Sindipetro-NF protocola carta aberta ao presidente da Petrobrás exigindo o fim da insegurança nos vôos na Bacia de Campos

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O Sindipetro-NF protocolou hoje, 26 de janeiro, através de ofício 014-2009 uma Carta Aberta ao Presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli de Azevedo. O Objetivo do sindicato é exigir o fim de uma rotina desesperadora para os trabalhadores das plataformas de petróleo da Bacia de Campos, que envolve a falta de segurança nas operações de transporte aéreo da região.

Leia abaixo a íntegra da carta:

Carta Aberta ao Presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli de Azevedo


Macaé, 26 de janeiro de 2009


Ofício 014-2009
Senhor Presidente da Petrobrás


O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, entidade sindical que sempre elegeu a segurança e a saúde dos trabalhadores como foco principal de sua atuação, utiliza-se desta carta aberta para exigir o fim de uma rotina desesperadora para os trabalhadores das plataformas de petróleo da Bacia de Campos. Estamos convivendo diariamente com iminência de uma tragédia que causa apreensão em milhares de trabalhadores e seus familiares: a falta de segurança nas operações de transporte aéreo da região. 
A Bacia de Campos é uma importante província petrolífera que nos últimos anos tem expandido largamente sua atividade. Ocorre que a expansão não foi acompanhada de uma logística de transporte aéreo para atender a grandiosidade da atividade da Petrobrás na região.  Toda a experiência de programação que a Petrobrás sempre demonstrou, mobilizando recursos e antevendo, por anos, os desafios necessários à produção dos poços de petróleo, de nada valem quando o assunto é segurança no transporte do seu maior patrimônio: seus trabalhadores.
Nas últimas semanas os quase-acidentes, que já vinham acontecendo durante todo o ano de 2008, aumentaram significativamente: ocorreu um incêndio em uma aeronave em pleno o ar (29/12); um estrondo, seguido da queda de objetos da turbina, causou um pouso de emergência logo após a decolagem, tratava-se de um Super-Puma L2 da BHS, mesmo modelo e operadora da tragédia de fevereiro de 2008 (09/01), uma pane ao tentar decolar de volta para o aeroporto obrigou improvisar uma manutenção no deck da plataforma P-16 (10/01), um defeito no trem de pouso de uma aeronave obrigou um mecânico a enfiar-se debaixo da aeronave em sobrevôo baixo para travar o sistema (11/01), situação de perigo no abandono da aeronave por tripulantes e passageiros com os rotores girando a plena velocidade após o pouso (11/01), viagens agonizantes entre Farol e Macaé por uma pane e a falta de uma pista de pouso no Farol (11/01), pane elétrica que apagou os controles da aeronave momentos antes de decolar (14/01), denuncias que há pilotos em treinamento assumindo os controles das aeronaves, demonstrando total inexperiência (20/01), e um Super-Puma L2 apresentou pane no Aeroporto de Macaé causando revolta nos passageiros (24/01).
Para agravar ainda mais a situação são constantes os atrasos e cancelamentos de vôos. São todas ocorrências registradas e conhecidas pela segurança de vôo dos aeroportos. Algumas delas estão descritas no site do sindicato (
www.sindipetronf.org.br), que tem divulgado as denuncias dos trabalhadores. Este triste histórico causa apreensão entre os trabalhadores. Sem alternativa, resta-lhes usar o direito de recusa – direito previsto na cláusula 109 de nosso acordo coletivo – na tentativa de protegerem-se da tragédia que parece estar próxima. Foi o que fizeram 74 trabalhadores, negando-se a embarcar nesses primeiros dias do ano. Fizeram isso com o apoio de seus colegas embarcados que iriam desembarcar no mesmo voo. Os gerentes da Petrobrás responderam com ameaças de desconto do dia e não fornecendo hotel e transporte para quem mora longe.
O sindicato cansou de exigir providências aos setores operacionais, de segurança e recursos humanos da Petrobrás para a insegurança no transporte aéreo dos trabalhadores das plataformas da Bacia de Campos. Viemos a público denunciar a situação, responsabilizar e exigir providências urgentes de quem responde pela Petrobrás inteira: seu presidente. Não somos somente nós, a direção do sindicato, quem está clamando por melhores condições de segurança nos vôos. Os aproximadamente trinta mil trabalhadores e suas famílias, dos diferentes cantos do Brasil, fazem coro a esse clamor:
“Vai acontecer uma grande tragédia se nada for feito!”
No próximo mês completará um ano da última queda de aeronave na Bacia de Campos. Um acidente que ceifou a vida de cinco trabalhadores. O sindicato participou de várias reuniões com diversos departamentos da Petrobrás. Nas reuniões a empresa relacionou seus esforços para melhorar as condições do transporte aéreo e apresentou estatísticas na tentativa de nos convencer que temos baixos índices de acidentes aéreos em nossa atividade. Infelizmente, nesses índices as mortes são números em gráficos e planilhas. Para o sindicato uma única morte é irreparável e exigimos que o sistema de segurança de voo seja eficiente para evitá-la.
Só evita mortes quem age antes de acontecerem. Uma boa forma de prevenir as mortes é reagir como se houvesse acontecido uma fatalidade em cada um dos quase-acidentes,  eles são sinais das fragilidades do sistema de segurança. Julgamos que a Petrobras não está aprendendo com os erros, dessa forma não atingirá a excelência no transporte aéreo e não evitará a próxima tragédia.
O que imobiliza a Petrobrás é constatar que a retomada imediata de uma rotina verdadeiramente segura para o transporte aéreo na região, teria impactos nos resultados da empresa. A forma como a infraestrutura aérea foi montada ao longo dos anos, sem acompanhar a expansão da produção, foi uma irresponsabilidade que, já há algum tempo, cobra seu preço. Esperar por soluções futuras não resolve o risco de hoje. Acreditamos que para desfazer essa armadilha só existe uma solução óbvia e natural: priorizar a segurança e a vida.
Por isso, senhor presidente, cobre internamente a correção imediata desse defeito sistêmico da segurança no transporte aéreo na Bacia de Campos. Não aceite o argumento de que um projeto futuro vai resolver o que já deveria funcionar de forma segura. Cobre também a responsabilidade da INFRAERO e das empresas de táxi-aéreo. É urgente que isso seja feito antes que aconteçam novas tragédias. Para ajudá-lo nisso, a diretoria do sindicato tem trabalhado na valorização vida e vai continuar realizando seu papel de mobilizar a categoria cada vez mais pelo direito de trabalhar com segurança.

Diretoria Colegiada do Sindipetro-NF