.
E se você pensa que acabou… está enganado. Campos ainda conta com o belo Jardim São Benedito. Para muitos, o ‘pulmão’ da cidade. Praça púbica de múltiplas funções, o local abriga quadras de esportes, brinquedos pra garotada, quiosques, banheiros e a atual sede da Academia Campista de Letras. Além disso, tem muito verde.
Outra boa opção é o Jardim Botânico Municipal. Próximo à Universidade Estadual do Norte Fluminense e de outras instituições de ensino, o local é freqüentado por estudantes que encontram nele um lugar calmo para pensar, desenvolver projetos, pesquisas, bater-papo e se reinventar. O local também é desfrutado por dezenas de famílias durante os fins de semana. Sempre que pode, a vendedora Alessandra Vieira leva os filhos e apresenta o lugar para os familiares que visitam a cidade.
“Eu adoro esse jardim. Aqui é calmo, fresco… um paraíso dentro da cidade. O silêncio só é quebrado pelo canto dos pássaros ou pela gargalhada das crianças. É uma excelente opção pra gente fugir da bagunça do dia-a-dia” – comenta Alessandra.

Tempos modernos

Mas, se você é daquelas pessoas que gosta mesmo de lugares mais agitados, não tem problema. A cidade também oferece dois grandes shoppings centers onde se encontra de tudo: supermercados, lojas variadas, praças de alimentação, jogos eletrônicos, brinquedos pra criançada, salas de cinema, e o melhor: farto estacionamento. Mãe da pequena Larah, Vanessa Nascimento não abre mão destas mega-estruturas.
“Com esse calorão que faz em Campos, aproveitar o ar-condicionado do shopping é uma ótima pedida. Alem disso, dá fazer de tudo: compras, diversão e lazer em um só lugar” – diz Vanessa.
Agora que você já conhece um pouquinho mais de Campos dos Goytacazes, faça suas malas e aproveite as férias na mais moderna e singular cidade do interior do Rio de Janeiro.

