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E ntrevista
O homem sofre
Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1990, Silvia Jardim queria se dedicar à
neurose obsessiva. Mas acabou por se transformar em uma das mais importantes estudiosas do país sobre
saúde mental do trabalhador. Tudo por conta do que seria uma simples tese de mestrado (Processo de
Trabalho e Sofrimento Psíquico no Caso dos Pilotos do Metrô Carioca), resultado de sua primeira
experiência profissional. Pelo ineditismo e aprofundamento, o trabalho foi qualificado como tese de
doutorado. Orientada pelo professor João Ferreira da Silva Filho, que acabara de assumir a coordenação do
curso de pós graduação em psiquiatria e promover uma verdadeira revolução no departamento, tornou-se
doutora. Atualmente é coordenadora do Programa de Atenção Mental dos Trabalhadores (PRASMET/
IPUB/UFRJ), cargo herdado do guru e amigo João Ferreira, morto precocemente em 2008, aos 59 anos.
Para entender melhor sobre saúde mental dos trabalhadores, a Revista Imagem esteve na UFRJ para
conversar com Sílvia Jardim, que último dia 25 de março participou da mesa redonda Trabalho e Doença
Mental, promovida Sindipetro-NF.
Carlos Monteiro
Revista Imagem - Como a senhora analisa a questão da
saúde mental do trabalhador, de um modo geral, e dos
petroleiros particularmente?
Sílvia Jardim - O trabalho tem sido desconsiderado nos
modelos hegemônicos, quando se trata dos processos
de saúde e doença. Quer seja saúde física ou mental.
Por isso, tendem a não nos ensinar, na escola, a impor-
tância do trabalho para o indivíduo ou para a sociedade.
O modelo hegemônico é o modelo biomédico, onde se
vê as causas da doença como uma causa natural. Tudo
decorre de germes, de alterações fisiológicas, do
envelhecimento. É tudo natural, não se vê a saúde e a
doença como processos sócio-históricos. Sobre os
petroleiros, é um processo de trabalho que produz uma
categoria de trabalhadores que traz todas as questões
da contemporaneidade. Junto com ela vêm também os
transtornos por estresse pós-traumático, pelo
confinamento, pelo trabalho off-shore, pelo
despatriamento, pelo repatriamento. O campo da saúde
mental do trabalhador é multi e interdisciplinar. Portan-
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Imagem 41 - Normal.pmd 21 31/7/2014, 00:05
O homem sofre
Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1990, Silvia Jardim queria se dedicar à
neurose obsessiva. Mas acabou por se transformar em uma das mais importantes estudiosas do país sobre
saúde mental do trabalhador. Tudo por conta do que seria uma simples tese de mestrado (Processo de
Trabalho e Sofrimento Psíquico no Caso dos Pilotos do Metrô Carioca), resultado de sua primeira
experiência profissional. Pelo ineditismo e aprofundamento, o trabalho foi qualificado como tese de
doutorado. Orientada pelo professor João Ferreira da Silva Filho, que acabara de assumir a coordenação do
curso de pós graduação em psiquiatria e promover uma verdadeira revolução no departamento, tornou-se
doutora. Atualmente é coordenadora do Programa de Atenção Mental dos Trabalhadores (PRASMET/
IPUB/UFRJ), cargo herdado do guru e amigo João Ferreira, morto precocemente em 2008, aos 59 anos.
Para entender melhor sobre saúde mental dos trabalhadores, a Revista Imagem esteve na UFRJ para
conversar com Sílvia Jardim, que último dia 25 de março participou da mesa redonda Trabalho e Doença
Mental, promovida Sindipetro-NF.
Carlos Monteiro
Revista Imagem - Como a senhora analisa a questão da
saúde mental do trabalhador, de um modo geral, e dos
petroleiros particularmente?
Sílvia Jardim - O trabalho tem sido desconsiderado nos
modelos hegemônicos, quando se trata dos processos
de saúde e doença. Quer seja saúde física ou mental.
Por isso, tendem a não nos ensinar, na escola, a impor-
tância do trabalho para o indivíduo ou para a sociedade.
O modelo hegemônico é o modelo biomédico, onde se
vê as causas da doença como uma causa natural. Tudo
decorre de germes, de alterações fisiológicas, do
envelhecimento. É tudo natural, não se vê a saúde e a
doença como processos sócio-históricos. Sobre os
petroleiros, é um processo de trabalho que produz uma
categoria de trabalhadores que traz todas as questões
da contemporaneidade. Junto com ela vêm também os
transtornos por estresse pós-traumático, pelo
confinamento, pelo trabalho off-shore, pelo
despatriamento, pelo repatriamento. O campo da saúde
mental do trabalhador é multi e interdisciplinar. Portan-
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