Na noite da última terça-feira, 18 de novembro, o auditório do Sindipetro-NF recebeu um público para o encontro “Escrevivências Negras: Memória e Resistência – Encontro de escritores negros”, realizado em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Macaé. O evento reuniu os escritores Mestre Lago, Te Costa e Raila Maciel, sob mediação da jornalista e escritora Conceição de Maria Rosa, promovendo uma noite de partilha de histórias, trajetórias autorais e celebração da palavra preta.
A abertura destacou a importância da escrita como resistência e eternidade. “Quando celebramos a escrita preta, celebramos também a leitura como um ato de liberdade. Ler autores e autoras negras é ampliar horizontes, reconhecer histórias antes silenciadas e devolver protagonismo a quem sempre esteve à frente dos processos de sobrevivência e criação neste país.”
Chamando a presença da Secretária de Igualdade Racial, o público ouviu um discurso de acolhimento e valorização coletiva.
“É com grande satisfação que me encontro neste espaço com todos vocês. Estar reunidos para debater temas relevantes, compartilhar vivências e aprender uns com os outros é fundamental. Que este momento seja enriquecedor e fruto da participação conjunta.” — Ingrid Aprígio
Homenagem emocionante a Sônia Maria Santos
Um dos momentos mais marcantes foi a homenagem à escritora, pesquisadora e referência da literatura afro-brasileira Sônia Maria Santos, falecida recentemente. Secretária de Igualdade Racial conduziu uma fala emotiva destacando o legado da autora
“Sônia faz da palavra o território onde a memória ancestral se reencontra com o presente, onde a voz da mulher negra se ergue incontornável, potente e luminosa. Hoje celebramos sua trajetória e reconhecemos sua imensidão para a literatura, para a identidade negra e para Macaé” – disse Ingrid Aprígio.
Em coro, o público reverenciou sua ancestralidade com palavras que permaneceram ecoando no auditório:
“Sônia Santos, presente! Hoje e sempre!”
A homenagem também relembrou sua forte ligação com o Sindipetro-NF e sua atuação como intelectual e militante da palavra. “Ela esteve diversas vezes nesta casa, sempre disponível, sempre semeando conhecimento. Seu legado permanece inspirador”
A mediadora, Conceição de Maria, conduziu a roda trazendo reflexões sobre o papel da literatura negra na construção das narrativas e identidades. “Quando o livro sai, ele já é do outro. Ele cria asas, vira memória de outras pessoas, atravessa vidas. Este momento é sobre isso: sobre pertencimento, resistência e colocar nossos corpos e vozes na literatura que ainda tenta nos negar.”
Ela destacou também que a recriação da Academia Macaense de Letras tem como objetivo integrar escritores e abrir caminhos para as vozes da cidade, principalmente as que historicamente foram silenciadas.
Trajetórias que inspiram: as falas dos autores
Mestre Lago falou sobre como o teatro abriu sua jornada literária:
“Comecei a escrever através do teatro. Depois de atuar, passei a escrever peças, e elas ganharam o público, ganharam vida. A palavra me levou para as escolas, para os palcos, para a cidade.”
Sua fala relembrou os sete anos de trabalho levando arte e educação ambiental a crianças e jovens de Macaé e região.
Raila Maciel emocionou o público ao narrar como a escrita a salvou e como só recentemente ela pôde se reconhecer como escritora:
“Eu achava que já tinha passado do ponto de ser escritora, com menos de 30 anos. Foi preciso estudar Conceição Evaristo para entender que minha escrita era válida, que era literatura, que era resistência.”
Ela afirmou que o conceito de escrevivência a legitimou e abriu caminhos para que outras mulheres pudessem ocupar o espaço da literatura.
Te Costa apresentou simbolicamente a estrutura de seu livro Um vestido para Sankofa, que personifica conceitos de linguagem e ancestralidade: “Sankofa é uma mulher, com sua família formada por palavras, pela fala, pela escrita, pelo pensamento. A obra é memória e homenagem, é corpo de quem veio antes de nós.”
Sua fala destacou o valor da oralidade, do jongo de sua família e do resgate histórico como compromisso político e literário.
O encontro no Sindipetro-NF reafirmou o compromisso com a valorização da cultura negra, das narrativas locais e do fortalecimento de escritores e escritoras de Macaé, celebrando a história, a memória e a resistência a partir da literatura. Em uma noite marcada pela emoção, a palavra preta permaneceu como força, legado, caminho e libertação.

