A capital do Petróleo e do lazer e esportes radicais

Responsável por 60% da produção de petróleo e gás do país a cidade de Macaé há anos se tornou também uma bela opção de lazer, diversão e esportes dos mais diversos estilos, desde uma corrida de rua ao montanhismo, passando pelo surf e stand up paddle. A cidade está a 182 quilômetros do Rio de Janeiro. A vizinha, Rio das Ostras, é outra grande opção de turistas de todo o país e de fora dele. Banhada por praias e lagoas, algumas tão discretas e secretas que nem mesmo são contabilizadas pelo órgão municipal, a cidade está a 170 da capital fluminense.
Petróleo, agricultura e turismo são alguns pontos fortes de Rio das Ostras. Muitos escolhem a cidade para viver, mesmo trabalhando em Macaé. Há quem afirme que o balneário é mais badalado, com seus bares, restaurantes e festivais gastronômico, musical e de motociclistas.
Mas Macaé não fica muito atrás. Aliás, nos últimos anos abandonou o rótulo de cidade do turismo de negócios para ser também a do turismo de lazer e esportivo. O aeroporto do município é considerado o maior da América Latina no pouso e decolagem de helicópteros, que atendem ao setor offshore. Mas a alguns poucos quilômetros dele, duas praias se tornaram concorrentes pelos altos números de pousos e decolagens de atletas que praticam o kitesurf.
As praias de Cavaleiros e Pecado são duas entre os 23 de litoral que banham Macaé. Elas são os points para os pilotos/surfistas que aproveitam muito bem a média diária de 31 graus.
“Gostamos muito do contato com a natureza. Como moramos na Praia do Pecado, usamos quase que diariamente o ‘nosso jardim’. Tanto a praia quanto a orla e a lagoa são o nosso quintal. As crianças se divertem, praticamos atividades físicas e nas férias a frequência aumenta”, explicou a empresária Daniele Biglia.
As areias das praias da cidade, que tem o apelido carinhoso de “Princesinha do Atlântico”, por ser banhada pelo Oceano Atlântico, ainda é dividida por atletas profissionais e de finais de semana de altinha, futevôlei, vôlei, bodyboarding e por alunos de circuito funcional. Ao lado da Praia do Pecado, separando Macaé de Rio das Ostras, está a Lagoa de Imboassica. Sua água calma e escura são o pano de fundo para uma selfie no final da tarde, com um lindo pôr do sol.
“O número de adeptos a prática de esportes ao ar livre e a qualidade de vida aumentou muito e durantes as férias as pessoas tem mais tempo e se cuidam mais. Isso é muito bom, afinal, quanto maior o número de praticantes, maiores são as melhorias, os cuidados e preservação destes locais” analisou Daniele Biglia.
Há 23 quilômetros do Centro está a região serrana da cidade. Cachoeiras, lagoas, riachos, montanhas e trilhas seduzem milhares de pessoas ao longo do ano. Apenas 10% do município é ocupado por sua sede e pela concentração urbana dos seis distritos que a cidade possui. O restante é predominado por um diverso bioma, entre eles grande faixa de Mata Atlântica.
O Sana, principal distrito e um dos mais procurados por turistas, foi transformado em área de Proteção Ambiental em 2002. Possui uma variedade de atrativos naturais como cachoeiras e trilhas. As principais de cachoeiras para banho são a Cachoeira do Pai, Cachoeira da Mãe, Cachoeira do Filho e Cachoeira do Escorrega. Outra atração é o Pico do Peito do Pombo. Uma formação rochosa que pode ser vista de diversos pontos. Do cume é possível avistar todo o município, inclusive, o litoral. Possui esse nome porque dependendo do ponto vista se assemelha à figura. Para se chegar são cerca de seis horas de caminhada em ritmo médio, que deve ser feita com a ajuda de guias locais.
O Rio Macaé é o principal manancial do município e um prato cheio para os praticantes de canoagem. Ele corta todas a áreas protegidas da região serrana. São nove ao todo: Parque Municipal Fazenda Atalaia, APA do Sana (Área de Proteção Ambiental), Parque Municipal e APA do Arquipélago de Santana, APA do Jardim Pinheiro e Morro de Santana, Parque Natural Municipal do Estuário do Rio Macaé, Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Reserva Biológica União, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) -Sítio Shangrilah – Sana, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Fazenda Barra do Sana.
Já o Parque Nacional da Restiga de Jurubatiba é o único do país aue preserva a restinga. Além de ser laboratório vivo para pesquisadores e habitat de fotógrafos de meio ambiente, o local ainda reserva opções de lazer. No local é possível fazer caminhadas em trilhas, passeios de barco, praticar stand up paddle, andar de caiaque e se banhar em lagoa de água negra. A visitação acontece apenas com agendamento, de terça-feira a sábado, de 9 às 16h. Não é permitido a entrada de animais de estimação.
A vizinha Rio das Ostras também possui seus encantos. Afinal, o cantor, compositor e escritor baiano Dorival Caymmi também foi seduzido pelo sol, mar e perfume da cidade e chegou a fixar residência na cidade. Com 15 praias é preciso praticamente 15 dias de muito sol e férias. Para quem tem o período longo de descanso pode ficar tranquilo. A média de temperatura da cidade é de 30 graus.
Entre as praias mais badaladas estão a do Centro, Costazul, Boca da Barra e a sossegada Itapebussus, que possui água morna e tem parte separada de uma lagoa por um banco de areia. A lagoa tem água escura como uma tradicional marca de refrigerantes.
Mas não é só na praia e na lagoa que a diversão pode ser garantida. Quem preferir relaxar pode ler um livro no Parque Municipal, no bairro Mar do Norte e no Parque Natural dos Pássaros. Nele, os visitantes podem observar os pássaros, outras espécies e a vegetação característica da restinga, ao percorrer suas trilhas ecológicas. O Parque também conta com o maior Viveiro de Aves do Brasil. Com um volume de 48 mil m3, contém réplicas de ecossistemas do Bioma da Mata Atlântica e abriga aproximadamente 162 aves da região Sudeste do Brasil.
Outra opção cultural é o Sítio Arqueológico Sambaqui da Tarioba. Inaugurado em 1999, o museu é aberto à visitação pública com exposição permanente de peças catalogadas por época, origem e denominação pelo Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), em reconstituição da pré-história da região. Possui uma área escavada com restos de esqueletos e exposição de objetos de adorno, ostras gigantes, conchas, pedras (batedores e quebra-coquinhos), que caracterizam a ocupação de uma antiga civilização estimada entre 4 mil e 2 mil anos.
Por falar em história que contam um pouco da origem da cidade, a Praia do Centro possui o Poço dos Escravos. Construído pelos escravos em meados do século XVIII, o Poço de Pedras do Largo de Nossa Senhora da Conceição serviu como marco para a construção da cidade de Rio das Ostras. Registros históricos indicam que o poço era utilizado pelos antigos navegadores que cruzavam a Baía Formosa e aportavam no cais do morro do Limão (atual Iate Clube) para que a tripulação pudesse ter água potável.
Tão encantadora assim também é a Figueira Centenária. Árvore centenária localizada à beira-mar que, segundo relatos históricos, serviu de abrigo a Imperadores que faziam em Rio das Ostras uma breve parada em seu roteiro de viagem pela região. A Figueira Centenária fica no calçadão da orla da Praia do Centro, em frente a Rua Maria Letícia, entre as praças José Pereira Câmara e São Pedro, no Centro da Cidade.

