Silva e Luna volta a mentir em audiência pública no Senado Federal

[Da assessoria da FUP]

Mais uma vez o presidente da Petrobrás, general Joaquim Silva e Luna, foi ao Congresso Nacional, nesta terça-feira, 23, para mentir e omitir fatos da sociedade sobre a responsabilidade da gestão da e estatal nos aumentos abusivos de preços dos combustíveis, decorrentes da equivocada política de Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada em 2016 pelo então presidente Michel Temer e mantida pelo governo Jair Bolsonaro. Em audiência de quase três horas de duração, Silva e Luna não disse que somente neste ano, nas refinarias, a gasolina subiu 71,6%, com 13 aumentos; o diesel 64,5%, com 14 altas; e o gás de cozinha 47,7%, com oito reajustes. Preferiu afirmar que a empresa ficou 90 dias sem reajustar o gás de cozinha (GLP), como se isso fosse uma vantagem, mesmo sabendo que o preço do botijão do gás de cozinha, acima de R$ 120 em algumas regiões do país, representa mais de 10% do salário mínimo, e que famílias carentes estão usando lenha para cozinhar, em alternativa ao gás.

Silva e Luna comemorou estar “30 dias sem aumento nos combustíveis”, ignorando que as altas abusivas dos combustíveis são foco da disparada da inflação, que atinge 10,67% em doze meses, até outubro. Ao alegar que a empresa participa com R$ 2,33 do preço do litro da gasolina, o presidente da petroleira não disse que, nos últimos dois anos, a parcela do preço que mais aumentou foi o da própria Petrobrás. Segundo informações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nos últimos dois anos, o valor do litro da gasolina cobrado pela estatal e os importadores subiu e R$ 1,20 para R$ 2,02 (em outubro de 2021) um aumento de quase R$ 0,82. Nenhum outro componente teve uma expansão tão grande de preços.

Silva e Luna mentiu também ao inflar o atual nível de utilização da capacidade de refino e não disse que a gestão da empresa reduziu deliberadamente o fator de utilização das refinarias, que hoje atinge 75%, em média. A medida provocou redução na produção interna e elevou importações de derivados, a preços de PPI, que só beneficiam tradings e importadores. “As refinarias da Petrobrás podem refinar 2,4 milhões de petróleo por dia, mas, por decisão da gestão da empresa, elas estão refinando abaixo dessa capacidade. Desde que o PPI foi implantado em 2016, as refinarias tiveram a carga de produção reduzida e operam hoje com uma média de 75% de sua capacidade total. Com isso, o Brasil passou a importar cada vez mais derivados”, destaca o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. Segundo ele, quem ganha com essa política são as importadoras de combustíveis.

No caso da gasolina, a produção atual das refinarias é suficiente para abastecer o mercado interno, mas, mesmo assim, o Brasil está importando gasolina a preços internacionais. “Em relação ao óleo diesel e ao GLP, o país precisa aumentar a produção nacional em 24% e em 37%, respectivamente, para deixar de importar esses produtos. Ou seja, se as refinarias da Petrobras operassem com 100% da sua capacidade, o país praticamente não precisaria importar derivados”, acrescenta Bacelar. Em seu depoimento, Silva e Luna não disse que o PPI garantiu elevados lucros para a Petrobrás e o pagamento de dividendos recordes a acionistas, no valor total de R$ 63,4 bilhões este ano, dos quais 43% são reservados a investidores não-brasileiros, e muito acima dos investimentos da Petrobrás, de R$ 37 bilhões este ano, apresentados por ele aos senadores.

O consumidor brasileiro é quem paga essa conta, resultado da elevação dos volumes e dos preços de venda de derivados no mercado interno, a preços reajustados pela cotação internacional do petróleo, variação do dólar e custos de importação, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo. As omissões de Silva e Luna, no entanto, são coerentes com o comportamento de seus superiores: os ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Embora convidados pela CAE, ambos optaram por não comparecer, num reconhecimento explícito de que o PPI é indefensável.