Sindipetro-NF repudia presença de Reichstul em Câmara de Gestão criada por Dilma

Manifesto dos Petroleiros da Bacia de Campos
 
 

Inábil, infeliz, inadequada. Estes são adjetivos ainda brandos para qualificar a decisão da presidenta Dilma Rousseff de incluir em uma questionável Câmara de Políticas de Gestão, criada na semana passada, o ex-presidente da Petrobras entre 1999 e 2001, Henri Philippe Reichstul. Para os petroleiros da Bacia de Campos, trata-se de uma afronta à memória de todas as vítimas do modelo de gestão implantado por este homem na companhia, a mando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, simbolizado pela tragédia da P-36, que neste ano completa uma década de sua ocorrência.

É um acinte, um deboche desnecessário, uma afronta aos trabalhadores brasileiros, o fato de que a presidenta lance mão do aconselhamento de um homem que afundou não apenas uma plataforma com os corpos de petroleiros, mas toda uma empresa, com uma política baseada no receituário neoliberal de corte de investimentos em áreas como a segurança e a atualização do quadro profissional.

Foi em sua gestão que foram criadas 40 unidades de negócios na Petrobras, um plano de fatiamento para preparar a empresa para a privatização. Foi em sua gestão que os petroleiros enfrentaram arrochos salariais e ataques a direitos consolidados, com as propostas de “compra” do extra-turno e de extinção do regime 14 x 21. Foi em sua gestão que disseminou-se a prática da distribuição de bônus para gerentes. Foi em sua gestão que 30% da Refap foi vendida para a Repsol/YPF, empresa da qual viria a fazer parte o próprio Reichstul, integrando o seu conselho de administração, em suas andanças por multinacionais após deixar a Petrobras.

Além da P-36, Reichstul deixou como marca na sua passagem pela Petrobras as tragédias ambientais da Baía de Guanabara e no Paraná, provocadas pelo sucateamento da companhia que também viu, naquele momento, crescer exponencialmente a terceirização e os números de casos de acidentes.

Até mesmo uma revista como a Exame, que está longe de poder ser considerada uma crítica às políticas neoliberais, registrou, em matéria de abril 2001 (“O pesadelo de Reichstul”, de Nely Caixeta), o modo como foi desastrada a passagem de Reichstul pela presidência da Petrobras, lembrando, além dos fatos citados acima, a malfadada tentativa de mudar o nome da empresa para Petrobrax:

“Poucas vezes se registrou na história das empresas brasileiras um caso em que o principal executivo permaneceu tão exposto aos humores da opinião pública. A provação das últimas semanas foi o ápice de um processo de desgaste iniciado com o megavazamento de óleo na Baía de Guanabara em janeiro de 2000. Num espaço de seis meses, outros dois desastres ecológicos envolvendo a empresa ocorreram no Paraná. Somados os três acidentes, foram despejados no mar e em rios 6,45 milhões de litros de óleo. Aos desastres ecológicos soma-se o fiasco político em que Reichstul se envolveu com a malograda tentativa de trocar o nome da empresa de Petrobras para Petrobrax. Tanto barulho foi justificado com o argumento de que a segunda marca seria mais sonora aos ouvidos da clientela internacional”.

Se o presidente Lula tivesse ouvido um homem como Reichstul, que agora encontra abrigo para as suas idéias no governo Dilma, certamente um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não teria existido, por contrariar a lógica de omissão do estado na condução da economia. Nem teria ocorrido a incrível retomada da indústria naval brasileira, com a firme opção do governo de rever a contratação de estaleiros estrangeiros para a construção das nossas plataformas.

O Sindicato dos Petroleiros do Norte Norte Fluminense (Sindipetro-NF), com a autoridade de uma entidade que apoiou publicamente a candidatura de Dilma Rousseff para a Presidência da República e que acredita na correção do rumo que o País tomou após os governos do presidente Lula, condena com veemência a inclusão de Reichstul em um aparato de aconselhamento presidencial, assim com considera necessária uma discussão pública acerca da própria legitimidade de uma Câmara integrada por supostos iluminados que não têm mandato popular e nem representatividade institucional para opinar em área tão estratégica quanto a que diz respeito à gestão de recursos públicos.

 
Macaé, 16 de maio de 2011
Diretoria Executiva do Sindipetro-NF