Petroleiro crônico

O pijama vai ter que esperar

Vitor Menezes

Natércio é um petroleiro crônico. Um petroleiro crônico que acaba de se aposentar. Agora, acredita, seus dias serão feitos de pijama,Netflix e cervejinha com iscas no sofá. Se muito, uma esticadinha com a patroa até a região serrana. Por ora, até praia pretende evitar. Chega de Petrobrás e de qualquer cenário que lembre embarque.
Antes, no entanto, há umas pendências a resolver. Uma delas é com uma estudante do ensino médio de uma escola da sua rua, que marcou com ele uma entrevista sobre a vida de petroleiro. É um trabalho de escola sobre profissões.
Tem também umas oito ou dez ações judiciais coletivas pelo atendimento de direitos trabalhistas nas quais ele está inserido. Precisará acompanhar isso. Talvez sejam necessárias algumas idas ao departamento jurídico do sindicato.
Sabe ainda de que não poderá abandonar o hábito de escrever para as seções de cartas dos jornais. É possível até que aumente a frequência das suas missivas. E é mais possível que a grande maioria dos textos enviados por ele às redações seja sobre a Petrobrás.
Tem que avaliar uma proposta de consultoria na área de petróleo para uma empresa do setor. Ofereceram uma boa grana pelos conhecimentos dele na área. Está tendendo a não aceitar, por não querer transferir para uma petroleira privada aquilo que foi desenvolvido pela Petrobrás.
Ia viajar nessa semana, mas tem assembleia marcada. A que vai eleger delegado para o congresso estadual que escolhe delegado para o congresso nacional. Está sabendo também que vai ter manifestação, e ele não quer perder.
Se tudo der certo, seus planos de letargia cinéfila e levemente etílica vão se concretizar em breve, muito breve, talvez daqui a um ano ou dois. Se tanto três ou quatro. Quem sabe cinco, seis, sete, oito, nove ou dez.
É que tem outro compromisso. Está para estourar uma greve da categoria a qualquer momento, e ele quer estar junto com a moçada da plataforma na hora do vamos ver. Fez todas enquanto estava na ativa, e agora que está parado não abre mão de se mexer.
O pijama vai ter que esperar.