CARTA ABERTA DOS PETROLEIROS À POPULAÇÃO DO NORTE FLUMINENSE
Caro amigo, cara amiga
Nós, petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense, que atuamos nas plataformas da Bacia de Campos e nas bases de terra em Macaé, estamos unidos ao movimento nacional de greve da categoria, que acontece desde o dia 1º de fevereiro.
É possível que, em um primeiro momento, esta greve lhe cause apreensão, medo de desabastecimento de combustíveis, preocupação com o emprego de algum amigo ou parente que trabalha no setor, ou até mesmo condenação, por não acreditar que a paralisação seja um tipo de protesto legítimo.
Por isso, nos dirigimos a você para explicar os motivos da nossa greve e para pedir o seu apoio. Tenha certeza de que este movimento busca benefício para todos nós, brasileiros, e não apenas para os empregados da Petrobras.
Em primeiro lugar, nossa greve é legítima, cumpre toda a legislação e está amplamente amparada no direito dos trabalhadores protestarem em defesa do seu trabalho e do seu sustento. Nossa principal pauta de reivindicação é a suspensão de cerca de mil demissões que a Petrobras está realizando em uma fábrica de fertilizantes no Paraná.
Além da solidariedade aos demitidos, o que queremos é que a política de demissões não continue a se espalhar pela Petrobras. Ela tem sido causada pela escolha do governo e da gestão da empresa em adotar uma política de venda das suas unidades e de recuo nos investimentos.
A Petrobras, orgulho de todos os brasileiros, para nosso espanto e indignação, decidiu ficar menor, contrariando toda a tendência das grandes petrolíferas, que buscam controlar toda a cadeia produtiva e se tornarem menos vulneráveis às oscilações do mercado. Estão sendo vendidas refinarias, plataformas, dutos, unidades inteiras.
Somente na Bacia de Campos, de acordo com estudo do Dieese, a redução de investimentos da Petrobras foi de 62% na comparação entre 2013 e 2018. Em decorrência desse encolhimento da Petrobrás, o desemprego aumentou no Norte Fluminense. Em 2018, o efetivo (número de trabalhadores) no setor petróleo na região já estava 55% menor do que em 2014, com 3.526 empregados próprios e 29.743 empregados terceirizados a menos.
A redução do investimento da empresa também prejudica a nossa região em razão dos impactos que gera na queda de produção do petróleo. Ainda de acordo com o Dieese, a perda de royalties no Norte Fluminense poderia ter sido amenizada de 2016 a 2018 em R$ 1,1 bilhões se o ritmo de investimento anterior da Petrobras fosse mantido.
Nossa greve também denuncia a política de preços dos combustíveis, que não precisavam ser tão caros para a população. E, ao contrário do que divulga o governo, isso não acontece apenas em razão dos impostos — que, se retirados, comprometerão as políticas públicas e penalizarão ainda mais os cofres de estados e municípios. A realidade é que foi feita uma opção subserviente pelo alinhamento do preço do nosso combustível ao mercado internacional, como se não tivéssemos autonomia para gerir a nossa própria estratégia de venda e sustento de uma indústria que é nossa.
De acordo com estimativas das assessorias da FUP (Federação Única dos Petroleiros), não fosse essa escolha equivocada do governo, a população brasileira poderia estar pagando hoje muito menos pelos combustíveis: o litro da gasolina poderia custar R$ 3,00 — muito abaixo dos aproximadamente R$ 5,00 praticado pelos postos — assim como o etanol (R$ 1,80), o gás de cozinha (R$ 40,00) o diesel (R$ 1,50) e o GNV (R$ 2,00).
Nossa greve, portanto, é por você também. Pela nossa região e pelo nosso país. Pelos nossos filhos e netos. Por um futuro com empregos e desenvolvimento com justiça social.
É muito importante que você entenda o movimento, converse com seus amigos e parentes petroleiros, e que nos apoie. Estamos à sua disposição para continuar essa conversa.
Macaé e Campos dos Goytacazes, 14 de Fevereiro de 2020
Sindipetro-NF
www.sindipetronf.org.br